Artigo
A moeda democrática
jornal Turma da Barra

Maires Souza dos Anjos, que é irmã do nosso articulador Ruben Anjos, 
é formada em Serviço Social pela UFMA, faz sua estréia no TB, 
trazendo um assunto bem atual, à busca do voto, uma reflexão sobre o papel da cidadania, da escolha democrática de candidatos. Num certo trecho, ela lembra do que uma professora lhe ensinou: “Crianças vocês ainda não votam, mais votarão um dia, mais lhe aviso de algo, nunca votem em vereador, pois esses só roubam, não tem outra função, avisem a seus pais disso”

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*Maires Anjos

            Em uma certa noite junto a um grupo de pessoas, de repente somos abordados por um candidato a vereador, do qual não temos nem um vínculo social, até ai tudo bem isso é “normal” em se tratando do interior do estado do Maranhão, não digo que seja assim em todos os interiores de estados brasileiros, porque só convivi de perto em período eleitoral no município do qual faço parte, mas considero que seja pouco provável que haja grandes diferenças.
            Eles (candidatos) sempre chegam com aquele jeitinho de quem não quer nada, com conversas soltas até conseguir te empurrar um “santinho”, você que está lendo sabe bem o que estou descrevendo. E foi dessa forma que o nosso já citado candidato nos abordou, e com ele, como é de praxe, um bajulador, que reforça as vantagens de se votar em vereador tal:
            Temos que votar em fulano, ele nos ajuda de mais, quando estive doente, ele me levou no seu próprio carro a capital de outro estado, e e e é gente boa demais... ajuda demais, é nesses que temos que votar, é só para isso que servem.
            A partir daquele dia observei no quanto as pessoas repetiam essa frase, “temos que votar em quem nos ajuda”. O que me fez pensar em (dese) educação política, no conceito de democracia, e sobre tudo como as pessoas (não)fazem uso dessa. Imediatamente fui levada ao ano de 1996, mais precisamente à sala de aula onde eu cursava a já extinta 2ª série, e quase que chego a ouvir novamente a minha professora. Sou da época em que os professores eram muito venerados, honrados, e respeitados, minha mãe sempre dizia que o professor é como um pai e deve ser respeitado como tal.
            Dessa forma eu guardava com muito zelo os ensinamentos dos meus mestres, pois bem, o que ouvi da minha respeitável professora foi o seguinte: Crianças vocês ainda não votam, mais votarão um dia, mais lhe aviso de algo, nunca votem em vereador, pois esses só roubam, não tem outra função, avisem a seus pais disso.
            Eu ao chegar em casa imediatamente comuniquei aos meus pais a cerca do meu “novo aprendizado”, e esses acharam um verdade tão grande nisso, que ainda ontem ouvi meu pai repetir a “reconhecida função” do legislativo municipal.
            Fiquei preocupada com os passos lentos da educação política, há dezesseis anos minha professora não sabia identificar os papeis políticos dos nossos representantes, e atualmente as pessoas ainda repetem a mesma fala, ou pior votam pensando no interesse individual.
            Reflito se ainda somos ou se já fomos verdadeiramente animais políticos, se sabemos escolher de forma correta o que é melhor para nós, mas digo isso enquanto “ser coletivo”, o que adentra um terreno muito subjetivo e escorregadio, pois “ o todo” nada mais é que o conjunto de partes, logo o coletivo é composto por indivíduos, cada um investido de suas individualidades, ou seja com seus próprios interesses.
            E partindo desse pressuposto o que seria a democracia? A verdadeira vontade de um grupo que fizeram valer sua vontade política, ou a vontade anterior de um grupo que desejosa de ser eleita, satisfizeram a vontade individual de cada integrante da coletividade, que não consciente dos seus poderes democráticos, que tem prazo de validade maior do que eles sabem, resolveram suprir suas necessidades imediatas individualmente. E assim a cada integrante da coletividade foi dado um saco de cimento, telhas, dinheiro, uma consulta médica, alimentos, etc, e assim tem-se montado um grande grupo “democrático” que satisfarão a vontade de uma só pessoa ou de pequeno grupo, vontade essa que pode ser o alcance do poder e os benefícios que pode ter com esse.
            A construção de Hospitais acaba sendo substituído pelo um atendimento médico individual em outro estado, os concursos públicos, por contratos temporários aos mais próximos, o abastecimento de água nas torneiras por um caminhão de água. Nos termos técnicos do Assistente Social, quando se ganha algo esporadicamente, sem ser algo de Direito, chamamos de assistencialismo, a democracia parece está se tornando em um democracilismo.
            A democracia longe de ser expressão da vontade da maioria tem se tornado em moeda corrente, que estará a favor daquele que tiver algo melhor a oferecer, culpa da crescente falta de educação política, e que faz com que quase sempre a elite ou um grupo de elite esteja no poder e com o poder. Não tem conversa de representando o poder do povo, o poder foi lhe transferido individualmente por aqueles que satisfizeram suas necessidades mais urgentes.
            O problema é que “a moeda” só tem validade uma vez por ano, para aquele que a possui, pois os que a consideram como tal, não conhece sua função social de investigador fiscal das contas públicas, nos diferentes setores, como educação, saúde, assistência e vários outros direitos sociais. E parece que ninguém está preocupado com isso, por que será?


Maires Anjos é Assistente Social, mora em Barra do Corda (MA)

(TB/4set/2012)