Artigo
Tudo é culpa do Sarney
 jornal Turma da Barra

*Giancarlos Lima


            Lendo o artigo “Temos o Maranhão que merecemos?” de Renilton Barros, fiquei a pensar em quanto essa oligarquia tem nos feito sofrer ao longo dos últimos 45 anos.
            Em 1966, ano em que Sarney assumiu o governo estadual, o Maranhão não era muito diferente do que é hoje. Principalmente quando se pensa em distribuição de renda, porcentagem de miseráveis e índice de analfabetismo.
            É verdade que houve avanço em vários setores da administração pública, mas se comparado a outros estados, nosso desempenho é vergonhoso. A elevação do PIB e da renda per capta foi um reflexo muito mais das decisões do Planalto Central que de práticas econômicas cultivadas no Palácio dos Leões.
            A despeito desse avanço, continuamos sendo motivo de piada nos estados do sul-sudeste. Nossos municípios ainda são os últimos no ranking de IDH. Nossas escolas se destacam no ENEM como as piores do país (com raríssimas exceções).
            A saúde, principalmente nas cidades do interior, está à beira do caos. Hospitais sucateados, programas não implantados, profissionais mal treinados e superlotação das unidades são a regra. Casos como o da gestante barra-cordense que morreu em Imperatriz são vistos com frequência em outras cidades maranhenses.
            A malha rodoviária no Maranhão é lembrada como uma das piores do Brasil. A MA-012 tornou-se um “meio de vida” para mal-feitores de nossa região. Mesmo nas rodovias onde existe asfalto, o estado de conservação é péssimo. Rodovia bem sinalizada, com asfalto e acostamento íntegros são difíceis de se encontrar por aqui.
            Mas fica a pergunta: será que a culpa é mesmo só da família Sarney? Até o mês passado 274 prefeitos haviam sido cassados no Brasil, 50 só no Piauí. A maioria das cassações foi motivada por desvios de verbas e falta de comprovação do uso do dinheiro público.
            O Maranhão não sente muita inveja do Piauí quanto o assunto é corrupção nas prefeituras. Muitos prefeitos “caíram” e outros tantos se mantêm na corda bamba, por conta de uma sucessão de decisões judiciais que garantem a permanência nas prefeituras. Não fosse a promiscuidade entre Legislativo, Executivo e Judiciário os números poderiam ser bem mais assustadores.
            Dizer que a culpa é dos Sarney é uma forma que muitos encontraram de desviar a nossa atenção. Todas as mazelas deste Estado são postas na conta de uma única família. Tomemos cuidados pra não entrarmos nessa alienação política e deixarmos de dividir as responsabilidades.
            Nosso Estado não parou no tempo simplesmente pelo domínio de um clã por quase meio século, mas pela sórdida ação das quadrilhas que se instalaram em grande parte das prefeituras maranhenses.

*Giancarlos de Sousa Lima é médico, mora em Teresina (PI)

(TB/
29nov/2011)

 

 

Artigo
A guerra é aqui
 jornal Turma da Barra

*Giancarlos Lima


            O assassinato tornou-se rotina nas grandes metrópoles brasileiras e vem se “popularizando” no interior do país. Em média 140 pessoas são assassinadas no Brasil todos os dias.  A reportagem de capa da revista Veja desta semana descreve a multiplicação desse crime cada vez mais comum e cada dia mais impune.
            O texto de Kalleo Coura é chocante pela crueldade, frieza e falta de remorso presente na maioria dos depoimentos. A reportagem aponta ainda para a mudança na distribuição territorial dos crimes. Houve diminuição considerável no Sudeste e aumento exponencial no Norte-Nordeste.
            Na nossa região os índices são alarmantes. Em Alagoas a situação está fora de controle. A capital Maceió é a que registra o mais alto número de assassinatos por 100 mil habitantes. Nos últimos dias as principais vítimas foram os moradores de rua.
            O sociólogo Júlio Jacobo, em seu estudo intitulado de Mapa da Violência, mostrou que nas cidades do interior o número de assassinatos por 100 mil pessoas passou de 13,5 para 18,5 em dez anos (1997 a 2007). O mesmo estudo mostrou que o Maranhão teve a maior média de crescimento do número de homicídios. Em uma década o acréscimo foi de 188,4%. Na semana passada 18 detentos engordaram nossa estatística ao serem barbaramente mortos no presídio de Pedrinhas.
            A incapacidade da polícia de investigar uma quantidade absurda de mortes é consequência da falta de investimento em segurança pública. O resultado disso foi o isolamento do cidadão de bem em verdadeiras prisões domiciliares enquanto que os homicidas permanecem livres. A sensação de confinamento é mais presente entre os moradores de condomínios que entre os hospedes dos presídios brasileiros.
            A culpa dessa escalada de crimes, segundo as autoridades, recai sobre o acelerado desenvolvimento da região Nordeste nos últimos anos. As cidades do interior atraíram investimentos e geraram empregos e renda. Com isso, tornaram-se atraentes para o narcotráfico. Fica a pergunta: desenvolvimento tem que passar necessariamente por aumento de criminalidade?
            Nos debates sobre desenvolvimento a palavra mais presente é sustentabilidade. Realmente não se admite mais crescer sem preservar o meio ambiente. No entanto, é preciso que os gestores entendam que, antes dos recursos naturais, precisamos preservar é a vida do trabalhador que paga impostos e ajuda o país crescer.

*Giancarlos de Sousa Lima é médico, mora em Teresina (PI)

(TB/
18nov/2010)

 

 

Artigo
Pra inglês ver
 jornal Turma da Barra

*Giancarlos Lima


            Após a partida da família real portuguesa para o Brasil, em decorrência do bloqueio continental imposto por Napoleão Bonaparte à Europa, o Rei pediu aos ingleses que tomassem conta de Portugal enquanto ele estivesse aqui.
            Os ingleses assumiram então o comando da máquina militar portuguesa na luta conjunta contra a França e, de imediato, depararam-se com a grande desorganização daquele povo. Os ingleses eram metódicos, adoravam fazer leis e ter tudo por escrito e bem organizado, ao contrário dos portugueses que viviam numa base prática e sem preocupação com a ordem.
            Em decorrência do domínio inglês, os portugueses viram-se obrigados a mudar seus hábitos desleixados. Tiveram que organizar tudo muito bem e por escrito, para mostrar aos ingleses que estava tudo perfeito. Na prática, a situação era bem diferente. As regras não eram cumpridas pela população que nem sequer estava preocupada em acatar ordens ou conselhos de estrangeiros.
            A expressão “pra inglês ver” nasce precisamente dos portugueses que escreviam relatórios e leis sobre coisas que deixariam os ingleses satisfeitos. Se viesse uma ordem para construir uma ponte, os portugueses colocavam algumas toras de madeira e pedra no local da obra para dar a idéia que o trabalho estaria por começar.
            Portugal retomou a sua soberania e os ingleses já não exercem nenhum tipo de comando sobre aquele povo. Os séculos se passaram, mas o mau costume dos nossos colonizadores atravessou o atlântico e encontrou terreno fértil no Brasil.
            O bom exemplo disso pode ser visto no site da Prefeitura Municipal de Barra do Corda. Nele consta um “plano de ações 2009”. Uma espécie de conjunto de promessas a serem executadas no mandato que se iniciava.
            Coisa pra inglês ver.
            Na área da cultura a sétima meta era: “Ampliar o apoio dado à Casa do Artesão, com vistas à valorização e reconhecimento do seu trabalho”. Quem se responsabilizou por cumprir este item não foi a secretaria de Cultura, mas a de Ação Social. O “apoio” veio através do corte da esmola que era dada àquela casa.
            Um governo do Partido Verde que derruba árvores centenárias não causa espanto em atentar contra a cultura. Ninguém defende aquilo que não fez parte de sua formação. O município, porém necessita estimular a atividade criativa de seus artistas. Nosso patrimônio material pode se deteriorar, nossos casarões podem desabar, mas nosso patrimônio cultural permanecerá vivo quando já não estivermos neste mundo.
            O Papa João Paulo II certa vez disse que "a cultura não deve sofrer nenhuma coerção por parte do poder, político ou econômico, mas ser ajudada por todas as formas de iniciativa pública e privada conforme a tradição e o espírito autêntico de cada povo". Um governo que assume (por escrito) o compromisso de fomentar a cultura e corta o aluguel da Casa do Artesão mostra estar realmente com os pés no chão. Todos os quatro.

*Giancarlos de Sousa Lima é médico, mora em Teresina (PI)

(TB/
4nov/2010)

Nota da Redação: Veja a página do site da prefeitura com o Plano de Ações do atual governo municipal:  Clique aqui

 

 

Artigo
Um mês de idiotice
 jornal Turma da Barra

*Giancarlos Lima


            A campanha presidencial deste ano vai entrar para a história como a de mais baixo nível. Nunca se viu tanta futilidade ser discutida em horário político. Depois de apurados os votos do primeiro turno, imaginou-se que a disputa seria em nível mais elevado e as questões pendentes seriam, agora, abordadas com mais profundidade. Ledo engano.
            O ar encheu-se de discursos, e vice-versa. Na primeira semana, por conta da polêmica sobre o aborto, a disputa foi entre quem era mais “religioso”. Candidato que há anos não sabia o que era uma missa ou culto, de uma hora pra outra, não perdia uma celebração religiosa. Participaram, em uma semana, daquilo que em toda a carreira política não tinham participado. Os candidatos procuraram adaptar posturas e discursos à conveniência dos locais e do público.
            A segunda semana foi marcada pela expectativa da convenção do partido verde. Deixaram-se as igrejas de lado e apegaram-se com a bandeira da sustentabilidade. Passaram de beatos a ativistas do Greenpeace. Cada um queria mostrar mais proximidade com a família do Chico Mendes. Esqueceram os pastores e padres para aparecer ao lado dos familiares do finado sindicalista. Depois que o PV preferiu ficar em cima do muro a maquiagem verde começou a desbotar no rosto de petistas e tucanos.
            Na terceira semana o nível desceu mais ainda. O debate agora era em torno de qual objeto teria acertado a careca de José Serra. Teria sido uma bola de papel ou um rolo de fita adesiva? O episódio teve versões pra todos os gostos. O debate repercutiu na internet e em todos os canais de TV. Chegaram ao ponto de convocar o perito Ricardo Molina para analisar as imagens. Até o presidente da República deu a sua versão (infeliz mais uma vez) do fato. José Serra chegou a realizar uma ressonância magnética e consultou um neurologista para descartar uma lesão mais grave. O curioso é que nem a pele foi arranhada.
            Revoltante foi lembrar que em julho deste ano, um casal peregrinou por seis hospitais de Belém em busca de um neurocirurgião e um aparelho de tomografia. Carregavam, nos braços, a filha de 2 anos com um tiro na cabeça. A assistência que sobrou para o candidato falta à grande maioria dos brasileiros.
            O debate no segundo turno foi altamente improdutivo e não lançou luzes sobre as questões essenciais. Custa-me acreditar que algum eleitor indeciso tenha formado sua opinião pelo que viu e ouviu no mês de outubro. A falta de compromisso com o nível da campanha foi um desrespeito aos leitores e um desserviço à democracia.
            Esperamos, mesmo com ceticismo, que aquele que sair vencedor no domingo deixe de lado as intrigas partidárias e se comprometa com as reformas estruturais necessárias para alavancar nosso desenvolvimento econômico, social e principalmente moral.

*Giancarlos de Sousa Lima é médico, mora em Teresina (PI)

(TB/
2
8out/2010)

 

 

Artigo
Pra não morrer do coração
 jornal Turma da Barra

*Giancarlos Lima


            Em 1947, o laboratório Bell começou a desenvolver nos EUA um sistema telefônico de alta capacidade interligado por diversas antenas. Cada antena era considerada uma célula e por esse motivo o aparelho ganhou o nome de celular. No dia 3 de abril de 1973, foi realizada em Nova York a primeira ligação via celular. No Brasil, o sistema foi lançado em 1990, no Rio de Janeiro.
            A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou no mês passado que o Brasil chegou a 189 milhões de linhas móveis (80% pré-pagas). O estado do Maranhão foi o que apresentou maior crescimento da teledensidade (número de celulares por 100 habitantes).
            À medida que a tecnologia se popularizou surgiram as discussões sobre os riscos do uso do celular. O aparelho foi relacionado a acidentes de trânsito, desastres aéreos, interferência em aparelhos médicos e até surgimento de câncer.
            Estudos médicos comprovaram que usar o celular ao volante aumenta o risco de acidentes. Isso acontece porque as partes do cérebro que usamos para dirigir ficam divididas entre o controle do carro e a conversa. Por conta disso, em 2002, o DENATRAN proibiu os motoristas de usarem o celular enquanto dirigem. Nos aviões, o celular foi proibido pela possibilidade de interferência nos sistemas de comunicação entre os pilotos e o controle de tráfego aéreo.
            Em hospitais, o telefone móvel foi visto como uma ameaça ao bom funcionamento de aparelhos fundamentais na manutenção da vida dos pacientes graves. Um monitor cardíaco pode sofrer interferência de um celular mesmo este não esteja sendo usado. Isso acontece porque ocorre transmissão de ondas eletromagnéticas entre o celular e a torre a todo o momento.
            Há ainda a preocupação de que a radiação do celular possa apresentar perigos à saúde. Isso porque os aparelhos usam ondas eletromagnéticas na faixa de microondas. Estudos da Organização Mundial de Saúde concluíram que danos importantes à saúde são bastante improváveis de acontecer e nenhum cientista sério aposta numa relação de causa e efeito entre o celular e a ocorrência de câncer. Porém, algumas nações como Alemanha e Suécia recomendam aos seus cidadãos que minimizem os riscos da radiação através da diminuição do tempo de uso do celular.
            Na Barra, o uso do celular vem sendo apontado como fator de risco para infarto do miocárdio. Vários usuários, principalmente os da TIM, podem sofrer “ataque do coração” ao tentarem fazer ou receber chamadas. O bom humor simplesmente evapora quando alguém precisa da operadora italiana. Apesar das reclamações dos clientes e de notas publicadas neste site, o serviço continua péssimo. Em reportagem sobre as dez empresas que deram mais trabalho ao Procon, publicada pela revista Exame no início deste mês, a TIM ocupava o 5° lugar em reclamações.
            Felizmente, a população de nossa cidade possui outras três opções de serviço de telefonia móvel e com a portabilidade pode-se mudar de operadora mantendo-se o mesmo número. Como dizia Sam Walton, o fundador do Wal-Mart, “clientes podem demitir todos de uma empresa, do alto executivo para baixo, simplesmente gastando seu dinheiro em algum outro lugar”.

*Giancarlos de Sousa Lima é médico, mora em Teresina (PI)

(TB/
21out/2010)