As montanhas e o mar
jornal Turma da Barra

 


Granada

"Agora sei por que o escritor Ernest Hemingway escolheu Cuba
para escrever suas obras primas e viver os melhores anos de sua vida produtiva.
Quando voltou para o seu país suicidou-se. Uma força mágica, boa, parece envolver todo mar do Caribe com uma áurea de energia pura."


*Eduardo Galvão

            A primeira lembrança ao chegar a Granada foi do romance de Daniel Denfoe, em A Vida e as Aventuras Robson Crusoé. Uma pequena ilha de 344 km2. Imagine o município de Barra do Corda tem quase seis mil km2. Cento e dez mil almas vivem nesse pequeno torrão, que parece flutuar no mar azul do Caribe.
            O compromisso mais importante dos ilhéus é viver uma vida calma, sem estresse, da melhor maneira possível. As drogas pesadas não constituem preocupação para as autoridades, nem mesmo o uso do álcool causa problemas, dificilmente se observa excesso. É de se admirar! Granada é um país no qual a principal fonte de renda é o turismo, no entanto, o povo pacífico e educado vive em paz entre morros, montanhas e praias.
            Neste curioso país, as ruas e avenidas não têm nomes, nem letras, nada que as identifiquem.  Talvez despreocupação do povo em não dar nomes às ruas e avenidas seja para não parecer ou imitar os grandes centros urbanos, mas ao paraíso. Os bairros são nominados, assim como os prédios, mas as casas não têm números, ou seja, não existe endereço formal e nem por isso causa qualquer transtorno aos habitantes. Por exemplo, para localizar minha casa basta dizer que moro em Lance aux Epines, rua principal, ao lado do Manmot Hotel. É suficiente. Se alguém deseja receber correspondência pode adquirir uma caixa postal.
            A violência é quase inexistente, as pessoas vivem tranquilas sem a aflição de serem roubadas ou mortas, além do mais os serviços públicos funcionam, apesar das dificuldades enfrentadas com a diminuição do fluxo de turistas, causada pela crise na Europa. As autoridades são pessoas simples que se confundem com o povo.
            Como as boas cidades do interior, as pessoas se conhecem e se cumprimentam. O mar azul se descortina pra onde você vire, as pequenas praias quase desertas são a festa dos visitantes; os barcos à vela e iates de luxo repousam nas marinas e nas baías.
            Da janela de minha casa enxergam-se ao longe alguns barcos cargueiros chegando ao porto e os veleiros navegando com suas velas cheias compondo o quadro vivo, que não tem fim. A tonalidade azulada se abre ao infinito e a monotonia é quebrada pelo colorido das casas e o verde das montanhas ao fundo.
            Os dias passam sem ser tediosos, o povo como personagens vivos de uma grande obra-prima, no qual o artista se esmera em detalhes, não permite sentimentos negativos em sua criação. A obra se completa harmonicamente entre Deus e o homem.
            Agora sei por que o escritor Ernest Hemingway escolheu Cuba para es
crever suas obras primas e viver os melhores anos de sua vida produtiva. Quando voltou para o seu país suicidou-se. Uma força mágica, boa, parece en
volver todo mar do Caribe com uma áurea de energia pura.
            Será que Atlantis existiu?

*Eduardo Galvão é historiador e Vice-Cônsul do Brasil em Granada

 


Granada

 

(TB12nov2013)