História
Igreja Matriz faz 60 anos
Terceira parte

jornal Turma da Barra


igreja Matriz foi inaugurada
ainda com andaimes


Revista “A Voz de São Francisco”

Por Álvaro Braga

Matéria publicada pela revista “A Voz de São Francisco”

            Frei Carlos de Arary, missionário Capuchinho, quando aqui esteve, em 1951, por ocasião de uma reportagem especial que fazia para o periódico católico “A Voz de São Francisco”, enfocando os 50 anos do massacre do Alto Alegre, deixou as suas impressões sobre essa visita à Barra do Corda,  grafadas da seguinte forma:
            “A fim de assistirmos à inauguração da Igreja – Monumento aos Mártires de Alto Alegre, à transladação das relíquias das vítimas da hecatombe de 13 de março de 1901, para o novo templo, e à ordenação de três novos sacerdotes capuchinhos, na Igreja – Monumento, partimos do Ceará, no dia 16 de dezembro próximo passado rumo à Barra do Corda.
            No dia 22, um aparelho da Aeronorte, sobrevoava a bela cidade de Barra do Corda, levando no bojo, apenas frades e freiras. À medida que a aeronave fazia manobras para aterrissar, pudemos descortinar o lindo panorama da cidade banhada pelos dois rios: o Mearim e o Corda, que ali despeja suas águas cristalinas, sobre as lamacentas do Mearim. A cidade possui um belo traçado e goza de uma privilegiada situação geográfica, contornada que é, de colinas. Ao pisarmos o solo, fomos recebidos e abraçados por Frei Epifânio, esforçado superior do convento local. Meia hora após o desembarque, já nos encontrávamos diante da majestosa Igreja – Monumento, cujo benzimento teria lugar no dia imediato. Julgávamos encontrar a igreja inteiramente pronta, e ficamos um tanto chocados, ao vermos em torno do templo andaimes, talhas para tração de material, montes de tijolos, pedra britada, argamassa, madeiras, e os operários em plena atividade. No alto da torre (34 metros), vestindo um hábito leve, suado e enlameado, avistamos o engenheiro Padre Frei Francisco Cheravali de Milão (Chicão), que não se contenta em dirigir e fiscalizar os serviços, mas gosta de fazer força. Frei Francisco nos apontou os motivos por que os trabalhos ainda não estavam concluídos. Disse-nos ele: - “Os serviços foram iniciados há apenas um ano e quatro meses, as possibilidades financeiras são diminutas, o transporte do material é dificílimo, e mesmo a mão de obra oferece muitas dificuldades”. Assim é que a igreja apenas começou a ser rebocada, e não ostenta, por enquanto, toda a beleza e esplendor que terá, quando terminada, com seus vitrais, os preciosos mármores da fachada e dos altares, e o melodioso carrilhão.
            Ao entrarmos no Convento, encontramos treze sacerdotes capuchinhos, vindos do Ceará, do Piauí, e de outros conventos do Maranhão.
            À guisa de preparação para as próximas festividades, o Rev. Frei Cosme , pregou a novena do  Santo Natal, na nova Igreja.
            O dia 23 de dezembro, marcou o início das comemorações em memória dos Mártires de Alto Alegre. Às sete horas da manhã, S. Exia. Revma. D. Emiliano José Lonatti, procedeu à benção litúrgica do novo templo. Logo após, o M. Rev. Frei Cesário cantou a primeira Missa solene na nova Igreja. As cerimônias do benzimento, contaram com a assistência de todos os sacerdotes presentes, das autoridades civis e de elevado número de fiéis.
            Às dez e meia horas da manhã, o M. Rev. Frei Cesário, dirigiu-se ao convento das Irmãs Terceiras Religiosas Capuchinhas, a fim de proceder á exumação dos despojos mortais das vítimas da hecatombe de Alto Alegre, sepultados em uma capela mortuária, situada naquele convento. Em presença do M. Rev. Frei Cesário, de vários sacerdotes capuchinhos e de dezenas de fiéis, auxiliados por um operário, o Rev. Frei Francisco, levantou a lápide marmórea que guardava os ossos sagrados daqueles heróis, e retirou do jazigo, cinco urnas de madeira, contendo os ossos de quatro Religiosos capuchinhos, e outras quatro urnas, igualmente de madeira, que encerravam os despojos de sete Religiosas capuchinhas, todos eles, vitimados na lamentável carnificina de 13 de março de 1901.
            Urge, digamos, que apesar de todo o desvelo e a reverência com que eram guardados os restos mortais dos Mártires, constatamos, ao levantamento da lápide marmórea, que formigas haviam penetrado no sagrado recinto e atacado as urnas de madeira e o sagrado conteúdo das mesmas. Em todas as urnas, porém, foi encontrada grande quantidade de ossos. Urnas haviam, em que os ossos estavam em perfeito estado de conservação, enquanto outras, continham muitos detritos, resultantes da lenta pulverização dos ossos. Com toda a reverência devida aos santificados despojos, as piedosas irmãs capuchinhas lavaram e assearam os restos mortais das gloriosas Vítimas, após o que, foram colocados em duas urnas de cinza, as quais foram cuidadosamente soldadas.
            Na mesma tarde do dia 23, foi feita a Solene transladação das relíquias dos heróicos missionários, para o novo jazigo, construído logo após a entrada da Igreja – Monumento. Exatamente às cinco horas da tarde, grande multidão de fiéis, comprimia-se no vasto recinto do convento das Irmãs capuchinhas, para acompanhar em procissão à transladação das urnas para o novo local. Oficiou nas cerimônias da transladação, S. Excia. Revma. D. Emiliano Lonatti, acompanhado de um Diácono e de um Subdiácono. Coube aos padres capuchinhos, a honra de carregar a urna que continha os sagrados despojos de seus co-irmãos massacrados pelos índios, e igualmente às Irmãs capuchinhas, a dita de transportar a urna com os restos mortais de suas co-irmãs. Integrado por centenas de fiéis, por diversos sacerdotes capuchinhos e numerosas religiosas franciscanas, o cortejo rumou para a Igreja – Monumento, entre orações e o devoto canto dos salmos penitenciais. Chegando a procissão à igreja, foram as urnas colocadas sobre uma peça armada no meio do templo. Após o canto do “Libera-me”, S. Excia. Revma. D. Frei Emiliano, deu a absolvição aos sagrados despojos. Findas as solenes exéquias, o M. Rev. Frei Cesário, ocupou a sagrada tribuna e proferiu comovente oração fúnebre sobre a hecatombe de Alto Alegre, historiando a fundação, e o desenvolvimento e o triste epílogo da Colônia de São José da Providência. Após a alocução de Frei Cesário, as urnas foram colocadas, à vista de todos, em novo jazigo, construído bem no saguão da igreja, onde as relíquias dos apóstolos de Cristo aguardam o dia glorioso da ressurreição final.
            O dia 24 de dezembro foi uma data verdadeiramente memoranda, na vida religiosa de Barra do Corda. Pela primeira vez, o povo desta cidade, pode assistir às impressionantes cerimônias de uma ordenação sacerdotal, durante uma Missa Pontificial. Foram ordenados sacerdotes, neste dia, os R. R. Frei Higino de Grajaú, Frei Natal de Carolina, Frei Casimiro de Grajaú, todos estes, oriundos daquela Prelazia, banhada com o sangue mártir dos três sacerdotes massacrados pelos índios, há cinqüenta anos atrás. A Missa pontifical, foi assistida por grande número de fiéis, provenientes de todas as paróquias da Prelazia. Terminado o Santo Sacrifício, os três  néo-sacerdotes abençoaram a multidão, ao que se seguiu a cerimônia do beija-mão.
            Em meio à mais incontida alegria de seus pais, amigos e conterrâneos, os neo-sacerdotes, cantaram a primeira Missa na própria terra natal, sendo alvos de inúmeras homenagens por parte dos capuchinhos, das autoridades civis e do povo em geral, de Barra do Corda, Grajaú, Carolina e São Luís.
            Estas, as principais comemorações realizadas em Barra do Corda, no mês de dezembro em memória dos Mártires de Alto Alegre.”
            Uma curiosidade contada pelo senhor Newton Leite Brasil é que, segundo ele o anel de diamantes de Dom Emiliano, na ocasião, brilhava mais que a luz de um lampião.

Discurso sobre o cinquentenário da hecatombe de Alto Alegre

(Trecho do discurso proferido pelo Sr. Almir Silva no dia 23 de dezembro de 1951, por ocasião do lançamento da pedra fundamental da Igreja-Monumento de N. S. da Conceição, erigida para homenagear os Mártires do Massacre de Alto Alegre, no seu cinquentenário)

“Exmas. Autoridades,
Exmo e Revmo. Sr. Bispo Dom Emiliano Lonati,
Exmas Senhoras,
Meus Senhores,

            Frei Cesário, na capital do Estado, e Frei Epifânio nesta cidade, convidaram-me para dizer algumas palavras, nesta pragmática cerimônia do encerramento em urna, de documentos desta Igreja. A nenhum assegurei de aceitar a honrosa incumbência. Posteriormente porém, resolvi recebê-la por duas razões: Primeira, para ter mais uma  oportunidade de ressaltar, como é de justiça, o valor do trabalho sacerdotal da Ordem Franciscana no Brasil, especialmente nesta região do Maranhão. Segunda, para mais uma vez, dar testemunho público do que me cabe dar, na qualidade de filhos destas plagas, da minha admiração e do meu reconhecimento, pelo muito que esses porta-bandeiras do bem, tem concorrido para o nosso engrandecimento material, moral, intelectual e espiritual. De modo que, meus concidadãos, a minha palavra tem o sentido, e o digo com aprazimento do maior apreço, da mais afetuosa estima e da mais cabal homenagem, prestada com a alma e com o coração. Para esse fim tomei como ponto de partida. A eminentíssima autoridade eclesiástica de S. Excia. D. Emiliano Lonati, nosso estimadíssimo Bispo.
            Emergem de sua pessoa veneranda, alquebrada pelos anos, em cuja cabeça a luta pela vitória do Cristianismo, deu a seus cabelos a brancura da neve, mas, sempre varonil, traços inapagáveis do trabalho devotado e solícito em que consumira a mocidade, dentro do mesmo padrão de agora, de inteligência, castidade e humildade. Ninguém poderá lhe negar, em absoluto, a soma de benefícios advindos desse trabalho para o povo, benefícios que jamais serão compensados por mais que se os proclame e por mais que eles toquem no nosso reconhecimento e na nossa gratidão. Os nossos Sertões foram em parte, teatro desse heroísmo.
            Nessa mesma rota primante de disseminação das verdades do Evangelho, pereceram no nosso Município, os Capuchinhos Frei Carmelo e Frei Fidélix, acometidos de insidiosas moléstias, E quase sucumbia nesta cidade, também de moléstia infecciosa, o idealizador deste monumento, seu criador e maior propulsor, Frei Adriano, para quem solicito neste momento, uma justa homenagem, uma estrepitosa salva de palmas, honrando o seu caráter, honrando a linha de conduta impecável no sacerdócio, mantidas entre nós por dilatados anos, honrando o fervor com que se entregava a tudo aquilo com que pudesse exaltar a Religião, como aconteceu à Via-Sacra por ele construída com o povo, nas escarpas da serra, o que hoje é a mais bela, a mais edificante e a mais expressiva manifestação da nossa religiosidade. Palmas para Frei Adriano! (palmas,muitas palmas irrompem na platéia).”

Atenção: Na próxima semana: os heróicos operários da obra da construção da Igreja Matriz.


Início da demolição da prefeitura


Igreja Matriz em construção


Igreja Matriz em construção

 

 

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(TB18dez2011)