Artigo
In aeternun, Oscar!
jornal Turma da Barra

 


Nonato Silva e Oscar Niemeyer
em 1992 em Brasília

"Oscar mudou-se para o céu, 
com sua inseparável prancheta, 
onde continua com suas curvas, seus ângulos e suas linhas"

*Nonato Silva

            Oscar Niemeyer é um mundo.
            O universo arquitetônico há de prostrar-se, eternamente, perante o gênio, no ramo, reverente, Oscar Niemeyer.
            Convivi anos, ao lado de tão excelsa criatura, bebendo, à saciedade, o brilho de sua cultura e a altivez de seu gênio.
            Oscar era um polímata e um poliedro, no centro de sua polimorfia.
            Não eram só as linhas curvas e retas que o faziam mestre sem par.
            Amava a pobreza, como ninguém. Casa para uns. Carros para outros. A sociologia e a antropologia calavam, fundas, em seu multifacetado corpo intelectual, na epifania gloriosa de sua vida. E costumava dizer, com seriedade e sinceridade: “amo a vida, e a vida me ama. Somos um casal inseparável.”.
            No cimo de sua obra ciclópica, costumava dizer, atento e filosoficamente: “a vida é um sopro.”.
            Mesmo, assim, ao lado de sua prancheta, um havana aos lábios, soltava palavrões impublicáveis, como valva de escape e descanso mental.
            Não era só a prancheta que lhe sorria.
            Modernista, deleitava-se com a literatura.
            Deixou versos imortais, como estes:

            “Não é o ângulo reto que me atrai.
            Nem a linha reta, dura, inflexível,
            Criada pelo homem.
            O que me atrai é a curva livre e
            Sensual.
            A curva que se encontra nas
            Montanhas de meu país,
            No curso sinuoso dos seus rios,
            Nas nuvens do céu,
            No corpo da mulher amada.
            De curva é feito todo o universo.
            O universo curvo de Einstein.”.
            Os anos se passaram, na curva do tempo.

            Vi meu grande amigo, somente, em 1992, por ocasião da assinatura de contratos dos projetos da Vila Olímpica, e quando da sua visita para apresentação do projeto da Torre Digital.
            Assim, Oscar mudou-se para o céu, com sua inseparável prancheta, onde continua com suas curvas, seus ângulos e suas linhas.
            Sempre Oscar Niemeyer: in aeternum.

*Nonato Silva, 94 anos, foi o primeiro jornalista de Brasília (DF)

(TB19dez2012)