História
Igreja Matriz faz 60 anos
jornal Turma da Barra

O TB encerra
sua homenagem especial à igreja Matriz de Barra do Corda
 com o artigo de Álvaro Braga.
A homenagem durou todo mês de dezembro de 2011
e parte deste janeiro de 2012
Mas o TB, durante este ano, 
poderá publicar artigos e fotos históricas
da igreja Matriz
Parabéns à igreja pelos 60 anos
e pela sua incrível beleza
cartão-postal

 


Interior da nave da igreja Matriz


Lulu, o primeiro milagre da Igreja da Matriz

 

Por Álvaro Braga

            Corria o ano de 1954 e a igreja Matriz, mesmo terminada em sua edificação, pela sua imensidão e suntuosidade ainda carecia de pequenos reparos e obras. Esse fato se estendeu até os anos 90.
            Frei Cosme Rinetti de Borno era o Pároco local na época, tendo comandado a Paróquia de Santa Cruz no período de 1954 a 1956. 
            Naquele tempo o altar-mor era no final da nave, colado na parede e os padres rezavam a Missa em latim, de costas para o público.
            A única parte da igreja que possuía forro era justamente aquela área sobre o antigo altar e como a igreja possuía um motor gerador de energia elétrica, fora incumbido para instalar  a fiação sobre o mesmo, um jovem de 23 anos chamado Lulu, por muitos conhecidos por Lulu Cavaco, alcunha de parte da família Leite Brasil.
            Seu nome é Luís Leite Brasil, nascido em 21 de maio de 1931, filho de Francisco Leite Brasil e Maria Rosa Alves Brasil, sendo neto pelo lado materno de Thomé Vieira Passos, que foi combatente em Alto Alegre em 1901. É irmão de Clidenor Leite Brasil, o Dodô, que cavou os alicerces da igreja da Matriz.
            Lulu já trabalhava com os padres desde 1946. Fora descoberto por frei Adriano que viu naquele menino calmo, educado, de 15 anos, morador da esquina na Praça da Bandeira, alguém com potencial para colocar na Banda São Francisco de Assis.
            O Frei manda chamá-lo através de um acólito, que fala ao Lulu: 
            - Frei Adriano quer falar contigo!
            O garoto foi então até o religioso e recebeu o convite para ser integrante da Banda do maestro Moisés Araújo para tocar instrumento de sopro. No outro dia voltou com a resposta:
            - Frei Adriano, minha mãe não deixou!
            - Mas porque Santo Dio?
            - Ela disse que todo “sopro morria tuberculoso”!
            Frei Adriano franziu o cenho e balançou a cabeça dizendo:
            - Santa ignorância!
            Então o jovem Lulu ficou sendo utilizado nos serviços da sacristia, auxiliando a liturgia sacra ainda na velha igreja.
            De 1949 a 1951 auxilia frei Simeão de Levate e outros frades nas desobrigas. Em 1951 entra para o lugar de Odorico Ferreira, que havia sido substituído, como sacristão efetivo.
            Quando Frei Cosme assumiu no início de 1954 manteve Lulu como sacristão e o levou à Esperantinópolis, o recém emancipado povoado de Barra do Corda, Boa Esperança.
            O dia 14 de março de 1954 marcaria definitivamente a vida de Lulu Cavaco. Naquele dia ele acordara cedo e pegara o material que utilizaria no serviço da fiação elétrica sobre o forro por cima do altar-mor.
            O trabalho havia iniciado e Lulu colocava os fios sobre o forro a uma altura de quase 15 metros.
            Em um momento de descuido, o rapaz tira o pé do barrote de madeira e pisa em cheio em uma das chapas do forro, caindo em queda livre.
            Lulu cai de pé nos degraus do altar, quebrando a perna na altura do joelho, com horrível fratura exposta.
            Machuca um braço, quebra a mandíbula e tem afundamento dos dentes.
            O sangue jorra de sua perna e boca. Lulu ainda respira e engole muito sangue.
            Jackson Barros e Deodoro Soares que faziam pequenos serviços o socorrem e o pegam nos braços tentando reanimá-lo, inutilmente.
            O carpinteiro Jackson lembra que anos antes havia falado para o Frei Francisco que aquela distancia entre os barrotes, os pontaletes e as tesouras poderiam provocar acidentes no forro.
            Frei Cosme, aflito, manda chamar o enfermeiro Astrogildo Machado e um médico da Colônia Agrícola, Dr. Jeremias Martins que viera auxiliar Eliézer Moreira.
            Doutor Jeremias vendo o rapaz agonizante entre uma poça de sangue sentenciou: - Ele tem no máximo duas horas de vida!
            Frei Cosme, possuidor de uma fé inquebrantável, não se conforma com aquilo e toma uma atitude: procura saber a que horas chegaria o Avião da Aeronorte, empresa que fazia linha passando por Barra do Corda três vezes por semana, sendo informado que um avião de linha estaria chegando em poucas horas.
            Lulu é levado à São Luis junto com Frei Cosme e Machadinho.
            Chegam à noite e Lulu é internado no Hospital Geral, sendo atendido pelo médicos, doutores Serrão e doutor Geraldo.
            O diagnóstico foi rápido. Os médicos disseram: - Primeiro vamos logo ter que amputar a perna, depois cuidamos do traumatismo maxilo-buco-facial.
            Frei Cosme, foi enérgico e falou:
            - Se vocês me garantirem salvar a perna dele, ele fica, se não garantirem eu levo ele para São Paulo!
            Os médicos resolveram operar a perna de imediato e colocaram duas placas com parafusos para fixação do osso danificado. Depois operaram o maxilar.
            Ficou noventa dias no hospital e a perna, imobilizada, ficou dura, sem poder flexionar ou movimentar.
            Estava salvo o Lulu Cavaco!
            Pela Graça de Deus e pela fé de Frei Cosme de Borno.
            Lulu mora atualmente em Brasília, tem 80 anos e uma saúde de ferro, por incrível que possa parecer.
            Esteve em dezembro último em Barra do Corda, quando tivemos a honra e a alegria em conhecê-lo, seguindo para Esperantinópolis, onde possui uma casa.
            Ele disse: - Frei Cosme foi meu anjo da guarda!

NOTA DO AUTOR: Com esse artigo concluímos a história sobre os 60 anos da construção da Igreja Matriz de Barra do Corda com duas constatações: por muito tempo haveremos de reverenciar a memória e a obra de frei Adriano de Zânica; E que Barra do Corda não comporta mais, pela sua importância, a ausência de linhas aéreas, quer de cargas, quer de passageiros. Se em 1954, há 57 anos, um avião foi importante para salvar uma vida, que dirá hoje em dia. Em pleno 2012 pelo menos uma empresa de táxi aéreo deveria existir para deslocamentos de urgências, principalmente em casos de saúde, para que não fiquemos reféns dos aeroportos de Presidente Dutra e Grajaú. Esperamos que os empresários reflitam sobre o assunto e façam esse investimento de grande retorno, afinal, temos um Aeroporto, construído no final dos anos 50, com uma pista que comporta todos os tipos de aeronaves.

BIBLIOGRAFIA:

- Tra gli indi della foresta tropicale, Frei Adriano de Zânica;
- Dall’ impossibile all’ incredibile, Frei Adriano de Zânica;
- Barra do Corda na História do Maranhão, Galeno Edgar Brandes;
- A Princesa do Sertão, Rubem Milhomem;
- Carta às minhas filhas, Eliézer Moreira Filho;
- Rascunhos de Justino Abreu;
- Apontamentos do professor Nonato Silva (Frei Paulo);
- Entrevistas com trabalhadores da obra já citados.
- Nossos agradecimentos a todos que colaboraram com informações.

*Álvaro Braga é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda (MA)

 


Lulu Cavaco, 80 anos
Primeiro milagre da igreja Matriz


Altar mor, o antigo era junto à parede ao fundo


Frei Adriano de Zânica
O apóstolo de Barra do Corda

 


Doutor Jeremias entre Eliézer Moreira,
promotor José Maria, Irmã Helena, Frei Alberto e Frei Simeão

Atenção: Leia matérias do relato histórico: Clique aqui

(TB30dez2011)