Artigo
Herói anônimo
jornal Turma da Barra

*Sonália Moura

”Na sabedoria trazida pelos anos poderia perder sua própria vida em razao da vida do próximo”

            Após ler alguns textos reflexivos sem saber se aquelas histórias realmente aconteceram, ou se são, apenas lindas crônicas para despertar a sensibilidade. Pensei em escrever sobre alguém a quem eu admirasse e que tivesse uma lição para passar para frente; algo simples mais que tivesse um grande ensinamento.Cuja a história tivesse vivenciado de fato.
            Então não poderia deixar de externar sobre esse grande homem que foi meu avô. Escrever sobre Antônio Vieira de Moura é como pintar um quadro e exteriorizar a complexidade do indescritível.
            Em sua longa trajetória teve uma vida gloriosa,com a bravura de um vaqueiro desbravou terras e conquistou seu espaço sendo patriarca de uma família de 15 filhos.Que educou com sua saudosa esposa Antonia  Isabel Vieira de Moura e juntos puderam trazer bons princípios e uma educação que nenhuma escola pode dar, pois ,amizade,simplicidade,união é algo que se adquire no dia-a-dia. Poderia escrever paginas inteiras de seu exemplo,mas,ressaltamos aquele que trouxe um profundo questionamento sobre o valor do outro, e que ele de fato  foi um herói anônimo:
            Certa vez, já com seus  oitenta  e poucos anos ao  ir para roça como de costume, onde passava a maior parte do tempo,ele foi surpreendido por um enxame de abelhas, dessas que o esporão dói como na alma; e  que juntas em um corpo parecem facadas,caíram em cima dele, ele, e o cercaram por todos os lados, ferroando todo o seu corpo;
            Ao ver sua nora Irismar que por sinal era como uma filha pra ele. correndo em sua ajuda com um pano tentando tirar as abelhas ele simplesmente,pediu que ela se retirasse dali ,imediatamente,
            - Saia,corra, saia ,não fique aqui! E com gestos tentava pedir pra ela não se arriscar.Ele foi socorrido algum tempo depois, passou mal, levaram para Simplicio Mendes e muitos esporões,que estavam pelo seu corpo principalmente no pescoço, evidenciavam o inchaço e as dores!
            Acredito que se eu tivesse passado por está situação com certeza Minha reação seria- Ajude-me me socorra faça alguma coisa,.olharia o meu próprio umbigo;já ele pensou no momento de agonia que já tinha vivido o bastante, mas  sua nora ainda jovem não era para estar ali.Sabia respeitar a vida e não exigia muito dela.Uma sabedoria em atitudes que palavras nenhumas por mais belas que sejam poderiam traduzir. Esse ato de coragem e grandeza,e porque não dizer de sabedoria de quem considerou já ter vivido o suficiente, pensar verdadeiramente no outro ser capaz de perder a sua própria vida em razão da vida do próximo!
            Quando ele faleceu neste ano em 2011. Poucos anos depois deste fato,aqui exposto;me falaram  que ele já tava velhinho,já tinha vivido muito.Até compreendo e me consolo em saber disso,mas,o amor não tem medida,não tem idade e nem as pessoas vem com prazo de validade a dor e muito grande quando se perde um ente querido  e ter chegado aos 99 anos 11 meses foi uma grande vitória sobre o tempo.
            Em toda a vida nunca o viram reclamar de nada,nem das dores;nem da vida; a paciência sempre o acompanhou receita essa talvez de sua longevidade,e serenidade . A referência que trazemos aqui com certeza foge aos parâmetros de super heróis das historinhas em quadrinhos e dos filmes, mas, traz um homem simples, e  digno dessa homenagem!
            E você  tem um herói dentro de cas
a? Um amigo, pai, mãe, primo alguém que mostrou um sabedoria além da nossa compreensão!
            Antonio Vieira de Moura meu herói!

*Sonália Moura é professora de Língua Portuguesa e Literatura, mora em Barra do Corda

(TB/10dezl2011/n°04)

 

Artigo
Crise de identidade
e o consumo alienado

jornal Turma da Barra

*Sonália Moura


            Começamos com uma indagação do teórico cultural jamaicano Stuart Haall: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.
            Podemos observar que conceitos antes vistos como tradicionais perpetuados no tempo através do respeito e da conservação de valores,de tradições estão mesmo indo embora,estamos vivendo a época da falta de identidade da mistura de culturas,do apego ao consumo alienado ,do imediatismo e principalmente a perda da coletividade em nome de uma individualidade preocupante,este desabafo vem de observações da nossa sociedade atual e das teorias de escritores que estão vendo o mundo girar em torno do momento atual,e e de uma transformação muito rápida de valores culturais e sociais.
            Você já observou o quanto estamos nos influenciando cada vez mais pelas propagandas e a exposição de produtos na mídia com um mundo imaginário de sonhos ,tecnologia,moda,lazer;as pessoas chegam a pensar que não podem mais viver sem ter determinados produtos.E são alvos fáceis do consumismo onde a escolha o senso crítico,é substituído por “tendências”;queremos ter algo simplesmente porque está na última moda o problema e consumismo alienado,essa adaptação do mundo moderno afeta nossa identidade!
            Somos críticos o suficiente para termos autonomia e decisão?
            Até a relação entre as pessoas muitas vezes é mediada pelo interesse, pela representação e pelo que o outro possa te oferecer ou o quanto você vai lucrar com essa amizade. A nossa identidade esta se desestruturando em nome de um novo mundo, e quem não se adaptar a ele certamente terá problemas para ser aceito na sociedade!
            Agora nesse exato momento em que escrevo estou navegando na internet, próxima a meu item indispensável celular da última moda e pensando em como viveria sem esses produtos. Todos nós podemos ter um pouco dessa alienação só não podemos deixar que ela domine nossas vidas e que não afete nossa essência e identidade!

*Sonália Moura é professora de Língua Portuguesa e Literatura, mora em Barra do Corda


(TB/3jul2011/n°03)

 

Artigo
O professor é um administrador de tempo
jornal Turma da Barra

*Sonália Moura


            Em conversa com um colega professor ele disse que nas suas férias ao invés de ir para o litoral, descansar, iria mesmo colocar em dias atividades simples que o dia-a-dia de um mundo corrido e competitivo não permite.
            Afirmou que sua atividade como professor não estava permitindo que ele lesse ou assistisse a um jornal, ficando um pouco fora da realidade que o cercava; pois trabalhava noite dia sem tempo para cuidar da sua própria construção cultural. Esse simples comentário trouxe um leque de reflexões!
            Que contraste, mas é isso mesmo que ocorre com os investimentos no salário atual não resta outra opção a não ser se dividir em quanto pudermos para ter um mínimo de “conforto” Não quero aqui citar um determinado estado, pois essa problemática abrange o Brasil como um todo.
            Infelizmente a realidade para o professor atualmente é que ele enfrenta uma jornada diária em sala de aula tendo que trabalhar em três turnos. Por outro lado nunca se falou tanto em valorização dos profissionais da educação, gestão democrática da escola projetos e planos para a escola.
            Parece até clichê se falar nesse assunto, mas, não discutir não é característica de formadores de opinião como nossa classe!
            Façamos uma pergunta direta ao professor?Você tem tempo para dedicar-se a uma especialização? Como você administra seu tempo? Ai nós teremos a constatação de milagres. Esses “heróis anônimos” com licença da expressão usada por Roberto Shinyashiki.
            O que fazer, mudar de profissão? Pergunte a um professor convicto se ele desejaria trabalhar em outra área. Com o perdão da resposta, mas em nome da nossa classe eu ousaria comentar. Há pessoas que estão professores, estas são aquelas que estão na profissão por terem que está e há os que são professores (educadores), esses querem e acreditam que possam ser instrumentos de transformação de uma sociedade mais esclarecida.
            E enquanto as políticas salariais não dão uma resposta, vamos administrando nosso tempo, cambaleando na vida, ensinando e aprendendo, para preencher o tempo que nos falta. Porque o que não nos falta é amor para exercer essa amarga e doce carreira...

*Sonália Moura é professora de Língua Portuguesa e Literatura, mora em Barra do Corda

(TB/15dez2010/n°02)

 

Artigo
A erudição deveria ser uma vaidade
jornal Turma da Barra

*Sonália Moura


            Enquanto algumas pessoas sonham ser fortes e atletas de olimpíadas, lindas como manequins de desfiles,poderosas como Barack Obama,famosas como Angelina Jolie ou milionárias como os dono da google. Agrada -me imaginar como seria ter a imensa erudição de T.S Eliot, Rui Barbosa, Machado de Assis. Impressionam-me a capacidade de expressão verbal, o poder de persuasão,a habilidade de lhe dar com as palavras e esmiuçá-las,como fontes inesgotáveis de exploração do conhecimento e da crítica. Adiram-me os historiadores como o professor Luís Carlos,os poetas,contistas,cronistas,aqueles são capazes de “ensinar aos deuses como se cria”. Não podemos deixar de citar as obras literárias que são sempre fontes de prazer e conhecimento.
            Observamos uma nova geração surgindo no contexto atual, com acessos a fontes de entretenimentos tão variados e cada vez mais distanciados da leitura, este ato prazeroso que deveria ser vaidade, se torna hoje apenas uma obrigação para muitos e só recorrem aos livros quando são exigidos por alguma situação a pegá-los. mais o que devemos ler? Os jovens estão ai com best-seller alienantes.
            A leitura “deverá ser algo direcionada com um propósito”. Ler por ler “é apenas fenômeno”.É preciso ter nas escolas principalmente as da rede pública onde o aluno geralmente provém das classes menos favorecidas e não têm acesso a uma variedade de livros, atividades que orientem determinadas leituras a concluírem seus objetivos.
            Desenvolver nos alunos a curiosidade e o gosto pelos clássicos.
            Por exemplo: ao ler Senhora de José de Alencar o estudante deverá perceber a importância dessa leitura para a construção do conhecimento cultural, o contexto a qual a obra está inserida, investigar as influências exercidas pelos fatores sócio culturais, e se fazer a seguinte pergunta: Qual a influência exercida pelo meio social e a determinada obra?Qual a influência da obra de arte sobre o meio?A curiosidade a dissecação de uma obra é o que trará a elucidação da mesma.O que eu vou ganhar de conhecimento adquirindo apropriação deste texto?
            Entre as vaidades, como a luxúria, beleza, deveria estar presente a vaidade cultural da busca pelo conhecimento através da leitura. E como disse Augusto Curi: Não me curvaria diante de autoridades políticas,de celebridades,mais me curvaria diante de todos os professores e alunos do mundo.

*Sonália Moura é professora de Língua Portuguesa e Literatura, mora em Barra do Corda


(TB/27nov2010/n°01)