Artigo
Campus da UFMA
não é solução

jornal Turma da Barra

*Professor Cláudio Ferreira Lima


            Tenho acompanhado, no Turma da Barra, as manifestações do povo cordino em relação à instalação de um campus da UFMA em Barra do Corda. É uma reivindicação mais que justa e natural, de quem quer o melhor para sua cidade e região. Com certeza um campus da UFMA transformaria a região não apenas em um pólo educacional, mas também em um pólo de desenvolvimento. Mesmo reconhecendo a importância que teria, sou contra a instalação de um campus da UFMA, hoje, em Barra do Corda ou em qualquer outra cidade da região.
            Contra? Sim, sou contra.
            É chegado o momento de pensar grande, ou pelo menos desejar acompanhar o que têm acontecido nos quatro cantos do Brasil nos últimos 10 anos. Várias Universidades Públicas foram criadas na última década. Algumas delas com estrutura superior, como a Universidade Federal do ABC em São Paulo.
            Em Minas Gerais várias faculdades isoladas foram transformadas em Universidade Federais e já contam com Programas de pós-graduação, tais como: Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri com sede em Diamantina; Universidade Federal do Triangulo Mineiro (IGC– Índice Geral de Cursos 5) Universidade Federal de Alfenas; Universidade Federal de Itajubá.
            É verdade que já contavam com cursos de graduação, mas esta foi a forma encontrada para expandir o ensino universitário em Minas, uma vez que já contava com várias universidades federais, o maior número entre os estados brasileiros.
            Na Bahia uma nova Universidade, a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, e ainda campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Petrolina e Juazeiro).
            Em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná foi criada a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) que abrange a mesorregião fronteira Mercosul.
            No Rio Grande do Sul, além da Universidade da Fronteira, foram criadas duas novas Universidade e no Paraná foi criada a Universidade Federal de Tecnologia.
            Em São Paulo houve a expansão da Escola Paulista de Medicina, que foi transformada na Universidade Federal de São Paulo com mais de um campus. A Universidade Federal do ABC já conta com vários programas de pós-graduação.
            Estes são apenas alguns exemplos para fundamentar o meu posicionamento em relação à criação de um campus da UFMA em Barra do Corda.
            Precisamos pensar na criação de uma nova Universidade no Maranhão, que poderia muito bem ser em Barra do Corda, por se tratar de uma região central. Uma Universidade Grande, criada com um projeto ambicioso. Uma Universidade pensada para ser um centro de referência em ensino e pesquisa e extensão, com Programas de Pós-Graduação, forte, em todas as áreas do conhecimento. Uma medicina tropical forte, com mestrado e doutorado. Uma agronomia voltada para a agricultura regional, também com uma Pós-Graduação forte. Engenharias planejadas para oferecer cursos de Pós-Graduação de Ponta, favorecendo o desenvolvimento industrial da região. Ciências Básicas com Programas de Pós-Graduação em nível de mestrado e doutorado, visando principalmente conhecer e aproveitar as potencialidades existentes na região. Cursos de Ciências Humanas também planejados com Programas de Pós-Graduação. Uma Universidade planejada, desde o início, para ser grande em número e qualidade.
            É chegado o momento de criarmos uma Universidade superior no Maranhão, planejada para no mínimo 15 mil estudantes de graduação e pós-graduação, com um campus moderno, com infra-estrutura, com moradia estudantil para pelo menos metade dos discentes e restaurante para toda a comunidade universitária. Um corpo docente composto por pelo menos 60% de doutores e 30% de mestres (em todos os cursos). Moradia para os professores poderia ser a contribuição do Estado para a criação da nova instituição e um incentivo, juntamente com o fortalecimento da Fundação de Pesquisa do Estado (FAPEMA), para a fixação de pesquisadores na região.
            É preciso pensar grande, não podemos continuar correndo atrás do resto do Brasil. Não podemos assistir ao fortalecimento do ensino universitário, com grande aumento do número de vagas e melhora na qualidade dos outros Estados de braços cruzados, ou reivindicando apenas o mínimo. Somos o estado que menos cresceu em termos de pós-graduação nos últimos três anos, no ritmo que estamos seremos em breve o último estado da federação em termos de pós-graduação.
            Entre os Estados do Nordeste só temos mais Programas de Pós-Graduação que o estado do Piauí (um a mais). Não podemos apenas correr, precisamos correr bem mais que o dobro. Basta olharmos os outros estados, a região Sudeste detém em torno de 90% das publicações científicas nacionais, é a região mais rica.
            Artigo recente dos pesquisadores Leonardo C. Ribeiro, Ricardo M. Ruiz, Américo T. Bernardes, e Eduardo M. Albuquerque, publicado no Computing in Science & Engineering indica que o crescimento do PIB de um país está diretamente relacionado com o crescimento do número de publicações científicas.
            É o exemplo que precisamos seguir, e para sonhar em ser grande, em sermos representativos, precisamos correr pelos menos dez vezes mais que todos os outros estados. Para tanto fortalecer instituições existentes não é suficiente, precisamos criar instituições novas, com caras novas, com objetivos definidos e bem planejados. Precisamos sonhar em ser GRANDE em 2050, precisamos construir o Maranhão do futuro.

*Cláudio Ferreira Lima, natural de Tuntum (MA), é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica da Universidade Federal de Viçosa (MG)

(TB/9dez2010)