Memória
Acrísio Ferreira de Sousa
faz 100 anos
(1912 – 2012)
jornal Turma da Barra

 


Acrísio, ao centro, ladeado pelos irmãos Alderico e Joana à esquerda,
também pelos irmãos Aristides e Antonia à direita, durante a festa de 50 anos de casamento
 com Desirèe Milhomem em julho d
e 1986. Acervo: Murilo Milhomem de Sousa

 

O TB conta a história de Acrísio Ferreira de Sousa,
que caso se estivesse vivo, neste 16 de fevereiro estaria completando 100 anos. 
Uma homenagem do TB a um dos barra-cordenses que conseguiu criar dez filhos, 
um deles é o atual deputado estadual (Carlos Alberto, o Tatá),
também o atual vice-prefeito de Barra do Corda 
(Aristides Milhomem de Sousa)

Por Álvaro Braga

            Neste dia 16 de fevereiro, há um século, nascia o menino Acrísio Ferreira de Sousa, filho de José Inácio de Sousa e Maria Ferreira de Melo (Mariquinha), no povoado São Joaquim dos Melos, em Tuntum, na época pertencente ao distrito de Curador (Presidente Dutra), outrora zona rural de Barra do Corda.

ORIGENS

            Seu avô paterno chamava-se Inácio Ferreira de Sousa, vulgo Inacinho, natural de Barbalha no Ceará. Muito jovem ainda, casou-se com a moça Teresa Araújo, natural de Assaré, igualmente cidade cearense da região do Cariri.
            Motivados por terrível seca que assolou o Ceará no final do século 19, migram para o Maranhão em busca de prosperidade, água abundante e solo fértil, acompanhados dos filhos pequenos Ana Ferreira de Araújo, Manoel Ferreira Araújo (Manoel Inácio), José Inácio Ferreira Araújo e João Inácio. 
            Muito ativo, Inacinho vendeu seus pertences e preparou a viagem ao Maranhão, vendendo propriedades e trazendo muito dinheiro para investir. 
            Cruzou todo o Piauí, atravessou o Parnaíba, fazendo penosa viagem em lombo de burro, passando pela velha estrada do gado próximo à Colinas, vindo situar-se no lugar chamado Caatinga, atual Santa Rosa em Tuntum.
            Ali passou a viver e criar a família. Comprava bezerros por dois mil réis ainda na barriga da vaca e quando se passava um mês que a vaca havia parido ele ia buscar garrote. 
            A filha, uma mocinha chamada Ana Ferreira de Araújo, casou com o parente Estevam Ferreira de Sousa, já um rapaz de grandes posses, também migrante cearense, da mesma região de Inacinho, que iniciara a vida trabalhando com o fazendeiro Domingos Preto. Da união do casal, nasceram os filhos Messias Ferreira de Sousa (que casou com Antonia Pereira); Virgulino; José Ferreira (Zé Velho, que casou quatro vezes com: Cristina, Constancia, Teodora e Rosa); Inácio; Regina (casada com Fortunato); Maria (casada com Cazuza); Antonia do Pedrinho (casada com Pedro Véi). E estes geraram numerosa descendência no povoado Leandro, pertencente atualmente à Fernando Falcão.
            O outro filho de Inacinho, Manoel Inácio, casou com Otacília e foram morar no Saco da Serra, próximo à São Joaquim dos Melos, em Tuntum,  onde tiveram os filhos: Manoel Ferreira, Otacílio, José, Tereza, Antônia e Maria (primeira esposa de Tainor Melo).
            Com a morte de Manoel Inácio, Tainor Melo cria como filho o Manoel Ferreira, por isso ele possuía o apelido de Manoel Tainor, ou ainda Manoel Traíra, pois gostava de pescar traíras nos brejos e lagoas. Ele não gostava deste último apelido. Manoel Ferreira casou com Edite Pacheco. 
            A viúva de Manoel Inácio, Otacília, ainda casaria com Félix Correia sendo mãe de Alzira (casada com Raimundo Feio); Dola (casado com Terezinha do Sansão) e Bibi (casada com Pedro Naninha).
            Outro filho, chamado João Inácio casou-se com Doninha e tiveram um filho também chamado Manoel.
            O filho José Inácio, pai de Acrísio Ferreira, casou inicialmente com Josefa, moça prendada, da família Chaves, e com ela tiveram os filhos: Dico (casado com Jovem); Antônio Ferreira, que foi para São Paulo; Tereza (casada com Virgulino Ferreira após ficar viúva de João Nêgo do Jenipapo dos Resplandes); Marica; Manoel (casada com a filha de João Feio e que largou logo); e Luiz Ferreira, todos falecidos.
            Ao ficar viúvo, José Inácio casa-se com Maria Ferreira de Melo (Mariquinha), de família tradicional, filha de Joaquim Melo (Quinco) e Joana, e irmã de Tainor de Melo Lima (que casou com Maria e depois com Marica, filha de Raimundo Mano e Josefa), Zeca Melo (casado com Emídia), Pedro Melo (casado com Cota), Tarcísio Melo, Joaquim Melo (que casou em segundas núpcias com Dona Pia) e Sindona (casada com Raimundo Correia).
            José Inácio e Mariquinha Melo, juntos, tiveram 14 filhos: Os dois primeiros morreram: José e Oadia. Depois ele colocaria o mesmo nome de Oadia em uma filha que sofria com problemas neurológicos. Os outros filhos eram Acrísio (de 1912), Antônia, Joana, Ana, Oadia, Nilo Inácio (de 1921), Messias (de 1914), Alberto, Aderson, Aristides, Alderico (apelidado Bira), sendo Acrísio o mais velho (casado com Desirée Milhomem, filha de Manoel de Melo Milhomem e Joana Teixeira);e Maria José, a caçula. 
            De todos estes, estão vivos apenas, Nilo, em Barra do Corda; Alberto em São Luís e Maria José em Ribeirão Preto, estado de São Paulo. 
            São Joaquim dos Melos, na época era considerada a terra das oportunidades, com a economia impulsionada com a criação de gado e muitos entrepostos comerciais ali estabelecidos. Até cartório havia no lugar, sendo até hoje lembrados os juízes de paz, que promoviam casamentos: Leão Milhomem (irmão de Manoel Milhomem e depois Sebastião Cézar de Miranda, esposo de Adilina e pai de Osmar Miranda. 
            Nilo, esposo de Iracema Milhomem e irmão de Acrísio, conta: “O professor em São Joaquim naquele tempo era o Bonfim, vulgo Boca de Gamela. As parteiras eram “Mãe Raimunda” e “Comadre Otília do Pedro Nena”. Lembro que,  rapaz novo ainda, fui à uma festa na casa do primo Messias Ferreira, no Leandro, ficando lá arranchado alguns dias, pois tava de olho numa das filhas moças que morava com ele. Quando fui me despedir, pensando que o Messias não havia notado nada, disse: - Já vou indo seu Messias! Ele bastante aborrecido, disse: - Há mais tempo!” 
            José Inácio era dotado de grande tino comercial, característica dos tioregas, que repassou aos filhos Acrísio e Nilo, principalmente. Possuía uma fazenda em São Raimundo das Mangabeiras e outra em São Joaquim dos Melos, onde havia também um comércio e criação de gado. Faleceu em 19.06.1927, no lugar Caatinga, de estupor, depois de passar muito tempo em um forno e tomar banho com água fria em seguida. O filho Nilo Inácio Melo de Sousa contava com apenas seis anos. 
            Mariquinha Melo, viúva, com 14 filhos para criar passou por grandes apuros, pois motivada pela herança de José Inácio, os filhos do primeiro casamento promoveram uma repartição litigiosa e coercitiva dos bens do falecido, que deixaram profundas marcas em toda a família, obrigando Acrísio, ainda um rapazinho de 15 anos a trabalhar muito, juntamente com outros irmãos, para sustentar toda a família e tocar o que restou dos bens deixados pelo pai. Ajudou a criar os irmãos de seus 15 aos 27 anos de idade. 
            Conta Nilo, que certa feita, o irmão por parte de pai, Antônio Ferreira, vindo de São Paulo visitar a família, foi pedir o perdão à dona Mariquinha Melo por algum excesso que havia cometido. Ela perdoou e não restaram mágoas. 

O TRABALHO E A FAMÍLIA

            Acrísio tinha apenas 24 anos quando casou com Desirée Milhomem, filha de Manoel Milhomem e Joaninha Teixeira, no dia 10 de julho de 1936 e viveram em São Joaquim até o final de 1943, cuidando da agricultura, criação de gado e de um pequeno comércio. Sabia ler e escrever, mas não possuía o primário completo. Em São Joaquim nasceram os quatro primeiros filhos do casal: Tatá, Lilás, Antônio e Artur. 
            Tiveram um total de doze filhos: 
            Filhos de Acrísio e Desirée (atualmente com 91 anos): Carlos Alberto (Tatá Milhomem, deputado estadual pelo Maranhão, casado com Clélia, filha de Manoel Galdino e Zelinda Araújo Moraes); Lilás (viúva do paraense Clóvis, ex-funcionário da Comara e Petrobrás); Antônio (Kojak, casou com a mineira Eliane); Artur; Sônia (separada); José Milhomem (falecido); Acrísio (Acrisinho); Ubirajara (casou com Ana); José Murilo Milhomem Sousa (jornalista); Aristides (Vice-Prefeito de Barra do Corda, jornalista, casou com Jaíne). Os quatro filhos que faleceram são: Lígia, Maria, José e Acrisio Filho. 
            Pouco tempo após chegar a Barra do Corda, alinhado politicamente ao sogro Manoel Milhomem, Acrísio foi nomeado para presidir o Cartório do 2º Ofício, sendo destituído após algum tempo, por injunções políticas. Ainda no comando do cartório, Acrísio não aceitava registrar crianças com nomes exóticos. 
            Foram morar inicialmente à rua Arão Brito, próximo à dona Dinê Azevedo. 
            No início dos anos 50 se estabelece em um comércio e bar na esquina do Mercado com a rua Tiradentes, no centro de Barra do Corda, que ficaria conhecido como o Bar do Acrísio. Nesse local já haviam trabalhado com bar, o ex-prefeito Clóvis Habib e o falecido senhor Dico Maninho. 
            Em 1965, foi lançado candidato a prefeito da Barra. Concorreu com Galeno Brandes e o professor Leonardo Raimundo da Silva, esposo de Olzita Falcão. Estava ao lado de Renato Archer para governador do Estado. O eleito foi Galeno Brandes.
            O bar do Acrísio foi um marco para a criançada e estudantes daquela época, pois ali, em um reservado, ao lado do salão do bar onde havia uma grande sinuca no meio, havia uma antiga mesa de ping-pong, onde os adolescentes como Pinguim da Totonha, Antonio do Jaldo, Josemar Arruda, Ênio Pacheco, o pessoal do bloco Não é de Sua Conta e muitos outros disputavam a chance de brincar, e aquilo dava muita briga, porque os pequenos, Murilo, Aristides, Heider e outros garotos que curtiam muito aquela diversão também queriam brincar.
            Acrísio sempre protegia os pequenos dos adultos e dizia: - Só vocês vão brincar. Não quero gente grande aqui! Também participavam o Zé Airton, Imbigão, Zé da Mariolinda, Hayato Hossoe e os irmãos Elias e João.
            Outra atração ali era a troca de gibis e livros na sala de dona Desirée, pelos garotos Limão, Pipoca, Adílson Imbigão, Hayato. Os gibis, livros e revistas eram devorados pelos garotos da época que liam muito mais que os garotos de hoje.
            Na casa de seu Acrísio, houve duas empregadas, uma com o nome Maria, que foi a mais antiga e outra chamada Maria do Grilo. A Maria do Grilo sempre tinha uma conversa pra contar: - Olha dona Desirée, tal e tal...Ela escutava e dizia: - De fato, Maria! A Maria respondia: - De fato é bosta, escorrida, é tripa! 
            O bar era frequentado pelos adultos que iam beber, estivadores, pelos Papafogos, cujo Eurico Papafogo, além de colocar água nas casas era campeão de peteca e sinuca, e também pela nata da boemia, como Luis Campeão e Zequinha Vilanova que era um grande jogador de sinuca. Ás vezes passavam por ali na calçada o João Doido riscando as paredes, a Maria Tamanquinho, e o cego João Popó que ia fazer ponto em frente à Casa Pernambucana. 
            Acrísio ficou nesse local até 1971, quando se aposentou dessa atividade e partiu com a família para o Distrito Federal, em busca de proporcionar uma melhor educação aos filhos. 
            O filho Murilo conta como foi essa sofrida viagem para Brasília: “Quando mudamos para Brasília todas as nossas fotos se perderam na estrada. Da Barra até aqui (DF) levamos três longos dias. Até o Grajaú foi de “expresso”. Daí para Imperatriz, foi em cima de um Jeep, com direito a muita lama. Foram mais de 12 horas de viagem. Foi nesse trecho que as fotos caíram na lama.”
            Em Brasília, por pouquíssimo tempo, ainda chegou a atuar como gerente do Cine Cultura. 
            Acrísio viveu 62 anos com a esposa Desirée e faleceu no dia 2 de agosto de 1998.
            Heider Moraes dá seu depoimento: ”Acrísio merece esta homenagem pois foi um lutador, que criou e educou dez filhos. Nos finais de semana bebia aquele cinzano com são joão da barra, com o Tuchim e a esposa Jesus (tirando o gosto com carne assada e farinha de puba) e também Assis Milhomem e dona Antonia na casa da dona Inêz do Rufino, nas Duas Ilhas, no velho Araticum (casa que hoje não existe mais), que iam à pé, perto da ilha dos Amores.”
            Os meninos que haviam ido ao Araticum, aproveitavam a distração de seu Acrísio no “cinzano” e vinham descendo pelo rio Mearim, unicamente com o propósito de abrir o bar e jogar sinuca.
            Também conta o Heider, que o Zé Arruda sempre levava um convidado para o botequim do Acrísio e bebiam muitas cervejas. Uma vez ele levou o Loiola para beber com ele e lá pelas tantas o Zé Arruda falou: - Loiola, vou discursar pra você! E discursou. O Loiola, emocionado com a homenagem, disse: - Zé Arruda, eu pago a conta! 
            Assim era o bar do Acrísio, cheio de tipos descontraídos, engraçados, cheio de muita vida e de muitas histórias. 

Nota: Agradecemos a colaboração de José Murilo Milhomem, Heider Moraes, Wauliçon Ferreira, Osmar Miranda, Elza Melo Miranda, Magno Miranda, professora Euzilene Melo, Otacilia Melo Ferreira, Nilo Ferreira de Sousa, Amujacy Milhomem, Maria Jose (esposa do Cordeiro), Alidio Ferreira, Hilda e Orlando, Osmar do Domeciano, Marcelina Pereira Andrade, Mundico Ferreira e Cecilia.

*Álvaro Braga é pesquisador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

 

 


Rua Tiradentes, perto do Mercado Público
À direita, casa onde morou e trabalhou Acrísio Ferreira de Sousa


Baú de 1911 feito por José Inácio, pai do Acrísio
Ainda é hoje é guardado pela família


Maria Milhomem, mãe de Manoel Milhomem, 
também na foto aparece Tainor de Melo Lima

 

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(TB16fev2012)