Prêmio
Poeta Brito saúda poeta Kissyan
jornal Turma da Barra


Kissyan declamando sua poesia
no festival de São Luís

 

O poeta barra-cordense Kissian Castro ganhou prêmio 
no primeiro Concurso de Poesia "Maranhão Sobrinho",
promovido pelo movimento literário Papoético.
Kissian concorreu com mais de cem poetas. 
Na seletiva ficou entre os 21 melhores poetas e na grande final,
que foi realizada na noite de quinta 31 de maio no Teatro Praia Grande - Reviver,
ganhou o segundo lugar abocanhando R$ 500 de prêmios, mais livros, cds e revistas

Poética
Kissyan Castro

Se de repente
um espelho surgir
das palavras,
não é do poema o reflexo.

O poema não se acha
enchendo de letras
uma página qualquer.

O poema não se cumpre
no estômago de um papel
que se possa rasgar.

O poema é um paladar
que se serve de gente,
da vida que a todos afeta.

É voz que convoca
os destroços carnais
que lhe deram origem.

Todo poema está para ser.
O que vai à página
somos nós mesmos.
Não o corpo inteiro,
apenas o que nos semeia:
um eriçar de pêlos,
alho nos olhos,
a borra do café
esculpindo a noite,
elementos em fúria
se fundindo na lixeira,
enquanto o cão
vira a lata
da Via Láctea.

O poema – como a águia –
chega a amputar a parte aprisionada
para poder voar,
ainda que possua
o mesmo itinerário
e com os mesmos sapatos
caminhe em direção
à mesma palavra,
ultrapasse a pele como suor
ou punhal.
Soco sem punho,
dor sem diagnóstico.

Puro alumbramento
na manhã fugaz,
feito odor, branca
gota jorrada
das tetas do sol.

O poema lido é holocausto aceso:
consome o vocábulo
e abre estábulos.

(Quem sabe de repente
sopre a tarde uma folha seca
pela fresta da porta da cozinha,
e um clarão lhe cegue.)

A folha diz da árvore
o quanto nela
a árvore está.

Assim o homem que
de sua árvore
deixa cair um poema.

Não como fruta
que apodrece
sob nossos pés.

Mas como o pecado
de não comê-la.

Poema concebido
como folhas
no paladar do vento

Um poema
que alimente o tempo.

(TB2jun2012)