Rio Corda
Dois anos eleito uma das sete maravilhas do Maranhão, continua à espera de cuidados
jornal Turma da Barra
O rio Corda foi eleito há dois anos uma das sete maravilhas do Maranhão.
Mesmo com o honroso título,
não foi o bastante para receber os cuidados merecidos.
O rio tem problemas de assoreamento,
que em alguns trechos possibilita atravessá-lo a pé,
e dificulta a navegação de barcos.
Tem problemas com as matas ciliares que sofrem agressão desmedida,
os donos de casas e chácaras á beira-rio
retiram a mata, que faz tão bem para os peixes e o próprio rio,
e colocam em seu lugar toneladas de cimento.
O rio tem problemas com a educação das pessoas,
que o transformam em esgotos,
e continuam a tê-lo como depósito de lixo.
Mesmo com o honroso título,
um dos mais belos rios do Maranhão,
que poderia servir para atrair turistas,
nem uma placa sequer recebe ao longo dos seus 140 quilômetros,
lembrando que é uma das sete maravilhas do Maranhão.
O TB publica artigo de Álvaro Braga
e um poema do poeta baiano Carlos Loria,
que não conhece Barra do Corda, mas é leitor da coluna da barra-cordense Luciana Martins,
e passou a saber sobre a beleza do rio Corda, que o homenageia em poema.
O rio agradece.
Lembre-se: o rio Corda não é um rio qualquer.
É uma das sete maravilhas do Maranhão.
Veja fotos ilustrativas
do rio Corda de Liana Martins, Álvaro Braga e Pablo Oliveira.
Rio Corda:
Um olhar sobre o futuro
jornal Turma da Barra*Álvaro Braga
Em setembro de 2007, o rio Corda foi eleito como a sétima maravilha do Maranhão. Algumas perguntam permeiam o insondável universo cordino, nas mentes que se preocupam com o destino deste rio, que realmente é maravilhoso, mas, que não desejam para ele o mesmo destino do rio Flores, por exemplo, que no ano passado se transformou em um caminho de pedras.
Passados dois anos do honroso título, o que mudou desde então? O que foi feito buscando a sua preservação? Como ficou o nível de conscientização da população sobre esse problema? Que campanhas educativas foram feitas sobre o tema? Que soluções se buscaram para discutir outras formas de vazão dos esgotos domésticos na área urbana de Barra do Corda? As lavadeiras foram conscientizadas a não jogarem restos de caixas de sabão em pó, e outros vasilhames plásticos no rio ou em suas margens? E avisos á população para que não joguem lixo, existem outros fora o da Pousada e o das Tabocas? E a pesca predatória? E o turismo ecológico, a quantas anda? E o desmatamento das margens? E as plantações? E o assoreamento? E as queimadas criminosas? E a especulação imobiliária no seu entorno?
Como se vê, são perguntas que não querem calar, pois buscam respostas.
Iniciativas periódicas do poder público municipal para recolhimento do lixo dos rios Corda e Mearim, com o chamado à população voluntária para também participar, sob o comando da vereadora Nilda Barbalho, são louváveis assim como, o replantio de árvores, feito há décadas pelo ambientalista Ênio Pacheco.
Mas tudo isso é muito pouco diante da problemática da preservação de um rio que é a própria identidade da cidade de Barra do Corda, de quem herdou o nome do antigo Rio das Cordas.
Se um dia o rio Corda morrer, a cidade também morrerá, pois sua alma deixará de existir.
Este é um desafio não apenas da esfera municipal, estadual ou federal, mas de todos nós, enquanto cidadãos, para que assumamos a parcela de responsabilidades e de culpa que nos cabe.
Porque destruir o que a natureza levou milhões de anos para construir? O rio Alpercatas, irmão do rio Corda nos sertões, já está com a luz vermelha acesa, o que significa que sua situação é preocupante. O rio Corda vai seguir o mesmo caminho se medidas sérias e urgentes não forem tomadas.
As reações dos ribeirinhos à destruição da orla são as mais díspares. Um cidadão, anônimo, ao ver um maravilhoso lote de mangueiras e árvores nativas ser reduzido à cinzas, em um sítio localizado entre o Castelo do Giz e a ponte sobre o rio Corda se expressou da seguinte forma: - Ah! Agora ficou bonito! Tudo limpo!
Já a professora Joana Moreira, sobrinha-neta de Perpetinha Moreira, a moça que foi raptada de Alto Alegre em 1901, tem opiniões diferentes. Ela conta que na década de 40 o rio Corda era fundo. Isso mesmo. Afirma que a profundidade do rio era de cerca de 4 metros e que os peixes proliferavam aos borbotões, ao contrário de hoje, que se passa caminhando no Porto do Pintinho. Relembra, saudosa, com um olhar distante, buscando o horizonte e o infinito, que as lontras brincavam em toda a extensão do rio, latindo igual a um cachorro e que eram mansas. Foram dizimadas pelos caçadores. Até ariranhas eram vistas nas águas naquela época.
Antigos pescadores, como o velho Casimiro Barros, pescavam de jiquí e a variedade de peixes era enorme: surubim, lírio, mandi, mandi-sacaca, sardinha, branquinha, curimatã, piau vara, piau cabeça-gorda, piau aracú, traíra, peixe-elétrico, piaba, mussum, e muitos outros. Diz a professora Joaninha que piranha naquela época era só no Mearim, mas agora tem, no Corda. Hoje até as piabas são pequenas, o povo não deixa o peixe crescer. Acabou tudo, lastima.
Márcio Araújo Martins, em 1994, já alertava: “ – Foi-se o tempo em que podíamos tomar aquele delicioso banho, almejado por todos os cordinos e turistas que vem à Barra do Corda nas férias e no Carnaval, descidas tradicionais embaladas pela correnteza e a sinfonia de pássaros de inúmeras espécies, muitos hoje em extinção, com uma deslumbrante paisagem natural.”
No mesmo ano, 1994, Fernando Eurico Filho, então com 19 anos, escrevia o artigo “Degradação do Corda”, de onde extraímos o seguinte trecho: “ – No rio Corda a umidade é diminuída forçadamente. Isso faz com que a floresta se distancie da margem, não mais fazendo papel de evitar a erosão e o desmoronamento da margem fluvial. Consequentemente o rio se alarga cada vez mais e torna-se mais raso. Para ter-se um equilíbrio ecológico é necessário que se mantenha essa floresta.”
Ruben Fialho, no alto da sabedoria de seus 81 anos, e com a autoridade de ser filho do maior geógrafo maranhense da história, professor Olímpio Ribeiro Fialho, e de ser neto do primeiro prefeito de Barra do Corda, o então Intendente, Fortunato Ribeiro Fialho, desabafa:
“Um grande trecho de floresta nativa, chamado de Avarandados, foi devastado em sua quase totalidade por práticas agrícolas e agropecuárias equivocadas, às margens dos rios Corda e Mearim. Tínhamos ali belíssimos paus d’arcos, aroeiras, caneleiros, sucupiras, gonçalos-alves, taipócas, jacarandás, sapucaís, sapucaias, paus-roxos e inúmeras outras árvores classificadas como madeira-de-lei. “
Relembro aqui as palavras do ex-prefeito Edson Falcão da Costa Gomes, que dizia: - “Seria bom que todos amorosamente, como o beija-flor da lenda, que tentava, com gotas d’água que tirava do mar, apagar o incêndio da floresta, fizessem a sua parte para proteger o nosso mais valioso tesouro: “o rio Corda.”
*Alvaro Braga é estudante de História da UEMA
O CORDASSIPI
*Carlos Loria
É a sempre e velha história de O Tejo é mais belo etc..
É o universo particular de Faulkner, sempre,
a reduzir o meu a rimbaudiana bela poça.
Mas reajo. Tenho o meu rio Corda.
Curioso, no meu simplexo de inferioridade,
jamais pensei no Corda como uma corda cheia de fios
— e agora a idéia de “cheias”, as cheias do rio,
porque falei em “uma corda cheia de fios”.
Fios, rios, rio em fios, filetes, fiLetes,
“corda trançada de multifilamento”,
como costumam definir as indústrias.
E a sempre e velha história do Tejo reflui:
Quanta gente à beira do Cordassipi,
sem nem pensar nele.
Vivo, rumoroso demais para que se possa
pensar nele. Contrário ao pensamento.
Tudo que existe fora de nós — nós do Corda,
vá lá — é o contrário do pensamento.
Moroso, às vezes, também,
para que demore, para se empoçar,
para que eu pense:
Nunca vi Minas.
Cerca do rio.
Em água e em barro à beira.
Três círculos concêntricos
pelos tornozelos,
essa água
e minha pequena área de vela.
*Carlos Loria é poeta, mora em Salvador (BA)
Nota de Luciana Martins: Carlos Loria é um grande amigo meu, baiano, de Salvador, que nunca foi na Barra. Mas, de tanto ler o TB e ouvir falar de nossos rios, escreveu um poema para o rio Corda, comparando-o ao Tejo (de Fernando Pessoa) e ao Mississipi (de William Faulkner).
(TB/27set2009)
Encontro dos rios Corda e Mearim
Um trecho intacto do Rio Corda
foto de Liana Martins
Outro belo trecho intacto do Corda
foto de Liana Martins
Detalhe: uma volumosa pedra no leito do rio
foto: Liana Martins
Outra pedra embelezando rio Corda
foto: Liana Martins
Uma criança pensativa
O rio Corda poderá morrer caso o descaso continue
Precisa ser conservado para novas gerações
foto de Álvaro Braga