Entrevista
'Teatro tem que ser levado
muito a sério'

jornal Turma da Barra

 


Zé Filho, a esposa Natânia e o filho Raul Gabriel

Entrevista: ZÉ FILHO

            A reportagem do TB foi à rua São Benedito, na Altamira, e convidou para um bate-papo o ator de teatro José Pereira Lino Filho, o Zé Filho, barra-cordense, 29 anos, que viveu o personagem Pôncio Pilatos, na encenação anual do drama da Paixão Cristo em Barra do Corda, no período de 2004 a 2009.
            Zé Filho é casado com Natânia, pai de Raul Gabriel, uma homenagem ao cantor Raul Seixas.
            Cedo ainda, revelou-se um dos mais promissores talentos das artes cênicas cordinas. Ator da nova safra, está no teatro desde os 15 anos de idade.
            Iniciou sua carreira dramática na peça Paixão de Cristo como figurante da “multidão”; depois representou um soldado de palco; logo após fez um dos “testemunhos”; depois passou um ano representando o personagem Salatiel, para enfim fazer Pôncio Pilatos por seis anos seguidos.
            Em 2008 e 2009 foi professor da Banda Marcial do município, onde ensinava as técnicas de todos os instrumentos.
            Participou da Escola de Música na época da ex-prefeita Darci Terceiro e atualmente faz parte do grupo de pagode Reflexão, e é puxador do Boi Brilho da Barra, onde começou como dançarino.

TB- Depois de anos fazendo a peça Paixão de Cristo, o que o levou a abandoná-la?

ZÉ FILHO – Insatisfação. Eu faço teatro com muito amor. O teatro tem que ser levado muito a sério. Tem que haver mais compromisso e mais profissionalismo, com mais respeito às falas , aos personagens e ao público, para que não vejamos o nosso teatro decair. Os atores tem que viver intensa e verdadeiramente os personagens.

TB- Essa decisão de abandonar foi em razão de você não ver perspectiva ao teatro em Barra do Corda?

ZÉ FILHO – Realmente falta um apoio maior por parte de quem financia, aquele apoio que desse um conforto maior aos atores, atrizes, diretores, figurantes, e que o gasto com material não fosse tão minguado. Hoje tem que se fazer muita mágica para levar adiante o sonho de se fazer teatro em Barra do Corda. Mas a perspectiva é grande, pois existem muitos bons valores, muita gente interessada. A Juraíza e a Tâmara tem muitos bons projetos. Falta somente apoio para realizá-los. Vejo um potencial muito grande em vários jovens aqui, o que falta é investimento. Não se pode querer retorno financeiro em cultura, no Bumba-meu-boi por exemplo. A cultura tem que ser valorizada sempre.

TB - O que seria ideal ao Zé Filho em Barra do Corda?

ZÉ FILHO – Oportunidade para mostrar o trabalho, montar e encenar novas peças, revelar e investir em novos talentos, fazer intercâmbios e cursos o ano inteiro. Antigamente na Barra haviam vários grupos teatrais ainda hoje lembrados. Havia o GRUTA – Grupo Teatral Amador, que chegou a ir a São Luís participar de uma Oficina de Teatro e foi convidado para assistir a uma peça no Teatro Arthur Azevedo.

TB- Caso fosse feita uma proposta de manter um grupo teatral permanente, para atuar o ano inteiro e não somente na Paixão de Cristo, Zé Filho toparia?

ZÉ FILHO- Toparia sim. Essa proposta, inclusive, já foi feita várias vezes, mas ainda não decolou. Isso já foi tema de conversas entre eu, Robson, Juraíza, Durães e outros. A Barra necessita de uma Companhia Teatral permanente, pois aqui existem muitos valores que precisam ser mostrados. Há muita gente talentosa aguardando uma oportunidade para revelar o seu potencial. Além da Paixão de Cristo tem o Auto de Natal, que o professor Robson está elaborando. Nas quadrilhas juninas tenho observado ótimas revelações de atores e atrizes mirins. Eu tenho uma peça de Casamento em forma de Poesia de Cordel que tenho vontade de montar.

TB- Depois de ser considerado um dos melhores de BDC, qual a mensagem que Zé Filho daria para quem está iniciando em teatro?

ZÉ FILHO – Não me considero um dos melhores por que ainda sou amador. Para os que estão iniciando, a mensagem, no momento, é ter muita perseverança e gostar do teatro, pois, mesmo a secretaria de Cultura querendo fazer as coisas aconteceram, o apoio ainda é pouco, está aquém do desejado. A cultura é a identidade de um povo e quem apoia cultura tem que ter cultura.

 

(TB13abr2011)