História
Senhor Jackson Barros
“Eu sei onde Melo Uchôa foi enterrado!”
jornal Turma da Barra



Jackson Barros, ao fundo praça Gomes de Castro

Jackson Barros diz: "Quando eu tinha por volta de cinco anos (1923) 
meu pai [José Altino] me levou até o canto do velho cemitério (São Benedito), onde havia um pé de catingueira e mais à frente alguns pés
de pitomba e uma figueira grande."
E completa: "ali foram enterrados [Praça Gomes de Castro] o fundador de Barra do Corda e um pouco mais adiante o cacique Caboré"

*Álvaro Braga

            Dotado de prodigiosa memória para os seus quase 94 anos de idade (ele nasceu em 1918!), o senhor Jackson Barros, pedreiro e carpinteiro aposentado, é sempre uma autoridade em matéria de relembrar fatos dos anos 20, 30, 40, 50 e 60 acontecidos e testemunhados por ele em Barra do Corda, cidade onde nasceu e mora até hoje.
            Entre as valiosas informações prestadas ele nos revela que a Praça do Giz, até o início do século passado chamava-se Praça do X, pois no local, nos primórdios de Barra do Corda, haviam pequenas casas e os moradores, oriundos do Ceará, mandavam chamar seus parentes e estes, ao chegarem, construíam quartos anexos às casas existentes,  ficando as mesmas com a aparência da letra xis.
            O senhor Jackson sabe até hoje, desenhar o croquis da antiga ponte de alvenaria que havia entre os rios Corda e Mearim, construída no governo municipal do Intendente Fortunato Fialho (1894 – 1896), que correspondia ao cargo de prefeito. Contrataram, vindo do Rio de Janeiro, o engenheiro francês Diderot e este contou com o trabalho de membros das famílias Claro e Negreiros, assim como do senhor José Altino de Oliveira, experimentado mestre de obras e carpinteiro, que repassou ao filho Jackson todas essas informações.
            Outra informação histórica repassada por seu pai, que viveu na Barra no final do século XIX, foi que, após a fundação de Barra do Corda, numa época em que só haviam 17 casas e 74 pessoas morando, o centro da cidade se resumia a pequenos estabelecimentos e entrepostos  comerciais dentro das casas, em um setor delimitado entre a Praça do Giz (ou X) e o Porto da Sapucaia. O local, específico, era denominado Centrinho, localizado na atual rua Irmã Helena, adjacências da Loteria, casa do senhor Argemiro e casa da família de Moreno Queiroz.
            Também possui todos os detalhes, em sua memória, das cheias de 1924 e de 1926 que destruíram parte da antiga ponte de alvenaria e madeira, pelo lado do rio Mearim, ocasionado pelo tombamento de diversas árvores gigantes, com dezenas de toneladas, que haviam mais acima, nas margens do citado rio, como gameleiras e sumaúmas. As árvores foram jogadas contra a ponte, em magnífico espetáculo da natureza em fúria, ficando represadas por dois dias, até que numa noite chuvosa toda a Barra do Corda ouviu um estrondo ensurdecedor: a ponte, que já estava submersa, não suportou o peso das árvores e da enxurrada e foi levada pelas águas.
            Conta ainda, que a cheia foi tão grande que o rio Corda, represado, virou um lago e as águas do Mearim junto com o Corda avançaram até as imediações do local do atual Banco do Nordeste, pela rua Tiradentes, transformando o local em pequena lagoa, que inclusive, contam os mais antigos, que ali era um pequeno brejo, onde as pacas iam beber água. Pessoas desabrigadas, do local do Porto da Cavalaria, início da rua Formosa, atual rua Frederico Figueira, que perderam todos os seus móveis e pertences foram alojadas na antiga Igreja Matriz. Acrescenta também que as lanchas foram amarradas por cabos a grandes argolas de ferro em local próximo ao Mercado e imediações da casa de Manoel José Salomão, que por sinal, mandou construir uma alta calçada (Calçada Alta) em volta de seu comercio e moradia, temendo as cheias periódicas do rio Mearim. O mesmo aconteceu com a casa que foi comprada pelo senhor Teófilo Lopes da Fonseca, pai de dona Alda Brandes, que também teve sua calçada elevada.
            Mas a revelação mais bombástica narrada pelo senhor Jackson, foi a de que ele sabe o local exato onde foi enterrado o fundador de Barra do Corda, o alferes e topógrafo, nascido na cidade de Granja – CE, Manoel Rodrigues de Melo Uchôa.
            Revelação de uma importância histórica sem precedentes!
            Estava eu ali cara a cara com a única pessoa no mundo detentor de tão importante informação. Logo ele me contou o que sabia:
            “Quando eu tinha por volta de cinco anos (1923) meu pai me levou até o canto do velho cemitério (São Benedito), onde havia um pé de catingueira e mais à frente alguns pés de pitomba e uma figueira grande.
            Recordo quando o meu pai, José Altino de Oliveira, me disse apontando para o pé da catingueira, onde José Manoel Milhomem, irmão de Quinca Milhomem (pai do Mororó), amarrava seu cavalo, que ali foram enterrados o fundador de Barra do Corda e um pouco mais adiante o cacique Caboré e que ao começarem a construir as primeiras casas naquele setor os ossos que foram encontrados foram todos jogados em um grande buraco no centro da quadra (Praça Gomes de Castro, conhecido como Praça do Sítio).”
            Do velho cemitério restaram lendas, o apelido de Porto das Almas, em um porto de banho próximo ao Sr. Lima, localizado em frente ao balneário Tabocas e o nome Cemitério Velho que designava aquele local até o final dos anos 30.
            Aquela quadra fica ladeada pelas ruas Isaac Martins, Fortunato Fialho, antiga estrada do Sertão e rua Gomes de Castro, que passou a se chamar rua Luiz Domingues a partir de 1912.
            Melo Uchôa possuía residência no alto da rua Fortunato Fialho, segundo relato do professor Galeno Edgar Brandes, in Barra do Corda na História do Maranhão. Muito provavelmente próximo às casas onde moraram o senhor Miguel Teixeira Mendes, vulgo Miguel Tempero, pai de Arzelino Teixeira Mendes e a casa de Pascoal Cavalcante e dona Nenê. E a proximidade com o cemitério velho é mais uma razão que vem corroborar o fato.
            A primeira residência do fundador havia sido em uma grande Casa Amarela próximo à centenária sapucaieira que existiu no local da fundação da cidade (Porto da Sapucaia) e que caiu pelo assoreamento da terra em seu tronco, provocado pelas consecutivas cheias dos rios.
            O velho pé de sapucaia veio abaixo no início dos anos 30, tendo sido, inclusive, feito várias tentativas para mantê-lo erguido, por lideranças da época, chegando inclusive a amarrá-lo com correntes, tudo em vão. Ela caiu e ficou por muitos anos derreada na margem do rio Corda.
            A citada Casa Amarela, foi citada em escritos por Mariínha Miranda, de acordo com informações repassadas por seu pai, Marcelino Cézar de Miranda, neto de Melo Uchôa. O local da casa do fundador ficaria nas imediações e quintal da antiga casa do finado senhor Airton Alencar, atualmente pertencente à família do senhor Ventura. Deixo essa informação para os futuros historiadores e arqueólogos procurarem pistas dessa edificação.
            A outra residência dele, usada para descanso era na localidade Brejo dos Porcos, em local cercado por vegetação típica do semi-árido nordestino que lembrava o seu Ceará, com cardeiros, coroas-de-frade, pés de macaúba, angico, mandacarus e xique-xiques.
            Agradecemos ao senhor Jackson Barros pela disposição e presteza ao nos levar ao local exato onde foram enterrados os restos mortais de Manoel Rodrigues de Melo Uchôa e torceremos para que, no futuro, se erga ali uma lápide, pelo menos, em sinal de agradecimento e respeito ao  fundador de Barra do Rio das Cordas, atual Barra do Corda. 

*Álvaro Braga é historiador e escritor, mora em Barra do Corda (MA)


Jackson Barros aponta local onde está sepultado
Melo Uchoa, fundador de Barra do Corda


O local exato onde está sepultado
Melo Uchoa, fundador de Barra do Corda


Jackson Barros e Aurelino Pacheco
na praça do porto das Pedrinhas

 

 

 

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(TB06mai2012)