Nota
Povoado ‘Centro dos Ramos’ sofre com falta d’água
jornal Turma da Barra
 
Só nos dois primeiros meses do ano mais de dez pessoas morreram no povoado
 (sendo que sete em apenas uma semana), quase todos os casos devido ao câncer.
Alguns supersticiosos atribuem o fato a algum tipo de encosto,
enquanto outro preferem acreditar numa fatalidade
 

            O povoado Centro dos Ramos conta hoje com duas cerâmicas em plena atividade, com mais de 60 funcionários que recebem remuneração que varia de um salário mínimo a pouco mais de mil reais.
            Só uma delas chega a fabricar mais 70 mil tijolos diariamente. Essa produção é escoada para povoados vizinhos e alguns municípios entre os quais Barra do Corda, Grajaú e Presidente Dutra.
            Apesar de significar um relativo impulso econômico, não representa, contudo, um avanço. Alguns jovens deixaram o cabo da enxada atraídos por um salário irrisório comparado à insalubridade do trabalho em fornos causticantes, inalando fumaça preta, espessa, altamente tóxica, sem nenhum EPI.
            Dias atrás, um rapaz, casado havia apenas cinco meses, lá morreu eletrocutado, enquanto trabalhava à noite. Deixou uma viúva de menor idade que ainda aguarda indenização.
            A propósito, só nos dois primeiros meses do ano mais de dez pessoas morreram no povoado (sendo que sete em apenas uma semana), quase todos os casos devido ao câncer. Alguns supersticiosos atribuem o fato a algum tipo de encosto, enquanto outro preferem acreditar numa fatalidade.
            Como se não bastasse, nessa terça-feira, dia 15, o povoado perdeu mais uma bomba de água.
            O peso da bomba era sustentado apenas pelos canos os quais estavam enferrujados e esburacados pela falta de manutenção que já durava quatro anos.
            Os canos de sustentação romperam e a bomba afundou no poço – cerca de 300 metros –, onde sete anos antes outra também afundara sob as mesmas condições.
            Por que não foi removida essa bomba que há sete anos está oxidando no fundo do poço, tendo aquela comunidade de beber água contaminada?
            Agora são duas bombas obstruindo o minar daquelas águas que já saem – melhor dizendo, saíam – salobras das torneiras.
            É certo que a população pouco tem a reclamar, uma vez que a água é de graça. Contudo, eles não estão preparados. O calor intenso fez com que muitos se acostumassem a tomar vários banhos ao dia. O povoado pena com a escassez de água.
            Poços artesianos poucos os possuem, vendo-se agora obrigados a comprar água até que o problema seja solucionado, se é que o será.


(TB24mai2012)