Artigo
Frederico, o grande
jornal Turma da Barra

 


Túmulo de Frederico Figueira
 (1849 - 1924)

Frederico Pereira de Sá Figueira morreu com 75 anos. 
Conta-se que a cidade de Barra do Corda parou naquele 8 de julho de 1924 
para se despedir do “velho paladino da imprensa”, sublinha Carlota Carvalho no livro ‘O Sertão’. “Homem extraordinário” classificou Dunsche de Abranches no livro “A esfinge de Grajaú.” O professor Galeno Brandes registra em sua obra “Barra do Corda na história do Maranhão” que Figueira era “o príncipe do desprendimento”. O governador Luís Domingues disse: “é um predestinado.”

*Heider Moraes

      Na história barra-cordense há poucos, muito poucos nomes em que se possa identificar como figuras exponenciais, para figurarem como verdadeiros fundadores de Barra do Corda. Um deles chama-se Frederico Figueira, um homem de máxima grandeza na acepção melhor da palavra.
      Pois bem, na Arcádia Barra-Cordense tenho-o como meu patrono, um padrinho que muito me inspira, a começar por ter sido jornalista. Anos e anos foi repórter, redator-chefe e editor do mais longevo jornal que circulou entre os barra-cordenses. Chamava-se ‘O Norte’, fundado em novembro de 1888, no final do século 19, que duraria quase meio século. Figueira o comandou por 35 anos. Uma vida.
      Na verdade, Figueira é parte de uma geração fenomenal. Uma geração de ouro, que conseguiu a proeza de unir a parte intelectual, política e econômica. Despontam, em seu tempo, além dele próprio, nomes como de Isaac Martins, Francisco de Melo Albuquerque, Epifânio Moreira e Antonio Rocha Lima, entre outros que praticamente na totalidade quase nada sabemos do que fizeram, mas o pouco é o bastante para dizer que legaram uma vasta influência cultural.
      Essa geração de ouro fundou jornais, escolas, bibliotecas, bandas de música e revelou muitos e muitos talentos, homens e mulheres da qualidade de um Maranhão Sobrinho, nosso poeta símbolo. Mas há ainda desconhecidos vates como Alfredo Assis de Castro e Mariana Luz.
        O primeiro foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, mas um e outro inexplicavelmente continuam desconhecidos até mesmo entre os barra-cordenses. E a lista é bem maior, muito maior.
      Um outro trabalho que tem a participação de Figueira é na educação. Por um bom tempo, ali no final do século 19 início do 20, Barra do Corda em termos de educação, tinha bons colégios, era um oásis no sertão maranhense, afirma Carlota Carvalho em ‘O Sertão’, livro bíblia sobre as cidades do centro-sul maranhense.
      Mas em sua vasta biografia, Figueira começa como vereador, torna-se depois promotor público, em seguida é um dos intendentes de Barra do Corda, cargo tal qual o de prefeito. Depois prossegue como deputado estadual, federal, presidente da Assembléia Legislativa e governador do Maranhão.
      Bem certo que na qualidade de governador maranhense passou pouco tempo. Foi governador interino nos idos de 1916, quando quase consegue emplacar a ferrovia que redimiria o sertão. Dos 584 quilômetros projetados para a ferrovia, 40 ainda foram iniciados entre Coroatá, que passaria por Barra do Corda, até Carolina.
      Diz-nos a história que Figueira era um homem magro, pequeno no físico e na altura, tinha pouco mais de 1m50, mas adquirira uma bela cultura, era persistente e detalhista em seus ideais tal qual um gigante na luta pelo desenvolvimento de Barra do Corda.
      Das longas viagens entre a capital Rio de Janeiro até Barra do Corda, entre navios e lanchas, uma certa feita trouxe mudas e mudas de palmeiras imperiais, certamente parentes daquelas que dom João VI plantara no Jardim Botânico na então capital brasileira. Figueira plantou-as em volta da praça Melo Uchoa.
      Há seu tempo foi um homem preocupado com ecologia. Por toda cidade barra-cordense plantara árvores. Além das palmeiras imperiais, tinha preferência por mudas de figueiras, árvores que atraem diversos tipos de passarinhos e transforma as ruas num palco de linguajar poético.
      Sabe-se também da existência de uma boa biblioteca que havia na cidade até a morte de Frederico Figueira. A biblioteca sumiu, desapareceu e não se sabe dos resquícios de notícias do que teria ocorrido com aquele acervo. O que foram feitos dos livros?
      Da mesma forma, quanto às edições do jornal O Norte, que eram publicados em tamanho tablóide e circulava pelas cidades do Maranhão, do Pará e do Goiás, hoje Tocantins. O jornal O Norte era lido na tocantinense cidade de Porto Nacional distante quase mil quilômetros da cidade cordina.
      Na biblioteca Benedito Leite em São Luís ainda é possível encontrar algumas edições d’O Norte. Naquelas páginas foram registradas matérias memoráveis e históricas sobre o ideário daquela geração, que era a derrubada do império e a instalação do regime republicano. Há também artigos sobre o massacre do Alto Alegre, em 1900, quando Barra do Corda se tornaria notícia em todo mundo.
      Frederico Figueira podemos dizer que foi além do seu tempo. A sua doação ao jornalismo, à educação e a cultura é exemplar. Durante 35 anos o jornal O Norte manteve-o em circulação, atravessou a alta do preço da importação do papel por efeito da primeira grande guerra mundial, papel que tinha preço regulado por moedas fortes.
      Em seu tempo, a educação barra-cordense também ganhou qualidade. Nomes como do Colégio Santa Cruz, do Instituto de Barra do Corda, do Externato Maranhense, do próprio Externato Frederico Figueira e a primeira escola pública José do Patrocínio Martins Jorge ficaram gravadas para sempre na história barra-cordense.
      Frederico Pereira de Sá Figueira morreu com 75 anos. Conta-se que a cidade de Barra do Corda parou naquele 8 de julho de 1924 para se despedir do “velho paladino da imprensa”, sublinha Carlota Carvalho no livro ‘O Sertão’. “Homem extraordinário” classificou Dunsche de Abranches no livro “A esfinge de Grajaú.” O professor Galeno Brandes registra em sua obra “Barra do Corda na história do Maranhão” que Figueira era “o príncipe do desprendimento”. O governador Luís Domingues disse: “é um predestinado.”
      Ainda menino, lembro das explicações da minha avó Luzia Araújo Franco sobre aquela sepultura no meio do Campo da Paz em forma de obelisco que guarda os restos mortais de Frederico Figueira. Minha avó discorreu sobre o jornalista que com respeito máximo chamava de ‘Coronel’. Ao relatar como foi a despedida de vida de Frederico Pereira de Sá Figueira disse: “Foi um dos maiores sepultamentos que eu vi em vida”. E completou: “Foi um grande homem.”

*Heider Moraes é jornalista

(TB2nov2012)