Homenagem
São Luís faz 400 anos
jornal Turma da Barra

 

O TB durante todo mês de setembro
 vai divulgar fotos, artigos e crônicas  sobre o significado dessa data
 para os maranhenses [8 de setembro] e, particularmente, para os barra-cordenses, que sempre mantiveram um elo muito forte com a capital maranhense.
Antigamente, a relação econômica, social, educacional, cultural, de saúde e turística era predominante, havia lanchas e aviões de carreiras.
Atualmente se dar por meio rodoviário. São Luís está a 450 quilômetros de Barra do Corda,
 que fica no centro geográfico maranhense.
Mesmo que haja separação, Barra do Corda passe no futuro a compor o Maranhão do Sul,
 é inegável a influência cultural que São Luís exerce em Barra do Corda.
Como a capital foi fundada por franceses, vamos saudá-la em francês:
Salutations et félicitations Saint-Louis!



São Luís - parte nova da cidade

Lembranças

*Marcos Venicius

            São Luís, capital do Maranhão. No início só a conhecia dos livros de geografia, algumas fotos, alguns casarões e muita história. Sabia que era uma ilha, que era grande e bela. Bela em sua natureza, encantadora em sua história.
            Ainda jovem residente do interior do estado a com família humilde, não tinha a expectativa de um dia conhecer suas praias ou mesmo fotografar seus casarões. Mas o destino e o conjunto de relações e fatos nos proporcionam oportunidades que não podemos premeditar mesmo em fantasia.
            Os dias passaram e eu até esquecera aquele que era meu desejo longínquo, até que a oportunidade encontrou o sonhador. Para minha surpresa certo dia parentes se mudam pra ilha, esse fato tornara possível o que antes era mais que improvável.
            Então chegou o dia, alguns parentes, tios e primos saíram de Barra do Corda com destino a casa de seus irmãos e tios, eu a essa altura suspirando de ansiedade, também compunha o grupo. A viajem não fora a mais agradável, a estrada nem de longe era um tapete, mas a expectativa valia qualquer esforço.
            Era bem jovem então só guardo alguns flashes, mas me recordo bem dos olhos arregalados no estreito dos mosquitos. De uma grande rua de nome Rua Grande engarrafada com pessoas - sacolas e vendedores - preenchida por um barulho imenso que sinalizava vida em cada proposta de venda e mesmo nas recusas dos mal-humorados. Guardo na memória que Litorânea, Calhau e Olho D’água são sinônimos de mar, areia e brisa. Do centro histórico só guardei as expectativas, mas não pretendo guarda-las para sempre. Não guardarei. O que mais chamara atenção deste preguiçoso amante de história foram justamente as histórias que enredam a Lagoa do Jansen.
            De resto conheci de modo bem superficial as mazelas que assolam todo grande centro urbano. Os contrastes entre os condomínios e os bairros periféricos, bem como o dos bem empregados versus andarilhos caçadores de salário. O atraso que a infraestrutura tem pra chegar a determinados pontos, geralmente local de residência da classe trabalhadora e pobre. Violência para meu alívio só presenciei nos noticiários, mas já aquela altura – 2003 - se mostravam evidentes as seqüelas de gestões pouco responsáveis – comprometidas - com a história e o povo de São Luís.
            Pretendo voltar um dia pra conhecê-la melhor, pra desvendar seus encantos, comer de sua comida, beber de sua água e pisar no seu solo abençoado pela cultura e natureza. Pretendo, voltarei... Rogo que não sejam necessários centenas de anos para que esta encontre o progresso humano que por hora se mostra decadente e preocupante. Parabéns.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é estudante de Serviço Social da UnB, mora em Brasília (DF)

(29set2012)

 


São Luís - Bumba-meu-boi
Foto de Gilberto Dias

 

Que ilha bela

*Gilberto Dias

Que Ilha bela, que linda tela conheci! Todo molejo, todo
chamego, coisa de negro que mora ali. Se é salsa ou rumba,
balança a bunda meu boi, Deus te conserve regada a regae iô,
iô, iô. (Carlinhos Veloz)

            Os primeiros versos desta canção traduzem exatamente o que eu senti quando me deparei com a capital maranhense no ano de 1983, quando meu saudoso pai, o Sr. José Dias Soares, mais conhecido pela alcunha de Zuca em nossa querida Barra do Corda, me levou pra conhecer a iha de Upaon Açu, nome dado pelos índios que ali habitavam nos primórdios do seu nascimento.
            O restante dos versos desta canção, de Carlinhos Veloz, irá explicar de forma mais absoluta minha verdadeira admiração por aquela cidade, que embora seus governantes lhe virem as costas, no sentido de não cuidar da cidade como ela merece, pois nestes tempos é só sair às ruas de São Luís para logo perceber o descaso com que a cidade é tratada.
            Pois bem, mesmo assim, o seu brilho e encantamento não foram apagados, seus poetas e compositores resistem e insistem em exaltar com versos e toadas de boi seu amor pela cidade mantendo viva a tradição das festas juninas e toda história cultural ao longo desses 400 anos.
            Todas as vezes que volto no período de férias para ir a Barra do Corda, tenho que dar uma passadinha por lá e de preferência nos meses de junho ou julho, período das festas juninas para brincar o bumba-meu-boi, porque mesmo morando numa cidade como Recife, que é conhecida pelo seu frenético frevo e seus compositores de forró, digo sempre aos meus amigos que o melhor São João do Brasil é em São Luís do Maranhão, fato esse que me leva quase todos os anos à Atenas Brasileira para nas madrugadas de junho ficar a perambular por suas ruas de pedra de encantaria atrás dos grupos folclóricos que colorem os arraiais da cidade.
            Como dito anteriormente, terra de poetas e compositores da mais alta estirpe. Ver um show de Papete em plena praça Maria Aragão e depois assistir a apresentação dos bois Barrica e Axixá, bem como o Cacuriá de Dona Teté, o Tambor de Crioula e muitas outras manifestações culturais que essa terra abriga. É um verdadeiro deleite para alma dos apreciadores da cultura maranhense.
            São Luís é assim, especialmente nesses meses de festa junina. Seu povo esquece um pouco dos desmandos e ingerências cometidos pelos seus administradores para sair às ruas e mostrar a força da nossa cultura. O quanto é belo ver o brilho dos brincantes e a alegria estampada em seus rostos que conferem mais encantamento e magia misturados ás suas ladeira e casarões.
            Quando, em telefonema, conversei com nosso estimado redator, somente pra jogar conversa fora e recordar momentos inesquecíveis do tempo que morava em Barra do Corda e passávamos as madrugadas pelas praças, em especial na Pizzaria do Enio, tomando uns drinques e batendo muito papo com uma turma pra lá de arretada, e do tempo que passei um período em São Luís estudando no SENAC, ele me pediu pra escrever alguma coisa sobre São Luís em comemoração aos seu 400 anos e, imediatamente, diante do desafio, às 3h30 da madrugada me levantei e comecei a rabiscar estas linhas, pois essa é, ainda hoje, a impressão que ficou e ainda permanece em minha memória: a beleza do seu conjunto arquitetônico e, o que há de mais precioso na história de um povo: suas histórias, lendas e hábitos, que conhecemos pelo verbete de cultura!
            Que ilha bela, que linda tela conheci!...

*Gilberto Dias, barra-cordense, é estudante da Universidade Federal de Pernambuco em Recife (PE)

(27set2012)

 


São Luís - vista da capital
Foto de Meireles Júnior

 

 

Francesa, com certeza. E daí?

*Antonio Carlos Lima

            Fosse a história constituída apenas da versão do conquistador, as celebrações em torno do quarto centenário de São Luís, que hoje atingem seu ponto culminante, teriam, obviamente, que aguardar três anos mais.
            Afinal, durante quase 300 anos, como fruto da doutrina da conquista, cronistas e historiadores, portugueses e brasileiros, atribuíram a fundação desta cidade de São Luís à chamada “Jornada milagrosa”, operação militar planejada em Madri e organizada em Pernambuco, sob a proteção de Nossa Senhora, para a expulsão dos franceses, há três anos estabelecidos na Ilha Grande do Maranhão.
            O projeto da França Equinocial era, até o final do século XIX, apresentado como simples obra de invasores heréticos, contrários à disseminação da fé católica e usurpadores dos territórios do Novo Mundo, pertencentes, por direito à Espanha e Portugal. Tratava-se de um episódio a ser esquecido – ou desmerecido. E assim sucedeu, ano após ano, desde a chegada dos portugueses ao Maranhão, naquele ano da graça de Nosso Senhor de 1615.
            Essa história começou a mudar em 1864, com a redescoberta de dois livros que, desde então, são considerados as certidões de nascimento de São Luís: Historia de missão dos padres capuchinhos na ilha de São Luís e terras circunvizinhas, de Claude d’Abbeville, e Continuação das coisas memoráveis ocorridas no Maranhão, nos anos de 1613 e 1614, de Yves d’Évreux.
            Os livros estavam, até o milagre da recuperação, condenados ao mais absoluto esquecimento. O de Abbeville chegara a ser editado duas vezes, logo após o retorno do Maranhão, mas em seguida desapareceu. Foi citado por alguns historiadores, como João Francisco Lisboa, mas sem o reconhecimento merecido. O livro de Yves d’Évreux teve pior destino: foi destruído na própria gráfica. Dois exemplares foram salvos pelo capitão François de Razzily, inconformado com o abandono do projeto do Maranhão pela monarquia francesa.
            Tratava-se de um episódio a ser esquecido – ou logo após o retorno do Maranhão, mas em seguida desapareceu. Foi citado por alguns historiadores, como João Francisco Lisboa, mas sem o reconhecimento merecido. O livro de Yves d’Évreux teve pior destino: foi destruído na própria gráfica. Dois exemplares foram salvos pelo capitão François de Razzily, inconformado com o abandono do projeto do Maranhão pela monarquia francesa.
            Naquele ano de 1864, em Paris, o escritor Ferdinand Denis editou, pela primeira vez, e com ricas anotações, o relato do padre Yves d’Évreux. Mas, somente dez anos depois foram os dois livros traduzidos e publicados no Brasil – e exatamente no Maranhão.
            Eles revelam, em primeiro lugar, que o entreposto de pirataria que os portugueses esperavam encontrar era, na verdade, uma florescente colônia, reunindo cerca religiosos, artesãos, médicos e carpinteiros, em convivência aparentemente harmoniosa com os índios. Não se tratava de piratas. Apossaram-se do território em nome da regente Maria de Medicis, que para tal os credenciara e municiara, uma vez não reconhecer, como o rei Francisco I, o testamento em que Adão legara aos portugueses e espanhóis a América inteira.
            A partir do forte que ergueram no local onde mais de cem anos depois foi edificado o Palácio do Governo, os franceses implantaram as bases de um núcleo urbano, com igreja, convento, cabanas e 17 postos de artilharia. Comandantes foram dividir choupanas com os índios nas 27 aldeias espalhadas por toda a Ilha.
            No dia 8 de setembro de 1612, em nome do rei da França e da fé cristã, oficializaram, com uma imponente solenidade, a posse da terra. Depois de uma missa, saíram em procissão pelo local onde está hoje a Praça D. Pedro II. Uma cruz foi erguida em memória do grande acontecimento. Do forte e dos navios, canhões dispararam. Não se tratava de piratas. Apossaram-se do navios, canhões dispararam.
            Decididos a permanecer, estabeleceram as “leis fundamentais” da colônia. “Ordenamos, para a conservação dos índios entregues à nossa proteção, que ninguém os espanque, injurie, ultraje ou mate, sob pena de sofrer castigo idêntico à ofensa”, diz um dos artigos da Constituição da França Equinocial.
            À redescoberta dos livros de Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux, que descrevem aqueles acontecimentos extraordinários, somaram-se, já no século XX, a revelação da correspondência oficial de autoridades da França, Espanha e Portugal e a recuperação de documentos maranhenses surrupiados como “butim de guerra” pelos nazistas durante a ocupação da França.
            A partir da nova documentação, os livros de história passaram a considerar as cerimônias civis e religiosas de posse da ilha pelos franceses como os atos fundadores da cidade de São Luís. Amparado nesses relatos, já em 1912 o historiador maranhense José Ribeiro do Amaral publicava o livro Fundação do Maranhão. Nesse mesmo ano, no dia 8 de setembro, realizou-se a primeira celebração pública da fundação da cidade, no seu tricentenário.
            Evidentemente, em 1712 e 1812 não haveria como fazer essa celebração, pela simples e óbvia razão de estar São Luís sob o domínio lusitano. Aliás, foi o Maranhão o penúltimo Estado a aderir à Independência do Brasil.
            Hoje, há consenso na historiografia brasileira quanto ao reconhecimento da origem francesa de São Luís, situação que, evidentemente, não confere nenhum atributo especial à cidade, mas evita a versão pura e simples da reconquista, como a descreveram os portugueses, na ocasião empenhados em destruir os vestígios da presença daqueles que consideravam apenas um invasor a ser repelido e desprezado.
            São Luís, para nosso orgulho, a mais portuguesa das cidades brasileiras, tem a sua origem francesa, com certeza, sem que esse fato reduza a importância de Portugal na construção da nossa história e da nossa identidade. Só não vê quem não quer. E não lê.
            Diante do quê devemos todos comemorar, com festa e alegria, o quadricentenário desta linda e feliz cidade de São Luís, tesouro do Maranhão e do Brasil, patrimônio de toda a humanidade.

            Parabéns, São Luís!

*Antonio Carlos Lima é jornalista
(antoniocglima@uol.com.br )

NR: Este artigo foi publicado originalmente no jornal O Estado do Maranhão em 8 de setembro

(20set2012)

 


São Luís - vista aérea

 

Eternamente São Luís

*Cezar Braga

            São Luís, 400 anos. Eternamente São Luís.
            Muito já foi dito sobre essa bela cidade, já falaram de sua história, de sua beleza, de suas praias, de seus monumentos, dos seus amores, do enorme amor por ela...
            Resolvi nessa minha crônica dividi-la em duas partes, na primeira quero falar sobre a São Luis que aprendi a amar, aliás hoje em sua crônica o Reitor da UFMA, Natalino Salgado disse que iria cantar sua terra inspirado em João do Vale que falou que “todo mundo canta sua terra/ eu também vou cantar a minha”, por isso também vou à louvação a São Luís.
            Quando cheguei a São Luis, não em visita, mas já trabalhando no interior Maranhão desde setembro de 1973, no inicio de 1974 me apaixonei pela beleza arquitetônica da cidade, pela boêmia que transcendia os bares, as ruas e invadia a alma, a consciência... Fiquei freguês da Praia Grande, onde fiz grandes amigos e amizades que perduram até os dias de hoje.
            Vi a cidade crescer. Quando aqui cheguei se contava os prédios da cidade, o Caiçara, na Rua Grande, o do Bem, na Rua do Egito, o São Marcos, na Avenida Getúlio Vargas, o do INSS, na Praça Pedro II e nada mais.
            Na varanda do Edifício Bem, funcionava o restaurante e boate, que por muito tempo foi o templo da diversão mais sofisticada da sociedade ludovicense.
            Os clubes pontificavam como grandes promotores dos eventos e festas, o Jaguarema e o Lítero comandavam, seguidos de perto pelo, já decadente, Cassino Maranhense. As festas carnavalescas daqueles dois clubes conseguiam arregimentar toda a cidade, transformando seus bailes em verdadeiras apoteoses.
            O trânsito era fácil, tudo flui bem apesar de não existir as interligações de hoje, por exemplo, não tinha a Avenida da Areinha e, para se ir onde está é o Parque Amazonas (na época se iniciava sua construção), o único caminho era entrando no Conjunto Elba, na Avenida Kennedy, do lado de residências do 24º BC.
            Não tinha a Avenida dos Africanos, não tinha o acesso à Ponta d’Areia, ali onde está a avenida que ladeia a lagoa, era o Igarapé da Jansen.
            A lagoa da Jansen avançava até o Renascença, chegando água até onde hoje está o Atlanta Center.
            As vaquejadas no Parque Independência eram verdadeiras aventuras, a começar pela viagem. As festas na Maioba, as viagens a São José do Ribamar, à Raposa... Que farras!
            Conheci o Tambor de Crioulas e as festas nos terreiros no Tibiri, comi peixe assado pescado na hora no Quebra-Pote, fiz farra começando na boate Tijubá, em frente ao Lítero e acabando no outro dia na praia da Guia, sem medos, assaltos e violência.
            Fiz o cabelo e aparei a barba no Salão Pompeu, ali na João Lisboa, perto do Moto Bar, e quando lá ia deixava o fusca vermelho estacionado na praça João Lisboa, todo aberto e ninguém tirava nada.
            Depois passei a cortar o cabelo na barbearia do Hotel Central. Ali se instalou uma verdadeira confraria, eram amigos, que traziam novos amigos e a conversa começava no fim de tarde e, pasmem os senhores, acabava no início da noite. Essa conversa no fim de tarde no Hotel Central se manteve viva até o início dos anos 90.
            Como era gostoso tomar sorvete (que delicia!) no Hotel Central, ouvir um piano, tomando umas, nas noites de sexta e sábado no Hotel São Luís (onde está o Gran Hotel - ao lado da Igreja da Sé).
            Na segunda parte vou dizer-lhes na minha preocupação com o futuro dos nossos casarões e falar dos maiores presentes que São Luís recebe e continua a receber neste 2012, a SBPC e as reformas de casarões, da nossa UFMA, que driblando as crises internas, a desestruturação que durou anos, deu um salto de qualidade tal, que ofuscando qualquer outra iniciativa, quer pública ou privada, transformou esse seu momento auspicioso no maior presente que São Luís poderia receber pelos seus 400 anos.
            O presente se torna melhor e maior porque, montado sobre alicerce sólidos da responsabilidade e da visão de futuro do seu Reitor, o professor Natalino Salgado, garante que o desenvolvimento e interiorização da UFMA, com modernidade e inclusão social, não vai parar, vai continuar, com força e determinação.
            Aí outras cidades vão ser premiadas, assim como Balsas recebe seu presente efetivo em 2013, esperamos que a nossa Barra do Corda seja a próxima.

*Cezar Braga é engenheiro civil, mora em São Luís (MA)

(TB17set2012)

 

Manhãs de agosto

*Álvaro Braga

Manhã ludovicense de agosto
Caminho pela rua do Sol
Tomando sol, puro deleite
Vou à rua do Egito
Biblioteca Benedito
E na Papyrus do Egito
Na volta à Praça João Lisboa
O vento da Praia Grande ecoa
Do Reviver à rua Grande, à toa
A olhar boquiaberto os casarios
Casarões e solares de Apolo
Bem postados no solo
Como as fortalezas francesas
Fortes e contrafortes
De origem portuguesa
Mosaicos e ladrilhos sem tinta
Parecem ofuscar o belo
Como num dizer de Montelo
Ou de Joãozinh
o Trinta
Não a chamem de cafona
Em agosto quase setembro
Pois de ti sempre lembro
São Luis quatrocentona!

Álvaro Braga é poeta, escritor e historiador, mora em Barra do Corda (MA)

(TB16set2012)

 


São Luís - vista aérea

A Capital

*Renilton Barros

            É o sonho da maioria das pessoas de cidade interiorana, morar um dia, na chamada cidade grande, ou, capital.
            Comigo não fora diferente.
            Desde cedo surgiu esse desejo, ainda mais quando olhava as perspectivas e opções de nossa cidade por oportunidades de uma vida melhor.
            Entretanto, as portas se abriram, porém, para outra capital. A capital do Brasil. E eis me aqui.
            Enquanto morava em Barra do Corda, nunca tive a oportunidade para conhecer a nossa capital, mesmo ouvindo a sua pluralidade de apelidos (carinhosos) que chamava-me a atenção.
            Em 1994 quando era presidente da Federação de Jovens aqui da Região Central, foi que tive a oportunidade de, numa dessas reuniões em São Luis, conhecê-la pessoalmente.
            A reunião aconteceria nas dependências do SCEN – Seminário Cristão Evangélico do Norte, e duraria apenas um dia, por isso foi meio corrido essa visita. Acostumado com o clima frio de Brasília, nem percebia que à medida que adentrava aos outros estados, o clima ia mudando.
            Ao desembarcarmos foi que me dei conta do calor que fazia por aquelas bandas. Sair do ar condicionado e me deparar com o clima quente e úmido, eu tive a sensação de que algo havia se impregnado na minha pele.
            A pela se tornara pegajosa além do suor que já escorria por todo o corpo. Imediatamente fui até a bilheteria pra comprar a passagem de volta.
            Outra oportunidade que tive para visitá-la foi no ano de 2007, numa convenção Geral de nossas igrejas.
            Nessa oportunidade o tempo era maior, por isso tive a oportunidade de passear por suas ruas, conhecer seus pontos turísticos, além de passar uma tarde muito agradável na praia Litorânea.
            Saborear um bom peixe, refrescar a sede com uma boa água de coco, além do banho, pela primeira vez, nas águas salgadas do mar.
            Lembrei-me de fatos como: provar a água pra se era salgada; ficar em pé à espera das ondas..., mas reservei-me dessas atitudes e, lentamente, entrei ao mar.
            O único incômodo que passei foi que a água salgada adentrava aos olhos. No início ardia pra caramba, mas com o tempo fui acostumando.
            Durante o evento ainda achamos tempo pra retornar à mesma praia à noite. A sensação era melhor. O calor era rebatido pela brisa do mar e a vista noturna daquela praia era maravilhosa.
            Hoje entendo o motivo de falarem também da nossa capital e daquela praia. São Luis que neste mês completa 400 anos de história.
            História esta datada de 1535, quando te tornaram uma capitania hereditária e dada a João de Barros (seria algum parente meu? Apenas pra descontrair).
            Conhecemos tua fundação pelos franceses em 08 de setembro de 1612; sabemos também das invasões holandesas que recaíram sobre ti, e ainda de tua colonização pelos portugueses.
            Como pólo econômico criou-se a Companhia do Comércio do Estado do Maranhão, e entre seus principais produtos destacamos a cana, o cacau e o tabaco, e mais tarde em função do alto preço nas importações de produtos, resultou na Revolução de Beckman.
            Destacamos também a tua formação acadêmica com os religiosos carmelitas, jesuítas e franciscanos, além de tua riqueza cultural nos versos e poemas de Aluísio de Azevedo, Gonçalves Dias, Graça Aranha..., elevando-te ao patamar de Atenas Maranhenses, além dos ritmos que te embalam e demonstram a tua alegria e sensualidade.
            Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Luís_(Maranhão)
            Por tudo isso é que te reverenciamos nesta data, pela tua história e tua importância para o Estado do Maranhão.
            Parabéns! Capital eterna de todos os maranhenses.

*Renilton Barros é poeta e cronista, mora em Brasília (DF)

(TB14set2012)



Centro histórico de São Luís
Foto de
Francisco Brito



Upaon-Açu, avarenta há 400 anos

*Eduardo Galvão

            São Luís é de uma plasticidade incrível. São Luís é uma das grandes representantes da cultura do nordeste. São Luís é linda, acolhedora, mas é uma cidade que não se conecta com o restante do estado de que é a capital; ela é, verdadeiramente, uma cidade estado.
            Poucas pessoas do interior do estado sente orgulho de São Luís ser a capital do Maranhão, digo, das cidades que estão mais distante da ilha. Todo desenvolvimento se dirige para São Luís, os homens que governam o estado são enfeitiçados pela ‘Upaon-Açu” e não conseguem retirar o dinheiro dali e o pouco que sobra da corrupção é dirigido para própria ilha.
            O espírito ciumento da ‘Upaon-Açu” tapa a inteligência dos homens-dirigentes maranhenses e os deixa cruel com o povo. Nem mesmo o Vice-Rei, que governa o Maranhão, há cinquenta anos conseguiu levar desenvolvimento para sua própria cidade, Pinheiros.
            Como brasileiro, sinto orgulho de São Luís pela sua diversidade cultural e por ter arquitetura única no Brasil. Como maranhense, odeio a ‘Upaon-Açu” e o espírito mesquinho e avarento, ela nunca foi generosa com o estado. Upaon-Açu vive protegida, além das águas, por um exército invisível, que não deixa sair a educação, saúde e desenvolvimento. Ela suga os parcos recursos do Maranhão, deixando seco e estéril.
            São Luís, como capital, está de costa para o Maranhão.
            Como brasileiro, desejo vida longa para São Luís. Com maranhense, almejo que ela se torne autônoma que deixe de sugar o Maranhão.

*Eduardo Galvão é barra-cordense e vice-consul do Brasil em Caiena – Guiana Francesa

(TB13set2012)



Centro histórico de São Luís
Foto do arquivo TB



São Luís – 400 Anos

*Nonato Silva

Um belo casulo, encerrando uma bela crisálida, conduzido por mãos francesas, aportou na “Ilha do Amor”, em 8 de setembro de 1612. Harpejo de música ao longe.
         Aqui o casulo desintegrou-se, e a crisálida radicou e floresceu, como um belo raio de sol de sua existência.
         Assim, nasceu São Luís, a única capital de província ou capitania fora de origem lusa.
         Cresceu grandemente, de século em século.
         Absorveu, gulosamente, a alta cultura dos francos, bebendo-a a largos sorvos.
         A França fez-se, pela sua cultura literária e científica, a cabeça pensante do mundo, difundindo a grandeza de sua língua, na sonoridade do étimo latino.
         Concomitantemente, São Luís cresceu à sombra de d’Alembert, Diderot, Rousseau, Voltaire, Condillac, Buffon, e muitos outros, navegando no sulco do Estagirita grego e na esteira dos romanos Quintiliano e Plínio, para ancorar em Catão, Terêncio e Reatino.
         Dentro em pouco, São Luís assimilou o enciclopedismo francês. E tornou-se a capital da cultura das letras, merecendo, justamente, o epíteto de “Atenas Brasileira”.
         Tudo isso, porque herdou, em homenagem, o nome de São Luís IX Rei de França, canonizado pelo Papa Bonifácio XVIII, cuja memória litúrgica se celebra em 25 de agosto.
         Esta a gênese de São Luís que se fez grande sob nitentes archotes franco-culturais.
E o avanço dessa cultura literária e artística fê-la “o século de ouro”.
           
Para tanto, basta afirmar-se, orgulhosa e galantemente, que foi nessa efervescência cultural que o polímata e polígrafo Sotero dos Reis escreveu e editou a primeira gramática de língua portuguesa do Brasil. E também, nessa culta São Luís, publicou-se o primeiro romance da abolição brasileira, de autoria da escritora Maria Firmina, invitíssima obra do mais alto significado nacional.
           
Na verdade, São Luís armazena outros epítetos, como o já citado “Ilha do Amor” auferido ex ui do elevado contingente de laureados escritores que a exaltaram robustamente, diante do romantismo-arte que retém.
   
         “Jamaica Brasileira” devido à força do reggae que ali chegou e ali se firmou vantajosamente.
            “Rainha do Maranhão” por ser a “Cidade dos Azulejos”.
            São Luís é um grande guarda-chuva aberto, protegendo, do sol que agosta e cresta, e da chuva que escurece e obnubila, os seus magníficos literatos e artistas. E, assim impedindo que a filha de Caos, deusa Noite, deusa das trevas ali não monte acampamento. Porque somente Nike, a da vitoria, filha do titã Palas e de Estige, hastei ali, a bandeira da luz e do triunfo.
            E o belo sol de sua existência brilhe para sempre.
            “Na terra – um chão de flores estrelado,
            Nos céus – outro chão de flores vivas.”
            Gonçalves Dias.

           
 “Guardei-me para a epopeia
            Que jamais escreverei”.
            Carlos Drummond de Andrade.
            

            Ad multos annos!

*Nonato Silva, 93 anos, é o maior intelectual nascido em Barra do Corda, mora em Brasília (DF)

(TB9set2012)



São Luís - vista aérea
Foto de Gilberto Dias

Os luminares da ilha de São Luís

*Francisco Brito

            São Luís foi a mais cobiçada das terras tupiniquins pelos heroicos desbravadores das águas. A sua biografia encontra-se nos anais da história cultural e literária do apanágio nacionalista, sendo a única capital brasileira fundada pelos franceses, invadida pelos holandeses e colonizada pelos portugueses.
            Essa miscigenação marcou em definitivo o são-luisense, e por extensão os maranhenses, que sofreu fortes influências culturais ao longo desses quatro séculos de existência.
            Da colonização portuguesa que deixou um legado na literatura e nas artes em geral, chegando a ser reconhecida como a nova Atenas Brasileira, ao reggae jamaicano oriundo dos escravos mercantilizados pela destemida Ana Jansen.
            Entretanto, expor todas as belezas naturais e do povo festeiro de São Luís, seria de um erro grave indesculpável se não comentássemos, mesmo que por um pouco raio de luz, a sua rica e vasta poesia.
            Desde os tempos imemoriais a ilha de Upaon-Açu, iniciando com Claude D’Abeville, que foi o primeiro escritor na pretensa França Equinocial, até os dias atuais a capital maranhense se destaca nas letras nacionais onde tem gerado poetas, escritores, ensaístas, romancistas, historiadores, compositores, pintores, e nas mais diversas manifestações artísticas.
            Vamos tentar elencar um casting de grandes poetas, se ao final concluirmos essa breve homenagem a São Luís, antecipadamente pedimos nossas escusas por este ou aquele bardo que não vier a figurar nesta seleção, em virtude de possuirmos inumeráveis homens e mulheres notáveis nas letras maranhenses. Vejamos:
            Antônio Gonçalves Dias(10/08/1823-03/11/1864) foi e até hoje é o poeta mais referenciado do maranhão, sendo considerado o vate que mais se aproxima de Camões, Gil Vicente, Sá de Miranda na época do Renascimento, movimento este que surgiu na Galiza e no Norte de Portugal, influenciando nossos poetas. Somos identificados brasis e mundo afora pelos versos inolvidáveis gonçalvinos que até hoje ainda emudecem nossa voz: “Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores,/Nossos bosques têm mais vida,/Nossa vida mais amores”.
            Joaquim de Sousa Andrade(09/07/1832-21/04/1902) conhecido por Sousândrade, num canto magistral de sua obra prima extraio estes versos afinados em decassílabos : “Assim volvia o olhar o Guesa Errante/Às meneadas cimas qual altares/ Do gênio pátrio, que a ficar distante/S`eleva a alma beijando-o além dos ares”.
            Bandeira Tribuzi(02/02/1927-08/09/1977), pseudônimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes, filho de pai português estudou em Coimbra onde retornou ao maranhão em 1946. Fundou ao lado de José Sarney o jornal “O Estado do Maranhão”. Autor de vários poemas e da letra do hino de São Luís. Vejamos os primeiros versos: “Ó minha cidade/ Deixa-me viver/que eu quero aprender/tua poesia/sol e maresia/lendas e mistérios/luar das serestas/e o azul de teus dias”.
            José Carlos Lago Burnett(1929-1995), mais conhecido por Lago Burnett foi ao lado de Ferreira Gullar e José Sarney um dos expoentes da geração de 45. Marcante ainda na sua época os versos do soneto Emendas as velas Rotas... : ”Em breve surgirá lua de agosto/e – adeus, gentes da praia, que eu me embarco!-/Nunca mais hei de ter nenhum desgosto/que essa viagem será o último marco”
            Lucy Teixeira(1922-2007), foi poeta e contista a única mulher a participar no Movimento da Movelaria Guanabara em 1945. Ativista e guerreira tinha um grande amor por São Luís a exemplo destes versos: “Teu nome é meu irmão/No meio da noite do adro que flutua/nas tuas mãos de repente acenaram/renovado o sinal da louca cintilação quando sorríamos/e as estrelas sussurravam São Luís”.
            Nauro Diniz Machado(02/08/1935...), autodidata e conhecedor de filosofia e artes plásticas. Poeta dos mais expressivos do maranhão sempre questionando a existência humana de forma contundente e crua. Suas obras estão traduzidas para o inglês, alemão e francês. No poema Relacionamento notamos essas inquietações: “O eterno não cabe/ Naquilo que o come,/Se de mim não sabe/O vizinho homem./Entanto me bebem/Os olhos alheios,/Até que se cevem/Os cegos anseios./Até que anoiteça/A mente pensada,/ E por fim me cresça/O início do nada”
            Ferreira Gullar(10/09/1950...) pseudônimo de José de Ribamar Ferreira, um dos mais significativos poetas maranhenses, ganhador de vários prêmios importantes da literatura nacional e estrangeira, é considerado o maior poeta da atualidade, tem na sua obra prima “Poema Sujo”, o derramar de sua paixão e amor por São Luís apreciemos: ““Mas sobretudo meu corpo/nordestino/mais que isso/maranhense/mais que isso/sanluisense/ mais que isso/ferrreirense” ou noutro trecho relembra no exílio as agruras do homem só: “O homem está na cidade/como uma coisa está em outra/e a cidade está no homem/ que está em outra cidade”.
            E diante deste cabedal de poetas que vivem a poesia, ainda temos o metafórico nauseabundo Luís Augusto Cassas: ““mar de São Luis,/emaranhado em maranhas de mar amargurados,/quem seqüestrou o teu azul-coral/deixou-te em troca o excesso de sal./entanto, o verde que antevejo nessa manhã,/só o vislumbro detrás de óculos rayban./ a não ser que eu ponha cloro,/nas lágrimas que, em ti, choro”. Ou os poemas totalitários e circunstanciais da poesia de Salgado Maranhão em Punhos da Serpente: : “as coisas querem vazar o poema/em sua crosta de enredos,/as coisas querem habitar o poema/para serem brinquedos./chove nas fibras/de alguma essência secreta/e o poema rasga/a arquitetura/ do poeta”
            Em São Luís se respira poesia pelos quatro séculos de vida. Se enveredarmos nos becos, nas ruas estreitas, passear os olhos nos casarões coloniais, mirantes, monumentos e vislumbrar o mar, estamos acometidos de grave crise existencial. Somos pegos pelo vírus do amor. Que traduz, indubitavelmente, a verossimilhança e o nosso estado viçoso, impregnando a nossa alma enquanto formos carne. Porque desta matéria levamos tão somente o nosso espírito que vivificará por toda eternidade. De modo igual são as ondas bravias do mar maranhense que levaram o poeta maior deixando o aroma de saudade que nos revolve a exalar o perfume das flores dos jardins de Academus.
Sauver Saint Louis, belle époque!...

*Francisco Brito é poeta barra-cordense, mora em São Luís (MA)

(TB8set2012)

 



Vista aérea do Palácio dos Leões – sede do governo



Os bem vividos 400 anos de São Luís

*Kissyan Castro

            Em adolescente disseram-me que não se conhece São Luís antes de palmilhar suas praias e mergulhar em suas águas. Discordei imediatamente. Mas pra não fazer feio submeti-me ao batismo que supostamente me daria o direito de anunciar aos quatro ventos e com todas as letras que havia “conhecido” São Luís. Ledo engano. Essa ilha remota levou 400 anos para ser o que é hoje, e depois de tudo ainda me vem um Gullar dizendo que São Luís é maior do que é de fato, e que “há muitas cidades numa cidade”.
            Sim, meus caros, a velha Upaon-Açu resguarda muitos mares “nunca dantes navegados”.
            As atuais celebrações em torno de São Luís seriam pouco justificáveis não fosse seus bem vividos 400 anos. História escrita a fogo e sangue, suor e, é claro, algumas pedras de cantaria que cantam até hoje. Eu, pra ser honesto, não conheço da missa a metade. São 400 anos arrastando atrás de si uma constelação de celebridades que alcançaram notoriedade para muito além da ilha, sobretudo durante os primeiros 40 anos que se seguiram à Independência, entre os quais Odorico Mendes, Gonçalves Dias, João Francisco Lisboa, Sousândrade, Aluísio e Artur Azevedo, e tantos outros talentos que acabou rendendo àquela afortunada ilha o pomposo título de “Atenas Brasileira”.
            Eu poderia evocar a São Luís hodierna de Josué Montello ecoando dos tambores; a São Luís de Bandeira Tribuzzi, qual “humilde presépio levantado por mãos puras”; a São Luís de Nauro Machado, tão intimamente assimilada, tão absurdamente íntima, que fê-lo expressar-se: “São Luís, cidade de pedras, cidade de pernas, cidade de fezes, cidade de verbos, e agora com teu sexo dentro da minha voz”; a São Luís suja de Ferreira Gullar, de muita dor em voz baixa; a São Luís de José Chagas, grávida de seu passado; a São Luís bibelô sobre o atlântico de Celso Borges, fada falha, ilha palha, com catirinas e bumba-meu-boi. São Luís é linda, é lenda, é maioba, é matraca, é zabumba, é reggae, é azulejo, é poesia. 400 anos que ninguém arranca das carrancas.
            Clóvis Ramos diria que tudo em São Luís vira poesia. Eu acrescentaria ainda que o que entra e sai de lá também vira poesia. Há alguns anos compus um poeminha a São Luís, quase um haikai não fosse a subjetividade, que por seu caráter fotográfico, imediatista, supunha ter feito jus à minha breve e ligeira experiência nessa cidade tão amada:

            “Frio azulejo
            na tarde azul –
            fundo desejo”

            Quando cheguei lá a primeira vez isso tudo já havia acontecido. Cheguei atrasado. Daniel de La Touche virou busto, Gonçalves Dias virou praça arborizada onde canta o sabiá, Bandeira Tribuzzi virou avenida, colégio, os demais viraram livros, lembranças. Mas ainda consegui encontrar algum espelho que me devolvesse algo desses tempos de glória. Sobraram sobrados. Miragens dos mirantes. Ladrilhos alados.
            Até hoje São Luís nunca desmereceu o título de “Atenas Brasileira”, mesmo ante a atual conjuntura literária brasileira.
            Que farei a propósito desse quarto centenário de São Luís senão orgulhar-se da minha condição de maranhense!
            Parabéns São Luís! Parabéns Sãoluísadas!

*Kissyan Castro é poeta e escritor, mora em Barra do Corda (MA)


(TB6set2012)

 

São Luís: 400 anos

*Mário Hélder

            Em 1612, os franceses comandados por Daniel de La Touche aliaram-se aos nativos da aldeia dos Tupinambás onde construíram um forte que denominaram de São Luis, em homenagem ao Rei da França, Luís XIII.
            Mesmo com o apoio dos nativos, os franceses acabaram sendo expulsos três anos depois pelos portugueses sob a batuta de Jerônimo de Albuquerque, tornando-se assim o primeiro capitão-mor do Maranhão.
            Entre 1641 e 1644 São Luis ficou sob o controle dos Holandeses, após esses ataques o governo colonial resolveu fundar o estado do Grão-Pará e Maranhão que seria um território inde
pendente do resto do país.
            São Luís que foi habitada pelos franceses e holandeses, acabou sendo construída pelos portugueses, entre os séculos XVIII e XIX, quando trouxeram todo esse aparato de azulejos (revestimento que amenizava o colar e protegia das fortes chuvas) de Portugal, razão pela qual São Luis é conhecida como a cidade dos azulejos.
            São Luís, no final do século XIX chegou a ser a terceira cidade mais populosa do país, com uma economia voltada para a plantação da cana de açúcar, cacau e fumo.
            De forte apelo arquitetônico, riquíssimo folclore e uma culinária de deixar água na boca. Mas é na literatura que a cidade de São Luís tem seu destaque, quase todos os dias temos lançamentos de livros de autores maranhenses, com invejável apelo literário.
            Hoje, com pouco mais de um milhão de habitantes, virou metrópole com seus inúmeros problemas, tais como na mobilidade urbana, praias impróprias para o banho, palafitas e invasões que fazem o inchaço urbano das grandes cidades.
            Contudo, temos o que comemorar sim nesses 400 anos de São Luís no próximo dia 8 de setembro. Além dos atributos já citados acima, como folclore, música, culinária, arquitetura e especialmente a literatura, temos com que nos deliciar de suas belezas naturais, lindas praias em especial a do Calhau e Araçagy,verdadeiros santuários.

            São Luís, fonte do saber
            Tua brisa sopra minha alma
            teu brilho ilumina meu pensar
            teu aroma alimenta meus ares
            tuas águas transbordam amores
            que deságuam no meu coração.

*Mário Helder é poeta, barra-cordense que mora em São Luís (MA)


São Luís - centro histórico

(TB2set2012)