Artigo
Pensar e lembrar
jornal Turma da Barra
 


Luiz Carlos

o saber é excelente em si mesmo, 
que aprender é transformar o existir em viver 
e que aprender é estrada segura para ser mais. Muito mais
"

*Luiz Carlos 

            O cérebro não gosta de pensar da mesma maneira como o cidadão folgado e com alto colesterol não gosta de ginástica. Toda atividade aeróbica é cansativa e o cidadão que adora uma poltrona, somente a troca pela esteira da academia porque a saúde assim requer. O mesmo se dá com o cérebro. Pensar implica em mudanças na estrutura física desse órgão alterando a rede neuronal e isso é esforço que o cérebro dispensa, senão quando em perigo e desafiado ou quando pode ganhar uma recompensa, descarregando mínimas doses de dopamina na corrente sanguínea. Estamos pensando sempre quando combinamos informações e fazendo eclodir uma nova informação. 
            Outra atividade que todo cidadão folgado dispensa é a estratégia alimentar de trocar guloseimas saborosas por saladinhas insossas e, de igual forma, outra circunstância em que o cérebro somente se impõe se essencial é memorizar.  O cérebro se tivesse que memorizar tudo quanto percebe e aprende ficaria sobrecarregado e, dessa forma, somente memoriza quando se utiliza de estratégias específicas.
            Considerando que o cérebro prefere não pensar e não memorizar e que o cidadão preguiçoso não ama academias e saladinhas, mas delas se cerca por amor a vida, é essencial que coloquemos o cérebro para aprender sempre e memorizar tudo quanto é essencial como estratégia para evoluir e viver, uma vez que viver é bem mais que simplesmente existir. Fica então o desafio: Como devemos pensar e aprender e como devemos memorizar e transformar memórias em competências?
            O pensar e o aprender envolvem sempre quatro condições: (1) informações colhidas no ambiente, (2) fatos já registrados na memória de longo prazo; (3) a associação entre as informações que chegam e os fatos registrados e (4) tudo isso encaminhado à memória operacional que, como o nome indica, transforma o aprender em fazer. E ao aqui se chegar, vem à questão essencial: Tomando por base essa explicação neuronal, onde entra o papel do professor?
            Desafiando o aluno, propondo problemas, ajudando a transformar suas emoções em pensamentos, desiquilibrando o comodismo de se viver com velhas informações, animando a busca de resposta, contribuindo para que o aluno possa atribuir significações explícitas aos fatos que colhe no cotidiano, organizando essas informações de maneira clara, enfatizando que o saber é excelente em si mesmo, que aprender é transformar o existir em viver e que aprender é estrada segura para ser mais. Muito mais.

Letras, Arcádia Barra-Cordense e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

(27jun2013)

 

 

Artigo
Currículo e os cérebros de amanhã
jornal Turma da Barra
 
Um novo currículo com a ousadia de novas matérias é a saída para integrar o que como humanos jamais perderemos com ações que como passageiros do futuro não podemos jamais negligenciar"

*Luiz Carlos 

            Podemos definir currículo como o conjunto de atividades desenvolvidas por um educandário visando à aprendizagem e a consequente transformação do educando e, nessa perícope, adaptando-o não apenas aos tempos que vive, mas os tempos que deverá viver quando terminar o período escolar. O nosso cérebro  é um órgão que se encontra em permanente processo de mutação e esta é ocasionada principalmente por sua interação com os desafios impostos pelo ambiente.
            As crianças hodiernas, mesmo as que habitam comunidades mais isoladas e materialmente carentes, possuem em relação à geração de seus pais uma exposição repetida a flashes e imagens captadas na televisão, celulares, jogos de videogames, manuseio de computadores, conexões na internet e tudo isso interfere de forma significativa sobre a química cerebral, sobre suas expectativas de aprendizagem e sobre suas relações interpessoais. Integrando-se o conceito de currículo à certeza da mudança da química cerebral, o sentido destas palavras é o de alertar as escolas para que pensem seu currículo para as crianças de agora, jamais negligenciado a expectativa do mundo que viverão amanhã.
            Pesquisas recentes realizadas na renomada Universidade de Oxford e outros centos de estudos de excelência na área da neurociência, alertam que a exposição repetida ao contato e uso das novas tecnologias de informação, tende a afastar a criança e o adolescente das experiências da vida real e estas se entregando a repetidas sensações virtuais vão sofrendo problemas de infantilização do cérebro e perdas significativas como: a de aprender, como olhar nos olhos de pessoas reais, interpretar os tons de voz no ambiente, identificar mensagens na linguagem corporal, decodificar estados emocionais e, no caso do abandono progressivo do uso da letra cursiva, afastar-se de exercícios caligráficos essenciais a algumas conexões cerebrais. É impossível e insensato regredir nos tempos para proporcionar as crianças de hoje a salutar experiência de se fazer amizades reais, correr atrás de uma bola, pendurar-se em uma árvore ou buscar em múltiplos campos o objeto de uma pesquisa escolar. Mas, se não podemos mudar o ambiente que envolve as crianças de agora ao seu tempo e se o vício e uso obsessivo da internet com todas suas consequência é mudança que veio para ficar, a alternativa que resta é promover-se com urgência, mudanças no currículo, sobretudo para a Educação Infantil e séries iniciais.
            Uma escola preocupada com essa mudança permite que as crianças possam viver a realidade de seu tempo e, simultaneamente, possam ir se liberando da tirania de seus genes, fortalecendo células cerebrais com interações e experiências roubadas pela modernidade.
            Não nos parece complicado organizar-se um currículo com tais características, colocando como práticas cotidianas exatamente o que a exposição excessiva a internet acabou de roubar. Novas estratégias de ensino e práticas educativas que ensinem a relação humana com pessoas reais, que apure a sensibilidade auditiva para compreender os muitos sons da voz humana livre, ações essencialmente voltadas para a linguagem corporal e estudos de caso envolvendo conhecimento, controle e administração de estados emocionais. Mais ainda, aulas de Artes e Teatro voltadas para representações e para o manuseio de canetas e de pinceis e estímulos à criatividade para que se aprimore a percepção de que uma tela pode retratar o mundo, mas é apenas uma janela e um retrato desse mundo. Um novo currículo com a ousadia de novas matérias é a saída para integrar o que como humanos jamais perderemos com ações que como passageiros do futuro não podemos jamais negligenciar. 

*Luiz Carlos Rodrigues da Silva é mestre em Ciências da Educação, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, Arcádia Barra-Cordense e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

(20jun2013)

 
Artigo
Uma reflexão sobre política
jornal Turma da Barra
 
É estratégica a importância das políticas públicas de caráter social – saúde, 
educação, cultura, previdência, seguridade, informação, habitação, defesa do consumidor – para o Estado capitalista
"

*Luiz Carlos 

            O uso tradicional da palavra “política” abre o leque para uma multiplicidade de significados, presentes nas multiformes fases históricas do que denominamos Mundo Ocidental. Em sua acepção clássica, deriva de um adjetivo originado de polis – politikós – e refere-se a tudo que diz respeito à cidade e, por conseguinte, ao urbano, ao civil, ao público, ao social. A famosa obra de Aristóteles A política, considerada como o primeiro tratado sobre o tema, introduz a discussão sobre a natureza, as funções e a divisão do Estado e sobre as formas de governo. Norberto Bobbio assinala o deslocamento que teria ocorrido no significado do termo: do conjunto das relações qualificadas pelo adjetivo “político”, para a constituição de um saber mais ou menos organizado sobre esse mesmo conjunto de relações. Política passa, então, a designar um campo dedicado ao estudo da esfera de atividades humanas articulada às coisas do Estado.
            Na contemporaneidade, o termo reporta-se, fundamentalmente, à atividade ou ao conjunto de atividades que, de uma forma ou de outra, são imputadas ao Estado moderno capitalista ou dele emanam. O conceito de política encadeou-se, assim, ao do poder do Estado  - ou sociedade política – em atuar, ordenar, planejar, legislar, intervir, com efeitos vinculadores a um grupo social definido e ao exercício do domínio exclusivo sobre um território e da defesa de suas fronteiras. De Thomas Hobbes a Hegel – não obstante a diversidade das várias soluções -, o pensamento político moderno tende a considerar o Estado em contraposição ao “estado da natureza”, ou sociedade natural, e a defini-lo como o momento supremo da vida coletiva dos seres humanos, quando as forças desregradas, os instintos, os egoísmos e paixões, se subjugam ao reino da liberdade regulada. O Estado é compreendido como produto da razão, ambiência social marcada pela racionalidade, única na qual o ser humano encontrará a possibilidade de viver nos termos da razão, ou seja, de acordo com sua natureza. Para Hegel, o Estado é compreendido como o fundamento da sociedade civil e da família, deixa de ser um modelo ideal, e sua racionalização celebra seu próprio triunfo como movimento histórico real: realidade da ideia ética, o racional em si e para si.
            Em O capital, Karl Marx afirma o Estado como “violência concentrada e organizada da sociedade”, evidenciando a relação entre sociedade civil (conjunto das relações econômicas) e Estado (sociedade política). Longe de ser um princípio superior, racional e ordenador, como queria Hegel, o Estado institui-se, nesse entendimento, como expressão das formas contraditórias das relações de produção que se instalam na sociedade civil, delas é parte essencial, nelas tem fincada sua origem e são elas, em última instância, que historicamente delimitam e determinam suas ações. O Estado, impossibilitado de superar contradições que são constitutivas da sociedade – e dele próprio, portanto -, administra-as, suprimindo-as no plano formal, mantendo-as sob controle no plano real, como um poder que, procedendo da sociedade, coloca-se acima dela, estranhando-se cada vez mais em relação a ela. As políticas públicas emanadas do Estado anunciam-se nessa correlação de forças, e nesse confronto abrem-se as possibilidades para implementar sua face social, em um equilíbrio instável de compromissos, empenhos e responsabilidades.
            É estratégica a importância das políticas públicas de caráter social – saúde, educação, cultura, previdência, seguridade, informação, habitação, defesa do consumidor – para o Estado capitalista. Por um lado, revelam-se as características próprias da intervenção de um Estado submetido aos interesses gerais do capital na organização e na administração da res publica e contribuem para assegurar e ampliar os mecanismos de cooptação e controle social. Por outro, como o Estado não se define por estar à disposição de uma ou outra classe para seu uso alternativo, não pode se desobrigar dos comprometimentos com as distintas forças sociais em confronto. As políticas públicas, particularmente as de caráter social, são mediatizadas pelas lutas, pressões e conflitos entre elas. Assim, não são estáticas ou fruto de iniciativas abstratas, mas estrategicamente empregadas no decurso dos conflitos sociais expressando, em grande medida, a capacidade administrativa e gerencial para implementar decisões de governo. Capacidade que burocratas contemporâneos têm por hábito chamar “governança”.
            Por isso mesmo, uma análise das políticas sociais se obrigaria a considerar não apenas a dinâmica do movimento do capital, seus meandros e articulações, mas os antagônicos e complexos processos sociais que com ele se confrontam. Compreender o sentido de uma política pública reclamaria transcender sua esfera específica e entender o significado do projeto social do Estado como um todo e as contradições gerais do momento histórico em questão.

*Luiz Carlos Rodrigues da Silva: Mestre em Ciências da Educação, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, Arcádia Barra-Cordense e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

(13jun2013)

 

Artigo
Autoridade e disciplina versus autoritarismo e indisciplina
jornal Turma da Barra
 
O bom educador exerce com maestria a autoridade, sem pender para a prática do autoritarismo. 
Cônscio do seu múnus docente, a sua práxis está sempre coadunada com o seu discurso
"

*Luiz Carlos 

            As temáticas não são novas, mas sempre reaparecem com veemência. Nos espaços escolares, ecoam insistentemente vozes de vários sujeitos que anunciam: as crianças e os jovens de hoje não conhecem limites!
            Na sociedade da “Modernidade Líquida” e do “É proibido proibir”, não podemos esquecer que as famílias não conseguem mais colocar limites à sua prole e, às vezes, nem os próprios genitores têm limites. Nesta perícope temos um número considerável de pais que querem um educandário light, isto é, que não estabeleça limites aos filhos, não exija boa postura axiológica ou desempenho ético nas suas atitudes. Essa realidade não será o reflexo de uma sociedade pós-moderna que valoriza o hedonismo sem nenhum arquétipo ou parâmetro? Portanto, estas crianças e jovens são produtos da sociedade em que estão inseridos, profundamente marcada e defensora  da liberdade sem limites.
            Não podemos esquecer que a escola é um espaço privilegiado de vida comunitária e é uma Instituição com potencial essencialmente socializadora. Nesse sentido, é seu múnus, não só propiciar às crianças e aos jovens a construção de novos conhecimentos, mas também que sejam capazes de conviver em harmonia com as diferenças, a praticar a alteridade, conhecer e respeitar outros princípios ou paradigmas de autoridade.
            Para o psicólogo e pesquisador Yves de La Taille, “limite não deve ser pensado apenas como ponto extremo, como fim, como limitação”. Limite significa também aquilo que pode ou deve ser transposto. A fronteira tem como característica separar dois lados. A celeuma reside em saber se o limite é um convite a passar para o outro lado ou, inversamente, uma ordem para permanecer de um lado só. Na existência humana e na práxis axiológica, as duas possibilidades existem e coexistem.
            Na complexa abordagem da educação, encontramos também os dois lados: educar uma criança supõe ajudá-la a transpor os limites, crescer e desenvolver-se, tornar-se cada vez melhor. Isto abrange a dimensão humana, emotiva, afetiva, epistemológica, sociológica, cognitiva como também a  atitudinal.
            Assim, seja para viver, ou conviver, o limite precisa ser demarcado e respeitado. É o que acontece no espaço da escola. É imprescindível que crianças e jovens compreendam que o respeito aos limites favorece a vida em grupo e propicia as condições necessárias para o exercício da disciplina na escola. A disciplina, neste discurso, nada mais é do que a expressão de um compromisso recíproco, onde cada um sabe o que tem a fazer e como fazer. Neste aspecto reside a essência de um grupo. Quando alguém não cumpre e valoriza os preceitos da vida em comum, o grupo se desorganiza.
            Não podemos esquecer que a disciplina tem relação estreita com o saudável exercício da autoridade. O bom educador exerce com maestria a autoridade, sem pender para a prática do autoritarismo. Cônscio do seu múnus docente, a sua práxis está sempre coadunada com o seu discurso. Portanto, os educadores podem e devem estabelecer limites e, fazendo uso da sua autoridade, cobrá-los. Neste prisma, estabelece-se o vínculo de confiança entre ambos.
            O ideal é que os limites sejam construídos com o grupo, e que emanem das reais necessidades do grupo. As regras devem estar alicerçadas em princípios éticos, os seus verdadeiros sustentáculos. Devemos sempre educar pautados pelos princípios, não pelas imposições. Temos ciência que é mais fácil discordar de uma ordem que de um princípio. A ordem pela ordem nada diz. Os argumentos sociológicos básicos, devidamente pautados pela dialética, contribuem para estabelecer um clima de harmonia, bem como sustentar as regras e os possíveis desdobramentos em caso de seu descumprimento.
            Educadores, pais, gestores e demais segmentos educativos, esforcemo-nos por falar a mesma linguagem no que diz respeito aos princípios axiológicos no espaço escolar. Resgatemos com entusiasmo a nossa missão de bem educar crianças e jovens, de sermos parâmetro positivo para eles. Parâmetro este construído não pela educação autoritária, omissa, nem permissiva. Mas alicerçada no respeito, no diálogo, no amor, na alteridade e no sentimento do
dever cumprido.

*Luiz Carlos Rodrigues da Silva: Mestre em Ciências da Educação, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, Arcádia Barra-Cordense e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

(6jun2013)

 

Artigo
O fantástico cérebro do adolescente
jornal Turma da Barra
 
Pais e professores precisam urgentemente aprender a lidar 
com a imprevisibilidade do adolescente, para que possam conviver em harmonia
 e atender os clamores de compreensão e amor
"

*Luiz Carlos e Celso Antunes

            A neurociência avança na descoberta de novas nuances no que diz respeito ao cérebro. Os estudos mais hodiernos sobre o cérebro humano, realizados com precisão cirúrgica por meio das análises de imagens obtidas com a Ressonância Magnética Funcional (RMF), modificam radicalmente o entendimento que se possuía sobre esse órgão que se destaca na promoção das ações humanas e entre todas essas mudanças, quando se pensa educação, interferem no cérebro do adolescente.
            Há poucas décadas acreditava-se que o cérebro humano era excessivamente plástico e mutável na infância, mas que por volta dos doze anos se consolidava. Nesta perspectiva, o cérebro do adolescente era praticamente igual ao cérebro do adulto. As diferenças de natureza comportamental entre ambos deviam-se basicamente à questão hormonal. Hoje sabemos e não podemos negar que os hormônios influenciam bastante na intempestividade adolescente.
            É imprescindível ressaltar que mudanças cerebrais provocam alterações comportamentais involuntárias e, nesta perícope, nenhum adolescente se transforma da forma como se transforma porque assim quer agir ou porque adora imitar colegas que assim agem, mas pela ação de processos orgânicos que não sabe explicar e não pode controlar. Portanto, antes de criticar e punir é compreender e ajudar.
            Como resultado de leituras e pesquisas na área da neurologia aplicadas à educação, propomos algumas práticas que podem basilar uma ação de cooperação neste complexo mundo do comportamento humano.

            1 – O cérebro das meninas desenvolve-se cerca de dois anos mais cedo que o cérebro de meninos e somente por volta dos vinte a vinte e dois anos é que esse desenvolvimento se equipara. Essa diferença claramente notada mostra que a maturidade chega bem mais cedo do lado das meninas e, muito antes que os meninos podem abrir mão de atento acompanhamento. De qualquer forma é sempre importante considerar o julgamento que o adolescente faz de si mesmo, respeitá-lo plenamente, ainda que sabendo que esse autojulgamento é sempre mais instável e, portanto, sujeito a bruscas alterações por parte dos meninos. Se a menina, entretanto, é coerente e mais cedo que o menino é também melhor arquiteta na capacidade em simular uma segurança que não sente e, por esse motivo, a presença do adulto sempre perguntando, interrogando, desafiando, propondo representa estratégia sutil de envolvimento e caminho sereno de abertura para “soltar” a vontade de falar e pedir orientação. É essencial que professores e pais ajudem os adolescentes a organizarem sua agenda, administrarem seu tempo e disponibilizarem-se em estar sempre prontos para ouvir, intervindo quando solicitado, mas é impossível esperar que a seriedade da condução dessa administração aconteça com igual intensidade em sexos diferentes;

            2 - De forma geral, no inicio da adolescência e até por volta dos 15 anos ainda crescem áreas cerebrais ligadas à linguagem, razão pela qual é a fase em que se percebe grandes progressos na capacidade de escrita e nos interesses pela leitura. Esse interesse, entretanto, estiola-se sem a ajuda de estímulos proporcionados por pais e professores que animem o adolescente à leitura, interrogue-os sobre o que estão lendo, despertem seus entusiasmos para a escrita, anime-os a organizar seus diários, que representam oportunidade excelente para acréscimo na qualidade da expressão e capacidade de reflexão através da conversa interior que tal prática impõe. Quando possível, é esse o grande momento para a aprendizagem de línguas estrangeiras.

            3 - Cérebros em mudança são sempre sensíveis a palavras, mas são ainda mais sensíveis a exemplos. Fornecer exemplo de ação digna e de pensamentos altruístas, exaltando essas qualidades. Motivá-los a falar sobre pessoas que admiram, constitui uma forma coerente de legitimar um exemplo ainda que fictício.

            4 - As rápidas e fenomenais transformações que ocorrem no córtex pré-frontal provocam intensa agitação que se manifesta pela extrema ousadia e imprudência geralmente associadas a comportamentos irresponsáveis, muito mais nas intenções que nas ações. Horrorizar-se diante de respostas dessa natureza de nada adianta, como adianta muito pouco buscar uma repressão direta. Em circunstâncias como essas é extremamente válido solicitar a ajuda na construção de regras consensuais e mostrar-se árbitro rigoroso em seu cumprimento. Uma coisa é o adolescente aceitar regra imposta pelo adulto, outra coisa é assumir os efeitos e sanções das regras que ele próprio foi chamado a construir. Ainda que se rebele com palavras, todo adolescente admira o adulto coerente, firme ao exigir o que sabe de sua parte cumprir.

            Pais e professores precisam urgentemente aprender a lidar com a imprevisibilidade do adolescente, para que possam conviver em harmonia e atender os clamores de compreensão e amor.

*Luiz Carlos Rodrigues da Silva: Mestre em Ciências da Educação, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, Arcádia Barra-Cordense e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda

*Celso Antunes: Mestre em Ciências Humanas, especialista em Inteligências e Cognição