Artigo
Rio Corda: Salve-o quem puder
jornal Turma da Barra

 


João Pedro Filho

 

Sobre o rio Corda: "a audácia e a vaidade desses infratores estão cada vez maiores. Demonstrando uma total indiferença pelas leis, desmatam e aterram até a lâmina d’água, depois constroem suas suntuosas casas (muitas vezes de gosto duvidoso), bem próximas ao rio, como querendo garantir que todos que por ali passem, vejam o quão bonita é a sua nova chácara. Mas a que preço?

*João Pedro Filho

            A vaidade mata! Quem disso ainda não sabe, se for atento aprende num passeio de lancha numa das sete maravilhas do Maranhão: nosso querido rio Corda. E não falo de ouvir falar.
            Aproveitando a chegada de filhos e sobrinha que moram fora, eu, que nasci e moro na Barra praticamente a vida inteira, resolvi levá-los ao que a nossa cidade tem de melhor. Pegamos uma embarcação ali na beira-rio, descemos até o Guaja e depois voltamos subindo até a Boa Vista, e depois de volta para beira-rio. Uma curta viagem, agradabilíssima e renovadora, que costumar chamar a atenção pela exuberância da natureza, mas que agora tem oferecido também essa dolorosa lição.
            Atualmente, quem visita o maior patrimônio da cidade, além das maravilhas com que a natureza nos presenteou, também enxerga como nós temos tratado nosso rio: com ocupações crescentes e irregulares, que destroem a mata ciliar e habitats naturais, provocando erosão e assoreamento do leito, prejudicando também a qualidade da água.
            O que, infelizmente, não chega a ser novidade. Entretanto, agora, a audácia e a vaidade desses infratores estão cada vez maiores. Demonstrando uma total indiferença pelas leis, desmatam e aterram até a lâmina d’água, depois constroem suas suntuosas casas (muitas vezes de gosto duvidoso), bem próximas ao rio, como querendo garantir que todos que por ali passem, vejam o quão bonita é a sua nova chácara. Mas a que preço?
            É sabido que o crescimento econômico do Brasil nos últimos anos também chegou em nossa cidade, várias pessoas se beneficiaram direta e indiretamente. E isso é ótimo! Mas transformar esses monstruosos castelos de concreto e vaidade em símbolos de ascensão social e econômica, além de brega, é degradante. Pois a verdade é que se o Rio Corda continuar neste estado de degradação visivelmente acelerado (piorado também pelos dois últimos anos de seca), especialmente nesta última década veremos o seu fim, como muitos rios brasileiros mortos afogados nos fluxos de esgotos.
            Façam um esforço! Imaginem a Barra do Corda sem rio, referência fundamental da nossa história, importante como recurso econômico (turismo, agricultura, pesca) e como apreço afetivos entre as relações homem e meio ambiente. Eu não consigo imaginar! O Rio Corda faz parte da memória da nossa cidade, de todos os barracordenses, por isso peço a quem puder, salvem-no! Um trabalho de manejo ambiental e implementação de políticas públicas é urgente, para que nós continuemos a desfrutar das maravilhas desse rio.

*João Pedro Freitas Fillho  é agrônomo e ex-secretário municipal de Agricultura. Mora em Barra do Corda (MA)

 

(TB3fev2014)