Crônica
A lembrança ainda dói
jornal Turma da Barra

Aquela manhã de dezenove de outubro de 1997 ainda continua nebulosa em minha memória.
            Embora os raios esmaecidos do sol fulgente daquele infausto dia, 
teimam abluir os meus sentimentos. Quando me recolho nestas reminiscências vejo-me arrasado na condição mais solitária de desolação humana.

Francisco Brito

            Nesta sexta-feira, 19, há exatos 15 anos saia de nosso convívio, Danilo Silva Jorge. Foi uma partida inesperada para nós seus amigos e familiares. A indesejada de nossas horas chegou para Danilo, sorrateira e implacável em sua derradeira hora. Sequer nos oportunizou para lhe dizermos adeus. Mas, nestes momentos sofríveis somos acometidos pelos velhos pretextos.
            Se não estivesse naquele momento...? Naquele lugar...? Mas, quando acordamos para a vida, sentimo-nos retornar ao estado real.
            Todavia, com Danilo foi diferente. Não houve uma escapatória. Uma chance mínima de se desvencilhar de seu infeliz destino. Ele não tinha controle da situação. Muito menos saberia precisar aquele infausto ocorrido instantes depois. Era necessário que fosse ali naquele local?
            Próximo à sua residência numa madrugada praticamente sem nenhuma testemunha? Bom...
            Quem somos nós mortais para questionarmos Deus? Que é Senhor absoluto de nossas vidas com os seus mistérios insondáveis.
            Danilo Jorge era um sujeito cavalheiresco e único. Contagiava-nos com a sua alegria estampada em seu rosto. Pai exemplar, filho e irmão por todos amado. Desconhecia quem um dia tornara seu inimigo. Quando escrevemos ou comentamos sobre algum amigo cometemos um ato suspeito e tendencioso - no bom sentido da palavra.
            Todavia, as amizades são assim. Permeadas de cumplicidades. E, isto, Danilo possuía.
            Esmerava-se ao máximo para ver as pessoas felizes. Antes de conhecer o evangelho de Cristo aprendi bastante com ele o que é “amar ao próximo como a si mesmo”.
            Apesar de escrever desde a minha juventude, ainda em Barra do Corda, dele conheci alguns poetas que de longe não me aproximava. Declamava poemas de Augusto dos Anjos, Francisco Otaviano, Catulo da Paixão Cearense e até do saudoso bon vivant barra-cordense, Zezé Arruda.
            Era um incorrigível amante da música. Um apaixonado por discos. Tinha uma coleção de causar inveja a qualquer dj’s do presente século. Era um cara eclético em termos musicais.
            Mas, não abandonava a sua tendência nostálgica da Jovem Guarda. Entretanto, apreciava muito a MPB. Tinha seus ídolos como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, etc.
            Aquela manhã de dezenove de outubro de 1997 ainda continua nebulosa em minha memória.
            Embora os raios esmaecidos do sol fulgente daquele infausto dia, teimam abluir os meus sentimentos. Quando me recolho nestas reminiscências vejo-me arrasado na condição mais solitária de desolação humana. Retraio ao meu esconderijo sem voz e sem riso, que invariavelmente vão e voltam à realidade do momento, onde ainda sinto os espasmos trêmulos da carne. Somos frágeis na temperança de nós mesmos. Um ser evasivo das incertas horas.
            Continuo a buscar essa identidade daniliana sui generis de viver. A cada passo dado presencio em estado de leveza, e na revoada de sonhos e ilusões a sua inesquecível presença. Mas, recobro a minha lucidez quando os pensamentos em convulsão amainam a realidade do presente. Porque o passado não volta, e o futuro, que às portas bate quem sabe estaremos caminhando lado a lado no descortinar do inexorável tempo. Transfigurados na eternidade e na certeza de ter a paz fincada em todos nós incorpórea.

*Francisco Brito é poeta e escritor, mora em São Luís (MA)

 

Danilo Jorge

*Mário Helder

            Lembrar do Danilo Jorge, é lembrar de uma pessoa muito leve, não só no peso, mas de leveza espiritual, cara de boa índole que até os adversários do Botafogo ele tratava com carinho e sempre tinha uma palavra amiga.
            O Danilo era um diplomata, sempre alegre e otimista, era um grande facilitador das adversidades.
            Diria que o Danilo era, simplesmente, um líder que nem ele sabia. 15 anos de saudades caro amigo e continua com Deus.

*Mário Helder  é poeta e escritor, mora em São Luís (MA)

(TB19outl2012)