Especial
Dona Zelinda de Araujo Moraes completa 90 anos
jornal Turma da Barra


Dona Zelinda na sala da sua casa em Barra do Corda
Foto de Álvaro Braga

O historiador Álvaro Braga homenageia a senhora Zelinda Araújo Moraes
 que este sábado, 20 de outubro, completa 90 anos de vida. “A história de dona Zelinda Araújo Moraes, que completa nesse dia 20 de outubro de 2012 a marca de 90 anos, confunde-se com a própria história de Barra do Corda dos anos 20 até os dias de hoje, tal a intensidade de fatos e pessoas que estão interligados em sua vida.”

*Álvaro Braga

            A história de dona Zelinda Araújo Moraes, que completa nesse dia 20 de outubro de 2012 a marca de 90 anos, confunde-se com a própria história de Barra do Corda dos anos 20 até os dias de hoje, tal a intensidade de fatos e pessoas que estão interligados em sua vida.
            Fizemos um breve relato sobre sua história de luta e fé católica, tendo participado por muitos anos do grupo de orações Nossa Senhora de Fátima, formado por senhoras cordinas e destacando também o bom humor de dona Zelinda, sempre presente, mesmo nas ocasiões em que a precária saúde lhe traz alguns sustos.

A Família

            A senhora Zelinda é filha de João Alves Franco e Luzia Araújo, a quem chamava Mãezinha e segundo ela, recordava do famoso pé de araticum que deu origem ao bairro do mesmo nome. Sua mãe falava: - Era lindo o pé de araticum!
            Sua mãe Luzia morava nas Duas Ilhas. Era filha de João Brasiliano Mesquita e Lucrécia Araújo Mesquita, uma boa senhora, que em sua casa, ajudou a criar os primeiros Bragas, como Agenora Braga, cujos ascendentes, Pedro Pereira Braga e Inácio Braga, vulgo Ioiô, aportaram em Barra do Corda, vindos da cidade de Ipu, na Serra Grande, região do Ceará.
            Gostava de fazer feijão "sempre verde" com ossada e bacalhau. As meninas Raimundinha (esposa de Florêncio Brandes) e Sebastiana Pinheiro (esposa de Licério Pinto), filhas de Ana Maria e José Pinheiro Nascimento, passavam o dia inteiro na casa dela e eram consideradas como filhas. Ana Maria era prima de Luzia Araújo e era mãe também dos filhos: Augustinha; Maria de Lourdes, mãe da Zeca (esposa do ex-prefeito Edson Falcão da Costa Gomes) e; José, vulgo Zeca, filho de criação.
            A menina Zelinda passava o dia banhando no rio Mearim e era necessário que sua mãe Luzia fosse buscá-la dizendo: - Zelinda, tu não quer mais voltar pra casa não?
            Ela mesma relembra: "o tio Antoninho era eternamente "enzamboado" e possuía um sítio onde as meninas iam buscar côco, manga, caju, buriti, laranja, goiaba e aproveitavam para catar feijão sem "grugui" (gorgulho), pilar côco de macaúba que não tivessem "gogolô" e beber o "mocororó", também da macaúba. Naquele tempo havia um bebedouro nas barrancas do rio que o gado vinha lamber e ficava lambendo o barro até ficar parecido com a boca de um forno".
            Os irmãos de dona Luzia Araújo eram dez ao todo e os homens foram registrados com a letra A:

            Antoninho Araújo, que casou com Inês Galvão, filha de Eduardo e Mariquinha Galvão, morreu no Araticum e é pai de José Carmélio, Linton e Ilídio Araújo; Antenor, casou não se sabe com quem, viveu e morreu em Arari; Augustinho Araújo, vulgo Goéla, casou com Alzira; Antônio, morreu pequeno; Corina Araújo, casou com João; Maria da Glória Araújo, morreu moça velha; Cantionília (Cantu), também morreu vitalina (moça velha); Ana Anita, morreu bem nova, após ser acometida de forte febre; Inês, que casou com Manoel Queiroz, pai de Anisio Queiroz.
            Seu pai, João Alves Franco era filho de Vicente Alves Franco, um gordo cearense, e de Raquel Alves Franco, uma pacata e religiosa senhora. João Franco não gostava que o chamassem de João Bé.
            Os irmãos de João Franco eram:
            José Franco (Zé Bé), que casou com Maria Tomaz; Laurinda, que casou com Antônio, falecido devido ao alcoolismo. Laurinda morreu grávida. As galinhas estavam sem milho, no lugar Centro da Luzia, onde morava, e ela falou: - Agripino, meu filho, vamos pra roça pegar milho para as galinhas. Pegou o jacá sozinha e colocou na burra. Estava muito pesado e sentiu um estralo dentro do corpo. Chegou em casa passando mal. A Maria Cotia cuidou bem, mas ela morreu com o bebê; Jovina Bé, morreu moça velha; Jovem, casou com Raimundo Bé, cearense; Joana, morreu nova; Laurentina, casou com Eurico Morais, pai da Jacira, casada com João, que moravam perto da Rampa Municipal; Ana, casou com João Loiola; Clara, casada com João Noronha, pai do Pedro Noronha, fruto de seu segundo casamento; Francisco Alves Franco (Chico Bé), que casou com Maria Conrado, irmã de Neco Conrado.
            Dona Zelinda relembra da morte do pai: "Ele era agricultor, muito pobre. Morreu de coice de égua, agoniado, quando tomava conta do gado do Amaral. Lá no terreno tinha muito bananal, pé de manga, araticum, lima-de-umbigo. Por essa época as meninas tinham uma cabra de estimação e uma vaca chamada Peito Só, amarelada. O Augusto Maranhão deu dois burros para o João Franco cuidar. Um dia chegaram dois moleques para pegar os burros e ele foi pegar e botar ração. Aí ele pegou um coice da égua do Antonio Preto. Lá de casa escutei o grito: - Ahhhhh! E os meninos ficaram só escutando. Augusto Maranhão não foi na sentinela e nem ajudou a família, que eram todos muito pobres e ficaram sem nada."
            Os irmãos de Zelinda são: Carlos Augusto Araujo Franco, que casou com Ana Amélia Arruda, filha de Deodoro Arruda e, ao enviuvar casou com Zilmar, prima de Galeno Brandes; José Lucas Araújo Franco, casou com Delzuíta Lemos e ao ficar viúvo, viveu vinte anos com Helena Ribeiro Campos; Maria de Jesus Araújo Arruda, casou com Antônio Arruda (Tuchin), já falecido; Zélia Araújo Queiroz, casou com Rubem Queiroz.
            Naquele tempo, a família Araújo, formada por João Araújo Franco e por Luzia Araújo morava nas Duas Ilhas, rio Mearim acima, próximo à casa da família do Zé e Jovina Bé.
            Com a morte de João Alves Franco, José Galdino, irmão mais velho de Manoel Galdino, que havia chegado primeiro à Barra do Corda, proveniente de Colinas, combina com dona Luzia para criar Carlos Augusto, que passa a ajudá-lo em seu comércio até a data da morte de José.
            Com a morte de José Galdino, na Tresidela, às 17h do dia 30 de setembro de 1939, coube ao irmão Manoel tocar os negócios de ambos, já que não possuía filhos e a mulher do mesmo, Zica, sofria de problemas mentais. Tudo foi dividido entre os parentes que moravam em Barra do Corda.

O Casamento

            Assim Manoel Galdino tomou a frente dos negócios e se enamorou por Zelinda Araújo, casando-se em seguida e formando numerosa descendência, formada pelos filhos: Clélia, Elton, Cléa, Ednan, Heider, Elber, Wilma, Clesemir e Clésia.
            Zelinda casou-se aos quinze anos de idade e Manoel Galdino aos vinte e seis. A cerimônia aconteceu na antiga igreja Santa Teresinha, em 29.01.1938, oficiada pelo Frei Adriano de Zânica.
            Semanas antes, no Educandário São José da providência, no Convento das Freiras, onde estudou do 1º ao 4º ano, ouviu do Frei Adriano, que este não a casaria por ela ser muito nova. Zelinda foi a pé com sua mãe Luzia, passar o final de semana na casa de sua tia Corina quando cruza na estrada com duas amigas, Raimunda e Dondon, que falaram ao mesmo tempo: - O padre vai "correr os banhos"!
            Dona Luzia disse: - Meu Deus, ele disse não ia fazer o casamento!
            Na época, a menina Zelinda estudava no Convento das Freiras e a diretora Irmã Tomázia, que gostava muito dela, sempre falava para a sua mãe: - Luzia, se tiver outras filhas, traga, pois pela Zelinda eu tiro as outras!
            O irmão Carlos Augusto Araújo Franco estudava no Colégio Pio XI, nessa época.
            Dona Zelinda relembra de um fato quando estava noiva de Manoel Galdino: "Estava anoitecendo e todos estavamos reunidos na casa dele, quando chega um vaqueiro e diz para Manoel: - Quero um particular com o senhor! E saiu com ele para tras da casa, perto da casa de Farinhada. Fiquei com o coração aflito, com medo do homem fazer um arte com ele. Depois ele me dissse que o homem era um portador de Manoel Branco e falou assim: - Seu Manoel manda perguntar se ainda tá de plano casar com a filha dele? (Raimunda, conhecida por Dica), havia sido prometida a ele no aniversário dela, dia 17 de setembro para casar dali a um ano na mesma data. Manoel Galdino respondeu ao mensageiro: - Já despachei e tá despachado!"
            Então o frade correu os proclamas e sempre após a missa, durante três semanas anunciava: - Aviso: Os "banhos" de Manoel Galdino de Moraes e Zelinda Araújo estão transcorrendo por três semanas. Se alguem souber de algum impedimento favor avisar o vigário. Obrigado!"
            Por essa época a Irmã Coleta tinha um salão no Convento, que usava para ensinar as moças a fazer artigos para noivas.
            E aconteceu o casamento à noite, com lampião Petromax a iluminar a capela de Santa Teresinha, com a presença de todas as suas amigas de aula. Sua amiga Zezé do Valdeco, também de nome Zelinda preparou sua roupa. O vestido e véu foram foram emprestados por dona Eunice Bastos Salomão e a grinalda com dois buquês de flores, que Zelinda segurava um com a mão esquerda sobre o coração e o outro com a mão direita, foram presentes de Aldenora, irmã de Almir Silva, o Mica.
            Estavam presentes todas as suas colegas do Educandário, inclusive Léa Brandes que disse: - Seu Manoel o senhor tomou minha amiga! Manoel respondeu: - Não, minha filha! Ela é a mesma pessoa e vocês vão continuar sendo amigas!
            Também estavam presentes dona Agenora Nogueira Braga, seu filho Zé Arruda e William Figueira, filho de Acrisio Figueira e Maroca Nava, que disse: - Essa menina já vai casar?
            Casaram e foram
morar na Tresidela onde Manoel Galdino havia se estabelecido.
            Parabéns dona Zelinda pelo contagiante bom humor com que leva a vida.

*Álvaro Braga é escritor e mora em Barra do Corda - MA

Nota: 
A família agradece de coração, caro Álvaro Braga pelo seu trabalho de pesquisa, colhendo praticamente todos os dados biográficos referentes à dona Zelinda Araújo. Acrescentaria apenas na biografia o modelo que o casal Zelinda Araújo e Manoel Galdino Moraes escolheu para a família, totalmente dedicado à educação dos filhos, modelo que prossegue por meio dos seus netos e bisnetos.
Da família, que começou nas Duas Ilhas, no Araticum, Tresidela e centro de Barra do Corda prossegue nos entusiasmando em estudar Medicina, Engenharia, Direito, Jornalismo e tantas outras profissões.
Também a conjugação da palavra honestidade, a expurgação de palavras como corrupção, e a busca de qualidade de vida com justiça. Por fim, os nossos cumprimentos de 90 anos à dona Zelinda Araújo, simbolizando na prática todos nossos agradecimentos. 
(Do filho Heider Moraes)

 


Zelinda entre 20 a 30 anos


Na fila em pé, Zelinda é a última da fila à direita


Em frente à máquina de votação

 


Pais de Zelinda: Luzia Araújo e João Alves Franco
Dona Luzia está grávida de Zelinda
Ao fundo as tias, à esquerda: Laurinda, à direita: Laurentina

 


Dona Zelinda está à direita de frei Jesualdo

 


Zelinda e Manoel Galdino e os primeiros filhos
Clélia, Ednan e Elton

 

 

Leia a crônica de Manoel Galdino de Moraes: Clique aqui

 

(TB20out2012)