Artigo
Não respire apenas, seja ipê
jornal Turma da Barra

 


Ruben Anjos

 

Ao sair de uma aula no turno da tarde, me encontrava sozinho, e subitamente fui levado a admirar o rústico, aquela sequidão. Entre tantas árvores, uma me chamara atenção, era aquela que em meio a tantas palavras de maldizer, suportava um sol escaldante, e no tempo em que todas as “outras”, conseguiam aplausos, belas palavras e supostamente o seu brilho era ofuscado pela beleza daquelas

*Ruben Anjos

            Era um dia como os demais, estavam todos os alunos sentados na parada de ônibus principal da universidade, conversando sobre as matérias que deveriam dá mais importância, criando táticas para não haver reprovações. Havia aquelas outras pessoas que conversavam pouco, mas não digo que eram antissociais, ficavam ali esperando pelo ônibus para então almoçar.
            Esse ciclo na universidade era constante, sempre caras novas, aquele entusiasmo, ou até mesmo o cansaço da correria que se dá num curso integral e assim no horário e quase sempre no mesmo local. Eu gostava de ficar ali e geralmente em silêncio, observava a natureza que de tão bela se tornava inspiradora para algumas poesias. Meu dia ficava esplêndido, e também era tomado por um sentimento nostálgico por admirar o belo, o rústico.
            Tudo tão verde, as flores com aquele brilho encantador, pássaros cantavam em uníssonos e aquele ar de estudantes, cada um com um futuro em mente, sonhos, projetos de vida, e mais uma vez chegava o momento de disputa para se conseguir uma vaga dentro do ônibus. Às vezes eu ficava rindo, pois acontecia cada cena inusitada e eu permanecia ali sentado esperando que os empurrões acabassem, ou pelo próximo ônibus. Sem entender o porquê a natureza me chamava tanto atenção, continuei a fixar o olhar naquelas árvores tão frondosas e como se mexiam por meio das rajadas de ventos que por ali passava. E foi assim que aconteceram os demais dias naquele lugar.
            No caminho de casa à universidade, não diferia muito da visão que se tem por lá. E novamente, estava eu caminhando e me via sentado depois de um longo e exaustivo dia de aula. Não havia muitas pessoas ao meu redor, podia até ouvir o silêncio, dessa vez prendi a atenção àquela vegetação que já não estava mais vívida. Só então, percebi que já se tinha passado muitos meses e a estação mais quente do ano chegara. Cadê os pássaros? Onde estão as folhas que dançavam compassadamente com a entoada dos ventos? Impaciente por causa daquele tempo quente e seco, toda aquela harmonia acabava se tornando num enfado diário.
            A beleza parecia que se esquivava à medida que íamos entrando nessa nova estação, os universitários, coitados, tão agonizantes, imploravam por um pouco de sombra e boa sensação climática. As pessoas sempre praguejando, fazendo o máximo para não se expor ao sol, com receio de pegar uma coloração diferente da sua, ou até por medida profilática às doenças na pele. Quando a noite se aproximava, aquele cenário se parecia aos dos filmes de terror. Agora com uma camuflagem a menos que de tão secos os galhos das árvores, podíamos ter a mesma imagem, tudo tão feio.
            Mais uma jornada se iniciava e tudo tão constante em relação à paisagem que nada me despertava. Ao sair de uma aula no turno da tarde, me encontrava sozinho, e subitamente fui levado a admirar o rústico, aquela sequidão. Entre tantas árvores, uma me chamara atenção, era aquela que em meio a tantas palavras de maldizer, suportava um sol escaldante, e no tempo em que todas as “outras”, conseguiam aplausos, belas palavras e supostamente o seu brilho era ofuscado pela beleza daquelas... E foi assim até o próximo ônibus chegar.
            Continuei pensando e novamente estava preso a admirar aquela árvore, foi diferente, estava sem folhas. Porém, em seus galhos estavam às flores mais bonitas e então, aquela gama de estudantes ficavam comentando sobre os ipês que com seu aroma delicado, amenizava o clima de deserto, dando um tom de delicadeza e mesmo o povo desacreditando por achar que ali não havia vida, isso não modificou o espetáculo mais radiante na natureza. E aquelas árvores tão bonitas? Algumas foram cortadas, perderam todas as suas folhas e lutavam um pouco para conseguir água no subsolo. Onde estão os olhares? Para quem estão olhando? Penso que se elas conversassem entre si, esse seria alguns de seus comentários.
            E assim acontece com nossa vida, em que ouvimos coisas escabrosas, palavras de desmotivação, e no meio de tantos “talentos”, não importa para ninguém o brilho se todos os outros me ofuscam. Temos que ser como os ipês, mesmo não tendo para si os aplausos e olhares, permanece ali, calado, lutando para fazer o seu papel. Pois a beleza dessa árvore se dá nos tempos mais remotos e difíceis da vida, e é justamente quando se tem o melhor brilho, é no tempo da seca e solidão, quando brotam as flores mais belas e frondosas enfeitando a paisagem de quem ali está. Seja forte, e nos tempos de “secas” é que conseguiremos deslumbrar e não sofrer como muitos fazem.

Ruben Anjos, barra-cordense, é estudante de Engenharia da Universidade Federal do Tocantins

  (TB4jun2014)