História
Igreja Matriz faz 60 anos
Parte I

jornal Turma da Barra


Desenho do projeto original da Igreja Matriz
na Itália em 1939


Frei Adriano de Zânica e a Igreja Monumento
aos Mártires do Alto Alegre

Por Álvaro Braga


            Adriano Ceresoli nasceu em Zânica, a 6 km do distrito de Bérgamo, Itália, em 4 de março de 1897. Em 1910 solicita ingresso na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, vestindo o hábito franciscano em 2 de abril do mesmo ano. Em 26 de abril de 1911 se matricula no Colégio Di Sovere e Di Lovere. Em 1916 vai para o Serviço Militar obrigatório, para servir na 1ª Guerra Mundial junto aos Bersaglieri por um período de 45 meses, após os quais retorna ao Seminário, concluindo seus estudos teológicos e o noviciado, para ordenar-se sacerdote em 1928.
            Frei Adriano parte para o Brasil em 1930, chegando ao Maranhão, fixa-se em Barra do Corda em 27 de outubro de 1930. Nessa época era vigário o Frei Ricardo de Dovera. Cumpre nesta cidade a sua “desobriga” juntamente com Frei Heliodoro de Inzago, por um período de nove anos na vasta Paróquia, uma das maiores do Maranhão naquela época, ficando até 1937, quando assumiu como Vigário da Paróquia, até 13 de abril de 1939.
            No ano de 1939, já superior em Barra do Corda, Frei Adriano de Zânica demandava à Itália, sua terra natal, para passar um ano, e buscar recursos para transformar seus projetos em realidade, entre eles a construção da Igreja Monumento aos Mártires de Alto Alegre, levado menos pela saudade dos seus do que pelo propósito inflexível de executar um plano grandioso que somente homens da sua têmpera poderiam forjar.
            O intento de Frei Adriano era comemorar em 13 de março de 1941 o 40º aniversário do Massacre do Alto Alegre, com uma Igreja, que também fosse um Monumento e jazigo perpétuo aos restos mortais dos religiosos que tombaram na hecatombe.
            Pela pregação nas monumentais Igrejas da península italiana, conferências em salões públicos, pela imprensa, exposições, reuniões paroquiais, projeções luminosas da vida missionária, entrevistas, dias consagrados às missões, fazendo propaganda entre autoridades italianas e familiares sobre os Mártires de Alto Alegre, apelos aos proprietários de oficinas de escultura, fundição, pintura, fabricação de mosaicos, marmorarias, angariando donativos, conseguiu aquilo que seria utopia imaginar. Ninguém resistia à sua eloqüência quase mágica.
            No auge de sua campanha missionária, já prestes a regressar, surpreendeu-o a Segunda Guerra Mundial que o deteve na Itália por mais cinco longos anos. A requisição por parte dos alemães, dos sinos de igreja para o aproveitamento das ligas na indústria de guerra, lançou-o numa luta titânica para ocultar, nos campos, os cinco sinos solenemente benzidos pelo cardeal de Milão.
            A maior incógnita, porém, estava por vir. Finda a guerra com a derrota da Itália lançada no caos econômico e social, quase privada das suas melhores estradas e linhas férreas, a sua moeda desvalorizada, como conseguiria Frei Adriano, o transporte gratuito de Milão à Nápoles na estrada de ferro? Aí está o milagre operado pela vontade inquebrantável de Frei Adriano.
            Uma verdadeira “odisséia” foi o transporte de todo o material através do território italiano.
            Uma composição de seis carros partiu de Milão percorrendo quase 800 quilômetros até a cidade de Nápoles, levando dias e mais dias esperando pela reconstrução de pontes destruídas pelos bombardeios e o conserto de trechos onde os trilhos tinham sido, ou lançados para longe, ou retorcidos pelas bombas.
            Retorna em 27 de setembro de 1946 à Barra do Corda, na lancha e batelão de Mariano Assunção, proveniente de Pedreiras, pelo rio Mearim, sendo recebido em seu desembarque na Rampa Municipal pela população e pela banda São Francisco.
            Tudo correu às mil maravilhas apesar dos enormes sacrifícios. A expedição aportou salva em Barra do Corda, trazendo a fachada de mármore para a nova Igreja atingindo a altura de 34 metros, as redomas de todos os mártires, padres e freiras, em mosaico do tamanho de 80 c.c, a Tipografia, o Relógio, os cinco sinos pesando o maior 300 quilos, sendo que cada sino traz a efígie dos mártires, um altar de mármore para a nova Matriz, várias imagens de madeira, obras primas dos maiores artistas italianos, as quatorze estações da Via-Sacra em bronze para o Calvário em Barra do Corda já construído pelo mesmo Frei Adriano acompanhando as sinuosidades do outeiro da Altamira fronteiriço à cidade, um altar também de mármore, para a Capela dos Mártires, máquinas e motores para pilar arroz, bombas de água, rádio-amplificadora, uma quantidade inumerável de alfaias, dosséis para enfeites.
            A mais deixou em dinheiro 75 contos para a nova Matriz, afora remédios, cortes de fazenda que ele distribuiu aos pobres, instrumentos musicais para a banda, fardas etc.
            Após a penosa jornada, Frei Adriano de Zânica fez uma grande exposição de todo o material, por longos dias, na velha Matriz, no centro da praça Melo Uchoa.
            Frei Adriano permaneceu em sua volta a Barra exatos de 3 anos, 3 meses e 7 dias.
            Partiu de Barra do Corda na noite de 4 de janeiro de 1950, mesma data em que foi celebrado o casamento de José Ferreira Sobrinho, o Ferreirinha e sua esposa Angelina Ribeiro Ferreira, a Bibita, na velha igreja Matriz, que ficava no centro da praça Melo Uchoa.

Nota: Na próxima semana: A repercussão da saída de Frei Adriano, e os preparativos para a demolição da velha igreja Matriz e do antigo e belo prédio Prefeitura


Frei Adriano de Zânica
Construtor da Igreja Matriz de Barra do Corda (MA)

 


Igreja Matriz por outro ângulo

Atenção: Leia também a segunda parte do relato histórico: Clique aqui

 

(TB4dez2011)