Coluna do Urias

nº 128, sexta-feira, 16 de setembro de 2011


Os podres poderes

jornal Turma da Barra

*Urias Matos


            Este jornal noticiou em sua coluna “Notas pequenas e rápidas” do último domingo 11 um caso que se refere à Sra. Luciene Matos que foi transferida, “repentinamente” de sua lotação na Secretaria municipal de Ação Social, onde desenvolvia suas atividades há 10 anos para a escola da Vila Miguelzinho.
            Durante muito tempo me reservei ao direito de fazer uma oposição sem os rancores que são típicos das cidadezinhas de interior onde se a pratica por praticar, onde o adversário é visto não como tal, mas sim como um demônio a ser rebatido, debatido e usando-se de todas as armas e meio para derrotá-lo. Nunca coadunei desse ideal por achar anacrônico e pouco aplicável à nossa realidade, ou ao século 21, como bem citou a coluna nas notas.
            Sempre respeitei o prefeito de Barra do Corda, prova disso é que em todas as críticas feitas através do TB, referia-me sempre ao gestor público, de forma inominada e nunca à pessoa, pois esse, eleito pelo povo, perde a pessoalidade, coisa de sonhador que esquece que convive numa cidade anárquica, bem, mas voltemos aos fatos.
            A portaria de nomeação de Luciene Matos deu-se na quinta-feira 8, dia imediatamente posterior à manifestação contra a corrupção ocorrida na praça Melo Uchoa e que fazia parte de um evento nacional, como a maioria sabe.
            Convém lembrar que a funcionária em questão jamais causou qualquer transtorno à administração municipal, ao contrário, numa outra oportunidade fora transferida também por perseguição política não a ela, que é apolítica e mantém-se decorosamente restrita ao exercício de suas funções, mas a mim, que sempre lutei por dias melhores por Barra do Corda.
            O fato é que, pela especialidade e pelo desempenho das funções a ela atribuídas teve de ser novamente remanejada à Secretaria de Promoção Social, convém aqui lembrar que nessa primeira tentativa de transferência ela foi lotada num órgão dessa mesma Secretaria no bairro Altamira, agora, foi remanejada não apenas desta mas relotada na Secretaria de Educação e destinada a trabalhar na Vila Miguelzinho, exatamente o oposto de onde mora. Perseguição pura!
            O mais grave porém estava por vir. A seu pedido, a acompanhei até o departamento pessoal da prefeitura de Barra do Corda. Lá, a servidora requereu sua licença prêmio, vencida há quatro anos e que, por respeito às suas atribuições profissionais nunca havia requerido. De formulário na mão, começamos nosso calvário, primeiro, na dita escola da Vila Miguelzinho, a pobre diretora julgou-se incapaz de assinar e ligando para a Secretária de Educação, Antonia Elda Azevedo, foi informada que o requerimento deveria ser assinado pelo prefeito.
            Na segunda-feira, em um novo calvário, a servidora foi recebida pela Secretária que repetiu a cantilena e a enviou à sala do prefeito. Lá, foi de pronto informada que o prefeito não estava e que mesmo que estivesse não concederia a Licença e assim pronto.
            Antes de prosseguir quero fazer um parêntese e rogar mil perdões aos leitores do TB. Estou sendo personalista ao relatar através deste espaço o fato, mas ele não remete-se apenas a uma questão familiar. O que acontece em Barra do Corda foge a qualquer padrão normal do estado democrático de direito. Vivemos não só uma ditadura no poder, mas em todas as situações, chegamos a um ponto impensável em que tudo é permitido para o prefeito, sua família e seu séquito de bajuladores e eu pergunto: A quem recorrer? A quem rogar? Talvez ao bispo, talvez aos céus, a quem mais?
            Finalizo aqui meu desabafo dando algumas dicas, a primeira delas vai para a Secretária de Educação, Antonia Elda Azevedo, a gestora responsável por mais uma manchete de Barra do Corda em nível nacional: A de pior escola do Brasil.
            A mesma gestora exonerada por estar envolvida no desvio de merenda escolar e reconduzida ao cargo logo em seguida sabe lá por quê.
            Secretária, preocupe-se em melhorar a educação calamitosa de Barra do Corda. Preocupe-se em se explicar à opinião pública as acusações de desvio de merenda escolar e tantas outras que ao longo dos próximos capítulos iremos aqui enumerar e, por fim, ao prefeito de Barra do Corda.
            Sr. Manoel Mariano de Sousa, Luciene Matos não será seu bode expiatório para calar os outros que se levantam contra o mar de corrupção que representa seu governo. Preocupe-se com a Polícia Federal e com as acusações contra você e sua família que desviaram mais de 50 milhões de reais dos cofres públicos. Preocupe-se com o título de chefe de uma quadrilha responsável por um dos maiores escândalos políticos da história desse país.
            Talvez eu, Urias Matos possa me tornar um mártir, afinal, em Barra do Corda tudo é possível, vivemos o anarquismo das idéias, das ações, das palavras, todos, sem exceção tem seus motivos para abdicaram de suas responsabilidades, mas se restar uma única voz, essa será a minha, enquanto vivo. A liberdade não tem preço, e se o preço da liberdade de Barra do Corda for minha vida, eu a ofereço, atinja a mim e deixe minha família em paz.

*Urias Matos, poeta, escritor, atualmente trabalha em São Luís (MA)

 

 

Coluna do Urias

nº 127, terça-feira, 17 de junho de 2011


Uma crônica revoltada

jornal Turma da Barra


            Desde a semana passada havia prometido uma crônica sobre a festa que marcou o retorno dos Populares do Ritmo. A festa foi maravilhosa, amigos e conhecidos se embalavam pelo belo salão do rejuvenescido Clube das Samaritanas enquanto no palco nova e velha geração se encontravam e se deleitavam com música de boa qualidade e bem executada.
            Bem, acabei por não concluir a crônica e eis que na manhã de quinta 16 vejo nos jornais a notícia de que um dos assassinos do massacre do Cateté foi preso, o jovem assassinou as pessoas ao lado do pai, que se encontra foragido e, quando preso, confessou friamente os crimes.
            Mais tarde, para minha surpresa, outra informação de crime. Dessa vez contra um outro comerciante, assassinado nos moldes de um anterior que resultara na morte de um irmão da vítima. O modus operandi: Dois homens numa moto dispararam sobre a vítima e tiraram sua vida, para em seguida fugir. Dessa vez o crime deu-se no bar e depósito do Luís Arruda, um dos lugares mais conhecidos e frequentados da cidade. Arruda é cunhado da vítima.
            Esse não é nem o primeiro nem o segundo caso. E assim como os outros, os assassinos não deixaram pistas e assim como os outros, a Polícia não deverá se esmerar em elucidá-los. Na cidade comenta-se que é crime de encomenda, acerto de contas etc. A pergunta em questão é: O que acontece em Barra do Corda que tantos crimes são praticados e ninguém é punido?
            Talvez a resposta esteja no modo de se compreender que segurança pública é apenas uma das engrenagens de um sistema que se diz democrático e que em tese deve seguir atrelado a uma hierarquia e a um sistema, mas, se olharmos para o que acontece em Barra do Corda hoje perceberemos a inversão desse sistema, exatamente de onde deveria emergir a lisura, a honestidade e a decência, vemos parcialidade, escândalos nos jornais, omissão e o caos instalado.
            O reflexo disso, uma cidade sem comando, ainda mais se considerarmos que o chefe do poder público municipal ao lado de toda a família está em vias de ser processado acusado de desviar mais de 50 milhões de reais do erário público, e que foi chamado pela mídia chefe de uma quadrilha especializada nessa prática.
            Não quero aqui politizar o assunto segurança pública, embora seja impossível dissociar qualquer ação relacionada a ela sem citar os governos, seja ele federal, estadual ou municipal, é essa tríade que em tese deveria zelar por nossa segurança, os três são omissos, cada um no seu estrito raio de ação. Na ponta, a população se fecha entre muros altos e grades de ferro, para quem pode.
            Os mais humildes, são expostos diretamente e aqui já também o reflexo de outro problema gravíssimo, que é a geração de emprego e renda, e pelo êxodo rural veem a marginalidade e as drogas tomarem corpo em suas vizinhanças ou até mesmo dentro de suas casas.
            O que fica, além da revolta, indignação e perplexidade é a sensação de que quase nada pode ser feito e perceber que quem pode fazer se omite, ou pior, não ostenta predicados morais para fazê-los. De que forma o prefeito pode cobrar justiça e punição dos culpados quando vive mergulhado num mar de lama jurídico? De que forma o promotor público pode cobrar decência ou ação policial ostensiva e repressiva se suas condução, mesmo frente ao mais comum dos cidadãos, não lhe permite moral para tal?
            Quanto aos juízes, a morosidade, a parcialidade e benevolência com a atual situação vexatória da cidade, a cada dia achincalhada pela mídia, seja pelos escândalos da família que usurpa o dinheiro público, seja pela violência que assombra e incomoda, parece soar-lhes aos ouvidos como música. Fácil de entender. A cidade é apenas mais uma passagem, que o corporativismo da instituição os permitirão galgar postos mais altos na carreira até chegarem ao último grau e receberem os louros da vitória, uma vitória que afinal terá vitimado quantas vítimas inocentes, simplesmente por não agirem ou agirem em beneficio do mais forte em detrimento do mais fraco, do poderoso em detrimento do humilde?
            Quanto à Polícia, sem equipamentos, sem viaturas, desmotivados pelos baixos salários, pela falta de estrutura e tendo como referência moral quem não apresente nenhuma, cruza os braços e se acostuma à brandura das leis e a inimputabilidade concedida pelos donos dela a quem pode, e assiste, de camarote a um desenfreado aumento da violência como parte do processo, vítima do sistema viciado e que os torna, quando menos, figurantes.
            Assim seguimos. Entre mortos e feridos, comemorando quando possível e lembrando saudosamente de um tempo onde nossas calçadas recebiam calorosamente a cadeira do vizinho para uma prosa amena enquanto da cozinha o café aromava o sabor da amizade. Pela rua nossos filhos brincavam ao sabor da lua e a vida parecia tranqüila. Um tempo que talvez a música dos Populares do Ritmo, esse reencontro mágico queira apenas nos mostrar que passou, rápida e vorazmente, e que o novo tempo, da maldade, da corrupção, da violência e principalmente da impunidade veio para ficar, e o pior, sem termos a quem recorrer.

*Urias Matos, poeta, escritor, atualmente trabalha em São Luís (MA)

 

 

Coluna do Urias

nº 126, terça-feira, 31 de maio de 2011



Festa em Brasília
mata saudades da Barra

jornal Turma da Barra

“Minha visita a Brasília tinha dois objetivos: 
Visitar minha velha mãe depois de muitos anos
e participar de uma festa da colônia barra-cordense em Brasília."
"Poucas colônias no Brasil talvez nutram tão ferrenha e saudosa relação com sua terra natal. 
Talvez por isso todo reencontro seja marcado pela emoção e pela alegria.”
Urias Matos


"O melhor o tempo esconde, longe, muito longe
Mas bem dentro aqui, quando o bonde dava a volta ali
No cais de Araújo Pinho, tamarindeirinho
Nunca me esqueci onde o imperador fez xixi
Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro
Trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir
Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos
E eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir
Rua da Matriz ao Conde no trole ou no bonde
Tudo é bom de vê, seu Popó do Maculelê
Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa
Não dá prá entender o Apolo e o rio Subaé
Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria
Mãe de Deus, será que esses olhos são meus ?
Cinema transcendental, Trilhos Urbanos
Gal cantando o Balancê
Como eu sei lembrar de você"


            Os versos acima são de uma famosa canção de Caetano Veloso chamada "Trilhos Urbanos". Sempre fui um fã ardoroso da canção assim como de toda obra do compositor baiano. Na canção em questão Caetano enaltece lugares de sua infância passada em Santo Amaro, cidade baiana que lhe viu nascer e que ele fez questão de mostrar ao mundo.
            Eu nunca havia relacionado a letra da canção a elegia do compositor à sua cidade natal, mas foi no avião, precisamente na escala de Imperatriz, ao escutá-la no celular da bela passageira que me acompanhava, me dei conta. Refiz toda a letra em minha mente e percebi que os versos eram uma passagem pela velha Santo Amaro, uma cidade histórica fundada em 1557 e que além de Bethânia e Caetano deu ao Brasil outro magistral músico, Assis Valente.
            Minha visita a Brasília tinha dois objetivos: Visitar minha velha mãe depois de muitos anos e participar de uma festa da colônia barra-cordense em Brasília. Ao lembrar da colônia, me dei conta que assim como Caetano, temos por Barra do Corda o mesmo tipo de amor que o compositor, distantes, sempre queremos voltar ou na pior das hipóteses saber notícias. Isso sem falar na torcida para que ela melhore sempre, o que quase nunca é possível em face da situação política da cidade, marcada por uma crônica e endêmica corrupção, mas a vida segue...
            Na canção o compositor baiano explicita que seu trabalho é traduzir a cidade: “Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos, e eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir”. Fazemos isso sempre, tentando compreender principalmente o que Barra do Corda tem de tão especial que nos evoca tanta paixão, tanta saudade, tanto bem querer.
            À noite, durante a festa, tive a prova disso. Rostos felizes, reencontros mil e aquela sensação de estar em casa mesmo longe dela. Poucas colônias no Brasil talvez nutram tão ferrenha e saudosa relação com sua terra natal. Talvez por isso todo reencontro seja marcado pela emoção e pela alegria, talvez e não só por isso a festa do último sábado tenha sido tão bela, animada e marcante, ela na verdade resume o sentimento de uma pequena nação exilada que quando se junta, retorna à sua terra natal saudando a alegria e sonhando com um retorno, ainda que para alguns, impossível.
            Ou, como escreve Caetano: “O melhor o tempo esconde, longe, muito longe mas bem dentro aqui”. Uma analogia que liga, ainda que de forma díspare, Santo Amaro da Purificação a Barra do Corda, unidas pela saudade de quem distante, nunca esquece.

*Urias Matos, poeta, escritor, atualmente trabalha em São Luís (MA)

 

 

Coluna do Urias

nº 125, terça-feira, 1º de fevereiro de 2010


Carros com som alto
não respeitam lei

jornal Turma da Barra

*Urias Matos


            Notícias vindas da capital, São Luís, dão conta de que a cada operação policial mais pessoas e carros são presos e sons desmanchados por conta de ações montadas no sentido de coibir a poluição sonora. No último final de semana 12 veículos foram apreendidos, número que somado às operações anteriores já contabiliza mais de 100 apreensões.
            Em Imperatriz, por exemplo, a 3ª Promotoria de Justiça Especializada na Defesa do Meio Ambiente emitiu na última quinta-feira, 27, uma recomendação sobre o combate à poluição sonora no município. O documento foi encaminhado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Sepluma), Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (Setran), 3º Batalhão de Polícia Militar e 10ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Imperatriz.
            Segundo informações do Jornal Pequeno, o promotor de Justiça Jadilson Cirqueira de Sousa lembra que as reclamações por poluição sonora causada por veículos e outros instrumentos têm sido frequentes no município, em especial na região da Beira Rio, ruas, espaços públicos, clubes recreativos e em áreas residenciais. O problema já levou, inclusive, à realização de uma audiência pública no dia 25 de janeiro, na qual as autoridades ligadas à segurança pública discutiram o assunto, buscando uma solução para as denúncias.
            À Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente o promotor recomendou que seja intensificada a fiscalização junto a veículos particulares, de publicidade e propaganda volante bem como em bares, estabelecimentos comerciais, clubes, condomínios e residências. A Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte também deve intensificar a fiscalização aos veículos automotores, aplicando as penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro.
            Anos atrás, quando escrevi meu primeiro artigo para o "Turma da Barra", já denunciava os abusos cometidos na cidade. O título "Os sem porta-malas" referia-se a essa situação e cobrava providências. No texto referia-me à frase de um amigo já falecido que dizia que quem colocava um som alto em seu veículo era tão idiota que por não ter o que dizer aos outros, abdicava desse direito e tolhia também dele quem perto se encontrasse.
            Mas por aqui, como sempre, nada funciona, a Lei não se aplica e nada muda. Em lugares como o balneário Tabocas, por exemplo, que por conta das obras e investimentos vem se transformando no principal ponto de lazer da cidade, os abusos são absurdos, principalmente aos domingos. Durante todo o dia uma disputa idiota e sem nexo de moços, cada um querendo mostrar a potência do seu brincando e esquecendo-se do direito alheio, infestam o lugar com 2, 3, 4 ou até mais carros com seus sons ligados ao último volume e ao mesmo tempo. Uma situação que moradores e até usuários que procuram diversão sadia já não toleram.
            A mais grave dessa situação é a conveniência dos donos dos bares e principalmente da polícia e das demais autoridades. Apesar da legislação, prefeitura, autoridades policiais, ministério público e guarda municipal simplesmente esquecem que ela existe, durante a estada nesses locais de disputa, é comum ver viaturas policiais rondando, mas nada é feito. Talvez usarão como desculpa a ausência de aparelhos medidores, mas é impossível não notar o abuso e a agressão aos ouvidos de moradores e usuários.
            Já os donos de bares parecem adorá-la. São raríssimos os casos na cidade onde há uma proibição explicita. Nem mesmo o pedido dos frequentadores, em sua maioria ávidos por um ambiente sossegado e calmo, adianta, e assim a guerra idiota dos decibéis continua enquanto os poderes, por mais barulho que isso possa fazer, permanecem surdos e cegos, infelizmente não apenas para esse, mas para todos os outros problemas que assolam a cidade. Durma-se com um barulho desses?

*Urias Matos, poeta, atualmente trabalha em Chapadinha (MA)

 

 

Coluna do Urias

nº 115, terça, 21 de julho de 2009


Homenagem aos 20 anos do TB
jornal Turma da Barra
 

*Urias Matos


            As definições de tempo ajustam-se a cada circunstância. A passagem dele ou nossa passagem por ele, traduzida em dias, horas, minutos e segundos são a marca de nossa história, do que somos e do que representamos, o tempo, essa alegoria cruel, que como uma ampulheta consome nossa existência, também é a mesma que nos enche de esperanças quando um novo dia nasce.
            E desse nascer crescente, dessa condição de sonhar com novos tempos, que nosso TB chega ao seu vigésimo ano. Antes de cultuar seu fundador e mantenedor, como fizemos em anos anteriores, impossível também não citar o fato de que o Turma da Barra, o nosso “TB”, criou alma e identidade própria. Ou seria melhor dizer que criou corpo?
            Um corpo, é verdade, que no caso da net ainda guarda os traços anacrônicos, mas não menos charmosos das primeiras páginas em ‘html’, mas por seu conteúdo, por sua força e sua verdade, o TB jamais precisou de um rosto bonito, ao contrário, a simplicidade de suas páginas contrastaram sempre com a verdade jornalística, com o respeito aos leitores e ainda pela descoberta de novos talentos e da difusão da vida cotidiana e dos problemas de Barra do Corda.
            Hoje o Turma da Barra, antes cara e corpo de seu fundador e uma das figuras mais importantes do jornalismo barra-cordense de todos os tempos, Heider Moraes, tornou-se uma confraria, dele surgiu a Arcádia Barra-Cordense, entidade literária com fins meramente literários e culturais, e ainda, recentemente, o Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda.
            Mais que isso, em torno da aura do TB, essa entidade com aura flamejada de bons fluídos, vários e vários amigos se cruzaram, conheceram-se e tornaram-se camaradas do peito, são vários os exemplos, hoje, e com honra relato tal fato, somos uma maravilhosa congregação chamada família Turma da Barra, que como todas as outras tem seus sonhos, decepções, discussões, mas que confraterniza-se sempre e sonha um dia comemorar dias melhores para a Barra que deu luz ao Turma. Parabéns!

*Urias Matos é vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

 

 

Coluna do Urias

nº 109, domingo, 11 janeiro de 2009


O Medo

 

            Você já parou algumas vezes na intenção de definir seus medos, ou, num exercício metonímico especificá-los, ajustá-los a cada situação especifica? Talvez sim, talvez não, temos a mania tipicamente “new generation” de assumirmos nossa condição de fragilidade, ora é o “new machismo”, agora afeito a cuidar dos filhos, abraçá-los, beijá-los, ora o “new feminismo”, pouco difundido até por uma questão de honra mas que existe sim, as “new mulheres” voltam à cozinha e por ai se segue.
            Na verdade, outras definições mais célebres dizem que o medo nos faz ter coragem, pois ao aceitá-lo agimos impulsivamente na direção oposta, nos tornamos corajosos, um conceito interessante que nos projeta a outro, pois, se há medo, há coragem, então a ausência do medo não poderia também significar a ausência da coragem, o que sobraria então?
            Minha primeira noção de medo se deu na tenra infância quando passava minhas férias longe de casa, da mãe, e criava um mundo particular onde nele minha família era encolhida por uma espécie de máquina, e então, cada pedra, cada galho, cada coisa poderia conter a minha família encolhida distante exatos 24 quilômetros, mas meu cérebro infantil concebia tal medo em tamanha proporção que me afugentava das brincadeiras pelos terrenos baldios, preferia a companhia dos parcos livros do primário, a irmã era professora, até hoje ainda não sei explicar como suportava tais férias cheias de receios, medos bobos, mas lembro-me dessa primeira concepção de medo.
            Na adolescência o medo continua, mas abri espaço para a insegurança, para as dúvidas, para a incredulidade. A metamorfose a que corpo e mente são submetidos nos fazem mergulhar num mundo onde nada é palpável, até que naturalmente as coisas se rearranjam e passamos à condição de adultos, embora jamais o sejamos completamente, pois mesmo assim agiremos infantilmente ou adolescentemente quando nos apaixonamos e esquecemos os limites e o bom senso, ou até quando realizamos um sonho como o primeiro carro ou um carro novo, nessas condições, retornamos ao estágio infantil de orgulho, posse e prazer, nada mais normal, talvez nada infantil pois apesar de rejeitamos o rótulo, nosso lado criança, aquele que nos permite rir de coisas tolas, de situações ainda mais tolas ainda permanece escondido, embora para alguns seja mais difícil aceita-lo ou vivenciá-lo, o que torna a vida mais chata.
            Já nosso lado adolescente geralmente aparece na paixão, ela nos arrebata, nos cerca e nos transforma, acredito que a sensação de juventude para qual a paixão nos conduz se dá exatamente em função de estarmos nessa condição, de adolescentes encantados, hormônios a mil e a busca do encantando, o amor, a paixão.
            Quando adultos somos muito mais medrosos, por mais corajosos que possamos deixar transparecer, e nosso maior medo é de viver plenamente. Nos guiamos por convenções sócio-religiosas, criadas exatamente para tolher do ser humano sua naturalidade, pois se somos felizes com o que dispomos, para que buscar a felicidade num deus desconhecido? Para que sonhar com um paraíso distante a alcançável apenas com sacrifício e privações (isso para os fiéis, já para os líderes...)?
            Aprendemos que só estaremos felizes de fato se nosso carro for zero quilômetro, se nossa casa ostentar móveis da moda, eletrodomésticos de última geração e se nossas roupas se ajustarem aos últimos lançamentos da semana de moda de Milão (agora não é mais Paris), mesmo ela sendo ridícula, mas na maioria das vezes não alcançamos esses objetivos ou padrões sociais, então, vem à frustração. O medo de encarar a vida de frente, como ela é, com suas dores, mas com suas cotidianas alegrias nos aprisiona. Para ser feliz ao lado da família precisamos de férias. Para rir ao lado dos amigos precisamos do domingo. Para presentear os colegas de trabalho precisamos do amigo oculto do natal. Até inventamos o dia das mães, dos pais, das crianças, do amigo e por aí vai para celebrarmos o que deveríamos fazer diariamente, naturalmente, sem medos ou receios.
            Nossa vida em sociedade, nossa evolução social e tecnológica nos afasta do que temos de melhor, a capacidade de amar, de sorrir desavisadamente, de apreciar o belo sem modismos ou padrões sociais, robotizamos nossa vida ao ponto de programarmos nosso cotidiano, nosso dia, nossa semana, ano, como se vivêssemos num ‘script’ pré-estabelecido, quando a realidade mostra que a graça da vida está exatamente em viver, ajustando os medos, por necessidade, mas aceitando a vida, seus problemas e entraves, mas principalmente descobrindo que para ser feliz basta apenas dar o primeiro passo... Que pode até ser no intervalo da novela.

*Urias Matos é poeta e escritor, mora em Barra do Corda

 

 

Coluna do Urias

nº 108, quarta, 29 dezembro de 2008


Caráter

 

      Devido a alguns acontecimentos dos últimos dias que não convém aqui mencionar, resolvi pesquisar a definição exata da palavra caráter.
      Não a encontrei com exatidão. O mais próximo que achei (ou na verdade a definição mais próxima do que eu desejaria) foi a de que caráter resume-se em índole ou firmeza de vontade. 
      Bem, índole por definição é o conjunto de traços e qualidades inerentes ao indivíduo desde o seu nascimento; inclinação, temperamento. Assim, retorno ao ponto inicial. 
      Evidentemente que à luz da etimologia ou das mais diversas interpretações dos dicionários não se pode compreender a abrangência da palavra caráter. 
      No senso comum, na aplicação prática da palavra, dizemos por exemplo que um sujeito firme de propósitos, de boas intenções é alguém de caráter, um bom caráter. O contrário é um mau caráter. 
      Então, surge uma outra questão: Qual seria o correto, um sujeito de má índole, de qualidades morais duvidosas, com inclinações para o mal e de comportamento torpe seria um mau-caráter ou um sujeito desprovido de caráter? Por favor Luciana Martins nos tire a dúvida.
      Alguns leitores devem estar se perguntando por que tantas indagações sobre essa coisa, mas o fato é que por vezes em nosso cotidiano temos de lidar com situações em que para não perdermos a calma nem a postura, é preferível enveredar pelo campo da teorização. 
      Todos nós, seja em nossas relações pessoais ou profissionais, lidamos com um mau-caráter, o sem caráter, daqueles que agem sorrateiramente e que tem apenas um único objetivo: fazer o mal, denegrir, distorcer, difamar, tripudiar, em resumo: um f.d.p.
      Sempre que os encontro, e isso aprendi com a vida, dou de lado, arrodeio, como se diz aqui por nossas bandas. 
      É jargão dizer que o mal por si se destrói. Sinceramente tenho cá minhas dúvidas, mas o fato é que fazer o bem é muito mais interessante, recolher-se ao travesseiro e dele ser parceiro duma bela noite de sono, sem ressalvas, sem remorsos não tem preço, como diz um famoso comercial. 
      Nesta época do ano, os “maus-caracteres”, ou os que sofrem da ausência dele estão mais dóceis, ao menos aparentemente. O espírito (comercial) do natal aproxima as pessoas (presentes, almoços, jantares, ceias...), mas depois, como após o carnaval, a vida volta a seguir seu rumo e com ela a rotina e eles, como aves de rapina, estarão por cá e por lá, na espreita, à espera de mostrar as asas, os bicos e com seu vôo torto azucrinar e perturbar. Oh raça!
      Eu ainda não descobri o antídoto. 
      Talvez irei pedir aos meus filhos um escudo tal qual o de Luciana Martins, tomar umas pingas moderadamente como Cezar Braga, rogar aos céus como Renilton Barros, tentar processá-los como talvez faria Yuri Heider ou cortar-lhes o gás como talvez o Kardec faria e porventura e bondade degustar um bom vinho sossegado como o mestre Nonato Silva...
      Mas decidi convidar Heider Moraes, Alex Macedo, Allander Passinho, Angélica Alencar, Humberto Madeira, Mandi Brasil, Mauro Miranda, Pablo Oliveira, Raphael Castro, Eduardo Galvão, Márcio Martins, Fagner Barbosa, Janderson Araújo, Guilherme Martins, Júlio Sá, Natanael Maninho, Robert Menezes e o restante da Turma da Barra para uma cervejada aqui em casa para sorrirmos dos sem caráter em geral.
      Afinal, rir para espantar os males é o melhor remédio. Mas ainda quero perguntar para Lu Martins: - Esse povo é sem caráter ou mau-caráter? 

*Urias Matos é poeta e escritor, mora em Barra do Corda