Artigo
Um delírio noturno
jornal Turma da Barra

"Os olhos de Roberto a desenhavam. Não pensava em despi-la, 
era realmente um anjo que ele via, ali no seu voou. Ela era sua. Quis que Ela existisse. Quis, como quem delira, quis como quem quer tudo"

*Fábio Mota

            Roberto estava convicto de que as estrelas lhe diziam alguma coisa, talvez sobre o amor de sua vida; afinal, é sempre preciso acreditar e sonhar que em algum dia ele vai chegar. Tudo o que se podia ver de dentro do pequeno quarto no segundo andar do edifício secular, no centro de São Luís, no Maranhão, era uma noite de estrelas vívidas e, um pouco abaixo dela uns telhados de algumas casas não antigas. Mas o colorido era a noite. 
            Uma noite que sorria. Sorria por que o coração de Roberto tinha arranjado um tempinho para sonhar. Sorria por que a poesia lhe fazia sorrir. Ao longe um sussurro de Engenheiros do Hawaii. Dentro do quarto, a televisão falava da situação dos dias na cidade. Sem, é claro, Roberto entender qualquer palavra do jornalista. Olha mais abaixo, nas calçadas, nas ruas, onde pessoas passam calmamente. Em silêncio. Junto delas somente o silêncio. Roberto percebeu estar só. – Ando só, pois só eu sei... – Lhe gritou ao longe Humberto Gessinger. 
            Toda vez que Roberto parecia piscar o olhar, a noite parecia se avivar mais diante de seu voou noturno. Além dos brilhos estrelares, por aquele céu infindo, sua amada se desenhava, vestida de anjo. Os olhos de Roberto a desenhavam. Não pensava em despi-la, era realmente um anjo que ele via, ali no seu voou. Ela era sua. Quis que Ela existisse. Quis, como quem delira, quis como quem quer tudo. – Como um pássaro voando. – Cumprimentou Humberto, quase inaudível. Robert sorriu um sorriso bobo.
            O tempo e Roberto tinham um acordo. Um acordo de que nenhum dos dois poderia se mover; e Roberto continuava o delírio noturno. Era um acordo selado com silêncios. Na calmaria do concordar. Um silêncio cheio de palavras. Roberto então curtiu o tempo parado, sentindo a liberdade lhe tocar. Sentia um super-homem, talvez. Quem sabe? Roberto desejou que sua amada parasse o sussurro de Humberto. Mas o sussurro se adiantava, outra vez. No deslumbre Roberto mistura os corpos seu e dela. Mas as mãos se comportam, as roupas vencem, as bocas nada cumprimentam. Roberto desejou não querer, mas escolhas ele não teve, e acabou imaginando Ela despida. Se agarrava à Ela na imensidão daquele vazio no firmamento. Houve um pequeno sumiço da gravidade. Humberto Gessinger se misturava ao abraço. Roberto quis eternizar o momento. Quis como quem tudo quer, como se aquele devaneio jamais fosse romper-se. Havia um vento leve riscando seu rosto que dava para o inefável horizonte estrelado. 
            No céu dos sonhos a imagem da amada com o vestido vermelho já decotado que Roberto adorava. Mesmo que seus olhos não olhassem para lugar algum. Não conseguiu acreditar, onde ele estaria indo? Roberto buscou algumas desculpas para a erotização. Roberto não quis que ela estivesse sexy. Quis tudo, menos isso. Quis por um instante que Ela não fosse Ela. Que fosse outra qualquer. Mas quis inutilmente. Roberto visitou suas memórias e viu lembranças, viu que seus sonhos antigos morriam. Quando começou a fazer as contas, de quanto tempo faltava, quanto tempo ele demoraria ainda na terra sem palmeiras, sem canto de sabiá. Desejou voltar a sua terra natal: Barra do Corda.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB15ago2012)

Artigo
Fla-Flu dentro da carverna
jornal Turma da Barra

"Ninguém se interessa por planos de governo; se existem, se são possíveis, se podem ser cobradas as suas execuções. Passamos o ano inteiro reclamando que não temos água nas torneiras, que não temos médicos nos hospitais etc., mas agora que temos uma chance de debater idéias, somos um Fluminense e Flamengo, que caminha em direção oposta, longe de uma luz."

*Fábio Mota

            As opiniões atordoantes dos barra-cordenses sobre a política municipal despertam, além de um profundo medo, um sentimento ainda mais perigoso e que se enraíza aos poucos: a descrença no ser humano. Debater idéias, afinal, não é tão legal. Porém nossa vida se arrasta pelas belas paisagens de ruas limpas que logo à frente se transformaram em infernos.
            Observo com um pouco mais de atenção as opiniões tomadas pelos cordinos, os depoimentos apaixonados, como se as eleições que se aproximam fossem um jogo do Fluminense contra o Flamengo. É difícil até de suportar, não consigo nem dizer nada sobre as cenas em que: não, não vou falar sobre. Sou um menino que ainda sonha. Que ainda ver o ridículo do rei. Acho que ainda dar para melhorar alguma coisa. Mas tenho medo, o medo está no meu sangue.
            Ninguém se interessa por planos de governo; se existem, se são possíveis, se podem ser cobradas as suas execuções. Passamos o ano inteiro reclamando que não temos água nas torneiras, que não temos médicos nos hospitais etc., mas agora que temos uma chance de debater idéias, somos um Fluminense e Flamengo, que caminha em direção oposta, longe de uma luz.
            Eu sei, somos feitos de divergências, mas pensar na população também é pensar em si próprio; agarrar-se à primeira oportunidade de se dar bem pode ser um sacrifício de outras opções talvez melhores. Ao escolher A ou B por paixão poderemos estar jogando fora uma oportunidade de crescimento.
            Não dar mais para ficar dizendo que políticos são todos iguais, que não tem jeito, que já está bom demais, que são ladrões ou mocinhos; há muita coisa que pode ser feita com o dinheiro que depositamos através de nossos impostos. Somos muito mais que pedintes de esmolas.
            Dentro da Caverna de Platão pode ser confortável, mas e se lá fora houver um sol que brilha fortemente? Nossos olhos poderão se incomodar no início, mas depois de um tempo quem sabe possamos ver que não existe apenas uma visão, talvez inúmeras interpretações.
            Lamento profundamente se não posso lhes oferecer coisa melhor, seus corações podem estar pedindo apenas um pouco mais de conforto. Mas consolação não era meu objetivo, não tenho soluções para nada, não tenho lições de vida, não tenho grandes exemplos, nem resultados nem saídas. Nada. A não ser dúvidas e medos.
            Mas a vida não é assim, um eterno aperfeiçoar-se? Um abismo que racha o nosso chão, que nos expõe às tragédias mais inimagináveis? E é isso que temos para se virar, para poder se fazer alguma coisa. Para tornar importante a vida, a dignidade; apesar da incerteza do amanhã.
            Se não sabemos valorizar a vida, o que poderíamos saber? Ainda acredito que podemos minimizar tantas dores que sentimos, podemos dividir o conforto que muitos poucos roubam para si. Suportamos coisas que estão além de nossos limites. É aqui, neste momento oportuno, eu acho, que devemos entrar para ressaltar o valor da vida.
            Barra do Corda, será que algum dia saberemos separar Fla-Flu de política, e política de literatura? Pois até agora, apenas inflamos nosso egos. 

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB8ago2012)

Artigo
Arte sem hierarquia
jornal Turma da Barra

*Fábio Mota

– Às vezes penso na arte sem hierarquia. Agora pense você como seria melhor. 

– Primeiro me explique onde está querendo chegar.

– Ora, apenas imagine a arte sem mecanismos de aferição de camada. A arte num ambiente em que não só o senhor Leonardo Da Vinci desapareça como a própria ideia de que certos pintores possam ser considerados gênios seja esquecida do meio artístico. Gênio na opinião de quem, para o ego de quem? Uma arte sem autoridades divinas. Quem poderia decretar que um pintor é gênio e outro não? 

– Mas você está cometendo um erro, pois a genialidade é evidente. Qualquer pessoa que entenda de arte percebe a diferença da pincelada, no primeiro olhar.

– Qualquer pessoa mesmo, será? Será que esse olhar, de uma pessoa entendida, não esteja dependente, adestrado pelos influentes, um olhar construído por gêneses de historiadores da arte, preconceituosos e impedidos de fazer um julgamento verdadeiro?

– Você não deve estar falando sério, não é? 

– Claro que falo sério, amigo. Na arte sem divisão, a brutalidade de todo juiz fica claramente exposta. Assim, poderemos saber de onde ele tira a ideia de decidir quem entra para a história, de quem servirá apenas de degrau para o crescimento de poucos. De onde vem essa autoridade?

– Os juizes são pessoas qualificadas, foi-lhes concedido esse poder, você não sabe? 

– Sei sim, claro, mas através do juiz talvez fale uma força de acordo com a história instituída por pessoas de certas ideologias duvidosas. Na verdade não existe o gênio. E muito menos existe o insignificante. São apenas categorias de uma estratégia de dominação e manutenção da ordem de imortais. Se assim não fosse, a maioria dos pintores da história mundial não seriam pessoas de famílias poderosas. 

– O quê? Agora você pirou de vez.

– Tudo bem, eu me rendo. Eu usava a arte apenas como uma metáfora, eu estava falando de outra coisa, estou com outro assunto na cabeça. 

– Nossa, que alívio! De início, eu achava que você falava de arte, mas depois percebi que seu pensamento está sob outras influências.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB25jul2012)

Artigo
Um contraste na ABL
jornal Turma da Barra

A comemoração é justa e o acontecimento necessário, 
pois a Casa representa um incentivo à leitura e possibilita,
 assim, uma esperança para a população, concebendo uma expectativa para um povo
 que vive ainda na escuridão da era do coronelismo

*Fábio Mota

            A Academia Barra-Cordense de Letras completa 20 anos, e faz neste 28 de julho uma festa para comemorar a data, com posse de membro e lançamento de livros e revistas.
           
A comemoração é justa e o acontecimento necessário, pois a Casa representa um incentivo à leitura e possibilita, assim, uma esperança para a população, concebendo uma expectativa para um povo que vive ainda na escuridão da era do coronelismo.
           
Uma esperança que, no entanto, começa a despertar suspeitas no momento em que se observa as características da organização da mais recente festa da ABL, em 2011, onde foram empossados cinco novos membros. 
           
A festa estava bonita e elegante, chique e requintada, coisa de primeiro mundo. O que seria admirável se toda a grandeza exibida não fosse um contraste com a realidade da Casa e com a realidade da pobre população de Barra do Corda, que com todo esse aparato foi claramente excluída da solenidade.
           
Preparar uma festa com muita ostentação seria digno de elogios se a ABL não tivesse necessitando de prateleiras para sua biblioteca. Preparar uma festa para quem pode comprar um terno seria digno de elogios se toda a população cordina pudesse comprar uma roupa com tal requinte.
           
Que essa festa de comemoração de 20 anos possa ser bonita como pede a ocasião, mas que não seja restrita a uma classe social. Que possa existir luxo, mas que ele não seja mais importante que as pequenas necessidades da Academia.
           
Por que mostrar uma falsa realidade e ainda afastar pessoas?

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB18jul2012)

Artigo
Marionetes na política
jornal Turma da Barra

Em Barra do Corda, aceitamos como alienados os rumos que as coisas têm tomado, 
as brigas na “justiça” pelo poder no município; assistimos incrédulos a brincadeira
que se transformou a nossa vida municipal

*Fábio Mota

            Não é difícil perceber o real significado da participação política, ela tem se mostrado, desde a Grécia antiga até atualmente, fundamental para o crescimento da sociedade. Mas para quem vive num Estado como o Maranhão, ainda mais numa cidade como Barra do Corda, será que é sábio tomar a decisão de se posicionar politicamente, de um lado ou de outro?
            Certamente se faz necessária a participação política, mas como fazer isso numa sociedade onde os direitos são subjugados pelo poder econômico, e a cobrança do efetivo exercício dos deveres das instituições políticas pode significar a nossa vida?
            Em Barra do Corda, aceitamos como alienados os rumos que as coisas têm tomado, as brigas na “justiça” pelo poder no município; assistimos incrédulos a brincadeira que se transformou a nossa vida municipal, o desrespeito por nossas contribuições econômicas, em inúmeros tributos, arrancadas de nós sem dó ou piedade e jogados no lixo.
            Perguntamos, quando olhamos para um lado e para o outro e não vemos esperança, a quem devemos recorrer? Mas a justiça nos responde, depois de dois anos, quando responde, anulando um concurso sem anunciar quem são os culpados, sem dizer quem deverá pagar pelos transtornos causados aos candidatos que estudaram e se preparam para a prova.
            Por isso é indispensável, é necessária a participação popular nas decisões políticas do lugar onde vivemos, mas antes disso precisamos nos educar; precisamos fazer uma reforma geral, que certamente será lenta, mas que precisa ser mantida em desenvolvimento, pois ainda não sabemos votar, não temos condições para isso, mesmo se tivéssemos candidatos para escolher.
            Talvez um dia, quando deixarmos de ser marionetes do poder econômico de alguns, quem sabe aprendamos a ser eleitores, capazes de ceder à sociedade alguns candidatos merecedores de nossos votos. E, como conseqüência dessa evolução, se não for pedir demais, talvez sejamos capazes de criar uma justiça que funcione para pobres também.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB11jul2012)

Artigo
O barra-cordense decidiu mudar
jornal Turma da Barra

*Fábio Mota

            Decidimos mudar. Não seremos mais pessoas que não mudam nem que a vaca tussa, e agora vamos fazer a nossa história, não mais retornaremos aos tempos medievais, nunca mais, agora seremos responsáveis pelos nossos próprios passos.
            Não acreditamos mais em palavras repetidas, discursos plagiados dos piores escritores.
            Os livros nos dizem que estávamos enganados por nós próprios. Agora vamos mais às livrarias, que nunca deixaram de existir apesar do baixo preço do livro digital.
            Cansamos de respirar o cheiro do esgoto que jogávamos nas ruas. Nossa respiração agora merece coisa melhor. Estamos aprendendo a ouvir música. Nunca mais qualquer barulho nos deixará felizes. De início, sabemos que não será fácil, mas em breve nos acostumaremos, pois pretendemos ser mais sensíveis.
            Apenas uma coisa continuará igual: continuaremos sendo barra-cordenses porque continuamos amando essa terra abençoada pela natureza! Nossa terra tem palmeiras.
            Temos saudades quando delas nos afastamos. Achamos que a vida fica sem graça, principalmente à noite ou ainda no raiar do dia quando os pardais começam a cantar nos galhos das mangueiras.
            Sabemos agora que aquele político tão amado só nos deu o que pedimos: festa o ano inteiro, só nos fez um povo alegre sem precisar gastar o nosso dinheiro empregado através de impostos que tomavam rumos desconhecidos. Vemos agora que fomos injustos por muito tempo para com essas pessoas que nos fizeram tanto bem.
            Nunca existiu tragédia alguma, a não serem as coisas produzidas por nossa ignorância.
            Mas já passa o tempo em que éramos mestres em acreditar em um messias barra-cordense, sabemos que temos que ajudar na construção de uma cidade melhor, ao menos limpando a frente de casa.
            Ah, e ainda temos outra novidade: a polícia não tem mais que voltar inúmeras vezes para desligar o som do carro do idiota bêbado que não respeita a conversa do vizinho, porque o idiota aprendeu a ler e descobriu o significado da palavra “respeito” num dicionário que sempre ficava abandonado num canto da sua casa.
            Barra do Corda, 1 de abril do ano de 2200.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB28mar2012)

 

 

Artigo
O espírito livre de Nietzsche
jornal Turma da Barra

*Fábio Mota


            A incisiva apreciação filosófica e a sinceridade constante de Friedrich Nietzsche talvez o façam, para alguns, o mais incômodo e provocador filósofo de todos os tempos.
            Para outros, no entanto, suas denúncias ganham outros significados mais sublimes. Suas atitudes se tornam estimulantes, fascinantes, empolgantes e lê-lo acaba por se transformar num deleitoso desafio.
            Nietzsche desperta os mais variados sentimentos naqueles que se aventuram nos mares de seus pensamentos, nos mares de suas psicologias. Ninguém consegue ficar quieto depois conhecer seu amor ao saber.
            Quem sabe porque a crítica vigilante deste alemão não poupa nenhum dos dogmas que as crenças há milênios sustentam. Nenhuma ciência. Nenhuma cultura em toda a história escapou de suas marteladas.
            Da sua idéia de necessidade de uma “transvaloração de todos os valores” não escaparam a metafísica-religiosa e os interesses ocultos na moralidade e na política moderna, encobertos sob desculpas de um bem maior.
            Conceitos seus como, por exemplo, de além-do-homem (Übermensch), vontade de poder, eterno retorno, vivem na memória e na imaginação de seus muitos leitores, provocando outros tantos conceitos.
            Nietzsche tornou-se um “espírito livre” e se incumbiu da tarefa de construir a própria ponte, o próprio caminho. Através das suas, denunciou nossas aflições e em nenhum momento se poupou de tais análises, mesmos nos mais sombrios momentos de suas visões.
            Para ele está na dança do pensamento a leveza da vida, por isso seu Zaratustra é um dançarino, por isso é dionisíaca a sua filosofia. Uma filosofia que só quer despertar os espírito livre de cada um, e restituir a graça da vida.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB/18jan2012)

Artigo
Correndo perigo e comendo poeira na MA-012
jornal Turma da Barra

*Fábio Mota

            Semana passada viajei pela -- famosa por sua desgraça --, MA-12. Fui a Sumaúma da Mata, povoado que se localiza nos limites da área cordina; para ser mais preciso, a aproximadamente cinqüenta quilômetros da área urbana de Barra do Corda; depois de lá, não precisa andar nem mais dez quilômetros e você já estará numa cidade chamada São Raimundo do Doca Bezerra.
            Além de me lançar a um risco de vida, podendo a qualquer instante ser encontrado por bandidos fortemente armados, ainda tive a oportunidade de comer um bocado de poeira, sem contar a infinitude de buracos que parecem
querer dizer que você logo chegará ao inferno.
            O trecho da estrada, diferente do que ocorre depois de São Raimundo – que além de ser melhor hoje e ainda já ter asfalto garantido --, está perto de deixar de existir. Não é o tipo de viagem que um ser humano mereça fazer em tempo algum de sua vida.
            No caminho, há certo número de povoados, cheios de buracos e poeira. O primeiro, Centro dos Ramos, não precisa nem mais fazer quebra-molas, como os moradores gostavam de fazer, pois o lugar está um buraco só. O mesmo ocorre com o próximo povoado, Barro Branco, o trajeto é tão difícil quanto.
            Daqui a pouco as poeiras darão lugar aos atoleiros, às ladeiras escorregadias, pois as estradas esburacadas e estreitas sobem às vezes por montanhas, principalmente depois do quarto povoado, chamado Capim; antes deste tem o Montevidéu.
            A gente sente todo o transcorrer da viagem, a viagem que deveria durar uma hora e dura quase três. Em certos pontos alguns precipícios se insinuam, as barreiras ameaçam cair a qualquer instante, inclusive num instante em que um carro passa por ali, cheio de passageiros, com alguns na capota.
            A qualquer instante, eu pensava, amedrontado, preparado, eu tinha de desfazer-me de meu pouco dinheiro, o dinheiro das passagens, de ida e de volta. Teria de entregá-lo a um cara com uma arma apontada a minha cabeça, sem paciência para papos. Eu não morreria por uma quantia ridícula, entregaria sem palavras, porque não havia outra coisa que eu pudesse fazer. Mas ele ainda poderia me matar, caso não fosse com a minha cara.
            Ainda passei por outros dois povoados, Cacau e Lagoa do Socorro, uma estrada alternativa que corta estes povoados, a estrada que os motoristas têm usado para diminuir o risco de assaltos. E aí, depois de duas horas e meia, ou mais, chegamos, com as nádegas doídas e o coração cansado, mas já se aliviando. Chegamos a Sumaúma da Mata. No retorno, o sofrimento é o mesmo.

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB/23nov2011)

Artigo
UFMA em Barra do Corda
jornal Turma da Barra

*Fábio Mota

            O deputado estadual Rigo Teles (PV) acaba de incrementar-se na luta pela implantação de um campus avançado da UFMA em Barra do Corda, ao enviar documentação aprovada na Assembléia Legislativa do estado, chamada “Indicação”, a diversas autoridades do Maranhão e do governo federal.
             Estamos em 2011, dizem que o mundo acaba em 2012, será que teremos universidade antes de o mundo acabar?
            Muitos sonhadores de Barra do Corda e região esperavam há muito uma postura de boa vontade dos deputados que os representa, que apesar dos pesares, parecem estar empenhados dessa vez.
            Mas também é importante esperar, de verdade, uma postura tática de respeito por parte dos representados, que deverão estar ligados nessa campanha que tem tudo para dar certo. Os eleitores merecem, eleitores de anos e anos; afinal, os deputados que estão no poder e que têm a honra de nos representar, já estão alguns anos nos representando.
            Por isso, como as coisas dessa vez parecem ser promissoras, e os maiores interessados somos nós mesmos, convidemos os amigos para uma discussão acalorada sobre o tema, falemos sobre a importância de um campus em Barra do Corda, é importante lembrar, senão pode cair no esquecimento novamente.
            Eu sei, seria mais interessante se o assunto fosse sobre quantas bandas de axé tocarão no carnaval do próximo ano em Barra do Corda, não é? Se dez, onze, ou melhor, se fossem doze, mais pessoas dariam graças a Deus; mas ajuda aí, é só escrever a sigla UFMA e o nome da Barra do Corda e repassar.
            Então quando chegar 2012, e se o mundo não acabar, quem sabe não chegaremos a ter uma universidade federal em nossa cidade. Com as mudanças das épocas, tudo tende a evoluir, por que não evoluir também?

*Fábio Mota é escritor, mora em Barra do Corda (MA)

(TB/26out2011)