Hotel da Aguir mais antigo de Barra do Corda
busca reforma

jornal Turma da Barra

 


Hotel D’Aguir

 

 

            O hotel Vitória, também conhecido como da Aguir, é o mais antigo de Barra do Corda e ainda conserva o jeito simples de atrair fregueses. 
            O banheiro é coletivo, os quartos não têm ar-condicionado nem freezers, mas o calor humano é uma herança que a atual gerente, Zélia, filha da dona Aguir de criação quer manter a todo custo.
            A reportagem do TB esteve no hotel d’Aguir, onde um dos maiores antropólogos do mundo, o norte-americano William Crocker, faz questão de se hospedar desde a década de 60. Mas naquele hotel já se hospedou muita gente importante como juízes, promotores, médicos e servidores do governo maranhense. 

            O engenheiro-escritor Cezar Braga morou no hotel e nos relata em crônica publicada no TB em 2005 como era o hotel e a rua Aarão Brito, no centro maranhense.


Hotel D’Aguir
 


Terraço do hotel com plantas ornamentais

            Estamos no interior do hotel d'Aguir (ou hotel Vitória). A Zélia, gerente do hotel, nos disse que há 16 quartos ao todo. Nesse terraço, ela adorna com essas plantas que chamam a atenção pela beleza.
            O quarto que o antropólogo William Crocker gosta, fica no fundo, é o último à esquerda. É bem perto de um pequeno quintal, onde dona Zélia cria aves.
            Ah!... Uma publicidadezinha: A diária até o final do ano era de 20 reais. Mas a gerente foi logo dizendo: - No próximo ano, vamos ter que reajustar a diária.
Mas o que Zélia mais quer é reformar o hotel, ela nos disse que faz quatro anos que dona Aguir partiu para o céu. 

 


Estante do hotel


Hotel D’Aguir


Zélia atual gerente do hotel

 

O Hotel Vitória

*Cezar Braga

Tudo escuro. A energia, gerada por motor a óleo, sempre era desligada às 22h. Detalhe aprendido no momento da chegada. 

Estava chegando não apenas em outra cidade, mas em uma cidade absolutamente desconhecida.

No fundo da minha alma, eu tinha não consciência de que estava no liminar de uma vida nova e de novos sentimentos e amizades. Não desconfiava, nem de longe, que esta cidade seria um dia o lugar que eu escolheria para viver e que me reservaria belas e profundas emoções. 

O Hotel Vitória foi minha primeira morada em Barra do Corda. Lá cheguei em uma madrugada de setembro. Não havia sido feito reserva, mas a construtora em que trabalhava já vinha ocupando o quarto número um deste o início da obra de construção do prédio do Banco do Brasil, que hoje é o Banco do Nordeste e foi onde me instalei.

Muito bem recebido, logo ocupei o quarto e cansado pela viagem extenuante de Teresina até ali, dormi sem ter tido tempo pensar em coisa alguma.

Acordei cedo, estava em um lugar estranho, não era minha cama, não era meu quarto, não era minha casa, mesmo assim não me espantei...eu sabia onde estava.

Foi com preguiça que abri meus olhos... era preciso tomar um banho, escovar os dentes, vestir uma roupa usual, fosse qual fosse e adentrar no mundo desconhecido da cidade desconhecida... mas primeiro tinha que descobrir o banheiro, o hotel...

Levantei da cama, vesti uma calça, tirei da toalha, o sabonete, coloquei pasta na escova e abri a porta do quarto...

Na frente do quarto, uma mesa posta para o café. Uma longa varanda à esquerda circundava toda uma área descoberta com muitas plantas, que tornava o interior do hotel bem agradável. A proprietária, D. Aguida, com o aquele jeito bonachão de mãezona, me cumprimentou, perguntou se tinha eu dormido bem e depois de ouvir que sim, me ensinou onde eram os banheiros. 

Ficavam no fim da varanda, me dirigi para lá, cruzando com um ou outro hóspede e fiz meu asseio matinal. Voltei ao quarto, me troquei e fui tomar café, conhecer o hotel e pedir informações.

O Hotel era um prédio residencial, com algumas adaptações, o que o tornava mais aconchegante. Uma sala na entrada com sofás e um quadro do Coração de Jesus, logo depois a sala de refeição com as mesas distribuídas uniformemente, toalhas limpas, a louça mostrava a simplicidade do café – xícaras, açucareiro, paliteiro, pratinho e talher. À direita um pequeno corredor e chegávamos à cozinha, ampla e bem arejada e tendo como ponto alto o asseio, as panelas reluziam, as funcionárias com aventais coloridos se movimentavam sorridentes e a D. Aguida me mostrava tudo com alegria e boa vontade.

Tomei café com pão e manteiga e saí para ver a cidade ou pelo menos, naquele instante, aquela rua. 

O prédio, uma construção simples, bem conservado e simpático, ficava e está até na Rua Arão Brito e mantém o mesmo visual, salvo mudança de cores.

Em frente ao hotel morava o Seu Milton Aquino e sua simpática esposa, a Dona Henriqueta, que os vim conhecer com o passar dos dias... que boas recordações me trazem as conversas no fim de tarde, entremeadas com umas cerpinhas!

Conheci também a Marilan, o Beto Novaes, filhos do Seu Domingos Novaes e que moravam quase vizinho ao hotel e que tinha um comércio na esquina das ruas Frederico Figueiras e José Salomão, onde eu iria passar nos fins de tarde para uma prosa descontraída. 

Logo conheci, pela convivência no hotel a Dra. Jesus, Promotora de Justiça; o Alcione Guimarães, professor do CNEC e depois Prefeito da cidade e ainda, pelo fato de lá morar conheci o Dr. Clovis Carvalho, Juiz de Direito; o Fernando Falcão, que se tornaria prefeito municipal, deputado federal e um dos grandes políticos do Maranhão e que com comecei a beber as primeiras pingas do Bar da Vitorina.

O Hotel Vitória, que resiste às modernidades do tempo, com o carisma e a boa acolhida de sua proprietária se mantém na ativa e D. Aguida me contava que quando criança era banhada no mesmo pátio que vi pela manhã naquele setembro marcante, por sua madrinha e depois levada nos braços para uma mesa e lá chorava enquanto seus cabelos eram penteados e a pior parte chegava... a hora do talco. 

O Hotel foi, sem sombra de dúvidas, primordial para minha permanência na cidade, pois foi de lá que comecei a gostar de Barra do Corda. 

Foi de lá que saí para o primeiro banho no Mearim, foi de lá que saí para as conversas no fim de tarde com o historiador Sidney Milhomem, no seu comércio na praça melo Uchoa, foi de lá que saí para o primeiro jantar na Churrascaria Goretti, foi de lá que saí para a primeira visita ao Morro do Calvário, foi de lá que saí para, assistir no Cine Canecão, o primeiro filme na nova cidade, foi de lá que saí para conhecer as ruas e assim conhecer um pouco do seu povo, pois as ruas, se não vistas como definidas nos dicionários – espaço entre casas e povoações por onde se anda e passeia – podem nos levar conhecer sua gente.

*Cezar Braga é presidente da ABC - Arcádia Barra-Cordense
cezarbraga@hotmail.com

 

 

 

(TB6jan2013)