Especial
30 anos sem dom Marcelino
Dom Marcelino
foto lembrança distribuída quando da sua morte
Nestes 30 anos sem dom Marcelino de Milão,
o TB faz uma homenagem especial àquele frade italiano,
que escreveu para sempre seu nome na história de Barra do Corda.
Durante seu período na cidade, quase 15 anos, de 1957 a 1970,
uma de suas obras é o monumental Colégio Nossa Senhora de Fátima,
o popular Diocesano,
um prédio que na década de 60 demorou quatro anos para ser erguido.
Uma pequena fábrica de azulejos foi erguida para suprir a necessidade do grande colégio.
Também é de dom Marcelino a igreja São Francisco, na Tresidela,
e uma monumental obra sócio-educacional
por todo território barra-cordense.
Dom frei Marcelino
Pontifex, id est, sacerdos maximus inter frates suos,
”Pontífice, isto é, máximo sacerdote entre seus irmãos”
(Lv 21, 10)*Nonato Silva
*Nonato Silva, 91 anos, é o maior intelectual vivo de Barra do Corda, mora em Brasília
Uma cintilante estrela fuzila no espaço sideral da bela Itália.
Esta estrela é o infante Sérgio Bicego.
Um dia, já pré-adolescente, ouviu uma meiga e suave voz a dizer-lhe: “Vinde comigo e vou farei pescadores de homens” (Mc 1,17).
Cristo, assim, lhe fala.
E Sérgio obedeceu ao chamado.
Entra num seminário dos Frades Capuchinhos.
E após os estudos eclesiásticos exigidos, ordena-se presbítero, em 26 de julho de 1945, com o nome religioso de Frei Marcelino de Milão, Itália.
A voz de Cristo impregna-o do espírito missionário, revestido de largos conhecimentos intelectuais, morais, espirituais e religiosos.
Na condição de missionário católico, parte da Itália para o Brasil, aportando em Fortaleza-CE, em 1946.
Leciona Teologia e Sagrada Escritura no Seminário Maior dos Frades Capuchinhos, em Messejana - CE, de 1946 a 1950, bem como no de Parnaíba – PI, de 1951 a 1956.
Do Ceará, zarpa para o Maranhão, quando é nomeado superior e pároco de Carolina, neste Estado, e, posteriormente, de Barra do Corda – MA, onde faz da escola um valioso instrumento do mais rico apostolado no meio da juventude e das famílias.
Amou os pobres como poucos. E, em prova do que, funda, ali, o Abrigo dos Velhos, hoje, idosos, bem como do suntuoso Colégio de Nossa Senhora de Fátima, donde saem, anualmente, centenas de professoras normalistas e acadêmicos rumo às universidades.
Diante de sua cultura, piedade e zelo eclesiástico, a Santa Sé nomeia-o Administrador Apostólico de Carolina, em 1970.
E, na mesma linha de raciocínio, é nomeado Bispo para a princesa do Tocantins. E recebe a ordenação episcopal, em 21 de outubro de 1971, na cidade de Imperatriz – MA.
Como bispo, adotou o lema “Amar e Servir”, o que faz eficazmente em todo o resto de sua vida terrena.
E carregado de grandes virtudes e santidade, muda-se para o céu, partindo de Belém – PA, sendo recebido triunfalmente por São Pedro, o claviculário do paraíso celeste, em 22 de janeiro de 1980, ostentado sua mitra dourada.
E dele afirmou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB -, agraciando-o assim: “Fou um bispo de simplicidade seráfica, confiante em Deus, possuído pelo espírito de oração, incansável no trabalho e no sacrifício até o fim.”
Eis o perfil de Dom Frei Marcelino Sérgio Bícego de Cusano Milanino.
Portanto, são mais do que justas as homenagens que se lhe prestam no 30º aniversário do seu falecimento.
Relembrando Dom Marcelino
*Álvaro Braga
Há 30 anos, mais precisamente no dia 22 de janeiro de 1980, na cidade de Belém do Pará, o mundo perdia Dom Frei Marcelino Sérgio Bícego, aquele religioso italiano devotado aos necessitados e às crianças, que em 1957 aportou em Barra do Corda, vindo de Carolina, para substituir a Frei Lamberto de Boltiére na direção do Colégio Diocesano N. S. de Fátima.
Frei Marcelino era um plantador e cultivador de Escolas, que fez de sua vida inteira uma motivação, com muito talento e virtude, para que o ensino chegasse aos alunos como uma aquisição verdadeira em suas vidas.
Tinha sempre uma palavra amiga para quem o procurava, mesmo que estivesse cansado depois de um dia inteiro de trabalho educacional.
Quando se exasperava com alguma coisa, entoava sua sua voz grave de tenor: - Má vá! Má vá! Ali se dissipavam o se parecia ser um projeto de falta de paciência e ele se transformava em todo ouvidos para quem o inquiria atrás de um conforto de uma palavra amiga ou simplesmente aceitando um convite para que visitasse um doente em um lugar mais distante.
Era uma criatura de Deus realmente, um Pastor que sempre trilhou seu caminho com devoção e retidão, procurando sempre confortar os mais humildes na trabalho pastoral e educacional.
O Jornal "O Progresso", de Imperatriz, de 24.01.1980 noticiava o seu passamento com a seguinte manchete:
"POVO DÁ SEU ÚLTIMO ADEUS A DOM MARCELINOÀs oito horas de hoje estará sendo levado para a cidade de Carolina, o corpo do bispo Sérgio Bícego, que morreu anteontem e que será sepultado naquela cidade no altar-mor da Catedral de São Pedro de Alcântara, ainda hoje. Às 16:00h faleceu em Belém (PA) Dom Marcelino Sérgio Bícego, bispo da Prelazia de Carolina, sob cuja jurisdição está a Diocese de Imperatriz. Ele foi transportado para a capital paraense ao final de segunda-feira quando já era grave seu estado de saúde. Inclusive o prelado relutou bastante em fazer essa viagem que ele tinha consciência ser inútil. Oficiosamente Dom Marcelino foi vitimado por leptospirose, moléstia transmitida ao homem através de ratos e animais domésticos.
O corpo de Dom Marcelino chegou à Imperatriz às 14h de ontem, em avião especial, quando era aguardado por milhares de pessoas no aeroporto local, que para lá foram em carros particulares e em ônibus conseguidos pela Prefeitura Municipal. Do aeroporto, o corpo do bispo desceu até a Praça Brasil, em carro onde chegou por volta das 14:30h. Depois, milhares de pessoas acompanharam Dom Marcelino a pé até a Igreja de Fátima, onde uma multidão tomava por completo até mesmo a praça. À noite, por todos os padres da cidade, foi celebrada missa de corpo presente e atos fúnebres em memória do extinto."
Tendo nascido em Vicenza, cidade italiana, em 18.06.1920, Dom Marcelino adotou o Brasil, e o Maranhão como sua segunda terra.
Era homem de fé e também de muitas cartas, que indefectivelmente iniciava com: "...caríssimo, Paz e Bem!"
Estando em Porto Franco, em 1971, escreveu ao Professor Galeno Brandes, uma carta com poucas linhas, que transcrevemos do livro Um Coração Palpitante de Humanidade, da freira Anna Maria Pastorelli, na qual deixa derramar todo o seu amor por Barra do Corda:
"Caríssimo Galeno. Sou-lhe intensamente grato pela carta que pude ler endereçada a mim e trazida pelas moças que vieram até aqui. Embora completamente absorvido nos problemas desta queridíssima Prelazia de Carolina, não esqueço, nem poderei esquecer o que deixei em Barra do Corda. A distância e o silêncio me ajudaram para refletir e fazer um profundo exame de consciência e verifiquei que no longo período cordino acertei muitas coisas mas errei também muitas outras. E o Senhor fez muito bem em enviar-me para outro lugar bem longe. Reconheço que amei (e ainda amo) extremosamente Barra do Corda e seu povo e que amei trabalhar pelo seu desenvolvimento. Só tenho de agradecer a Deus ter-me concedido a graça de viver numa comunidade tão generosa e que é pródiga de consolações..."
Aqui entre nós ficou célebre a sua frase:
"Semeia o conhecimento do bem no coração da juventude!"
*Álvaro Braga é historiador, mora em Barra do Corda
(TB31jan2010)Leia mais sobre Dom Frei Marcelino: Clique aqui
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