Reportagem
Domingos Augusto:
O artista barra-cordense

jornal Turma da Barra

 


Domingos Augusto em uma apresentação de Paixão de Cristo

*Álvaro Braga


            Na semana que antecede mais uma apresentação anual da peça Paixão de Cristo, prestamos nossa homenagem a Domingos Augusto de Moura Carvalho, o Du Maranhão, que durante 27 anos de sua vida encarnou o personagem Jesus Cristo.
            Sempre brilhante em suas apresentações, procurou no perfeccionismo de sua atuação, que envolvia muita dedicação e muito sofrimento físico, inspirar os demais atores e atrizes para que realmente vivenciassem seus papéis numa entrega total.
            O historiador Justino Soares de Abreu estava presente na primeira apresentação da peça, ocorrido há 30 anos, e escreveu em um pequeno papel o flagrante histórico: “17-04-81, foi realizada pela 1º vez a peça Paixão e Morte de Jesus Cristo por Domingos Augusto.”
            Sobre isso ele recorda: “Era uma época em que os jovens estavam muito confusos, sem perspectivas, muitos deles buscavam nas drogas algo que nem eles mesmos sabiam o que era, e eu me preocupei com aquele cenário caótico.  Foi então que decidi montar a peça sobre o Calvário de Cristo e posso dizer que recuperamos noventa e nove por cento daqueles jovens. Decidi me afastar há alguns anos, por questão política.”
            Domingos foi também, durante muito tempo, líder do Grupo Teatral Maranhão Sobrinho.
            Os primeiros integrantes, segundo ele foram: Milton Nava Filho, Wanda Nava, os filhos de Carlile Brandes, Dra. Fanny, os filhos do Dr. Abreu, professor Antônio José, professor Carlos, os filhos de Dorgival Castro, Edmar Linhares e muitos outros.
            Domingos Augusto nasceu em Barra do Corda em 30.01.1955, filho de Francisco Maranhão e Julia Moura Carvalho. Tem como avós paternos Miguel Azevedo e Rita de Cássia (Dona Cassi) e como avós maternos José Maria de Moura, que veio do Rio de Janeiro trabalhar na antiga Colônia Agrícola e Francisca Dias de Moura (Dona Santa).
            Colaborou com a cultura cordina em quase todos os governos municipais desde a gestão do prefeito Galeno Brandes, quando ainda era um adolescente, tornando-se um dos maiores expoentes nas mais diversas formas de manifestações artísticas, respeitado e admirado por todos como grande mestre-de-cerimônias (desde os 15 anos de idade), estilista, funcionário público, professor, orador, escultor, ator teatral, desenhista e autodidata.
            Membro da Academia Barra-Cordense de Letras, ocupa a Cadeira de nº 28, desde o dia 03.02.1994, que tem como Patrono cultural Sebastião Maranhão.
            Na primeira administração do prefeito Elizeu Freitas, Domingos foi também vereador e reviveu a Punga, tradicional expressão cultural e folclórica afro-brasileira, que andava esquecida, tendo total apoio logístico e cultural.
            No governo da prefeita Darci Terceiro idealizou a Escola de Música, que funcionou durante muitos anos na casa do Canadá, atual Fórum Eleitoral, no Incra, e convidaram o maestro Joaquim Oliveira Bílio para ensinar teoria e prática musical para a juventude.
            É de Domingos Augusto a ideia da Câmara de Vereadores de Barra do Corda conceder o título de cidadão à Joaquim Bílio, que deverá ocorrer no segundo semestre do corrente ano.
            Com sua criatividade inesgotável, sempre colaborou como estilista nos mais diversos eventos culturais de nossa cidade, como o Carnaval, festas juninas, Semana Santa, desfiles de modas, escolhas de misses e rainhas, 7 de setembro, recepções, aniversários, comemorações em colégios, formaturas diversas, eventos culturais e esportivos.
            Cultor da perfeição dos detalhes, Domingos Augusto não transige na questão da qualidade, buscando sempre o melhor, e aliando bom gosto à essência poética e sensibilidade ao requinte técnico.
            No decorrer dos anos seu trabalho pode ser visto e apreciado em festas e eventos realizados no Clube das Samaritanas, Academia Barra-Cordense de Letras, Clube de Mães, Salão Paroquial, Igrejas, AABB, Lion´s Club, Prefeitura, Câmara Municipal e onde mais fosse requisitado.
            Funcionário do Incra desde 1977, onde trabalha até hoje, Domingos Augusto reside no bairro do mesmo nome, à praça Fernando Falcão em uma casa de arquitetura estilizada bastante original.
            Atualmente traça planos para financiar pelo BNB uma estufa elétrica para retornar à arte da escultura em argila, com a qual chegou a ser o maior expoente da América Latina, em 1982, quando ganhou o primeiro prêmio na Exposição Latino- Americana de Artes, realizada em Gramado – RS.
            Participou também de inúmeras Exposições de Arte em Porto Velho, Manaus, Brasília, Fortaleza, São Paulo, São Paulo, Curitiba (Museu Alfredo Anderson e Teatro Guaíra), Grajaú, em outros países, como Argentina, Uruguai
e Paraguai.
            Suas obras estão em países como Itália e Reino Unido. O príncipe Charles foi presenteado pelo prefeito paulista Paulo Maluf, que adquiriu uma das peças e fez a oferta ao príncipe herdeiro que visitava o Brasil em 1982 O jornal barra-cordense O Pássaro, nº 38, de 16.12.1978, traz uma reportagem de Edilton Ferreira de Miranda, intitulada: “Du Maranhão, um maranhense com fama internacional”. Leia:
            “Regressou no dia 07 de dezembro da Capital Federal o famoso artista plástico de fama internacional Du Maranhão, o qual participou da grande exposição programada pelo PRODARTE – INCRA, realizada no Touring Clube, no período de 28 de novembro a 03 de dezembro. O artista, que representou o Meio Norte apresentou os seguintes trabalhos: entalhes em
madeira, esculturas e placas em cerâmica “Última Ceia” que segundo o crítico português Lameirão, foi avaliada em trinta mil cruzeiros, onde a mesma foi presenteada e em seguida tombada como patrimônio histórico do Incra, fruto do programa PRODARTE, que visa a cultura e fonte de renda da família rural.
            Nesta peça foi cravada uma placa de prata com o oferecimento de nosso artista, ao Incra, onde ele agradece todo o seu sucesso a este Órgão.
            A Casa do Maranhão também o prestigiou com magnífico jantar de confraternização, organizado pelo presidente da Casa, Dr. Machado, e sua digníssima noiva.
            Dentre os personagens que se fizeram presentes ao acontecimento, destacamos: Poeta Olímpio Cruz, deputado estadual Fernando Falcão, Tatá Milhomem e esposa, Silas Elias, o advogado e jornalista Nonato Cruz e esposa. Nonato, naquela noite foi apresentado como futuro presidente da Casa do Maranhão, convidando de antemão o artista Du Maranhão, para uma exposição individual patrocinada pela Casa do Maranhão e FUNAI, a ser realizada em Brasília. O tema da mesma foi lançado pelo afamado poeta Olímpio Cruz: “O Massacre de Alto Alegre”. O mesmo está contando com muito sucesso.
            Ao jovem dinâmico que muito vem destacando-se em suas artes plásticas com bastante sucesso universal, “O Pássaro” formula os mais sinceros parabéns e votos de plenos êxitos doravante; que Deus o queira assim.”
            Du Maranhão nunca frequentou uma escola Superior de Artes, mas sempre foi aplaudido por seu incrível talento, como numa ocasião em que expôs seus trabalhos em São Luis, na III Feira dos Municípios, levado pela primeira-dama Izamor Lima Silva, com uma peça em que Cristo despregava da Cruz e curvava-se, tentando retirar o prego dos pés.
            Frei Jesualdo Lazzari, de saudosa memória, foi um dos seus maiores incentivadores, chegando a encomendar dezenas de peças representando Cristo na Cruz para uma mostra na Itália.
            O caderno “Barra do Corda”, editado em 1974 pelo Banco do Nordeste, ilustra bem a rotina de trabalho do escultor cordino:
            “Para confeccionar seus trabalhos, Du Maranhão usa a mais simples e mais pura das matérias-primas – o barro, uma espécie de argila do tipo encontrada nas margens do rio Corda.
            A esta, vai acrescentando outro tipo de barro, mais comum. Assim, barro sobre barro, a argila é umedecida e deixada de um dia para o outro para que fique mais pastosa. Depois disso, o artista só precisa de mãos livres, por que inspiração não lhe falta.
            Afora suas atividades vocacionais de escultor, Domingos Augusto tem um compromisso a cumprir: soerguer o rico e tradicional folclore de sua terra - “Dar uma força a essa gente antiga e humilde para que possa extravasar suas histórias.”
            Quando foi participar de uma exposição de esculturas no Teatro Guaíra, em Curitiba, para surpresa sua, o diretor do Teatro era maranhense e possuía o sobrenome Maranhão, relembra.
            Na solenidade de entrega das premiações, no Museu Alfredo Anderson ganhou a primeira Medalha da Exposição das mãos do então Ministro da Educação Ney Braga.
            Do Paraná saiu a indicação e o convite para que ele fosse participar da Exposição Latino-Americana de Artes, que iria acontecer em Gramado – RS.
            Uma observação interessante é que olhando um Portal, na entrada da cidade de Gramado, Domingos Augusto retirou a ideia para fazer a porta de entrada do Balneário Guajajara, em Barra do Corda.
            Na Feira Internacional, Domingos Augusto foi agraciado com o primeiríssimo lugar, recebendo das mãos do Primeiro Ministro português Mário Soares, a Medalha de Ouro como o “Melhor escultor da América Latina”. No evento estavam presentes dois renomados artistas bolivianos e o cineasta italiano Lucciano.
            Na ocasião a esposa do Premier português, Maria Barroso, perguntou a Domingos qual era o significado daqueles expressões de dor e tristeza contidas em seus trabalhos.
            O artista maranhense respondeu à senhora: “Enquanto aqui na região Sul faz esse frio, neste exato momento, em minha terra faz calor. E as expressões angustiadas de minhas obras representam o sofrimento do povo miserável da região Nordeste, que debaixo de um sol escaldante, recebe todo tipo de injustiças e exclusão social.”
            Essas palavras, proferidas com dramaticidade, levaram às lágrimas a autoridade portuguesa.
            A importante Medalha, símbolo de sua máxima conquista, foi roubada anos depois, em um dos dezoito assaltos à sua casa, no bairro Incra, fato esse que muito entristeceu o nosso artista barra-cordense.
            Domingos mereceu uma grande homenagem do poeta Olímpio Cruz, que dedicou a ele a poesia “Cálice Divino.”
            Em certa ocasião Domingos Augusto proferiu a seguinte frase: “A arte da escultura, enquanto mensagem social é o protesto que o artista faz, mesmo estando calado.”
            Parabéns Domingos Augusto. Parabéns Du Maranhão.
            Que realizes o sonho de voltar a fazer tuas maravilhosas esculturas para que a atual geração de jovens barra-cordense possa conhecer ainda mais o teu imenso talento.

*Álvaro Braga é historiador, mora em Barra do Corda (MA)



Domingos Augusto esculpindo
uma das suas peças de artesanato

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(TB20abr2011)