Crônica
Minha homenagem ao casal Acrísio e  Carlota
jornal Turma da Barra

 


Casal Acrísio e Carlota
 

'Acrísio e Carlota, eram lamparinas de forró, especialmente nas costumeiras  festas que o Pio
seu padrasto promovia na rua do Cai Nágua ele possuía uma casa com um salão somente para estas festas'


           

                Acrísio e Carlota: Quero homenagear esse casal de amigos e conterrâneos que eu os conheci ainda bem jovens.
                Acrísio é um índio que foi criado pelo senhor Walas Rodrigues, ou seja, entre Walas e dona Clores sua mãe.
                 Já a Carlota é filha da saudosa Joana do Pio sobrinha do também saudoso Zé Cachimbo.
                Acrísio e Carlota, eram lamparinas de forró, especialmente nas costumeiras  festas que o Pio seu padrasto promovia na rua do Cai Nágua ele possuía uma casa com um salão somente para estas festas, o ramo de vida do Pio era fazer festa e bancar jogo de baralho. Lá no Buraco Quente (cabaré).
                E quando não tinha festa no Pio, tinha no pau d’arco na mesma área apegado a casa de João Mandioca era a casa de seu genro Antonio Matilde uma casa de bom tamanho toda assoalhada em fabulosas táboas de pau d’arco e também toda dividida com taboas, e ele Antonio Matilde também era fazedor de festa.
                Vez por outra, o Batucada arrendava  o pau d’arca e também fazia suas festas, e isso ficou engraçado porque agente já vivia ligado, aí dizia, hoje não tem Pio, mas tem pau d’arco.
                E o Índio e Carlota eram dos primeiros a chegarem e os últimos a saírem ou como se diz, só saiam no cisco.
                Um tempo desses eu cheguei na Barra era um dia festivo, e eu estava jogando conversa fora com meu amigo de infância Cristovam sentado em sua porta na rua do Cai N’Água, foi quando me veio na lembrança e perguntei, Cristovam me dar noticia de Carlota e Acrísio?
                Ele me respondeu, não está com 20 minutos que passaram aqui de mãos dadas para uma festa dos idosos ali na Trisidela ai eu corri pra lá flagrei os vadios cortando o forró miudinho.
                Fiz umas fotos ele não me reconheceu, mas quando parou um pouco eu os convidei pra fora do barulho me identifiquei, aí foi um abraço muito gostoso.
                E para completar a felicidade, no outro dia cedo fui a igreja logo que a missa foi terminando eu sai e fiquei na praça a contemplar a beleza da mesma, foi quando me vem saindo da igreja Acrísio e Carlota, de braços dados como amei aquele gesto. Aí foi outro abraço e pedi para fazer mais uma foto bem legal. Doces recordações.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB22jan2014/nº70)

Crônica
Uma trapalhada na rua do Giz
jornal Turma da Barra

 


Wilson Leite


'Aí a namorada disse: - Wilson é a Maria, vai embora, e nesse vai embora eu já sai em passo largo e no dobrar a esquina do Zé Taé, ela Maria e quem estava com ela fizeram um rapapé como quem vinha correndo atrás de mim ai eu botei pra correr de verdade até  perto do Zeca Chupeta'

*Wilson Leite

            Nesses últimos dias depois do falecimento de dana Guaracy, muito se falou no Castelo de Giz, os amigos e conterrâneos enviando suas mensagens de condolências a família em um gesto de solidariedade muito próprio do barra-cordense.
            Entretanto o que eu quero falar, é que na rua do Giz, apegado a casa de Zé Taé, quase de frente a casa de seu Luizinho Ananás, morou uma família que vieram do nordeste que eram Lócio que era chofer de seu Airton e Maria sua esposa, mas conhecida por Maria do Lócio, senhora muito trabalhadora que depois mudaram pra rua do Ferro Velho.
            Maria tinha uma irmã que era da minha idade 12 anos na época ou seja em 1962 nós nos encontramos debaixo de uns pés de caju lá pras bandas do Belo Horizonte, juntamente com outros colegas e nós os meninos cuidamos de tirar caju pra elas enchemos sua vasilhas e por ai começamos um namorico de criança entre eu e ela, amor a primeira vista que durou cinco anos.
            Cícera Isabel Campos foi a minha primeira grade paixão amorosa. Acho que devido a nossa idade, tanto eu quanto ela, tínhamos um medo danado da Maria sua irmã, até porque ela era muito briguenta. E nosso inocente namoro um tanto escondido, mas era muito gostoso paixão de adolescentes é a melhor coisa que existe.
            Nesse tempo aos domingos a noite agente ia assistir um filme preto e brando e também mudo no meio da rua em  frente ao convento dos frades a tela era o  muro ou mesmo a parede do convento, e dava muita gente a máquina era manual o frei (frade) ai passando a fita e narrando o filme e agente ainda achava legal.
            Certa vez pelo festejo da padroeira da cidade no largo da matriz praça Malo Uchôa muitas barracas muita gente o leilão troando, e Maria do Lócio veio para o festejo trazendo toda família, e eu que já estava lá, logo encontrei a Cícera e fomos para a sombra de um palmeira, entretanto ela achou que agente não estava segura e me disse, já que a Maria está aqui nos vamos lá pra casa, e fomos as luzis da rua já haviam se apagado e estava uma noite escura que só breu.
            E lá fomos nós  pra rua do Giz, ficamos sentadinhos juntinhos na calçada de sua casa e a coisa tava boa como já disse escuro que não piscava se quer um vagalume. E nós contando que quando ele Maria viesse viria com a lanterna acesa, ledo engano ela já de orelha em pé veio com a lanterna aparada a rua estava em silêncio e como era de areia ninguém ouviu barulho nenhum dos calçados ela deixou para focar a lanterna a uns seis metros de distancia, ai a namorada disse: - Wilson é a Maria, vai embora, e nesse vai embora eu já sai em passo largo e no dobrar a esquina do Zé Taé, ela Maria e quem estava com ela fizeram um rapapé como quem vinha correndo atrás de mim ai eu botei pra correr de verdade até  perto do Zeca Chupeta e eles lá morrendo de rir e focando as lanternas em cima de mim, foi quando eu me achei fora de perigo, e falei, não precisa me focar com lanterna porque eu não sou veado.
            E ela gritou, tu é veado mesmo porque correu na frente. Eu estava causando uma sandália japonesa bem fofa que ainda hoje eu lembro dos  lopo lopo da sandália nos calcanhares, nesse tempo eu já me metia em fumar e tinha uns cigarro avulso no bolso da camisa mas no galope que dei caíram todos e ficaram pré trás e fui embora. Depois a coisa melhorou e fiquei manso de matar de chapéu. Depois essa família se desmantelou e minha paixão foi embora para o Juazeiro do Norte, Ceará.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB15nov2014/nº69)

Crônica
Essa robusta arvore é um pé de sapucaia
jornal Turma da Barra

 


Sapucaia do Coco do Tomáz
de Barra do Corda


'Encontrei-me com parentas que moraram lá, e perguntei se ainda existia o pé de sapucaia
 e me disseram que sim, tive uma alegria que daqui de São Luis Gonzaga
 e fui dá esse abraço nele e conversar um pouco com ele, perguntei algumas coisas e ele me respondeu silenciosamente mas eu entendi'

*Wilson Leite

            Esta robusta arvore é um pé de Sapucaia que fica no interior de Barra do Corda, no extinto povoado de nome Coco dos Tomaz.
            Essa sapucaieira ficava no terreiro da casa Grande, casa do patriarca Ferreira Velho, como era chamado por todos.
            No Coco dos Tomaz eu passei um pouco de minha primeira infância e lembro-me que debaixo desse pé de sapucaia era o local das brincadeiras.
            Brincadeiras juninas, ou seja, pular fogueira, passar fogo para ser compadre ou comadre, padrinho ou madrinha, assar batatas abóboras macaxeiras,  brincar de roda, jogar pião e petecas, chuncho etc.
            Depois que todo mundo foi embora pra cidade já passado mais de 40 anos sem eu ter notícias do Coco dos Tomaz, porque também fui embora da Barra do Corda, felizmente encontrei-me com parentas que moraram lá, e perguntei se ainda existia o pé de sapucaia e me disseram que sim, tive uma alegria que daqui de São Luis Gonzaga e fui dá esse abraço nele e conversar um pouco com ele, perguntei algumas coisas e ele me respondeu silenciosamente mas eu entendi.
            Fiz algumas indagações sobre sua idade a pessoas antigas lá do Coco, que hoje moram em Barra do Corda, chegamos a concluir que aquela imponente sapucaieira, passa de 200 anos de idade.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB23out2014/nº68)

Crônica
Pegando carona
jornal Turma da Barra

 


'E convicto que estava todo bem, fui chegando e passando por entre os arames da cerca
 que já eram lisos da molecada passar, e fui juntando manga e colocando entre os braços, quando levantei com a braçada de mangas estava a três metros de frente com seu Zé Lope
'

*Wilson Leite

            Quero aqui exaltar a crônica de meu amigo Borginho, muito boa autêntica e saudosa. O que me faz gostar desse trabalho é o envolvimento dos nomes dessas saudosas criaturas em forma de homenagem e que completam a história de nossa querida Barra do Corda. Conheci todas essas boleiras inclusive o seu Jorge na rua da Baixa Fria, que sua especialidade era o bolo frito muito crocante e gostoso.
            Certa vez falei aqui nesse espaço do bolo queijo, que era realmente muito especial. Cheguei a falar também que foi exclusividade dessas boleiras que morreram e levaram a fórmula consigo, porque toda vez que vou à Barra só tomo café no mercado, encontro outros ótimos bolos porém o bolo queijo me parece que só existiu naquele tempo.
            Borginho falou em Zé Lopes e Carlos Lopes, eu não tenho certeza, mas acho que eram irmãos, e consequentemente tios de dona Alda Lopes. Carro Lopes era metido a João Pereira, gostava dumas lorotas. Certa vez ele estava contando um sonho que tinha tido. É que no sonho ele estava deitado de papo pra cima e sufocado com uma palmeira encima dele no comprido do corpo e ele na ânsia do desespero acordou, e no entanto era seu pênis que havia acertado com a braguilha do pijama e se espichou  ao longo de seu tórax e estava a lhe sufocar.
            Já seu Zé Lopes uma vez me deixou paralisado de vergonha. É que o sítio dele ficava pertinho do Cai N'água e nós moleques de lá, no tempo das mangas a gente sabendo que seu Zé Lopes só vinha um pouco mais tarde, e no sítio dele haviam umas mangas de mesa muito gostosas entretanto nós disputávamos, quem chegasse primeiro é que juntava as mangas que haviam caído a noite.
            Certo dia levantei cedo e me mandei para o pés de manga de Zé Lopes e só pensando hoje eu chego primeiro, foi no justo dia que Zé Lopes furou a rotina e chegou mais cedo que eu.
            E convicto que estava todo bem, fui chegando e passando por entre os arames da cerca que já eram lisos da molecada passar, e fui juntando manga e colocando entre os braços, quando levantei com a braçada de mangas estava a três metros de frente com seu Zé Lopes, ah meu amigo, me deu uma coisa, fiquei paralisado alguns segundos, ele não me disse uma palavra, as mangas foram escapulindo de meus braços uma por uma até a ultima, aí foi que dei conta da situação e passei o arame e sai com muita vergonha, ainda hoje me lembro da expressão do rosto de seu Zé Lopes me olhando...


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB16out2014/nº67)

Crônica
Caixeiro viajante
jornal Turma da Barra

 


'Depois da boa ação das mulheres e João Pereira já havia apreciado bem, foi quando uma delas desconfiou e perguntou, moço você é cego mesmo?'

*Wilson Leite

            O saudoso João Pereira, antes de se estabelecer comercialmente na praça Melo Uchoa em Barra do Corda, já havia trabalhado por muito tempo como caixeiro viajante ou ambulante aí pelos rincões de nosso sertão tocando seus animais com malas de couro repletas de diversos tipos de mercadorias.
            João Pereira era um senhor bastante extrovertido e se autodenominava de rei dos Cornos, para assim se achar no direito de chamar os outros de corno que era a palavra que mais ele gostava.

            O sertão é cortado por muitos riachos de águas frias e cristalinas onde o sertanejo desfruta dessa maravilha da natureza. E lá pelos confins das estradas na travessia de um riacho era também onde as sertanejas lavavam suas roupas, e como dificilmente ali passava gente e geralmente elas vinham em grupo e ficavam à vontade, todas nuas, e era de praxe quando algum homem ia passar ali, de longe ele dava um grito para dá tempo as mulheres se vestirem.
            E lá vai João Pereira muito sagaz, tocando seus animais montado em outro, e deixou pra falar depois que já estava na margem do riacho, ai as mulheres se alvoroçaram e João Pereira falou um tanto meloso, calma senhoras eu sou cego, eu quero é que vocês me ajudem atravessar esses burros, ai uma falou para as outras e o pobrezinho é cego vamos ajudar ele, e saíram nuas cada uma puxando um animal pelo cabresto.
            Depois da boa ação das mulheres e João Pereira já havia apreciado bem, foi quando uma delas desconfiou e perguntou, moço você é cego mesmo?
            E o maroto respondeu, é sou cego sim, só enxergo esses bichinhos pretos ai, e apontando para as genitálias das sertanejas, tocou sua tropa e foi embora. E elas ficaram a sorrir umas das outras. Essa estória é bastante conhecida ai pelos sertanejos mais velhos.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB10out2014/nº66)

Crônica
Presepadas de menino
jornal Turma da Barra

 


'Passado uns dias eu e outro colega estávamos pescando mais ou menos de frente ao cemitério era uma quinta de seu Fortunato e havia um bom pesqueiro, quando de repente aparece o Nemias e outro colega, quando eu o vi não deu tempo pra correr e ali fiquei calado.'

*Wilson Leite

            Na praça Maranhão Sobrinho em Barra do Corda, X com a casa de Carlos Borges, ou seja, do outro lado da praça, desde quando eu conheci ali, sempre foi propriedade de evangélicos uma sala com o fundo para a casa de Walas Rodrigues e ao lado a casa pastoral, a sala servia de igreja e de escola. E como os pastores se revezavam constantemente, lá chegou um com a sua família e um dos filhos já adolescente apesar do pai evangélico mas o rapazinho de nome Nemias era um tanto embuanceiro.
            Tudo bem, eu e mais uns três colegas estamos no quintal da usina de seu Airton tirando xerém que saia junto com a casca do arroz que servia de ração para galinha e porco. Foi quando do nada apareceu o Nemias e em troca de nada foi logo me encarando e desafiando, eu menor que ele fiquei com medo e meus próprios colegas começaram a atiçar, e Nemias brojou bastante  e viu que eu não reagia, realmente eu estava com medo pois ele era mais corpulento que eu, eu em baixo e ele encima da calçada, ele para sair na vantagem me deu uma bisca bem apimentada e virou de costa pra mim e eu não perdi tempo, peguei em seu mocotó com as duas mãos e puxei com toda força e violência possível que o outro pé escorregou e ele caiu a todo pano na calçada o impacto foi tão monstro que ele só fez se encolher e deu longo gemido e um breve desmaio, e nesse ínterim os meninos disseram, êita Wilson tu matou o Nemias. Eu me apavorei e passei sebo nas canelas no rumo de casa, e lá fiquei inquieto certo de que havia matado o camarada.
            Depois de muita tortura apareceu um dos colegas eu perguntei, e ai rapaz ele morreu mesmo? Olha Wilson ele não morreu, mas disse que quando te pegar vai te deixar bem quebrado. De certa forma eu tomei um alívio. Passado uns dias eu e outro colega estávamos pescando mais ou menos de frente ao cemitério era uma quinta de seu Fortunato e havia um bom pesqueiro, quando de repente aparece o Nemias e outro colega, quando eu o vi não deu tempo pra correr e ali fiquei calado.
            Logo um sacana falou, e ai Nemias tu não disse que o Wilson ia te pagar? E vai mesmo e partiu pra cima de mim eu corri pra cima da ribanceira e ele foi atrás ai nós nos agarramos em luta corporal caímos no chão e saímos rolando ribanceira abaixo quando conseguimos ficar em pé ele deu azar novamente, estava de costas para uma touceira de brotos de juá com todos seus pontiagudos espinhos, justamente onde passava a cerca de arame,e eu não vacilei abarquei com as duas mãos a perna de arame e imprensei  ele com a costa no moita de juá, ai o cabra piou fino, judiei com ele um pouco ai larguei e corri pra cima da ribanceira e ele ficou com a costa todo cheia de furinhos saindo sangue, e nunca mais botou em mim, mais com certeza se eu não  tivesse tido essas duas oportunidades ele me batia sim.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB2out2014/nº65)

Crônica
Visita de amigos de São Luís
Gonzaga à cachoeira Grande

jornal Turma da Barra

 


'Logo seguimos ao nosso destino, cachoeira Grande. A grande maioria dos colegas não a conheciam os quais ficaram muito encantados com a beleza da imponente e bela obra da natureza. Eu já conhecia, mas fazia muito tempo que lá não ia.'

*Wilson Leite

            No dia sete de setembro do mês corrente, formamos aqui em São Luis Gonzaga uma caravana de pessoas e fretamos um micro-ônibus  e fomos fazer turismo em Barra do Corda. Mais especialmente na cachoeira Grande no rio Corda.
            Saímos daqui cedo e chegamos na Barra exatamente na hora do desfile, curtimos um pouco a passeata por sinal muito linda.
            Logo seguimos ao nosso destino, cachoeira Grande. A grande maioria dos colegas não a conheciam os quais ficaram muito encantados com a beleza da imponente e bela obra da natureza. Eu já conhecia, mas fazia muito tempo que lá não ia.
            Voltei ao passado em reflexão contemplando  aquele grande projeto, uma grande obra abandonada no meio do mato. O bom disso, é que felizmente no  entorno da cachoeira a mata está preservada.
            Quando meu pai ainda morava com mamãe Juana Bé na rua do Cai N’água, ele trabalhou um bom tempo naquela construção, eu era bem pequeno, mas lembro-me dele papai  falando o nome de vários doutores que tocavam a obra, entretanto o nome que me ficou gravado em minha mente, foi o do Dr. Eliezer Moreira que era o administrador geral.
            Lá na cachoeira senti falta das grandes turbinas e outros equipamentos que lá haviam, e conversando com o Índio Cacique que mora lá, e discretamente perguntei pelas turbinas velhas, ele me disse que já há algum tempo atrás veio uns caras com um caminhão guindaste e levaram tudo que era ferro velho que  lá existia. Eu parei a conversa, mas fiquei pensando, será que não foi algum esperto que pegou essas sucatas clandestinamente para venderem no ferro velho? Assim levando embora um dos principais atrativo turístico, e empobrecendo a beleza do local.
            Voltando ao desfile, que havíamos deixado pra trás, me veio na lembrança de um sete de setembro se não me falha a memória foi em 1963, onde quem puxava o pelotão era uma cavalaria rigorosamente paramentados tanto os cavalos quantos os cavaleiros representando o Imperador na pessoa do jovem  Italuelmo filho do Nelson Paturi, e seus comandados. O homem de proa na organização dessa grande festa, era o saudoso professor Galeno Brandes, juntamente com dona Zenóbia, e outros educadores daquela época de ouro.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB25set2014/nº64)

Crônica
A família do Zé Preto
jornal Turma da Barra

 


'E assim eu fiz, enfiei o braço, topei na galinha e a bicha fez um pequeno barulho e se distanciou
e eu pelejando para alcançá-la, e nessas a Mamãe já tinha se levantado abriu a porta silenciosamente e estava olhando minha arrumação, quando ela resolveu falar, ai foi aquele espanto medonho
'

*Wilson Leite

            Como conhecedor do trágico episódio que aconteceu na família do senhor Zé Preto, em Barra do Corda, relatado por meu amigo Borginho, eu quero somente assinar embaixo, confirmando que esse caso na naquela época  foi realmente estarrecedor.
            Eu acho que esse ódio se perpetua até hoje nos filhos e netos que ainda vivam. Falo assim, porque a um bom tempo atrás eu fui a um velório em São Luís de uma barra-cordense minha parenta, e lá me encontrei com vários conterrâneos que há tempo não os via.
            Vi Maria José que era doméstica de dona Zenóbia, Valdecir, filho mais velho de Zé Preto, conversamos bastante nas coisas do passado, e num dado momento da conversa, ele tocou de raspão no tal desmantelo, ai eu percebi nitidamente o ódio vivinho em sua voz e semblante, apesar do velho já ter falecido à muito tempo.
            Mudando um pouco a conversa, estávamos uma turma de jovens sentados no terreiro da casa de Zé Preto, Rosa sua filha com seu namorado Dinda, Luís Simplício e sua namorada Mariete, e eu também com a minha bela Gracinha, e alguns voluntários, isto numa noite de sábado de aleluia já umas onze horas a coisa estava muito boa, estórias picantes e muitas gargalhadas.
            Foi quando alguém falou gente nós vamos romper a aleluia sem comer nada, ai a Rosa como dona da casa falou, se aparecer uma galinha eu preparo. Ninguém disse nada, ai eu disse, esperem ai que eu vou acolá.
            Fui até ao quintal lá de casa, mas o poleiro das galinhas era num pé de Juá, espinho como diacho não dava pra eu subir. Ai eu lembrei-me que dormia uma grande galinha debaixo do fogão de lenha que fiava no canto da cozinha e havia um buraco no pé da parede que dava pra eu meter o braço e alcançar a galinha e puxar.
            E assim eu fiz, enfiei o braço, topei na galinha e a bicha fez um pequeno barulho e se distanciou e eu pelejando pa
ra alcançá-la, e nessas  a Mamãe já tinha se levantado abriu a porta silenciosamente e estava olhando minha arrumação, quando ela resolveu falar, ai foi aquele espanto medonho ela ficou brigando e eu fui embora sem galinha. Quando cheguei que contei o acontecido, foi só algazarra da Turma. Doces recordações.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB11set2014/nº63)

Crônica
O Riba da Safira
jornal Turma da Barra

 


'Eu acho muito legal esse jornal Turma da Barra, 
porque dá oportunidade para a gente falar em nossos queridos conterrâneos em caráter de homenagem é claro. Desses, muitos já se foram para o além, como a própria professora Safira, sua irmã Palmira, Zé Prego. Que Deus tome conta de suas almas
.'

*Wilson Leite

            Quero aproveitar esse espaço, e o raciocínio de meu amigo Borginho, para também falar em nossos conterrâneos, em especial daqueles que nós conhecemos em tempos idos, alguns que se destacavam por suas peripécias e traquinagens.
            O Riba da Safira como era conhecido fazia parte de uma turma um pouco antes da nossa. Ele Riba era da turma de Joceli meu irmão adotivo, Armando do Zé Pompeu, Zé Rossini e Zé Rui Salomão, Chico Ribimba, Domiguinho do Domingo Passos, Luciano Mandioca, Zé Prego, Alcebíades Três Orelhas e tantos outros.
            Entretanto, o Riba da Safira era o que mais se destacava, por ser o melhor em jogo de peteca, empinar papagaio, jogar pelada e brigar na rua que era seu forte.
            Apesar da mãe, professora dona Safira, o Riba aprendeu somente o básico e foi trabalhar na carreira do rio Mearim como embarcadiço. E legal é que lá na frente nós nos encontramos eu também embarcadiço, chegamos a trabalhar na mesma lancha, ele um pouco mais velho que eu, mas a gente se dava muito bem.
            Eu sorria bastante dele contando suas presepadas de sua infância e adolescente na Barra do Corda. Depois que acabaram as lanchas, tanto ele quanto eu, ficamos na Barra, ele trabalhando como estivador, e eu na usina de seu Airton.
            Certa vez o Riba da Safira foi em um caminhão buscar no interior uma cerrada de arroz, e de volta o caminhão virou e meu amigo Riba da Safira ficou por baixo do monstruoso peso da carrada vindo a falecer no local, acho que esse fato aconteceu em 1968.
            Eu acho muito legal esse jornal Turma da Barra, porque dá oportunidade para a gente falar em nossos queridos conterrâneos em caráter de homenagem é claro. Desses, muitos já se foram para o além, como a própria professora Safira, sua irmã Palmira, Zé Prego. Que Deus tome conta de suas almas. Saudosas recordações


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB3set2014/nº62)

Crônica
Patacoadas da juventude
jornal Turma da Barra

 

'Numa dessas benditas noites me aparece um amigo de bordo, que fazia um bom tempo que não o via, nos cumprimentamos perguntei o que andava fazendo respondeu que veio numa lancha deixar uma mercadoria mas que iria voltar bem cedinho, esse camarada era o prático da embarcação'

*Wilson Leite

            Quando eu deixei a vida de embarcadiço, no final do ano de 1966, pois já havia pouquíssimas lanchas no rio Mearim, ai então eu vim pra casa na Barra. Sem um tostão no bolso e chapado de doença venera que havia contraído nos cabarés de Pedreiras.
            No momento sem arranjar serviço e sem contar pra Mamãe e a coisa piorando, mesmo assim toda noite eu ia para Buraco Quente (cabaré) doente e sem dinheiro, mas ia peruar passar o tempo.
            Numa dessas benditas noites me aparece um amigo de bordo, que fazia um bom tempo que não o via, nos cumprimentamos perguntei o que andava fazendo respondeu que veio numa lancha deixar uma mercadoria mas que iria voltar bem cedinho, esse camarada era o prático da embarcação (que dirige).
            O cara já estava um pouco bêbado e me convida pra beber, contei minha situação que alem de liso estava cheio de molesta do mundo. Ai o sacana disse, dinheiro eu tenho e cerveja faz é bem pra isso, então vamos lá, entramos no bar do Alberto e nos escanchamos na brama, na verdade esse cara estava com um tufo de dinheiro no bolso e só notas de dez mil cruzeiros que agente a chamava de chapéu virado, porque tinha a figura de Santos Dumont.
            O certo é que ficamos bebendo até quando foi todo mundo foi embora e ficamos só nós três, Alberto ele e eu, O Alberto fechou as portas ficando só uma aberta, e nós levantamos e fomos para o pé do balcão pagar a conta, foi quando o camarada já muito bêbado meteu a mão no bolso e puxou o tufo de dinheiro todo espatifado e caiu várias notas no chão, ele se abaixou e juntou as cédulas mas ficou uma que ele não viu, eu peguei a nota e fui entregando pra  ele, ai me deu um estalo na mente e fiz um raciocínio relâmpago e decidi esse dinheiro é pra eu tomar remédio amanhã cedo, ele e nem Alberto viram, ai morreu Maria Preá.
            Como ele ia dormir no cabaré, nós nos despedimos e eu fui embora morrendo de dor na consciência da covardia que fiz com meu colega. O certo é que acordei cedo e sai direto pra farmácia do Machadinho, e ainda cruzei com ele de frente ao Catete, se despedimos e ele pegou a lancha e foi embora.
            Chegando ao Machadinho contei minha situação, ele logo me aplicou uma benzetacil e mais algumas cápsulas, o certo é que com uma semana eu estava curado, e ainda sobrou dinheiro. Porém com a consciência pesada. Mais para me consolar, eu adotei o dito popular que diz, Deus escreve certo por linhas tortas.
            Entretanto o mundo gira. Com cinco anos dessa lambança e que também não via esse camarada, eu já estava em Pedreiras e numa certa tarde de domingo estava eu e dois colegas em um bar na famosa rua da Golada quando esse camarada aparece e entrou no bar um tanto mal trajado, quando ele me viu eu notei que ficou com vergonha de ir até onde eu estava, ai eu levantei e fui até ele e o mesmo estava meio bêbado, e me pediu um copo de jurubeba, a bebida que estava na moda, eu falei para o Gerson, coloca aqui uma garrafa de jurubeba pra esse rapaz, por coincidência quando ele chegou nas estávamos de saída.
            Paguei a despesa e antes de sair meti a mão no bolso e dei pra ele quinze mil cruzeiros, calculando que os cinco era o juro. Esse camarada era conhecido pelo apelido Foblea, enfim, ele ficou com dinheiro para uma boa farra, e eu me senti com a consciência limpa.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB28ago2014/nº61)

Crônica
Proezas benéficas
de dona Simiana

jornal Turma da Barra

 

'quando morria um pelas encostas, tia Simiana era a principal requisitada para ir puxar a toada da incelência na sentinela ou longo da noite. Naquele tempo, essa cultura já estava acabando, mas eu ainda ouvi algumas vezes a tal incelência que era um cântico meio gorgolejada que dava medo de se ouvir'

*Wilson Leite

            Meu amigo Borginho foi bastante feliz em abordar na sua crônica nomes de pessoas da rua do Cai N’Água, pessoas que como voluntárias trabalharam incansavelmente para o bem da comunidade, especialmente no que tangia a parte da saúde, nós éramos bem servidos por duas guerreiras: Dona Branca do Tioá, que já falei anteriormente de suas virtudes. E agora irei falar das proezas benéficas de dona Simiana. Que nós a molecada chamávamos de tia ou mãe Simiana, ou seja, mão de pegação, porque entre outras atividades, ela também era parteira.
            Enfim, dona Branca do Tioá e tia Simiana trabalhavam em linhas paralelas. Dona Branca um tanto mais moderna, era mais para os medicamentos farmacêuticos, e tia Simiana era com as  ciências ocultas: Quebranto, mal olhado, vento virado, engasgo, vermelha, levantar arca caída, cobreiro e rasa forte para mulher parir ligeiro, tudo isso era resolvido com maestria por tia Simiana.
            Isto sem falar que quando morria um pelas encostas, tia Simiana era a principal requisitada para ir puxar a toada da incelência na sentinela ou longo da noite. Naquele tempo, essa cultura já estava acabando, mas eu ainda ouvi algumas vezes a tal incelência que era um cântico meio gorgolejada que dava medo de se ouvir.
            Tia Simiana tinha quatro filhos, Manuel, Jose, Mário e Rita. O Zé da Simiana que já tinha seus vinte e poucos anos, adoeceu e o mal foi de morte que não ouve medicamento e nem reza forte que desse jeito, morreu mesmo. Ah meu amigo, tia Simiana mandou chamar algumas amigas que também entendiam do riscado, ou melhor, cantar incelência, aí entoaram a noite toda e entrou pelo dia até na hora do enterro.
            De tanto ouvir eu aprendi uma e gravei na mente, ainda hoje eu sei de todos os versos e melodia da incelência que cujo título é Sete espadas de dor e que de vez enquanto eu me pego ronronando esta tal incelência.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB20ago2014/nº60)

Crônica
Rua do Cai N’Água
jornal Turma da Barra

 

'Deve ter sido na transição da década de 40 para 50, apareceu um camarada ai na Barra chofer e mecânico da Colônia Agrícola, chamado Rasguete, e dona Branca moça solteira simpatizou com o mecânico Rasguete, ai namoro vai namoro vem, o certo é que o malandro Rasguete abarcou dona Branca do Tioá, e a mesma engravidou'

*Wilson Leite

            Um pouco mais da rua do Cai n'água. Gostei imensamente quando o amigo Borginho citou os nomes de personagens que de uma forma ou de outra, foram destaque em minha querida rua do Cai N'Água dos anos 50 e 60. Haja vista que cada um tem seu passado e sua história.
            Hoje vou contar um pouco do que eu vivenciei e ouvi contar a respeito da saudosa e querida Branca do Tioá. Realmente a grande maioria dos moradores de nossa rua eram pessoas de baixa renda. Como pescadores, estivadores, lenhadores e predominava as lavadeiras. Mas, no entanto, todo mundo vivia modestamente feliz.
            Dona Branca do Tioá se destacava por ser enfermeira prática. Para quem não conheceu dona Branca, ela era albina (gaza) como já disse, enfermeira pratica polivalente, era ele que cuidava da saúde dos Cai N’aguenses. Aplicando injeções fazia curativos nos feridos, e receitando remédios pra males de toda sorte. E também as mulheres grávidas da redondeza quando estavam com dor de menino (contrações), era ela a primeira a ser chamada.
            Dona Branca era parceira de Machadinho da Farmácia trabalhavam em sintonia, e o que ela fazia ele assinava embaixo, e a coisa sempre dava certo, em fim, dona Branca do Tioá foi uma pessoa muito especial para toda a sociedade cordina naqueles tempos, por todo bem que praticou na terra, com certeza deve está ao lado do pai eterno.
            Dona Branca, a senhora que me perdoe, mas vou contar uma historinha marota a seu respeito de quando a senhora era jovem. Machadinho da farmácia seu grande amigo, que também já se encontra no reino da glória, foi o responsável por essa história que podemos chamar de brincadeira.
            Deve ter sido na transição da década de 40 para 50, apareceu um camarada ai na Barra chofer e mecânico da Colônia Agrícola, chamado Rasguete, e dona Branca moça solteira simpatizou com o mecânico Rasguete, ai namoro vai namoro vem, o certo é que o malandro Rasguete abarcou dona Branca do Tioá, e a mesma engravidou.
            Rasguete caiu fora da parada. E dona Branca escondendo a barriga, até quando não deu mais a barriga crescendo foi quando ela resolveu dizer que estava bastante doente com um grande quisto no ovário, isso tudo por medo dos pais, ai foi aquele alvoroço dos pais Tioá e dona Janoca com a filha muito doente com esse tal quisto na barriga. Nestas alturas os amigos chegaram depois com muita calma e falaram do que se tratava.
            O certo é que com nove meses o moleque nasceu. Logo o Machadinho foi visitá-la e saiu falando pra alguns amigos em tom de brincadeira, olha ai fulano o quisto da Branca nasceu ‘tá lá danado chorando, dona Branca o batizou com o nome Antônio Carlos, entretanto ficou com esse apelido feio colocado por Machadinho, quisto da Branca.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB14ago2014/nº59)

Crônica
Um pouco mais das lavadeiras da rua do Cai N’Água
jornal Turma da Barra

 

"Meio dia o cabra chegou meio bêbado, a mulher lá do rio que era perto ficou só ouvindo o escarcéu do cara xingando e batendo nas coisas até quando se acalmou,
ela deu um tempo e foi em casa, entrou pé ante pé e deu com o patife a ressonar na rede, ela não pensou duas vez"

*Wilson Leite

                Essa história não é do meu tempo, ouvi Mamãe contar algumas vezes. Não me lembro da Mamãe falando em data, entretanto pelo jeito que ela contava, creio eu que esse acontecido foi lá pelos anos 30 ou mesmo início de 40.
                É que na rua do Cai N’Água morou um casal onde a mulher era uma ótima lavadeira de roupas, e o marido era um bom sacana.
                Enquanto a infeliz ia para a táboa lavar roupas para sustentar a casa, ele marido saia pra rua para beber pinga e jogar baralho, normalmente antes de sair já dava logo uns pescoção na pobre mulher.
                Resumidamente quase todos os dias ele batia nela. O menos mal nessa história, é que eles não tinham filhos.
                Certo dia ele amanheceu mais endiabrado deque o de costume, deu uns solavancos na esposa e empurrou pra lá, e pegou a espingarda que se encontrava descarregada a carregou com munição bem carregada e colocou atrás da porta e disse em voz alta para a mulher: - Olha ordinária, essa espingarda que eu carreguei é pra eu te matar quando eu chegar da rua.
                Ele saiu pra rua e ela para rio cuidar em seu labor. Meio dia o cabra chegou meio bêbado, a mulher lá do rio que era perto ficou só ouvindo o escarcéu do cara xingando e batendo nas coisas até quando se acalmou, ela deu um tempo e foi em casa, entrou pé ante pé e deu com o patife a ressonar na rede, ela não pensou duas vezes, foi detrás da porta pegou a espingarda, engatilhou a bicha e colocou o cano quase triscando na orelha do macho e apertou o dedo no gatilho...
                Foi uma monstruosa explosão, o camarada somente se espichou na rede e ela jogou a espingarda no chão e correu pra delegacia se entregar. Ou seja, o camarada foi pra imburana, e ela foi responder seu processo em liberdade e naturalmente feliz da vida. 


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB6ago2014/nº58)

Crônica
Sobre a serra do Brabo
jornal Turma da Barra

 


"Foi quando Mamãe falou, vamos meu filho aumenta a passada e toca o jumento, pois se a chuva nos pegar antes da gente subir a serra [do Brabo], somos obrigados a voltar porque com a serra molhada não tem cristão que suba"

*Wilson Leite

            Quando ainda garoto, fui passar minhas férias na Copaíba na casa do meu avô torto Raimundo Bé.
            Mamãe e eu saímos da Barra num dia bem cedo tocando um jumento com uma carga de jacá e algumas coisas dentro dos jacás.
            E vamos nós, passamos no Araticum, Duas Ilhas, Igarapé e seguimos. Ao nos aproximar da serra do Brabo, ligeiramente se formou um temporal para chover, eu ainda não conhecia a monumental serra.
            Foi quando Mamãe falou, vamos meu filho aumenta a passada e toca o jumento, pois se a chuva nos pegar antes da gente subir a serra, somos obrigados a voltar porque com a serra molhada não tem cristão que suba porque além de ser muito íngreme fica lisa por demais.
            Felizmente conseguimos subir antes que a chuva caísse. Devido o grande esforço com a subida, quando chegamos ao topo, demos um tempo para descansar um pouco e contemplar a amplidão.
            Não sei agora, mas naquele tempo era uma paisagem muita linda, ao longe se avistava um imenso espelho d’água que era o rio Mearim.
            Contemplamos um pouco foi quando a chuva caiu de verdade e nós saímos debaixo dela. Era uma estrada que não passava carros mas bem larga com gigantescas árvores de um lado e outro e uma espécie de tabuqui rasteiro igual um tapete verde em todo a floresta, pois era inverno e a mata estava realmente muita linda.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB30jul2014 /nº57)

Crônica
Magnífico exemplo do Lourival Pacheco
jornal Turma da Barra

 

"Foi quando eu voltei a ver aquele garoto já adolescente
 e trabalhando no escritório do Louro Pacheco, e já conhecido como Chico do Louro
"

*Wilson Leite

            Como conterrâneo e admirador daquela amável figura que foi Louro Pacheco, não poderia deixar de manifestar a minha tristeza pela perca desse ilustre barra-condense, e que Deus lhe conduza no reino da glória, porque aqui na terra foi um homem bom. E desejo a seus familiares o conforto celestial.
            Das várias virtudes e obras do bem proporcionadas por Louro Pacheco, tanto como político ou como cidadão do bem, vou me ater apenas em uma de suas magníficas obras.
            Era por volta de 1964 ou 65. Eu ainda trabalhava na lancha Veneza de propriedade da empresa Irmãos Queirós. Aportamos no povoado Verdum do município de Esperantinópolis, e lá embarcou um senhor um tanto idoso e com a aparência abatida não demonstrando boa saúde mas tudo bem.
            Com ele embarcou um garoto e também uns rústicos móveis, ou seja, tamboretes, mesa e outras pequenas coisas.
            Na hora do embarque das tralhas o Raimundo Queirós que era o dono da lancha se aborreceu sem querer levar a bagagem dos dois, pai e filho, mas finalmente levamos.
            Eu também era um garoto dos meus 14 anos e o que embarcou devia ter uns 10 anos. Esse humilde garoto com seu humilde pai era o Chico do Louro que ainda não era Chico do Louro.
            E fomos nós, ainda trocamos umas ideias enquanto chegávamos na Barra, chegando lá cada qual foi pra seus cantos e eu continuei mais uns tempos na lancha.
            Não demorou muito, o progresso das estradas, e com as estradas os caminhões que vieram a tiraram as embarcações de circulação do rio Mearim. Isso foi pelo final de 1966, aí eu fiquei em casa na Barra, e fui trabalhar nas usinas que haviam na cidade.
            Foi quando eu voltei a ver aquele garoto já adolescente e trabalhando no escritório do Louro Pacheco, e já conhecido como Chico do Louro.
            Naquele tempo o Chico do Louro era o maior craque em datilografar, a máquina dele disparava igual uma  metralhadora, eu às vezes parava discretamente na porta de seu trabalho só para vê seu dedilhar tão rápido na máquina de dá inveja, e que  também foi bom no futebol.
            Chico você é um vencedor, gostei de ver as foto aqui no TB o antes e o depois do time em que você jogava.
            Então, é por isso e muito mais que o Lourival Pacheco foi um barra-cordense de dá orgulho aos seus conterrâneos.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB16jul2014 /nº56)

Crônica
Rua do Cai N’Água
jornal Turma da Barra

 

"Quero aqui também fazer uma singela homenagem a outras profissionais do ramo: 
Dona Emiliana que alem de boa lavadeira, era também uma exímia tiradeira de azeite de mamona; Dona Simiana profissional em lavagem de roupas e também muito boa na pajelança, a qual já foi citada aqui no TB por nosso amigo Borginho; Raimunda Bagageira, dona Olímpia, mãe de Nonato Chamusco e outras tantas que viviam dessa atividade
"

*Wilson Leite

            Volto a falar na minha saudosa e querida rua do Cai N’Água dos anos 50 e 60, e com todo respeito irei citar nomes de algumas personagens da minha estima, que naturalmente algumas já passaram para o andar de cima.
            Eu fui ao aniversário da Barra, e na Igreja me encontrei com o radialista e diretor de uma rádio ai da cidade, Raimundo Carvalho, a quem envio um forte abraço.
            Como estava no ato da missa, conversamos pouco mas foi o suficiente para eu entender da utilidade do serviço que ele desenvolve para a sociedade cordina.
            O Raimundo é mais novo que eu uns 12 anos, eu lembro-me quando dona Vita, sua mãe, estava com ele na barriga. Olímpio, seu pai, saiu para comprar o sal e nunca mais voltou.
            E dona Vita mulher guerreira tomou de conta da prole sozinha e foi em frente, entre suas atividades, a principal era a lavagem de roupas. Cedo do dia dava o café da turma, deixava o Raimundo dormindo e seguia para o rio com a trocha de roupas.
            Por volta das dez horas Raimundo acordava chorando para mamar, a irmã mais velha pegava Raimundo e levava até onde estava dona Vita, lá mesmo sentada na tábua de lavar Raimundo mamava até se fartar e a garota voltava com Raimundo já quase dormindo novamente. Dona Vita,que Deus conduza sua alma no reino da glória por que a senhora aqui na terra foi uma boa pessoa.
            Quero aqui também fazer uma singela homenagem a outras profissionais do ramo: Dona Emiliana que alem de boa lavadeira, era também uma exímia tiradeira de azeite de mamona; Dona Simiana profissional em lavagem de roupas e também muito boa na pajelança, a qual já foi citada aqui no TB por nosso amigo Borginho; Raimunda Bagageira, dona Olímpia, mãe de Nonato Chamusco e outras tantas que viviam dessa atividade naquele tempo.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB3jul2014 /nº55)

Crônica
Décimo primeiro episódio ribeirinho
jornal Turma da Barra

 

"Nós estávamos lá em nosso cantinho quando a imensa lancha Dois corações passou por nós
 e encalhou logo ali pertinho. Lá parou-se o motor e aja a esperar a violenta maré,
e nisso as águas baixaram ainda mais e a lancha cada vez mais 
colava no esmeril.
"

*Wilson Leite

            O nono e o décimo episodio, ou seja os dois desastres aconteceram  no rio Pindaré já pertinho da embocadura no rio Mearim para então seguirem juntos em direção ao mar passando pelo tenebroso  boqueirão.
            A gente já voltava de cidade de Pindaré, chegamos ao afundiador, arriamos a âncora e lá ficamos a esperar a maré encher, isso pela parte da manhã.
            Logo atrás de nós, vinha outra lancha, muito grande e bonita de nome Dois corações, que fazia o trajeto de Pindaré para a capital em vice versa, isso nos idos de 1965, havia muitas usinas e muito arroz e algodão em toda aquela região.
            Acontece que o mestre dessa embarcação em questão era tido como corajoso, ousado, costumava afundiar a lancha pala quilha, ou seja, ele ia navegando até onde a lancha encalhava no leito do rio, que é uma lama preta que eles chamam esmeril.
            E lá ele ficava a esperar a maré. Quando a tromba d’água vinha que dava aquele monstro solavanco na proa da lancha arrancava ela da lama e seguia viagem.
            Porém dessa vez deu errado. Nós estávamos lá em nosso cantinho quando a imensa lancha Dois corações passou por nós e encalhou logo ali pertinho. Lá parou-se o motor e aja a esperar a violenta maré, e nisso as águas baixaram ainda mais e a lancha cada vez mas colava no esmeril.
            Ah meu amigo, essa embarcação colou tanto nesse esmeril, que quando veio a tromba d’água bateu na proa dessa embarcação, mas nem aluiu, aí chegou os três cavaleiros (ondas gigantes) somente para concluir a tragédia.
            Foi um reboliço feio mas como a gente estava ali pertinho, corremos pra lá com nossa  lancha e todo povo foi salvo com vida.
            O toldo dessa lancha vinha repleto de botijão de gás butano que nós ficamos só a olhar centenas deles sendo levados pelas violentas águas da pororoca.
            Daí a pouco cobriu toda a lancha Dois corações que ainda hoje está lá. Com muita dificuldade conseguiram por meio da lancha-draga e mergulhadores, conseguiram resgatar apenas o motor.
            Ai ficou lá, quando a maré baixava aparecia a grande carcaça, quando a maré enchia cobria tudo novamente.
            Quantas lembranças também do baixo Mearim e Pindaré-Mirim.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB26jun2014 /nº54)

Crônica
Vendendo fumo no mercado
jornal Turma da Barra

 

"Lá no mercado até meio dia era muito divertido. O cego sacudia o maracá pra um lado, o aleijado já cantava uma paródia, outro cantava um romance de cordel, tudo isso correndo atrás da sobrevivência"

*Wilson Leite

            Aqui neste espaço já falei que quando garoto morei uns tempos em Imperatriz. Pelos meus cálculos, acredito que foi de 1959 a 1961 inclusive passamos 8 meses morando em Sítio Novo no estado de Goiás hoje Tocantins, de lá voltamos para a nossa Barra novamente.
            Naquele tempo, Imperatriz com a construção da rodovia Belém-Brasília já havia um grande movimento, tanto de aviões quanto de carros e maquinário de toda sorte para desbravar a selva pras bandas de Açailândia em direção a Belém, foi justamente nesse tempo ao desbravar a mata, quando um galho de arvore quebrou e despencou das alturas vindo a atingir mortalmente o doutor Bernardo Sayão.
            Hoje eu processo o que gravei e arquivado até involuntariamente na memória daquele tempo, e chego a conclusão que o presidente JK era realmente um revolucionário sem igual, porque todo esse movimento era por conta dele. Nesse tempo Imperatriz corria dinheiro, como diz o ditado, do lado do vento.
            Mudando a prosa. Meu padrasto era um tanto versátil, maleiro, padeiro, professor e trocador. Certa vez ele trocou uma porção de malas e maletas, em outra porção de rolos de fumo. Vendeu logo um bocado a grosso, e sobrou uns três rolos do produto. Então, ele me deu todas as instruções de como marcar o tal fumo no mercado. E todo dia depois do café eu pegava uma faquinha botava o rolo de fumo no ombro que era enrolado num pau e tirava para o mercado.
            Lá no mercado até meio dia era muito divertido. O cego sacudia o maracá pra um lado, o aleijado já cantava uma paródia, outro cantava um romance de cordel, tudo isso correndo atrás da sobrevivência, porque nesse tempo aposentadoria era um sonho, já outros brigavam na fila da carne, eu achava tudo aquilo muito normal e divertido.
            Entretanto de meio dia até três horas da tarde, monotonia total só ficavam os vendedores inclusive eu. Eu ficava curioso quando um cliente comprava um pedaço de fumo, e ali mesmo tirava uma capa e colocava na boca e saia mastigando, e numa dessas dardes me veio o sentimento da traquinagem e fui experimentar.
            Coloquei o fumo na boca mastiguei achando muito ruim assim mesmo demorei uns dois minutos dei umas quatro cusparadas e joguei fora e fui lavar a boca mas já ia pendendo embriagado voltei e me deitei nuns estrados e acordei cinco horas da tarde com o fiscal do mercado puxando meu pé e dizendo, ê menino acorda e vai embora que eu vou fechar o mercado, levantei meti a mão no bolso o apurado estava certo botei o pau de fumo no ombro e fui embora.
            E continuei vendendo fumo no mercado, numa certa boca de noite todo mundo sentado na porta da rua batendo papo, e eu me deitei num banco que havia na sala e ali mesmo peguei no sono. Quando entraram pra dormir, Mamãe me sacudiu e disse, levanta daí e vai pra tua rede, e em seguida entrou para seu quarto, o certo é que eu levantei atordoado fui lá no canto peguei o rolo de fumo botei no ombro e sai porta à fora em direção ao mercado.
            Ainda bem que um vizinho viu e foi perguntar pra Mamãe pra onde eu ia àquela hora com aquele rolo de fumo, eu já ia dobrando a esquina quando me atalharam perguntado se eu tinha endoidado, ai foi quando acordei, eu acho que isso era por conta da rotina.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB12jun2014 /nº53)

Crônica
Décimo episódio ribeirinho
jornal Turma da Barra

 

"Foram aventuras bravas, mas que hoje eu tenho saudades. Uma verdadeira patacoada, chegamos em Vitória do Mearim pela tarde, não tínhamos nada para o jantar, o cozinheiro foi ao açougue e voltou de mãos vazias e agora?"

*Wilson Leite

            Lá pelos anos 60 no período das enchentes, o rio Grajaú também era navegável. E por vezes nós também navegamos por lá, só que a coisa lá era muito mais selvagem de que nos rios Mearim e Pindaré
            Lá o problema maior era o que a gente chamava de intuição, ou seja, as vezes nós enfrentávamos até um quilometro de mururu tomando de uma margem a outra do rio.
            Então, a gente engendrava uma plataforma no beque ou bico da lancha e lá ficavam dois homens um de cada lado cada um com seu facão bem comprido e bem amolado a cortar mururu.
            Quando os dois cansavam, entravam outros dois, e assim iam se revezando e a lancha com o motor detonando até romper a tal intuição.
            Nesse cortar de mururu, também se cortava cobra, jacaré e o que aparecia na frente. Constantemente enrolava mururu ou mesmo cipó na hélice da lancha e eu era o mergulhador para limpar a hélice, é claro, com ela parada.
            Foram aventuras bravas, mas que hoje eu tenho saudades. Uma verdadeira patacoada, chegamos em Vitória do Mearim pela tarde, não tínhamos nada para o jantar, o cozinheiro foi ao açougue e voltou de mãos vazias e agora?
            O cozinheiro criava um pato na lancha, o bicho tava um monstro de grande e gordo, ele estimava o pato, mas como não havia nada pra comer ele disse. Se alguém tiver coragem de matar o pato, eu cuzinho.
            Tinha um moço de convés que atendia pelo apelido Nó Cego foi logo dizendo deixa comigo. Aí meu irmão, esse camarada pegou esse pato e pisou nos pés e asas desse bicho, segurou no bico colocou num cepo de pau e deu só uma cutilada assim decepando a cabeça do pato em seguida jogou a cabeça no meio do rio, e soltou o bicho. Aí meu amigo, ai eu vi coisa feia, esse pato correndo normalmente sem cabeça da poupa a proa em vice-versa dessa lancha bate aqui, bate acolá melando todo de sangue e todo mundo assombrado com a aquela coisa macabra, aquele pescoço comprido esfolado pra cima foi realmente uma coisa muito feia, esse infeliz pato passou uns cinco minutos para morrer, depois que o bicho se aquietou, o sacana do Nó Cego disse que ele o pato estava correndo procurando sua cabeça. Eu mesmo fiquei um tanto assustado que nem quis comer do tal pato.
            Por falar em Vitória do Mearim, eu tive um vizinho em Pedreiras moço já e certa idade q senhor Doca Velez que era de Vitória, ele contava pra gente quando ele rapazinho em Vitória do Mearim juntamente com outra rapaziada, isso lá por volta 1943, quando apareceu um boato que estava chegando em Vitória uma comitiva do governo requisitado todos os rapazes acima de dezoito anos para ir defender a pátria na guerra. Só seriam dispensados aqueles que fossem portadores de defeito físico. Pois um amigo de seu Doca Velez se apavorou tanto de medo a ponto dele próprio decepar o dedo indicador da mão direta, supôs ele que sem o dedo de  puxar o gatilho do fuzil seria com certeza dispensado. Resultado, nunca passou comitiva nenhuma e ele cortou o dedo de graça e ainda ficou com o apelido de Chico Dezenove.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB5jun2014 /nº52)

Crônica
Nono episódio ribeirinho
jornal Turma da Barra

 

"Fizemos várias viagens para Pindaré, em uma delas já de volta, o mestre Guilherme que só andava com um litro de pinga na casa de leme (local de trabalho), naturalmente estava bêbado e já estava escurecendo, ele afundiou no lugar errado"

*Wilson Leite

            Na segunda vez que levamos a lancha Veneza para a reforma em Arari, por lá permanecemos um bom tempo fazendo frete de Arari para Pindaré Mirim e também de Arari para Lago Açu.
            Dessa vez levamos um batelão também para concerto. Ao terminar o concerto das embarcações, apareceram esses lucrativos fretes. Para essa temporada tivemos que contratar outro mestre em Arari que conhecia o movimento das marés, e também os afundiadores, ou seja, os locais profundo onde se parava para esperar a maré encher.
            No lugar conhecido como boca do rio, onde o rio Pindaré desemboca no Mearim, as embarcações só passam com a maré cheia, portanto só se levanta a âncora depois que a pororoca passa.
            Fizemos várias viagens para Pindaré, em uma delas já de volta, o mestre Guilherme que só andava com um litro de pinga na casa de leme (local de trabalho), naturalmente estava bêbado e já estava escurecendo, ele afundiou no lugar errado.
            Quando por volta de 9 horas da noite escutamos o ronco da maré, daí a uns vinte minutos chegou a primeira tromba d’água e pegou a lancha e batelão atirando-os em cima da ribanceira na altura de uns cinco metros, a tromba d’água jogou lá encima e foi embora, e pra descer as embarcações  tiveram que escorregando na lama até em baixo, foi só o tempo de chegar os três cavaleiros, que são três ondas gigante uma atrás da outra após a primeira tromba que vem arregaçando o rio de baixo para cima.
            A meu irmão, esses tais três cavaleiros fizeram o maior rebuliço com essas embarcações, a casa do batelão caiu, fomos desatar redes de mergulho foi um Deus nos acuda.
            Tivemos que passar a noite porque quando terminamos de arrumar as coisas à maré já estava baixando não dava mais pra sair. Quando o dia amanheceu, o ordinário do seu Guilherme tomou tendência e olhou para o tempo e disse: - Olha rapaz eu errei, o afundiador é bem ali na frente, isso não dava cem metros de distancia.
            Por volta de oito horas da manhã escutamos novamente o ronco da maré, nesse trecho o rio fazia um grande estirão, eu subi pra ribanceira fiquei olhando, realmente é muito bonito de se ver, a tromba d’água voltando o rio, e as três ondas imensas um pouco, mas atrás, foi quando eu tive a curiosidade de olhar, como a gente já estava no lugar certo, à água só fez inchar, e lá donde saímos foi o maior reboliço. Reviver o passado, pra mim é muito salutar.

*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB21mai2014 /nº51)

Crônica
Oitavo episódio ribeirinho
jornal Turma da Barra

 

"Quando foi de manhã alguém perguntou seu João e o patromax? Ele respondeu, Sim senhor, o bichinho é muito bonzinho mas não quis apagar, foi obrigado eu dá um mergulho nele no rio, e o miserável ainda apagado passou o resto da noite fungando ai no canto"

*Wilson Leite

            Irei contar mais algumas piquetas (lorotas) algumas que vivenciei e outras que ouvi contar, de personagens ribeirinhas onde muitos levantaram seus recursos e deixaram seus  legados e suas histórias.
            Como já falei antes, mas, não faz mal repetir, Manoel Piauilino como farmacêutico prático em Palmeiral com sua farmácia foi um polivalente na área da saúde salvou muitas vidas dos pobres ribeirinhos as resgatando das garras da sezão ou impaludismo que naquele tempo ainda era bravo.
            Essa eu ouvi contar, certo camarada foi vender um petromax para seu João Ângelo, o cara muito vivo, deixou pra ir já escurecendo, que era pra acendeu o bicho e clarear tudo pro velho se animar, não deu outra, seu João gostou muito e por fim comprou o petromax.
            Realmente o aparelho era dos bons, o camarada levou o bojo do bicho cheio de querosene, e deu bastante  bombadas no bicho, e recebeu o pagamento e foi embora deixando o petromax aceso naturalmente pensando que seu João saberia apagar e não explicou nada no sentido de como apagar o aparelho na hora de  ir dormir.
            Os vizinhas que vieram admirar a novidade, já haviam se retirado  pois já era tarde, e seu João já esperando o tal petromax apagar, já cambando pra meia noite e nada, foi quando ele se aborreceu perdeu a calma, e disse pra si mesmo: - Sim Senhor, você apaga já, pendurou o bicho na mão e o conduziu até à beira do rio que era bem pertinho e lá deu um mergulho no petromax... Apagou imediatamente e o levou pra casa.
            Quando foi de manhã alguém perguntou seu João e o patromax? Ele respondeu, Sim senhor, o bichinho é muito bonzinho mas não quis apagar, foi obrigado eu dá um mergulho nele no rio, e o miserável ainda apagado passou o resto da noite fungando ai no canto.
            No povoado Cajueiro, que também não era tão pequeno, havia até uma filial dos irmãos Queiroz, lá morava um cidadão de nome Antonio Cajá, muito afamado por ser o melhor feitor de canoa da região, e muito mais afamado ainda por ser o homem mais bruto e ignorante de todo médio Mearim naquela época.
            Entre tantas ignorâncias desse moço, conta-se que ele ia caminhado por um estrada e deu uma topada num toco, e saiu catando mamona cai, não cai, mas quando se aprumou sacou de revólver e detonou de tiros no inocente toco, e ainda saiu danado xingando.


*Wilson Ferreira Leite é historiador, mora em São Luís Gonzaga (MA)

(TB7mai2014 /nº50)

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