Entrevista: Nonato Silva
"Minha produção literária há de continuar"
jornal Turma da Barra

 


Nonato Silva em sua biblioteca particular

 

O barra-cordense e professor Nonato Silva 
chegou aos 95 anos lúcido e com uma força de vontade incomum. 
Anuncia, por exemplo, que sua produção literária vai continuar. 
Dessa forma, depois das comemorações do seu aniversário, o TB o entrevistou, 
onde ele explica não somente o significado dos quase 100 anos bem vividos, 
mas diz por que Barra do Corda até hoje não tem uma universidade federal 
e a cidade barra-cordense acaba de obter o título de quarta mais violenta do Maranhão.

Veja a entrevista:

 

- Qual o significado desses 95 anos?

Nonato: Os europeus suspiram, calidamente, a chegada da primavera, quando as árvores e plantas se cobrem de variopintadas flores de diversos aromas. Assim, procedi eu, na ânsia de lá chegar. Então, o significado dos meus 95 anos é essa primavera florida. Cheguei em graça e glória, firme e forte, em plena intelectualidade. A mão do Senhor me acompanhou.

- O senhor imagina chegar a quase 100 anos?

Nonato: Não só imaginava, mas desejo. Os desígnios de Deus é que vão ditar a norma de lá chegar, com humildade, submetendo à vontade divina. Entre o imaginar e realizar, há larga distância. Mas sonhos de um hoje, doente, terão término feliz. Pois a velhice é uma moral, tingida de bondade e ensinamento, quer hoje, quer amanhã, repleta de honradez, literalmente no seu existir. É, pois, a imaginação fértil que impulsiona a vontade de se atingir determinada meta, no voar do tempo.

- O seu currículo se confunde com sua biografia. O senhor ainda pretende acrescentar algo mais em sua biografia? Ou todos os sonhos foram realizados?

Nonato: Jamais o sonho se eclipsa nas dobras do meu horizonte. Por isso, enquanto vida tiver, tudo farei para detonar um currículo, confundindo-se com minha biografia, acrescentando-lhe o quanto couber. Os sonhos nunca se escondem na curva da inércia. A virtude do sonho floresce no pomar da vontade férrea. E jamais deixa de operar e realizar, trazendo novos flancos ao ego das biografias, na riqueza do pensamento e da produção, sobretudo literária, cuja dinâmica sobrepõe-se ao acervo biográfico já existente. Minha produção literária há de continuar.


- Barra do Corda é chamada de Princesa do Sertão maranhense da mesma forma que Caxias. Por que Barra do Corda passou a ser também chamada de “Princesa”?

Nonato: Barra do Corda está situada no centro do Maranhão, uma das mais belas regiões do Estado, emoldurada pela Altamira e as gargolantes águas dos Corda e Mearim. Sua posição geográfica permite a passagem, por ali, de milhares de toneladas de produtos de vários estilos. Ora, o pai Maranhão, homem, masculino, príncipe da literatura brasileira. Então, a filha "princesa", Barra do Corda, não poderia ter epíteto melhor. Assim, passou a cidade ser chamada. Porque o povo cria, seleciona, batiza e crisma. E o direito consuetudinário confirma e eterniza. Tudo isso permite a alteza deste título tão honroso, real e permanente. E o Maranhão escolheu a melhor parte que lhe não será tirada. E os escritores passam a usá-lo com frequência. E aí está esta joia aljofrada de merecida glória, causa pétrea da literatura barra-cordense. E acrescentei outro título, o de "Atenas Maranhense". Aí estás Barra do Corda , a "Princesa do Sertão", sorrindo e florindo ao sol do amor e do valor. A força da literatura e do jornalismo cordino sustenta tudo isso. Porque a literatura e o jornalismo pontificaram largamente na cidade de Barra do Corda. Ali esteve pessoalmente e escreveu essa realidade de grande efervescência intelectual, cujo carro-chefe dessa intelectualidade era "O Norte" (Carlota Carvalho, "Sertão", pag. 80).


- O sr costuma dizer que Barra do Corda é uma “plêiade” de intelectuais, uma verdadeira Atenas. Mas a violência que explodiu na cidade nos últimos anos, quarta mais violenta do Maranhão, não pode atrapalhar esse título de Atenas maranhense?

Nonato: Não, a intelectualidade barra-cordense paira sobre mansa imaginação. A violência é fruto da marginalidade. Essa violência jamais pode atrapalhar o título de "Atenas Maranhense" por mim dado à cidade de Barra do Corda. A intelectualidade cordina é como um raio de sol que pousa sobre a lama e não se emporcalha nem lambuza. Assim, procede a fina flor da "plêiade" de intelectuais barra-cordenses.

- Barra do Corda tem o maior PIB da região central do Maranhão. Por que ainda não há uma universidade federal na cidade?

Nonato: Porque esse "pibão" é alimento dos sem-vontade, dos desinteressados. Deve-se unir o interesse à ação. Os intelectuais pensam, mas não têm os recursos do "pibão". A vontade da população e dos intelectuais ficam sem campo de pouso, porque as autoridades municipais não velam pela cultura superior cordina. Se derem uma alavanca ao povo e aos intelectuais, a Universidade de Barra do Corda será erguida dentro em breve, para honra e satisfação de todos nós.

- O senhor tem vários títulos de bacharel, de mestre e doutor. Dentre os títulos, como o senhor quer ser lembrado?

Nonato: De Licenciatura em Filosofia e Doutor em Filologia Românica, auxiliada pela linguística e pela antropologia, alicerce profundo, base no grego e no latim. Daí o título de professor que carrego com muito orgulho e alegria. Sem desprezar as demais láureas. Preza-me muito a profissão de jornalista e maestro. Então, quero ser lembrado "Professor".

- O sr acredita que o Nonato Silva é o maior intelectual de BDC?

Nonato: Há mais de 5.000 anos, já os romanos sentenciavam: "Laus in ore proprio vilescit: louvor em boca própria perde todo o valor". " Medice, cura te ipsum: médico, cura a ti mesmo". "Nemo esse iudex in sua causa potest: ninguém pode ser juiz em causa própria" (Sêneca). Assim, esses judiciosos conceitos, e outros, impedem-me responder positivamente. Deixo aos intelectuais amigos e à corte da cultura barra-cordense dar esta resposta. "Devo muito aos que amo. Aceito a alegria da paz e da liberdade que tenho para com eles, esperando por eles desta porta à janela, entendendo o que o amor e a gratidão entendem. E isso perdurará, pela eternidade, em espaço lírico e retórico" (Wislawa Szymborska, im "Poemas", pág. 54).

 


Nonato Silva no Instituto Histórico e Geográfico do DF


Nonato Silva em sua residência
 


Nonato Silva com jornalista Murilo Milhomem em seu apartamento

 

 

Leia homenagem a Nonato Silva quando completou 90 anos: Clique aqui

(TB1ºset2013)