Entrevista
Fernando foi um grande homem,
diz Alcione Guimarães
Cartaz de Alcione e Jeferson na época da campanha para prefeitura
Alcione Guimarães Silva,
prefeito de Barra do Corda entre 1976 a 1982,
é uma das testemunhas vivas dos últimos momentos de Fernando Falcão.
Alcione entre os amigos de infância e adolescência,
foi o escolhido para suceder Falcão na prefeitura cordina.
Eram tão amigos, que Fernando continuava a chamá-lo de Pisca ou Chevrolet,
apelidos de infância.
Veja a entrevista:
TB – Alcione, o que você poderia nos falar sobre o seu amigo Fernando Falcão, transcorridos 30 anos de seu falecimento?
Alcione - O Fernando sempre estava alegre. Era dinâmico, uma pessoa de bem, que trabalhava realmente para o povo. Onde ele chegava o povão vinha ficar a seu lado. Pra mim foi uma surpresa a sua rápida ascensão política. Uma vez estávamos numa roda de amigos e ele, empolgado falou: - Vou ser o sucessor do Louro Pacheco! E não vou ser nem vereador! Ele falou assim mesmo, de supetão. E foi eleito naquela época que na Barra não tinha nem 12 mil votos. Até então era um jovem que não havia entrado na política.
TB – Como foi que o senhor recebeu a notícia que seria o próximo prefeito de Barra do Corda?
Alcione – Ele já havia me comunicado, mesmo antes da reunião definitiva da escolha que aconteceu à noite na casa do Dorgival. Nesse dia eu resolvi não comparecer à reunião e me mandei para a churrascaria Sete Rodas, da Dora, na Tresidela.
TB – Como era o dia-a-dia entre vocês e os amigos?
Alcione – Nos reuníamos às vezes no bar da dona Brasília, que cantava bem, e do seu esposo Pernambuco, que ficava na beira do rio Corda, no exato local onde hoje moro, geralmente tomando whisky Teachers, o preferido do Fernando, acompanhado pelos amigos Adalberto, Zezico, Reginaldo, Pepeu, Zé Biquinho e o Toiô, que sempre alegravam a mesa cantando e tocando. Outras vezes a turma toda ia para a churrascaria Sete Rodas, na Tresidela.TB – Fernando Falcão na época em que era o administrador do Incra fez alguma parceria com o prefeito Alcione?
Alcione – Muitas vezes. Lembro que uma vez eu o procurei em seu escritório para falar sobre um buraco que apareceu depois das chuvas, naquela rua que fica entre o antigo CNEC e o rio Mearim, na Tresidela. Perguntei a ele como poderia me ajudar para conter aquela erosão que já ameaçava toda aquela área. Ele me disse que poderia conseguir as caçambas e uma caterpiller. E assim foi. Fizemos todo o aterramento da região. A parceria foi feita em muitas outras oportunidades, pois naquela época os recursos para a prefeitura eram apenas aqueles do Fundo de Participação dos Municípios.
TB – Como foi que recebeu a notícia da morte do Fernando Falcão?
Alcione – Olha, foi um choque, terrível. Era um sábado e eu estava na prefeitura vendo umas coisas. Lá pelas duas e meia fui pra casa, chegando lá, comi um xambari que haviam feito, tomei uns dois tragos, e estava tranquilo, repousando. De repente escutei alguém bater na porta, aos gritos. Era dona Elza Falcão. Perguntei: - o que foi? Ela disse: O Fernando morreu de enfarto! Com aquela notícia quase quem tinha um enfarto fui eu. Falei: - Não é possível, deve haver um engano. A notícia veio para o BEC (Batalhão de Engenharia e Construção) pelo rádio. Na época o comandante era o major Daniel. Na época já tinha telefone, mas eram muito poucos, ou eu só havia inaugurado as cabines, não lembro bem. O fato é que chamei o motorista do meu Maverick marrom, o Fidélis e fomos à Presidente Dutra. A primeira pessoa que eu vi foi o prefeito Lindomar, que foi logo me dando a notícia que eu temia: Fernando Falcão morreu. A notícia estava saindo na televisão, por Teresina, segundo ele me participou. Quando finalmente consegui ligar pra São Luís, falei com a Paizinha do Nicanor Azevedo e ela me respondeu com a maior calma do mundo: - É verdade! Eu falei pra ela: - Me falas isso com toda essa calma? É por que aqui, Alcione ta a maior agonia.TB – Como foram os últimos dias de Fernando Falcão?
Alcione – O Fernando teve três ataques antes de morrer. Andava exagerando na bebida e no cigarro Hollywood. Lembro que ele tinha por essa época, além do Maverick preto, um automóvel Dodge vermelho, também chamado Dojão, que ele chegava a 170 km com ele na estrada. Quando ele estava em São Luís nós bebíamos whisky toda noite num bar lá no Felipinho. Aquilo era um coisa sagrada. Tenho um monóculo comigo que foi tirado numa mesa cheia de garrafa vazia onde estão ele, o Adalberto e o Loiola. Na festa que fomos na casa da Irene lá no sertão, fui até na rural vermelha da prefeitura, no dia 29 de dezembro de 1979. Lá o Fernando passou mal e vomitou uma coisa vermelha, que pensávamos que era sangue, mas não, era Cinzano, que ele tinha passado da conta no consumo. Ficamos por lá até o dia 31 de dezembro de 1979, e voltamos pra Barra á tarde por que tinha o reveillon que a Francisca [esposa] tinha preparado. O Fernando, na época da campanha para deputado estadual tinha conseguido um empréstimo com o gerente do Banco do Brasil em Grajaú, um amigo de nome Cláudio. Quando ele adoeceu e foi pra São Luís, dei um dinheiro pra ele e com o Cláudio que era o gerente do Banco do Brasil na praça Deodoro ele conseguiu um empréstimo de cinco milhões de cruzeiros para financiar seu tratamento em São Paulo. Foi isso que aconteceu. Depois de sua morte, vieram pra Barra quatro ou cinco aviões. Me lembro que estava chovendo no dia do enterro e o João Castelo estava comigo na chuva. O corpo veio embalsamado. Também foi a última vez que vi o Beto Falcão, irmão do Fernando. Nunca vi tanta gente reunida na Barra do Corda. Tinha gente até de outras cidades do interior maranhense. Fernando Falcão foi um grande homem.
(TB6mar2010)Leia mais sobre o período Fernando Falcão: Clique aqui