História
Igreja Matriz faz 60 anos
jornal Turma da Barra

O professor Nonato Silva e Mário Helder Ferreira 
escrevem crônicas sobre Frei Adriano e a igreja Matriz.

 


Frei Adriano de Zânica


Frei Adriano de Zânica
“O apóstolo de Barra do Corda”

Quaesiuit Dominus sibi uirum iustra cor suum:
“O senhor buscou para si um homem segundo o seu coração” (I Sm 13,14)

Por Nonato Silva

            Prólogo

            O homem – parcela divina – atinge alturas impensadas e inacreditáveis. A soma de sua consciência enche o universo. E volteia o céu e a terra em voos aquilinos. E supera a águia de Giosuè Carducci.
            Nesta barca está Frei Adriano, balouçando em aires de grandeza consciente. Trata-se de nobreza de caráter e belo comportamento.
            Eis o homem que Barra do Corda reteve, cuja magia se desdobra em doces acentos provindo dos celsos páramos do Hebron, dedilhados nas harpas de Moisés e Elias, em grandes harmonias.
            Sim!
            E ao bimbalhar do sino da Matriz, em tom argentino, desembarca, sorridente, na cidade de Melo Uchoa, em outubro de 1930, esse homem que se chama Frei Adriano de Zânica, cheio de fé cristã e espírito missionário, vindo a constituir-se o “Apóstolo de Barra do Corda”.
            Ao entrar no convento, já ali me encontrou como acólito e pré-seminarista. Conhecendo-me, de perto, incita-me a perseverar no espírito vocacional franciscano capuchinho. O que aceitei plenamente. E, em 1934, concluindo o meu ginásio, encaminha-me ao convento do Carmo em São Luís, convertido em Seminário Provisório, tendo-me como seu pimpolho.

            O Homem

            Retidão de consciência e firmeza de caráter, em ecos de concisa sensibilidade, fazem de Frei Adriano o homem talhado para os grandes feitos missionários, de remos e velas pandas. É o arauto da fé.
            E não há força maior que a força da inteligência. E esta jamais faltou a Frei Adriano.
            Capuchinho de perfil retilíneo e vida exemplar, bem soube corresponder ao significado de seu nome “Adriano”: poderoso, aguerrido, perseverante, constante, perspicaz, audaz, tenaz, observador, arguto, indomável, influente, sutil, engenhoso, resoluto, de efeito considerável, infrangível, psicólogo nato, coerente, sincero, respeitável.
            Estes predicados ornam-lhe o espírito, pautam-lhe o comportamento e fazem-no realizador em todas as múltiplas estâncias de sua nobre conduta.
            Enquadra-se ele e amolda-se a inúmeros conceitos e decisões havidos ao longo da literatura sagrada e profana, assim visualizados: “Se calo, ficarão em expectativa; se falo, prestarão atenção; se me alongo no discerso, colocarão a mão na boca. Por causa dela, alcançarei a imortalidade, por causa dela legarei à posteridade eterna lembrança. (Ecl, 5,21)

            O Sacerdote

            Algo há em que a natureza diáfono como o céu e radiante como o sol, simpático como a lua, e faiscante como as estrelas. Eis o sentido e o perfume sacerdotal de Frei Adriano. Porque o espírito conhece, o coração elege. O espírito pensa, o coração opera. O espírito vê, o coração faz. Porque o coração é a fonte da honra e a nascente da virtude.

            O Desobrigante

            Com que alegria e simpatia recebíamo-lo na fazenda “Olho-d’Água” de meu bisavô José Ribeiro Lopes, ao perfume das rosas e jasmins de Mãe Chiquinha, para ali desobrigar.
            E era com profundo amor primaveril que ele assistia seus inesquecíveis desobrigandos, em heróicos atos de benfazer.

            A Matriz-Monumento

            Entre as muitíssimas realizações praticadas em Barra do Corda, pensou Frei Adriano incluir outra de grande valor para a fé e para os paroquianos. Era a construção de uma nova matriz para recordar e manter a memória dos frades que tombaram em Alto Alegre.
            Para tanto, rumou para a Itália, sua pátria, em busca de material e elementos que pudessem sustentar a sua idéia.
            Era o ano de 1939.
            Na Itália conseguiu tudo o que desejava. Mas foi ali retido por causa da Segunda Grande Guerra.
            Retornou ao Brasil somente em1946, trazendo todo o material. E iniciou os preparativos da sonhada construção.
            Mas logo foi transferido de Barra do Corda para outro convento.
            Não se conformando com o ato, passou para a Província dos Capuchinhos da Bahia, em Salvador.
            Naquele estado, em Esplanada, funda uma Escola de Iniciação Agrícola, reconhecida pelo MEC.
            De sua vontade, retorna ao Ceará, em sua província, assumindo a capelania do Leprosário “Antonio Justo”.
            Debilitado, parte para a Itália, onde, na cidade de Bérgamo, falece, em 22 de dezembro de ‘1971, dizendo: “Como é belo viver em fraternidade!”

            O Escritor

            Frei Adriano publicou: “Tra gli indi della foresta tropicale”, onde narra suas experiências missionárias. E “Dall ‘impossibile all’ incredibile”, de grande valor para os capuchinhos do Maranhão.
            Nessas obras patenteou ser escritor correto, fecundo, pajeado de uma floração primorosa da realidade inconteste, cujo pólen dourado é a própria luz divina, e cujas pétalas imortais desabrocham em tronos fulgurantes, no dizer de Dante Alighieri.

            Conclusão

            Frei Adriano, o peregrino de Cristo, há de permanecer sempre na memória do povo de Barra do Corda, pátria que o acolheu no verdor dos anos, sorvendo seu maná espiritual e os efeitos de suas realizações paroquiais.

*Nonato Silva, 93 anos, é o maior intelectual vivo nascido em Barra do Corda, mora em Brasília (DF)

Igreja matriz

*Mário Helder

            Ao comemorarmos os 60 anos de inauguração do monumento cartão-postal e templo maior da fé católica de Barra do Corda, a Igreja da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição a linda Igreja Matriz, foi contemplada com dois importantíssimos momentos.
            O primeiro momento destaque, para o evento cultural lembrado e comandado pelo jornal eletrônico o Turma da Barra, hoje o hospedeiro da cultura da nossa terra, com as narrativas da história da saga da construção e inauguração da Matriz, muito bem descrita pelo historiador Álvaro Braga, que contou nos seus mínimos detalhes as imensas dificuldades vencidas, particularmente por Frei Adriano, que ouso chamar essa construção, de um verdadeiro milagre de Deus. E ainda coroado com belas crônicas dos amigos Cezar Braga e Eurico Arruda.
            O segundo momento, e talvez o mais importante, foram as festividades religiosas comemorativas que tiveram inicio com os festejos de Nossa Senhora da Conceição, com seu coroamento no dia 8 de dezembro e tendo como rito final a Celebração da missa em ação de graças aos mártires do Alto Alegre no dia 23 deste, celebrada pelo Bispo da Arquidiocese de Grajaú, Dom Franco e Frei Dorival ato muito concorrido, onde o grande monumento ficou pequeno para a quantidade de fiés.
            Associo-me a esse momento festivo para também celebrar nessa linda Igreja, em janeiro de 1950, o casamento de meu pai, José Ferreira Sobrinho, o Ferreirinha e minha mãe, Angelina Silva Ferreira, a Bibita. Onde também fui batizado, pelo então frei Paulo de Barra do Corda, cujo padrinho foi o próprio e finalmente tive a honra de receber o sacramento do casamento, com Marluce, pela mãos santa de frei Jezualdo Lazzari há exatos 35 anos atrás,1976.
            Que o repicar dos sinos da Matriz tragam um ano novo de muita paz, que os ensinamentos e a determinação de frei Adriano, possam nos levar às mudanças tão necessárias.
            Fraternal abraço e um próspero 2012.

*Mário Helder Ferreira, economista, é sobrinho do professor Nonato Silva, mora em São Luís (MA)


Navio Duque de Caxias que trouxe da Itália
45 toneladas para igreja-monumento de BDC


Beatos rezando na praça Melo Uchoa
com imagem de Nossa Senhora
de Fátima


Túmulo de frei Adriano
em Bergamo (Itália)

 

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(TB30dez2011)