Nota da redação

O jornal Turma da Barra, em atendimento ao pedido da família do senhor José Eládio, entrou em contato com o autor da crônica “Vítimas do destino“, Carlos Borges,
que concordou com a retirada do ar do texto em referência.
O entendimento foi feito via telefone com a senhora Jackeline Gomes, por parte da família do senhor José Eládio,
e com o autor da crônica, Carlos Borges.

 

Crônica
Os sonhos mais lindos
Marcas do que se foi!

jornal Turma da Barra

 


Carlos Borges

'Passaram-se os anos, as distâncias que os separam; aumentaram de forma considerável, transpondo até fronteiras Internacionais; porém o Amor Cordino permanece o mesmo, mas recheado de um ingrediente que o casamento não tem: "Saudades "!'

*Carlos Borges

            As manifestações de sentimentos com profundidade de amor são incomensuráveis. Transcende qualquer escala de valores e atropela qualquer regra de conduta social. Sobre essa ótica, vamos embalar nossos sonhos simplesmente dizendo que nós cordinos amamos com todas as forças do coração! Daí nasceu a máxima de que os verdadeiros cordinos vivem felizes, alegres e satisfeitos e continuam a cultuar os sentimentos amorosos brotados na juventude.
            Esta constatação reside nas características físicas, culturais e sociais de Barra do Corda. Em outras oportunidades já fizemos referência a esta singularidade calcada nas características físicas e geográficas, bem como do relevo da cidade composto de contrafortes e vales e uma bacia hidrográfica (Corda e Mearim) invejável. As águas do Corda e Mearim têm toda uma sinergia capaz de fazer brotar e alimentar o mais puro amor entre um homem e uma mulher.
            Nesse contexto, vamos ressaltar os protagonistas desse Amor Cordino, que brotaram nos anos 60, 70 e 80 e venceram a linha do tempo, mantendo-se vivos e saudosos. Citaremos um grupo de rapazes que de uma forma ou de outra teve a capacidade de sensibilizar, motivar, envolver e comprometer as namoradinhas doces e angelicais.
            Fazem parte dessa lista com primazia os rapazes : Luiz do Mica, Alvim do Zé Pompeu, Rubens Mangangá, Arnaldo, Croinha, Chico Ribimba, Antonio Machado, Xixito, Wilson Hossoe, Haymar, Zé Hipólito, Ornilo, Noquinha, Nezildo, Pinguim, Zé Americano, Paulo Rogério Azevedo, José da Marina, Ednan Moraes, Alan Kardec, Paulo Falcão, Bernardo, Gilvan, Antonio Jaldo E Borginho. Todos nós, não éramos nenhum exemplar de símbolo sexual. Porém, tínhamos predicados e requisitos que nos diferenciava dos demais.
            Dessa árvore frondosa nasceram famìlias belíssimas que são exemplos de dignidade para toda Barra do Corda. Há que se ressaltar, portanto, que a maioria não teve a sorte e/ou oportunidade de casar e compor família com suas amadas!
            Passaram-se os anos, as distâncias que os separam; aumentaram de forma considerável, transpondo até fronteiras Internacionais; porém o Amor Cordino permanece o mesmo, mas recheado de um ingrediente que o casamento não tem: "Saudades "!
            As amadas deverão se manter no anonimato! Curtam as saudades do tempo que se foi; mas o tempo não apagou as chamas!


(TB27set2014 nº 42)

Crônica
As Micas – Irmãs Cajazeiras cordinas
jornal Turma da Barra

 


Casa das três irmãs Micas, na esquina da rua Luís Domingues com a coronel José Nava. 
Foto do acervo do TB

'Titulei esta narrativa de Irmãs Cajazeiras Cordinas, parodiando Odorico Paraguaçu de Bem Amado, pela similitude, singularidade e recatamento daquelas três Irmãs que viveram suas vidas, sem nunca ter participado de algum ato ou acontecimento social, ou seja, tinham o seu mundo próprio e não admitiam intromissão de terceiros. No seu mundo foram vencedoras e benfeitoras da humanidade'

*Carlos Borges

            Almir Silva (seu Mica) foi um cidadão lendário na Barra do Corda. Ele por si só influenciava todas as decisões na Barra do Corda, fosse de ordem política, social ou religiosa.
            Era oficial do cartório de Registros Públicos do 2º Ofício e mandava numa banda da cidade. Era líder de uma família numerosa, onde conduzia e orientava o comportamento de todos, indistintamente. Tinha sob sua tutela os irmãos Palmério, Bigido, Virgínia, Vanjoca e Aldenora.
            Casado com dona Tereza criou os filhos Zenóbia, Leovegildo, Americano, Assunção, Luiz e João Pedro, cujo legado é do conhecimento de todos nós.
            Pois bem, as suas Irmãs Virgínia, Vanjoca e Aldenora não se casaram (ficaram moças velhas); e moravam em uma casa na Luiz Domingues, em frente à casa do Irmão Mica (cartório do 2º Ofício da Iolanda Nepomuceno; hoje uma casa semi-abandonada e em ruínas (bastante "destiorada").
            Essas irmãs comungavam entre si em gênero, número e grau. Todas as três eram professoras particular; a exemplo de Safira (rua do Pé do Morro do Calvário); que tinham a missão de desarnar os moleques que eram fracos na "Carta de ABC e Cartilha"; cujo catalizador de sucesso era o uso da palmatória.
            Tinham como atividade acessória a fabricação de doces de frutas regionais, onde se dest
acava a iguaria doce de Goiabada Cascão; o melhor da cidade!
            Essas três Irmãs eram brabas; tinham uma personalidade muito forte; chegando a provocar medo em todos nós. Eu, particularmente, tive uma afinidade muito grande com elas. Além de ter sido aluno delas, eu era botador d água da família. Eu tinha um contrato mensal de, diariamente, encher todos os potes da casa com água do rio Corda (naquela época não tinha água encanada na cidade).
            Titulei esta narrativa de Irmãs Cajazeiras Cordinas, parodiando Odorico Paraguaçu do Bem Amado, pela similitude, singularidade e recatamento daquelas três Irmãs que viveram suas vidas, sem nunca ter participado de algum ato ou acontecimento social, ou seja, tinham o seu mundo próprio e não admitiam intromissão de terceiros. No seu mundo foram vencedoras e benfeitoras da humanidade!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB13set2014 nº 40)

Crônica
Uma história de amor
e ódio no Cai N’Água

jornal Turma da Barra

 

'O desgosto na família foi tão grande que Dona Maria e Joana entraram em depressão e perderam a vontade de viver. As duas não demoraram muito, e morreram de desgosto.'

*Carlos Borges

            Sempre nas minhas narrativas faço questão de ressaltar as características básicas da sociedade cordina.
            Verdadeiramente, naquela época, havia uma segregação racial, atos preconceituosos e distinção social. Tanto isto é fato que, existiam na cidade Baile De Primeira (leia-se Grêmio Recreativo e Cultural Maranhão Sobrinho), Baile de Segunda (daqueles que não pertenciam à alta sociedade), geralmente em casas e propriedades rurais e Baile de Terceira (leia-se Punga, Reisado, Boi Bumbá, Divino etc...).

             Ser sócio no clube Maranhão Sobrinho não era fácil não. Via de regra os sertanejos que ascendiam socialmente, os negros; encontravam dificuldades em serem aceitos naquela agremiação.
            Como naquele tempo não era crime ser preconceituoso ou discriminar socialmente, era comum chamar alguém de preto, negro, feio, aleijado, beberrão de cachaça, chofer de fogão, lambe sola, rapariga etc... E ninguém se ofendia.
            Sob esta visão tínhamos verdadeiros pais mães de família chamados de Zé Preto, Antônio Preto, Maria Pretinha, Joana Preta etc...
            Me permitam os leitores usar os termos da época para dar maior legitimidade nesta narrativa; sem que tenham o caráter discriminatório ou preconceituoso, nesta narrativa.
            Pois bem, no Brooklyn Cordino (Cai Nágua), mais precisamente na rua do Arco, morava uma família de pretos que podíamos chamar de "Pretos de Alma Branca". Seu Zé Preto e Dona Maria formavam o casal de maior distinção naquela comunidade e em toda a Barra do Corda. Tinha uma prole numerosa, onde destacamos a filha Joana, uma negra linda, elegante, inteligente e profissional de mão cheia, que se tornou a gerente do Armazém/Loja de seu Lulu Rodrigues, lá em frente ao Catête (Cartório do seu Leandro), e que no meio da filharada tinha um que era afilhado de "Carro Boge e Josefa" - meus pais.
            Seu Zé Preto trabalhava na Colônia Agrícola (INCRA), sempre respeitado e admirado por todos. Todos os domingos ia à missa das 5 horas da manhã com Dona Maria (Os dois iam e vinham de mãos dada e/ou abraçados), fazendo todo o trajeto à pé, passando na nossa porta (praça Maranhão Sobrinho).
            Aquele comportamento era assunto de admiração por todos que os observava. Um dos filhos do casal namorava com a "Nêga Maria, José filha de Dona Domingas com seu Leôncio (fogueteiro da serraria da Colônia) que era Empregada Doméstica de Zenóbia e Eurico Queiróz.
            Essa família vivia num cenário de paz e amor, chegando a ser espelho reluzente para os demais casais de Barra do Corda. Com a família toda criada, Zé Preto, talvez sofrendo da Síndrome do Ninho Vazio; foi flechado pelo cupido do amor de uma mulher separada, porém cheia de filhos.
            A família descobriu o caso de Zé Preto. Desmoronou tudo na família! Os filhos se reuniram e foram tomar satisfação com a "Rapariga" do Velho. Foi uma briga de proporções tão feia que saiu até tiros. Zé Preto sai de casa, larga a família; põe a culpa em Dona Maria dizendo que ela botou os filhos contra ele!
            O desgosto na família foi tão grande que Dona Maria e Joana entraram em depressão e perderam a vontade de viver. As duas não demoraram muito, e morreram de desgosto. Observem, nem toda felicidade é eterna!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB5set2014 nº 39)

Crônica
O trio parada dura da Barra
jornal Turma da Barra

 

'Eram três amigos que por dever de oficio, eu me encontrava com eles todas as manhãs e todas as tardes. Eu tinha a obrigação de levar e trazer as vacas de leite do meu pai, pra nossas quintas lá no Sítio dos Ingleses. E nesse itinerário moravam todos os três.'

*Carlos Borges

            Rememorando os acontecidos na nossa infância e adolescência, lembrei-me de três amigos dignos de referência.
            Faço reverência a esses amigos pela singularidade de seus comportamentos junta à sociedade de Barra do Corda.
            Eram três amigos que por dever de oficio, eu me encontrava com eles todas as manhãs e todas as tardes. Eu tinha a obrigação de levar e trazer as vacas de leite do meu pai, pra nossas quintas lá no Sítio dos Ingleses. E nesse itinerário moravam todos os três.
            RIBA SURUPANGA, irmão do "Bolo Branco", morava na Luís Domingues em frente ao Neco Mano próximo ao cartório do seu Mica.
            RAIMUNDIN CÂMARA, irmão de "Cecília", morava na mesma rua, vizinho do "Dirico" e "Zé Hipólito".
            RAIMUNDIN PÔPÔPÔ, filho do Emiliano, que foi assassinado pelo Agenor, vaqueiro de Alberto Falcão; morava na estrada do Sitio dos Ingleses em frente ao Zé César. O POPOPÔ tinha uma irmã chamada Iraíldes, morena faceira e brejeira, com a qual tivemos um namoro; que por causa disto criou-se uma diferença entre nós.
            Pois bem; Riba Surupanga, um menino calmo, tranquilo e bom de briga. Nós dois éramos campeões nos jogos de peteca e castanha. Raimundin Câmara já era mais brabo, violento e também bom de briga. Danou-se a beber cachaça e sempre andava armado com uma faca peixeira. Raimundin Popopô era aquele tronco de “Nêgo", embuanceiro, mas não era bom de briga. Eu e Raimundin Câmara nós nos respeitavámos, não sei por que? Já com o Popopô e o Surupanga, viviamos às turras.
            Pra se ter uma ideia do quanto Raimundin Câmara era macho, veja essa parada: Na Barra tinha um juiz de Direito chamado Dr. Cloves, que recebia todo dia reclamações e denúncias de Raimundin. Mas ninguém mexia com Raimundin por causa da família. Porem, o Dr. Cloves disse que ia mandar prendê-lo.
            O Dr. Cloves gostava de tomar umas cervejinhas lá no Cai Nágua, no bar da Dária. Certo dia, Raimundin soube da história e vai à caça do Juiz. O encontrou no bar da Dária, sozinho numa mesa tomando sua cervejinha. Raimundin chega na mesa, se põe de lado do Juiz, encosta a ‘peixeira’ nas costela dele; e diz: "Se mandar mandar me prender; vou lhe matar de faca!” Agora diga que é homem! Doutor Cloves não ousou mexer com Raimundin; pois viu que além de doido, ele era corajoso demais...


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB29ago2014 nº 38)

Crônica
Reminiscências do Cai N’Água
jornal Turma da Barra

 

'Quando ele era mulecote, enfatiotou-se pra casar e disse pro velho Tioá: - Pai quero me casar! O velho retrucou: - Deixa de besteira, Nêgo!. Arlindo retrucou: - Se eu não me casar dou o fó  pa todo mundo ver! (ou seja: dava o fora e ia embora de casa)'

*Carlos Borges

            O Brooklyn cordino [Cai N’Água] sempre foi cheio de histórias pitorescas. Vamos relacionar algumas das mais engraçadas para que eu faça uma provocação ao meu amigo Wilson Leite; pois é ele a pessoa com maior Identidade para falar do Cai Nágua. Senão vejamos:
            O Zé Sousa, um grande açougueiro na cidade, que em conjunto com sua mulher, o Carlito e a Carlota produziam as melhores tripas assopradas para fazer linguiças.
            Era um grande sujeito. Trabalhou comigo no Mercado Público como magarefe e eu marchante no governo do Lourival Pacheco (o Mercado Público foi arrendado pro meu pai "Carro Boge").
            O Pio e sua Joana comandavam o cabaré mais surreal; onde tinha um jogo de quino (jogos de azar); Também tinha uma tabuleta que dizia: Proibido cuspir no chão, matar muriçoca na parede e enxugar o... na cortina!
            O Arlindo do Tioá, irmão da Branca; era pedreiro e quebrava galho pra todo mundo em consertos de residências.
            Quando ele era mulecote, enfatiotou-se pra casar e disse pro velho Tioá: - Pai quero me casar! O velho retrucou: - Deixa de besteira, Nêgo!. Arlindo retrucou: - Se eu não me casar dou o fó  pa todo mundo ver! (ou seja: dava o fora e ia embora de casa).
            Pedra Papafogo tinha um bocado de filhas, todas negras muito formosas e faceiras que alegravam as noites cainaguenses no forró do Grigorim Ananás. Das Papafogo, somente a Iracema não fazia parte dessa ciranda.
            O Domingos Passos, cheio de filhos, e pescador nato. Dos seus filhos destacou-se dois: O Pebinha, grande jogador de bola, e o Belchior (filho de criação) encarregado de despescar os currais de peixe e vendê-los nas enfieiras de porta em porta.
            Belchior cresceu, namorava com a Creuza que trabalhava na coletoria. Quando terminaram o namoro, foi passar uma temporada fora. Retornando, montou um comércio de miudezas e hoje é um dos empresários mais bem sucedidos da Barra do Corda.
            O velho Joaquim Moreira, que morava na última casa do Cai Nágua, em frente o muro do cemitério. Seu Moreira tinha uma ferida braba na canela. Não sarava nunca!. Tinha erizipela (que chamávamos de IZIPA). Ele atenuava suas dores colocando sobre a ferida, massa de macaxeira. Quando passávamos na porta dele, o cumprimentávamos perguntando como estava a ferida! Ele dizia textualmente:  - Meu filho esta ferida tá comendo mais mandioca do que caititú numa roça sem cerca!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB22ago2014 nº 37)

Crônica
Cai Nágua - O Brooklyn cordino
jornal Turma da Barra

 

'O Cai Nágua, um bairro cordino com uma certa dose de segregação racial e social; pois era lá que morava as lavadeiras, pescadores, braçais, macumbeiros e as "meninas de vida fácil"; mas nem por isto deixou de ser importante na nossa formação cultural.”'

*Carlos Borges

            Falar de Cai Nágua para o Turma da Barra ninguém mais que Wilson Leite, que tem propriedade e identidade do que ele, pois ele é o autóctone dessa comunidade.
            Entretanto me lanço a dar umas pinceladas nas "estórias" e personagens daquela comunidade para provocar o Wilson Leite a através de suas crônicas eternizar, um a um as personagens daquela comunidade que tanto contribuiu com a formação cultural de Barra do Corda.
            Citarei algumas dessas personagens para ilustrar o que foi, e o que é o Cai Nágua para a Barra do Corda, senão vejamos: Zé Sousa, Palmério Silva, Mariano Pedrinho, Dária Milhomem, Pio e Joana do Pio, Branca do Tioá, Zé Evaristo, Joana Bé, Domingos Passos, Nonato Chamusco, Raimunda Bagageira, Tia Simiana, Pedra Papafogo e suas filhas, Antonio Moreira e Gregorinho.
            Me lanço nessa empreitada em função de ter sido criado na Câmara de Amortecimento Social daquela comunidade, que é a praça Maranhão Sobrinho (ligação com o centro da cidade); e ter participado também de muitos fatos e estórias pitorescas.
            O Cai Nágua, um bairro cordino com uma certa dose de segregação racial e social; pois era lá que morava as lavadeiras, pescadores, braçais, macumbeiros e as "meninas de vida fácil"; mas nem por isto deixou de ser importante na nossa formação cultural.
            Nesse contexto, peguemos a "estória" de minha amiga Raimunda Bagageira: Raimunda era lavadeira de roupas para os brancos, era casada com um cabra cachaceiro, brigão, embuanceiro e matador de gente por nome de Maduro.
            Certo dia, chega de manhã em casa morto de bêbado e Raimunda já estava na beira do rio lavando suas roupas; quando aos gritos vai atender o seu monstro, que lhe dizia: "vou te matar hoje. Lava e passa minha roupa todinha. Faça o meu almôço que vou dormir um sono".
            Ela, Raimunda, que já conhecia a fera, não duvidou de nada! Montou seu plano: se ele quer me jantar, eu vou almoçar logo ele! Maduro, dormindo e roncando, Raimunda deixa as roupas na taba de lavar e sobe a barranca do rio; pegou a espingarda "prufora" (aquela que se carrega pela boca) já carregada pra ela e apertou o gatilho, dando um tiro certeiro no peito esquerdo da fera, que dormia o sono dos bêbados.
            Ali mesmo ele ficou pronto! Raimunda, toda molhada, sai em desabalada carreira e vai se entregar ao delegado Mororó. O Delegado após fazer as suas diligências de praxe; mandou enterrar Maduro e libertou Raimunda Bagageira, uma mulher honesta, digna e trabalhadeira; pois matou "em legítima defesa"!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB1ago2014 nº 36)

Crônica
Mororó: Um notável cordino
jornal Turma da Barra

 

'No exercício das suas funções de delegado, 
sempre agia e tomava decisões de acordo com suas convicções e conveniências. 
Um de seus postulados era: "Dou razão pra quem não tem! Pra que tem; não precisa!”'

*Carlos Borges

            Othon Mororó Milhomem, um senhor de poucas letras, porém de uma sabedoria incalculável. Pertencia a uma das famílias mais tradicionais que a Barra do Corda tem. Homem de fibra, caráter e retidão como poucos! Era comerciante, político e empreendedor com uma visão estratégica de futuro; e que formou uma família no seio da sociedade cordina; digna de honra, respeito e de aplausos por todos nós.
            Foi pai de uma prole só de mulheres; das quais destacamos Nelita Mororó e Laura Mororó. Nelita, uma menina loira, muito bonita e inteligente; que mais tarde veio a ser a herdeira e sucessora de todos os negócios da família. Foi amiga incondicional da minha irmã Simone Borges, naqueles velhos tempos!
            Laura Mororó, uma morena de beleza selvagem, de olhar brejeiro, bonita e sensual, que parecia ter nascida na serra de Uruburetama (terra natal da atriz Florinda Bolcam).
            Pois bem, o Seu Mororó tinha uma quitanda/Armazém que vendia e comprava de tudo. A maior e melhor rancharia da cidade era dele.
            Ele arranchava todos os sertanejos da Barra do Corda que vinham das regiões do Santo Estevão, Barreiro dos Lobos, Sítio dos Arrudas, Papagaio dos Maciel, Jenipapo dos Resplandes, até a cabeceira do Alpercata etc, que traziam seus produtos (buriti, farinha, arroz, bola de mangaba, copaíba, azeite de mamona, peles de animais silvestres, cachaça, carne seca etc), pra vender na cidade; depois comprar tecido nas Casas Pernambucanas, querosene e sal.
            Mororó, além de arranchar os sertanejos, comprava seus produtos, alimentava toda a tropa de burros, cavalos e jumentos; pois tinha várias quintas, no pé do morro do Calvário, com bastante pasto.
            A melhor e mais antiga cachaça (até tipo exportação); era lá que se encontrava! Polarizando esse empreendimento, existia as casas de diversão "Sonho azul e Bom que dói"; onde os festejos da abolição dos escravos (Punga) eram comandados pela Zabelona; cujo nome por si só é a expressão máxima do folclore cordino da época.
            Othon Mororó Milhomem, Seu Mororó, enquanto político, foi delegado de Polícia por muitos anos. Tinha conduta e procedimentos próprios no exercício de Delegado, que ao pô-los em prática o notabilizou como o homem da lei na Barra do Corda. No exercício das suas funções de delegado, sempre agia e tomava decisões de acordo com suas convicções e conveniências. Um de seus postulados era: "Dou razão pra quem não tem! Pra que tem; não precisa!”
            Naquela época poderia ser até um absurdo, esse proceder! Entretanto, hoje o governo Lulopetista, exercita com maestria tal postulado (Veja o caso Raposa Serra do Sol em Roraima)...
            Seu Mororó, realmente foi um Homem de visão futurista; há 60 anos!...


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB11jun2014 nº 35)

Crônica
Na defesa da honra,
lavava-se com sangue

jornal Turma da Barra

 

'Bateu na porta e a Mulher demorou a abrir. Desconfiou! Ela deu um jeito de o Ricardão pular a janela enquanto ele entrava pela porta. Desconfiou, e perguntou o que estava acontecendo. A mulher se apoquentou, ficou nervosa e desconversou. Marido bota a pulga detrás da orelha!'

*Carlos Borges

            Penetremos nesse cenário: Barra do Corda com suas características físicas e geográficas, com um relevo entrecortado por contrafortes e vales; e uma bacia hidrográfica invejável, com as águas do Corda e Mearim, tendo toda uma sinergia capaz de fazer brotar e alimentar o mais puro amor entre um homem e uma mulher.
            A cura de seus doentes pela medicina, feita de forma insipiente; onde o recurso maior era buscar tratamento na cidade vizinha de Grajaú, que tinha um padre médico chamado de frei Alberto; que curava até paralíticos (com enxerto de placentas - células tronco).
            Um médico recém chegado em Barra do Corda, pois naquele tempo era uma raridade. Uma sociedade repressora principalmente com as mulheres, chegando ao ponto de os próprios pais entregarem as filhas que perdiam a virgindade antes do casamento, às madames dos cabarés, para que neles vivessem o seu destino!
            Nesse cenário se desenvolve a história de um casal de cordinos, que tiveram suas vidas marcadas pelas as agruras do preconceito. Ele, marido; Ela mulher!
            MARIDO, com toda sua capacidade e inteligência, não deixou de ser uma vítima do destino. MULHER, uma fêmea muito bonita, faceira e fogosa; com o qual teve cinco filhos. Ele sempre foi um homem trabalhador e um bom pai de família. Nunca deixou faltar nada em casa! "Será"? Certo dia, MARIDO, se sentindo adoentado foi procurar tratamento de saúde em Grajaú com o frei Alberto.
            Programou a viagem; disse à mulher que ia demorar mais ou menos uma semana. E viajou! Se consultou e voltou logo com três dias apenas. Chegando em casa de madrugada, sem ser esperado; encontra um "Ricardão", dormindo com a mulher.
            Bateu na porta e a Mulher demorou a abrir. Desconfiou! Ela deu um jeito de o Ricardão pular a janela enquanto ele entrava pela porta. Desconfiou, e perguntou o que estava acontecendo. A mulher se apoquentou, ficou nervosa e desconversou. Marido bota a pulga detrás da orelha! Mulher desconfiada e com medo, muda de quarto e vai dormir com os filhos. Ela viu que a coisa não tava boa pro lado dela. Saiu de casa!. MARIDO fica aperriado com os cinco filhos sem a mãe pra cuidar! Passados uns dias, MARIDO vai atrás da mulher pra voltar pra casa. Ela volta, porém sempre desconfiada! Depois de tudo mais calmo, e ela MULHER, depois de contar a verdade; numa madrugada, MARIDO, vai à forra!
            Naquela época os preconceitos arcaicos de honra e moral eram bastantes nítidos! Ele tinha que lavar a honra com sangue. Pegou a MULHER, cortou-lhe o nariz, pra não cheirar ninguem; cortou-lhe o beiço pra não mais beijar; cortou -lhe a orelha pra não mais ouvir cantada de ninguém. Saiu de casa e deixou a MULHER sangrando e morrendo...
            Lá pelas tantas, voltou em casa, e se compadeceu do estado da mulher; pegou-a e levou para o doutor  dar um jeito. Doutor médico fez o que pode: "Recompôs o nariz, o lábio superior e um pedaço da orelha.
            Conta o anedotário da Barra do Corda que o doutor médico colou o nariz da mulher com os buracos pra cima!. e que ela depois disso tudo, não podia pegar chuva!. Mas a verdade é que quando o MARIDO foi socorrê-la, o cachorro da casa ja havia comido o nariz, a orelha e o beiço; e o Doutor médico fez a plástica com partes da coxa dela e dos braços.
            O MARIDO foi criar os filhos sem a mãe e a MULHER foi se recuperar. Mais tarde, MARIDO entrega os filhos de volta pra MULHER. Com o passar do tempo, MULHER que era uma fêmea fogosa foi parar no cabaré do Cai Nágua, nas boites "Chão de Estrelas e Bom que Dói".
            Hoje MULHER não é mais disso; mora na Tresidela, próximo ao Araticum. E o MARIDO continua laborando no seu dia a dia; nos seus projetos! Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência...


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB6jun2014 nº 34)

Crônica
O que é hoje a casa de Maranhão Sobrinho
jornal Turma da Barra

 

'A casa de Maranhão Sobrinho e Carro Boge, hoje, possui oito quartos, que foram construídos para que cada filho, no período de férias, tivesse seu aposento reservado no berço da família. Essa reforma foi concluída 40 anos depois da aquisição'

*Carlos Borges

            Não resta dúvida que esse local é uma referência cultural para a cidade de Barra do Corda e sua gente; em especial aos intelectuais e imortais cordinos.
            Esse imóvel funciona como o marco zero da intelectualidade cordina, pelo simples fato de ter sido o berço de nascimento de Maranhão Sobrinho.

            O QUE ERA ESSE IMÓVEL:

            Essa casa foi adquirida por Carlos Campelo Borges no ano de 1951, do senhor "Zé Deca"; provavelmente herdeiro de Maranhão Sobrinho. Convém salientar que "Carro Boge" comprou essa casa para botar seus filhos pra estudar na cidade, pois morava em sua fazenda no Cocal Grande.
            Quando adquirida, essa casa tinha suas paredes feitas de taipa - barro amassado e reboco à cal e óleo de mamona, pois naquela época não tinha cimento na Barra.
            Somente o piso da sala de estar era de ladrilho de barro. Os quartos e demais ambientes internos tinham pisos de chão batido.
            O fogão era à lenha com aquela chapa de ferro fundido com quatro bocas e chaminé.
            Um quintal amplo, sendo um verdadeiro pomar!. O telhado era em telha canal de barro amassado, em duas águas sustentado por caibros roliços em madeira de lei.
            Não tinha água encanada, a reservação d'água era em potes de barro e o sanitário era uma fossa negra numa casinha no fundo do quintal que chamávamos de sentina ou privada.
            Banho e lavagem de roupas e louças - panelas eram feitos no rio Corda - Beco do Trajano. Tinha um amplo salão tipo comercial (de esquina da Luiz Domingues com a Ferro Velho); que funcionava como uma rancharia para o fazendeiros, tropeiro, amigos e familiares de "Carro Boge", quando vinham ou passavam por Barra do Corda.

            O QUE É HOJE ESSE IMÓVEL:

            Um casa residencial/comercial; pois no lugar da rancharia, funciona um escritório de Georreferenciamento Rural de um neto do patriarca "CARRO BOGE".
            Pois bem, o patriarca da família Trajano Borges, um homem dotado de poucas letras - estudou apenas para ler e escrever!; Isso depois de casado com a professora Josefa; No ímpeto de realizar seus sonhos (botar os filhos pra estudar e vê-los formados), sentiu a necessidade de reformar a casa para abrigar os oito filhos, quatro genros, quatro noras e os netos.
            A casa de Maranhão Sobrinho e Carro Boge, hoje, possui oito quartos, que foram construídos para que cada filho, no período de férias, tivesse seu aposento reservado no berço da família. Essa reforma foi concluída 40 anos depois da aquisição.
            Esse fato foi comemorado em 1991 com uma festa que durou 3 dias; em uma churrascada no nosso sítio ao lado do Colégio Maranata.
            "Carro Boge" três anos depois morre, deixando um legado invejável na sociedade cordina! "um homem semi analfabeto, porem de visão estratégica; formou os oito filhos em curso de nível superior"
            Esse fato, em vida ele comemorou, e disse à família: "O meu projeto de vida estar concluído; realizei os meus sonhos"!
            Três anos depois, morre, deixando, além de saudades, um exemplo a ser seguido. Este fato ficou registrado com a saudação póstuma que João Pedro Freitas da Silva fez no momento de seu sepultamento. Os bastiões da sociedade cordina estavam presentes e se comoveram em prantos! Tenho orgulho de ser filho de "Carro Boge".


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(TB16mai2014 nº 33)

Crônica
Rua da Tripa x Luís Campeão
Parte II

jornal Turma da Barra

 

'Luis Campeão passou a ser uma lenda cordina, em função de ser um sujeito humilde, 
espirituoso e engraçado, que caiu no folclore da cidade. Nas rodadas de mesa de bar tinha que ter a presença ou estórias de Luís Campeão!'

*Carlos Borges

            A rua da Tripa produziu muitos expoentes cordinos, dentre eles destaco Luiz Campeão, figura simples e até folclórica.
            Filho de criação de dona Petinha, portanto irmão do dr. Eurico Arruda. Esse era o seu orgulho na sociedade cordina!
            Bradava aos quatro cantos da cidade que ele não era porra nenhuma, era só irmão do dr. Eurico!
            Certa vez, Luis Campeão, abusando na rua com a cara cheia de cachaça, foi preso. Reagindo à prisão dizia ao delegado que não o prendesse, pois era irmão do dr. Eurico; E que ele, delegado ia ser ‘humilhado’; pois o dr. Eurico ia lhe soltar na mesma hora.
            Dito e feito: O dr. Eurico soube do acontecido e foi à delegacia. Fez suas ponderações ao delegado e conseguiu soltar o Campeão. Na saída da delegacia, Luis Campeão solta um petardo: "Eu não te disse porra que tu ia ser humilhado"!
            Luis Campeão passou a ser uma lenda cordina, em função de ser um sujeito humilde, espirituoso e engraçado, que caiu no folclore da cidade. Nas rodadas de mesa de bar tinha que ter a presença ou estórias de Luis Campeão!
            A sua expressão folclórica era tamanha que além de ser coveiro, passou a ser funcionário municipal na gestão Darcy Terceiro (comissionado). Na mudança de prefeito, Campeão perdeu a boquinha. Perdeu a eleição, é claro!
            Com isso, Campeão, entra em depressão e passou a acumular dentre os seus males; o "banzo". Passou a andar triste, e não demorou muito veio a morrer. Dizem que uma das causas da morte de Campeão, foi essa humilhação de ter sido demitido porque não votou no candidato vencedor!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB11abri2014 nº 32)

Crônica
A Barra em que vivi... 
Rebanho cordino e seu melhoramento genético

jornal Turma da Barra

 

'Foi aí que entrou em cena Antonio Martins e Carlos Borges (...)
Os dois montaram um projeto de compra de gado na Ilha do Bananal (...)
O melhoramento da raça bovina em toda região do Mearim deve-se a esses dois homens'

*Carlos Borges

            A pecuária do município de Barra do Corda hoje tem uma expressão econômica bem destacada na economia maranhense. Até meados dos anos 60, todo o rebanho bovino da Barra e de toda a zona do Alto e Baixo Mearim; era composto de animais sem raça definida – SRD - que chamávamos de "Curraleiros" ou "Raciado".
            Foi aí que entrou em cena Antonio Martins e Carlos Borges (meu Pai). Antonio Martins era compadre do meu pai Carlos Borges; cujo afilhado era o Benedito Cássio. Os dois montaram um projeto de compra de gado na Ilha do Bananal, através do pecuarista Américo Gomes de Carolina. Lá compravam gado de raça (gir, nelore, guzerá e indubrazil) na ilha do Bananal e/ou Carolina. O melhoramento da raça bovina em toda região do Mearim deve-se a esses dois homens.
            A comitiva deles passava seis meses pra ir e seis meses pra voltar. Eles tinham dois peões de fé que comandavam tudo - "Quelé" e "Davi" vulgo "Pau Pubo".
            Eles eram os melhores ‘berranteiros’ (tocador de berrante) da região.
            Eles eram filhos de dona Hozina que morava na estrada do Sítio dos Ingleses do lado da fazenda do Lau Neto.
            Como naquela época não tinha carros, o luxo era ter um burro de sela. Nesse quesito papai e Antonio Martins eram imbatíveis. Se orgulhavam de ter as melhores montarias da região!
            Carlos Borges e Antonio Martins pegavam o avião da Aeronorte direto pra Carolina na época da compra da boiada. Preparavam tudo e entregavam ao Quelé e ao Davi e voltavam de avião.
            Seis meses depois, a boiada chegava em Barra do Corda. Daí, os dois tropeiros, Carlos Borges e Antonio Martins desciam o Mearim com destino a Pedreiras e Bacabal; vendendo e trocando gado de raça por boi gordo!. Negócio altamente lucrativo e de visão estratégica para o futuro da economia da região.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB4abri2014 nº 31)

Crônica
A Barra em que vivi... 
A Barra que revi

jornal Turma da Barra

 


Ilha Grande, final dos anos 60
Primeira fila (da esquerda para direita): (...), João Almir, Alga e Borginho;
Sentados na bóia: (...), Simone Pitiba e Azevedinho
Na bacia: Enio Pacheco

Foto do acervo de Enio Pacheco

"Quando saí de Barra do Corda, ela tinha aproximadamente 25.000 habitantes. 
Hoje, tem aproximadamente 85.000 habitantes, 
depois de dar origem a mais dois municípios"

*Carlos Borges

            O Maranhão como diz o significado da palavra "Águas que correm brigando"; sempre foi berço de heróis.
            Barra do Corda, por ter suas águas límpidas e mansas, tornou-se a "Princesa do Sertão Mara
nhense".
            Nasci ali, na década de 50. Essa Princesinha nas décadas de 50; 60 e 70 era marcada por um provincianismo com rótulo de cultura francesa (herdadas dos fundadores de São Luís); que formou uma sociedade tradicionalista de orgulho invejável.
            Barra do Corda onde todos eram irmãos com consanguinidade ou não. Todos sentavam em suas portas nos finais de tarde e noites; proseavam e davam solução em todos os problemas da cidade!
            Não tinha luz elétrica (era no Petromax ou lamparina); Não tinha praças (era Largo); Não tinha asfalto, meio fio e sarjeta. Automóvel era uma raridade; sabia-se das notícias do resto do mundo pelas faixas de um rádio Transglobo ou da revista "O Cruzeiro ou Manchete"; A geladeira era à querosene; A comunicação com a Capital era feita por telegrama transmitida pelo fio do telégrafo"(diretriz da ocupação de novos povoados), mas tinha um povo lindo, ordeiro e trabalhador.
            A minha adolescência e juventude foi marcada por estudos de boa formação religiosa e diversões às margens dos rios Corda e Mearim. Em toda orla do Rio Corda, tínhamos os portos e os bêcos e as Duas Ilhas em frente a cidade.
            Destaco aqui os portos compreendidos entre o beco da Sapucaia e o beco do Salomão; bem como os portos entre a Rampa e o beco do Trajano (meu avô).
            Nesses portos, tomavam banho de rio e de sol as nossas lindas moças, pois elas eram proibidas de frequentar as Ilhas onde os rapazes tomavam banho e jogavam bola.
            Nos portos da Tia Rosinha, Tia Luiza Tia Adelaide (Rampa x Trajano), a beira do rio era coberto por seixo rolado (pedrinhas lisas), e recebia as musas da zona leste, cuja expressão maior era "Magna Chaves, Régia Queiróz e Renilde Santos".
            No porto da dona Horácia (Sapucaia x Salomão), em frente a Ilha, ficavam as musas da zona central, cuja expressão maior era "Cléa Moraes e Kátia Arruda". Essa orla fluvial era a Copacabana Cordina.
            Pois bem, Barra do Corda começou a receber progresso tendo luz elétrica (até as 10h da noite); Calçamento de Pedra Jacaré (invertido), mas era calçamento; Praças, Campo de Pouso, Postos de Combustíveis, uma Agricultura Pujante etc...
            Nesse período, assanhei-me para ser político na minha terra! Me dei mal... Decepcionei-me e retirei-me até do Maranhão!...
            Volto à minha terra após 19 anos e vejo uma outra cidade, que apesar da evolução que teve; não tem nada a ver com a Barrinha dos meus sonhos. A não ser o bar do meu amigo Caburité, que mantém até hoje a mesma bacia sanitária daquela época.
            Não sou contra o progresso! Pugno por um desenvolvimento calcado num crescimento ordenado. Vi Barra do Corda toda asfaltada e com semáforos de trânsito; porém sufocada e sufocando sua gente!
            Falo assim, com propriedade de um técnico de trânsito e mobilidade urbana; pois sou Coordenador de Engenharia de Trânsito de todo o estado de Rondônia.
            Quando saí de Barra do Corda, ela tinha aproximadamente 25.000 habitantes. Hoje, tem aproximadamente 85.000 habitantes, depois de dar origem a mais dois municípios. Não tenho legitimidade para criticar as mazelas de gestões administrativas; porém posso aconselhar o nosso povo que seja mais exigente na escolha dos nossos dirigentes políticos.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB15mar2014 nº 30)

Crônica
Amor cordino sem limites
jornal Turma da Barra

 

"E a menina sempre que passava naquela porta e via essa cena de deleite familiar, 
ficava a se perguntar: O quê será que este homem tem tanto a falar? Deve ser algo muito bom, pois seus familiares estão sempre felizes ao seu redor"

*Carlos Borges

            Barra do Corda, pedaço de chão amazônico, portal de entrada para o Sertão Maranhense berço de imortais e heroínas; pelas suas características físicas e geográficas, com um relevo entrecortado por contrafortes e vales, e uma bacia hidrográfica invejável; foi berço de amores platônicos, que enobrecem o orgulho de falarmos com a boca cheia - somos da família barra-cordense.
            As águas do Corda e Mearim têm toda uma sinergia capaz de fazer brotar e alimentar o mais puro amor entre um homem e uma mulher.
            Todos nós cordinos, principalmente os leitores do TB, somos frutos desses amores cordinos; pois nossos pais foram os primeiros protagonistas dessa epopéia. Eles amaram-se loucamente, até mesmo sem saber que forças os moviam ou os envolviam. Daí a prova que, ainda hoje encontramos casais com 80, 90 ou mais anos na mais perfeita felicidade.
            Em Barra do Corda nos anos 50 e 60, nasce nossos personagens de hoje. Ela, de uma nobreza sem par, porem simples, linda, brejeira, faceira e de uma elegância encantadora.
            Ele, um rapaz bonito com um futuro promissor à vista; porém galanteador, envolvente e arrebatador de corações. Os dois foram atingidos por um raio amoroso fulminante com um simples olhar brejeiro às margens do rio Corda.
            Dali nasceu uma relação tórrida, da qual a árvore do amor vivificou e transpôs o tempo; muito embora o destino, e sempre o destino, os levou a palmilhar caminhos e trilhas diferentes.
            A historia desse casal de amores fulgurantes, assim começou: Era apenas um olhar de uma menina que, ao passar em frente à casa daquele belo homem, geralmente o via sentado em uma cadeira embaixo do pé de amêndoas. Sempre rodeado por seus familiares! Sim, ele sempre estava rodeado por seus familiares, que ficavam à sua volta, ouvindo encantados as suas conversas.
            E a menina sempre que passava naquela porta e via essa cena de deleite familiar, ficava a se perguntar: O quê será que este homem tem tanto a falar? Deve ser algo muito bom, pois seus familiares estão sempre felizes ao seu redor.
            E ela ficava assim... Pensando, imaginando... Não sabia, nem sequer ousava sonhar... Era tão criança! Passava tão timidamente naquela porta que, escondia-se atrás de si mesma, a fim de não quebrar aquela cena de encantamento ou tampouco de se fazer notar.
            Aquela menina cresceu e com ela cresceu também a admiração por aquele homem que sentava-se à sombra da amendoeira de sua casa talvez, para vê-la passar.
            O primeiro encontro, o primeiro olhar, entre aquele belo homem e aquela mulher, nem mesmo o sol ou a lua sabem precisar. Um belo dia, de repente, em um encontro ocasional no meio da rua, aconteceu um olhar. Esse olhar foi tão intenso que resultou em um suave beijo que um roubou do outro. Foi o primeiro estalo do amor.
           
A partir de então, as ruas, os rios, as árvores, foram testemunhas daquele amor. Um amor quase platônico, pois a intensidade maior daquele amor acomodava-se mais no olhar, no sentir, no pensar... Uma linda historia de amor cordino. O casal, existe, vive naquela sociedade; portanto terá sua identidade preservada. Os dois estão separados pelo destino, pois cada um tem suas famílias; mas o amor permanece!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB22fev2014 nº 29)

Crônica
Balcão elétrico
A primeira novidade

jornal Turma da Barra

 

"Como a frente do Balcão Elétrico era toda iluminada, 
os namorados corriam para a esquina mais próxima para um namorinho mais chegado; 
enquanto não saia o picolé"

*Carlos Borges

            Em plena década de 60, Barra do Corda não tinha energia elétrica pública. Com esse cenário, éramos impedidos de ter progresso, conforto e evolução social.
            Tomar um Sorvete, ou chupar um picolé; era coisa do fim do mundo. Nesse cenário de penúria de desenvolvimento, apareceu o primeiro empreendedor para montar e inaugurar a primeira sorveteria da cidade. Esse moço era o delegado Ângelo Teixeira!
            Tocado por um grupo gerador, Ângelo montou esta sorveteria na cidade; que de imediato a denominamos de :"Balcão elétrico". Virou ponto de encontro e turístico da cidade.
            Chegava à noite, já se sabia que só tinha luz elétrica no Balcão Elétrico do “Anjo"!
            A oferta de produtos do empreendimento (picolé e sorvetes) era sempre menor que a procura.
            Daí se formava filas de espera; e nestas esperas, nasciam as paqueras e os futuros namoros da molecada.
            Uma curiosidade: Como a frente do Balcão Elétrico era toda iluminada, os namorados corriam para a esquina mais próxima para um namorinho mais chegado; enquanto não saia o picolé.
            Quero crer que o delegado "Anjo" se deu bem com o empreendimento, pois não demorou muito, chegou na Barra o João Alves Pereira (Seu Juca), pai do Pinguim e montou a segunda sorveteria da cidade. Vejam quando e como começamos a evoluir!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB14fev2014 nº 28)

Crônica
Chá de bola de rede
Um santo remédio
jornal Turma da Barra

 

"quando João Resende e dona Zizi não davam jeito em partos complicados, recorria-se à simpatia da tia Simeana: Chá de Bola de Rede. Resolve, como: Arranca-se duas bolas de uma rede, queima-as, e do algodão queimado faz-se um chá e dar para parturiente tomar"

*Carlos Borges

            Tratar da nossa saúde, hoje em dia, é um Deus nos Acuda! Imagine como era há 50, 60 anos atrás.
            Naquele tempo o tratamento sempre era feito à base da homeopatia e/ou simpatia; uma vez que a alopatia era muito incipiente.
            Via de regra, não tinha médico. Tínhamos os enfermeiros João Resende, Machadinho, Genner Brandes e dona Zizi. João Resende e Dona Zizi eram parteiros.
            Pelo lado da simpatia, a solução sempre caía nas mãos da tia Simeana - Velhinha rezadeira e benzedeira como ninguém. Simeana morava na rua do Cai Nágua e era respeitada entre todas as benzedeiras. Atendia a todos sem distinção de raça, cor, credo ou posição social. Tratava de: Quebranto, espinhela caída, arca aberta, dor de cabeça, reumatismo e apendicite.
            Por exemplo, naquele tempo se chamava apendicite de dor de um lado! O tratamento era um ferro de engomar cheio de brasa sobre a barriga do doente! Podia não ficar bom; mas a dor passava! Quando a apendicite não supurava; o doente se curava.
            Meu avô, Antoninho Borges, morreu de apendicite porque a velha Simeana não estava no Cocal Grande, sua fazenda para curá-lo (brincadeira...).
            Agora você sabe o que é Bola de Rede? Toda rede sertaneja que se preze, tem Bola de Rede. Uma boa rede tem um bom pano tecido no tear, um par de varandas até personalizada. Cadis e mamucabo bem trabalhado e punhos resistentes. Nas extremidades de cada varanda, era onde se pendurava as bolas de rede" - uma verdadeira obra de arte, feitas a capricho com os novelos de fio de algodão dos próprios punhos.
            Pois bem; quando João Resende e dona Zizi não davam jeito em partos complicados; recorria-se à simpatia da tia Simeana: Chá de Bola de Rede. Resolve, como: Arranca-se duas bolas de uma rede, queima-as, e do algodão queimado faz-se um chá e dar para parturiente tomar!
            Muitas das vezes a simpatia dava resultado. Não me perguntem, como e por que! Consta do nosso anedotário.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB7fev2014 nº 27)

Crônica
Sonho de Ícaro para os cordinos
Parte 2

jornal Turma da Barra

 

"Foi sobre essa ótica que os passageiros da Real/Aeronorte 
tinham o privilégio de o agente de viagens ir buscar e trazer os passageiros em casa! Onde já foi visto isto dantes? Pois é; os cordinos também eram “chiks”

*Carlos Borges

            A companhia aérea Real dos anos 50; 60; era a maior empresa do setor operando no Brasil.
            No ano de 1956, a Real era formada por um consórcio de três grandes estruturas: a sua própria, a Aerovias/Aeronorte e a Nacional.
            A esse consórcio deu-se o nome de Real/Aeronorte; com Autorização para operar as rotas domésticas no Norte/ Nordeste do Brasil; onde Barra do Corda figurou como escala comercial.
            No ano de 1958, foi adquirido pelo consórcio, quatro aeronaves modelo "Constellation" para cobrir as rotas internacionais - Rio/ Paris; Rio/Los Angeles/ Tókio.
            Viajar de Constellation para a sociedade carioca era o "chik no úrtimo". Isto era um acontecimento social tamanho que passou a ser praxe toda a "granfinale" Carioca ler a coluna do Ibrain Sued (jornal O Globo), porque lá estava a relação de passageiros que embarcariam para Páris ou Los Angeles!.
            Como na Barra do Corda não tinha Ibrain Sued e nem Constellation; o nosso agente de viagens Sidney Milhomem tinha que proporcionar algo de bom e que tivesse um diferencial de satisfação para o cliente.
            Foi sobre essa ótica que os passageiros da Real/Aeronorte tinham o privilégio de o agente de viagens Ir buscar e trazer os passageiros em casa! Onde já foi visto isto dantes?
            Pois é; os cordinos também eram “chiks”... Essa missão era confiada ao Joaquim Chagas (praticamente filho do Sidney) e seu Irmão "O Mudo"; que eram irmãos da professora Maria do Carmo, que moravam na rua Vicente Fialho. O Mudinho morreu mais tarde atropelado.
            Essa odissea da Real foi até 1961, quando "as forças ocultas" sob o comando de Ruben Berta e Janio Quadros destronaram o comandante Linneu Gomes e surgiu a Viação Aérea Rio Grandense - VARIG do próprio Ruben Berta. Décadas depois a VARIG paga com a mesma moeda "forças ocultas" o que fez com a Real.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB31jan2014 nº 26)

Crônica
Sonho de Ícaro para os cordinos
jornal Turma da Barra

 

"já naquela época os barra-cordenses, se quisessem, voariam de Barra do Corda ao Japão. Sonho? Não; pura realidade! Como? Barra do Corda ligada a São Luís. São Luís ligada a São Paulo e Rio de Janeiro. De lá direto pra Los Angeles. Saindo de Los Angeles para Tókio"

*Carlos Borges

            Quando Barra do Corda praticamente era isolada dos grandes centros, em especial São Luís e Teresina; em função da precariedade do modal de transportes, que naquela época era representado pela estrada carroçável - Grajaú x Barra do Corda x Curador x Mata do Nascimento [Dom Pedro] x Floriano, e a hidrovia do rio Mearim; chegou inesperadamente um raio de progresso para a sociedade cordina! Tivemos a oportunidade de voar. Nas asas da Real/Aeronorte, Barra do Corda se ligou ao mundo civilizado.
            REAL - Redes Estaduais Aéreas Ltda -, foi uma Empresa Aérea fundada em 1945 por Vicente Mammana Neto, que mais tarde em parceria com Lineu Gomes, ex- piloto da TACA, montaram o consórcio Real denominado Real/Aeronorte. Isto foi em 1947.
            A esse consórcio foi dado o direito de explorar uma densa malha de vôos domésticos; na qual lá estava Barra do Corda. Era o ano de 1956 quando esta epopéia se consagrou.
            Os Douglas DC-3 desciam em Barra do Corda num aeroporto que existia na Altamira onde hoje é a rodoviária municipal e o quartel da Policia Militar. O agente de viagens e transportes era Sidney Milhomem, pai de Fernanda e Sidneyzinho. A pista de pouso era empiçarrada! Não havia e nem se pensava em asfalto.
            Nos pousos, o cogumelo de poeira era magistral! A molecada da Barra adorava ficar na beira da pista (escondido dentro do mato), apreciando aquele cenário.
            Pois bem; já naquela época os barra-cordenses, se quisessem, voariam de Barra do Corda ao Japão. Sonho? Não; pura realidade! Como? Barra do Corda ligada a São Luís. São Luís ligada a São Paulo e Rio de Janeiro. De lá direto pra Los Angeles. Saindo de Los Angeles para Tókio com apenas duas escalas técnicas em Honolulu e Ilhas Wake. Em 1961, o consórcio Real/Aeronorte foi absorvido pela VARIG - Viação Aérea Rio Grandense. Será que podemos sonhar novamente?...
            Alô Ícaro; abra as asas sobre nós!...


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB24jan2014 nº 25)

Crônica
Riba Ananás
O Professor Pardal da Barra

jornal Turma da Barra

 


Riba Ananás

'Riba Ananás sempre foi curioso e dotado de uma inteligência incomum. 
Quando as carroças na Barra eram puxadas por burros, jumentos ou bois, e a capacidade de cargas era muito pequena; Riba Ananás produziu seu primeiro invento: 
Uma carroça movida a tração mecânica'

*Carlos Borges

            Barra do Corda no decorrer da primeira metade do século 20 até os anos 80; sempre foi um celeiro de filhos importantes que se destacaram nas artes, letras, ciências e política para o desenvolvimento do estado do Maranhão.
            No rol dessas eminências, destacaremos hoje um sujeito de poucas letras; porém um autodidata, curioso, determinado e de muita fibra. Estamos falando de Riba Ananás ou Riba do Venâncio; um verdadeiro Professor Pardal, pela sua criatividade e invenções.
            Esse personagem nosso de hoje, estar vivo e pode ser encontrado nas barrancas do rio Mearim, logo abaixo da ponte do Cai N’água; mais precisamente na rua do Sapo.
            Riba Ananás sempre foi curioso e dotado de uma inteligência incomum. Quando as carroças na Barra eram puxadas por burros, jumentos ou bois, e a capacidade de cargas era muito pequena; Riba Ananás produziu seu primeiro invento: Uma carroça movida a tração mecânica tocada por um motor estacionário de 10 hp, com capacidade de transportar duas toneladas, até em terrenos Inclinados.
            A esse invento, a cidade lhe deu o nome de "A Bicha", que mais tarde virou "A Coisa". Foi um sucesso total, além de revolucionar a atividade de carroceiro.
            Com o advento dos tonéis de plástico, o nosso Professor Pardal inventou e construiu uma canoa de plástico, cortando os tonéis ao meio. Foi também um sucesso para os pescadores até hoje.
            O pescador cordino foi se modernizando e não queria mais nem remar e nem varejar canoas!. Aí o nosso Professor Pardal inventa um motor de popa rabeta sem eixo móvel e prolongado. Novo Sucesso.
            Não se dando por satisfeito em agradar aos pescadores e caçadores; Riba Ananás projetou e construiu um fogareiro à alcool com potencial de chama 300% a mais que os fogareiros comuns. O sistema de Campânula foi o "x" da questão. Outro sucesso no mercado.
            Agora o nosso Professor Pardal estar desenvolvendo uma motocicleta de quatro rodas, toda inusitada! Além dessa capacidade e inteligência, o nosso Professor Pardal é bravo, valente e destemido. Senão Vejamos: Certo dia foi a uma pescaria com um amigo seu que era membro da família dos Apolinários, lá da Cabeceira do Alpercata.
            Estando em sua canoa, lá pelo remanso da Cerâmica com a Santa Bárbara, próximo a um balseiro de troncos de bananeira, paus, folhas e cipós; pescando de linha quando uma "cobra grande", provavelmente uma sucuri, deu um bote no seu amigo arrastando-o de imediato para dentro d’água.
            Ele, o Professor Pardal não contou conversa: Pegou sua faquinha e pulou atrás. Golpeou a serpente toda e salvou seu amigo, trazendo-o à tona!. A cobra tinha agarrado o rapaz pelo cotovelo do braço direito.
            Essa expressão cordina estar vivo e trabalhando dia e noite lá na Barra, morando abaixo da ponte do Mearim. "Até agora nenhum de suas invenções foi "patenteada" ou incentivada a produção em larga escala. Parabéns Professor Pardal!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB10jan2014 nº 24)

Crônica
Uma tragédia cordina
Agenor X Emiliano

jornal Turma da Barra

 

"Emiliano entrou numa demanda com Agenor, 
e a coisa ficou feia demais ao ponto de Emiliano jurar de morte o Agenor. 
Marcou o dia de matá-lo."

*Carlos Borges

            Barra do Corda no decorrer das décadas produziu inúmeras "estórias" dígnas de registro p
ara que, em sendo relembradas, contadas e registradas; formarem a história da sociedade cordina.
            Nesse contexto, vamos registrar alguns predicados familiares que vão desde a inconsequência, a irresponsabilidade, a dignidade, a honradez e a firmeza de caráter que eram tão próprios das familias cordinas.
            Pois bem; Agenor era o vaqueiro de Alberto Falcão que morava na casa sede da fazenda, onde hoje é a Pousada Rio Corda, no Sítio dos Ingleses.
            Patriarca de uma família numerosa, dotado de uma conduta Ilibada e respeitado por todos no seu meio. Tinha bom gosto de se apresentar como vaqueiro, pois tinha uma montaria de fazer inveja a muitos outros.
            Seu burro de sela era marchador e sempre muito bem ‘arreiado’; uma boa sela, cabeçada, coxonil, pelego e um belo par de esporas!
            Tinha o hábito de todos os domingos se paramentar todo e ir fazer uma visita ao patrão Alberto Falcão na cidade.
            Emiliano, pai de família, trabalhador; também lidava com gado. Morava na estrada do Sítio dos Ingleses, nas barrancas da estrada em frente ao clã de Zé Cesar e Ovídio Cesar. Era Pai do Raimundim Popopô, um dos muleques mais brigão e encrenqueiro da nossa época; e de Iraildes, morena bonita, formosa e encantadora que se destacava no nosso meio escolar.
            Emiliano gostava de tomar umas cachaças; e cachaça amuada. Era destemido e irresponsável; afrontava todo mundo, chegando a provocar terror na cidade.
            Pois bem; Emiliano entrou numa demanda com Agenor, e a coisa ficou feia demais ao ponto de Emiliano jurar de morte o Agenor.
            Marcou o dia de matá-lo. Como Agenor todos os domingos vinha pra cidade falar com o patrão; Emiliano montou o plano: - Vou matar ele de faca. Vou tocaiar ele na estrada do Sítio.
            Emiliano mandou avisar Agenor que naquele domingo ia matá-lo! Tomou umas cachaças à noite toda de sábado e, brojava dizendo: - Amanhã vou matar o Ageno. Nem Deus salva ele!
            Dito e feito; no domingo bem cedinho Emiliano foi tocaiar o Agenor na frente da fazenda do Lau Neto. Agenor ao se aproximar da fera (já estava preparado e esperando), ouviu: - Sabe que vai morrer hoje cabra!...
            E marchou pra cima de Agenor com uma peixeira de 12 polegadas afiada dos dois lados. Agenor, montado em seu burro de sela não contou mais história: Sacou o tresoitão - Smith Wesson.
            Emiliano morreu com a peixeira na mão na frente da fazenda do Lau Neto. Agenor não tremeu, continuou sua viagem; foi bater na delegacia se entregar ao Delegado Mororó.
            Simplesmente disse: - Acabei de tirar uma onça perigosa do pasto! Matei o Emiliano. Avise meu patrão.
            Alberto Falcão, usando sua influencia o soltou de imediato. Naquele tempo não tinha advogado! O coronel mandava e era ‘obedicido’!

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(10jan2014 nº 24)

Crônica
Bebedouro elétrico, primeiro desafio de um matuto
jornal Turma da Barra

 

"Foi assim que em 1967, saiu da Barra uma turma pra estudar em São Luís. 
Uns se matricularam no Liceu, outros na Escola Técnica etc... Um deles matriculado na Escola Técnica, no primeiro dia de aula se deparou com um gargalo de conhecimento 
(Se achou de frente a frente com um bebedouro elétrico)"

*Carlos Borges

            Transcorria o ano de 1962, o Brasil ganhando a Copa do Mundo no Chile. Chega a Barra do Corda o primeiro automóvel, um fusquinha vermelho e roubado que o delegado Juarez tinha prendido; que nós moleques o apelidamos de "Baratinha".
            Naquela época só tinha a camioneta do Sidney Milhomem e um Jeep do Pedrinho Caixa Dágua com os caminhões da Colônia que nós morcegavámos (morcegar era se pendurar na traseira dos carros). Não tinha Ônibus; se viajava nos Paus de Araras do Cícero Galinha.
            Com esse cenário, dá pra se ter uma ideia do quanto os filhos da Barra eram carentes de conhecimento e modernidade. Como na cidade os estudos eram só até o Ginásio; os matutinhos que queriam vencer na vida através dos estudos; tinham que ir pra São Luis ou outras capitais.
            Foi assim que em 1967, saiu da Barra uma turma pra estudar em São Luís. Uns se matricularam no Liceu, outros na Escola Técnica etc... Um deles matriculado na Escola Técnica, no primeiro dia de aula se deparou com um gargalo de conhecimento (Se achou de frente a frente com um bebedouro elétrico).
            Todos na fila da cantina pra beber água. O matutinho olhava aquela cena de todos os alunos que encostavam no bebedouro, colocavam as mãos sobre ele e o jato dágua subia. Porém tinha notado que em cima do bebedouro não tinha nenhum botão. Se perguntou: Como é que aquela água subia? ...
            E a fila andando e chegando sua vez! Ao chegar a sua vez, não tinha decifrado o comando, usou de astúcia, saiu da fila e ficou lá de longe observando aquela cena.
            Lá para as tantas, o recreio já acabando, olhou para baixo!... E descobriu que o bebedouro tinha um pedal. Eureca!...  Entrou na fila novamente e saciou sua sede. Livrou-se de pegar um apelido pro resta da vida. Esse matuto era nada mais nada menos que Carlos Antonio Trajano Borges. Conhecem?...


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(3jan2014 nº 23)

Crônica
Zé Camilo, um Ananás da gema
jornal Turma da Barra

 

"No outro dia, chamou os filhos e disse: 
- Comprem dois "Capão Gordo" e façam um frito pra mim que eu vou me embora! 
A Santa Barba fica nesse rumo aqui e eu vou mesmo a pé!"

*Carlos Borges

            Falar em Zé Camilo é lembrar de um esteio da sociedade da Barra do Corda pertencente à família dos Ananás e ao mesmo tempo enaltecer a figura simples e humilde que contava seus causos, enriquecendo o folclore da Barra!
            Vou tentar traduzir nestas palavras a nobreza da simplicidade da pessoa humana que era.
            Zé Camilo tinha vários filhos; dos quais destaco Eliézer, que ele chamava de "Aliéis"e o Salazar, que também chamava de "Salá".
            Eram uma graça no nosso meio. Zé Camilo compra uma rural Willis e deu pros meninos a dirigirem. Não eram habilitados, e dirigiam a rural numa "barbeiragem" sem par.
            Certo dia o Salazar vinha da Santa Bárbara e quando fez a curva da esquina do Zé Pompeu, deu uma porrada numa amendoeira que arrebentou a frente da rural, arrancando o para choque.
            Depois do acidente Zé Camilo dizia na cidade: - Comprei uma "bicha" pá ir pá Santa Barba e dei pú Salá guiar! Ele lascou a bicha na arve do Lulu Rudrigui, chega arrancou os queixoda bicha. Vou ter que vender umas vaquinhas pá consertar essa bicha!
            Zé Camilo, já envelhecido, adoece e os meninos morando em Brasília, mandam buscar o velho para se tratar. Foi tratado, restabeleceu a saúde; porém os meninos não queriam mais deixar Zé Camilo voltar pra Barra do Corda.
            Inconformado com a enrolação dos filhos, começou a montar seu plano de regresso à Santa Bárbara.
            Todo dia de manhã cedinho, em Brasília, observava o sol nascer. Do mesmo modo observava o por do sol. Fez suas equações de georreferenciamento e sentenciou: "Se o sol nasce aqui, e se põe ali; a Santa Bárbara fica nesse rumo"!
            No outro dia, chamou os filhos e disse: - Comprem dois "Capão Gordo" e façam um frito pra mim que eu vou me embora! A Santa Barba fica nesse rumo aqui e eu vou mesmo a pé!
            Os meninos viram que não tinham mais como segurar o Zé Camilo lá. O trouxeram pra Barra. Saudade é saudade do torrão natal!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(20dez2013 nº 22)

Crônica
Pega de boi na brabeza
Uma apologia ao vaqueiro cordino

jornal Turma da Barra

 

"Tudo planejado, foram para a pega de boi. 
Pegaram toda a brabeza; inclusive teve boi e novilhas que foram pegas à meia noite à luz do luar, 
pois o gado só descia pra beber água exatamente na madrugada!"

*Carlos Borges

            Ate a década de 60, se criava gado na Barra do Corda solto no meio das matas, pastos, quintas e cercados só para o manejo do gado de leite, parição e apartação de bezerros.
            Com esse sistema os fazendeiros possuíam os seus latifúndios para soltas e retiros do rebanho.
            Quando o rebanho era grande ou expressivo, aparecia um problema aos fazendeiros: A brabeza- uma maloca de gado embrabecia, adquiria os instintos de selvagens e não vinham mais aos currais, nem pra lamber sal.
            Nesse cenário nasce a nossa estória de hoje. Alberto Falcão - fazendeiro rico a abastado com fazenda sede no Sítio dos Ingleses, onde morava o Dorgival, com um vaqueiro chamado seu Agenor; anuncia à vaqueirama da Barra que tinha uma brabeza sua lá pras bandas do sertão (Santo Estevão a Sambaíba).
            Meu pai Carlos Borges e seu Fortunato, sogro do Machadinho; recebe de Alberto Falcão a autorização para pegar a brabeza.
            Foi a maior farra que a vaqueirama da região poderia receber naquele ano. Carlos Borges e Fortunato juntam a fina flor da vaqueirama para a empreitada. Convocam: Agenor, vaqueiro de Alberto Falcão, Osvaldo Macedo do Sujapé, Luís Bonfim, vaqueiro de Eulino Borges, Raimundo Sapeca, vaqueiro de Sebastião Rego, Adezildo, vaqueiro de Euclides Borges, Raimundão (filho do velho Chicão do Santo Estevão) vaqueiro de Carlos Borges, Antonio Borges e Chico Borges.
            Essa era a seleção dos vaqueiros afamados! Diga-se de passagem que Furtunato e Carlos Borges, também vaqueiros, eram dos melhores. Tudo planejado, foram para a pega de boi. Pegaram toda a brabeza; inclusive teve boi e novilhas que foram pegas à meia noite à luz do luar, pois o gado só descia pra beber água exatamente na madrugada!
            A maior parte da maloca de gado chegou na Barra já dentro das malas de couro (como carne seca). Contava os vaqueiros, que teve animais que na carreira de pega, chegaram a perder os cascos das unhas (terreno pedregoso).
            Outra curiosidade foi que os exemplares que chegaram vivos à fazenda de Alberto Falcão morreram em seguida. Tinham comportamento de bicho selvagem.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(13dez2013 nº 21)

Crônica
Sereno de baile
jornal Turma da Barra

 

"A esse fenômeno social se intitulou de ‘Serenar o baile’. Há que se observar, que como não tinha rádio e televisão, Barra do Corda toda ficava sabendo dos acontecidos através da ‘Turma do Sereno’; pois os bailes eram realizados com as grandes janelas do clube abertas. Não tinha ar-condicionado!"

*Carlos Borges

            Nos anos 1960 e 1970, a fina flor da sociedade ludovicence [da capital São Luís] se concentrava e se abrigava no Clube Recreativo Jaguarema.
            Na época, pertencer ao quadro de sócios do Jaguarema era sinônimo de grã-finagem e era distinguido socialmente: "Olha, fulano, frequenta o clube Jaguarema".
            Na Barra do Corda não era diferente. O Grêmio Cultural e Recreativo Maranhão Sobrinho era o abrigo social da família cordina.
            Como a sociedade cordina era provinciana, tradicionalista e repressora, entrar para aquele seleto grupo tinha que carregar no currículo a marca "TFC": (Tradicional Família Cordina).
            Exemplo: Os Milhomem, os Silva, os Falcão, os Salomão, os Freitas, os Franco, os Arruda, os Cruz, os Santos, os Moussalem, os Nava, os Teixeira, os Ferreira, os Pacheco, os Figueira, os Cavalcante, os Azevedo, os Perdigão, os Machado, os Rodrigues, os Brandes, os Martins, os Nepomuceno, os Pires, os Queirós, os Pinheiros, os Carvalho e outros mais.
            Entretanto a sociedade cordina não era só composta por essa "casta". Tinha a classe média que também era considerada, porém, não frequentava o "Maranhão Sobrinho".
            O clube Maranhão Sobrinho ficava na rua Luis Domingues, onde é hoje a Academia Barra-Cordense de Letras. Em frente ao Clube, morava a família Parrião (dona Hilda, Marica e Raimundinho, pai do Caburité).
            Uma particularidade: A casa dessa família era de calçada alta. Pois bem, era ali, naquela calçada alta que a classe media cordina se reunia e se juntava para presenciar, curiar e se deliciar com os grandes bailes, ali realizados.
            A esse fenômeno social se intitulou de ‘Serenar o baile’. Há que se observar, que como não tinha rádio e televisão, Barra do Corda toda ficava sabendo dos acontecidos através da ‘Turma do Sereno’; pois os bailes eram realizados com as grandes janelas do clube abertas. Não tinha ar-condicionado!
            Ah... Festas de carnaval era aquele glamour! Fantasias lindas, confetes, serpentinas e muito lança-perfumes do tipo ‘Rhodó’ nos lenços e lapelas!. Eu, Borginho, serenei muitas festas... Que saudades!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(6dez2013 nº 12)

Crônica
Leandro Cláudio da Silva
O cardeal cordino

jornal Turma da Barra

 

"Seu Leandro. Sempre bonachão, gozador e prestativo, se tornou referência na cidade. tornou-se um filantropo e passou a incentivar a cultura, o esporte, a religião e o entretenimento. Foi sobretudo o grande protetor das órfãs e das viúvas cordinas."

*Carlos Borges

            Na década do 60, chega a Barra do Corda, para assumir o tabelionato de notas do 1º ofício, um senhor ludovicense, já maduro e passado na casca do alho. Sujeito inteligente, competente e dotado de um senso crítico invejável. Um verdadeiro gentleman!
            Se instalou na esquina do "Catete", onde morava o ex prefeito Edson Falcão da Costa Gomes. Trouxe de São Luís a família (esposa e os filhos Raimundo José, Carlos Danilo, Maria do Carmo, Luiz Fernando e a caçulinha).
            Logo, logo se integraram à sociedade e passaram a ser uma família cordina. Foi alcunhado de Seu Leandro. Sempre bonachão, gozador e prestativo, se tornou referência na cidade. tornou-se um filantropo e passou a incentivar a cultura, o esporte, a religião e o entretenimento. Foi sobretudo o grande protetor das órfãs e das viúvas cordinas. Tornei-me parceiro dele em algumas empreitadas.
            Não se falava de futebol na Barra sem tributar o feito ao seu Leandro. Quando fui diretor de Desporto Terrestre da Federação Maranhense na administração dr. Franco"; Barra do Corda disputou o Interestadual, comandada por seu Leandro. Milne Jorge (meu cunhado) foi a grande revelação do torneio interiorano!
            Pois bem, seu Leandro, amante da boemia; monta e instala uma casa noturna (boite), lá na Tresidela. Batizou-a de 'Gafieira da Ana Preta' em homenagem a uma novela da rede Globo na época (anos 70). Como sempre, a sociedade cordina, preconceituosa e repressora, começou a queimar a imagem do empreendimento; dizendo que era cabaré mesmo. A família Trajano Borges costumava ir em peso passar férias na Barra. Num belo dia, os casais: Borginho x Clery, Silveira x Suely, Milne x Nisete, Odyr x Simone, Clodoaldo x Gracinha e Gaudencio x Lúcia; fomos conhecer e nos divertir na boite do seu Leandro – ‘Gafieira da Ana Preta’. A farra foi imensa...
            No dia seguinte, corre como rastilho de pólvora na cidade que a família Trajano Borges estava toda na boite do seu Leandro, e foi o maior sucesso e comprovaram que lá não era cabaré. Foi a redenção do empreendimento do seu Leandro. Toda a sociedade passou a frequentar o Gafieira da Ana Preta. Seu Leandro veio pessoalmente agradecer essa nossa intervenção, com a qual desmistificamos um preconceito.


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(29nov2013 nº 11)
NR: Alterado pelo autor dia 2dez2013: Em lugar de Cabaré de Ana Preta foi alterado para Gafieira de Ana Preta

Crônica
Colônia Agrícola
Os pioneiros e desbravadores

jornal Turma da Barra

 

"Joaquim Moreira quando viu Machadinho todo ensanguentado quis brigar e até atirar em Alfredo. 
Das vítimas do acidente, a mais prejudicada era o Machadinho, que teve uma orelha decepada (ficou pendurada). Desviraram o jeep e retornaram pra Barra
"

*Carlos Borges

            A história, o progresso, o desenvolviment
o e o sucesso de Barra do Corda não podem nunca serem contados sem levar em conta o que foi e o que representou a Colônia Agrícola Nacional do Maranhão – CANM - , instalada na Princesa do Sertão.
            Sob a batuta do Dr. Eliezer Moreira, foi montada uma equipe de desbravadores para, tanto colonizar, ocupar e eesbravar, quanto promover a socialização do homem do campo.
            Nessa esteira destacamos os pioneiros: Alfredo Miranda, Mariano Pedrinho, Zé Onório, Seu Leôncio, Martim Lagoa, Americano, Machadinho, Jenner, Zé Menezes, Sebastião Vinvim, Nicanor Azevedo, Eurico Queiroz, Edem Salomão, Tio Fausto, Takame, Acacio (pai do Wagui e linda Rebeca) Adonias etc, que se notabilizaram pelo trabalho contributivo e pela formação da célula da sociedade barra-cordense.
            O trabalho da "Colônia" foi magistral de tal forma que fez lastro para a implantação de um Projeto de Colonização do INCRA, chamado PIC - Barra do Corda!
            Como não podia deixar de ser, na execução desta odissea; tivemos materializados muitos "causus" que viraram folclore no nosso meio social. Assim, vamos ao primeiro:
            "Lá pelos idos de 53 a 55, ocorre um surto de malária e varíola na região do povoado de Jacaré. A "Colônia" destaca uma comitiva pra ir socorrer os doentes. Embarcam num Jeep Willes Cara Alta, Machadinho, Jenner Brandes, Sebastião Vinvim (pai do Zé Hipólito), e pilotado por "Alfredo".
            Chegando ao Mamuí, fizeram um pit stop pra tomar uns "gorós". De lá, saíram todos "caldiados"!.
            No Naru tiveram uma informação que tinha chovido muito e tornava-se arriscado seguir viagem. Mas, mesmo assim seguiram viagem, pois o caso era de "socorro" urgente aos doentes.
            Naquela região de terreno bastante acidentado, a estrada também era bastante perigosa. Com chuva, não deu outra coisa: "Acidente", ojeep capotou de ladeira abaixo! Foram socorridos por Joaquim Moreira, o chefão do Jacaré.
            Joaquim Moreira quando viu Machadinho todo ensanguentado quis brigar e até atirar em Alfredo. Das vítimas do acidente, a mais prejudicada era o Machadinho, que teve uma orelha decepada (ficou pendurada). Desviraram o jeep e retornaram pra Barra.
            Machadinho correu pra São Luís pra costurar a orelha, pois usava óculos e precisava dela! Lá na Barra, queriam processar o motorista Alfredo; E olhem quem saiu em defesa dele: Dona Didica - esposa de Machadinho, dizendo que o culpado foi o Machado que deu bebida para o pessoal no horário de trabalho.
            Machadinho, enfermeiro e farmacêutico, realmente recuperou sua orelha; sendo que ela ficou bem menor que a outra!
            Esta narrativa é um tributo aos motoristas Alfredo, Zé Onório e Mariano Pedrinho, que em companhia de outros; transportaram até o progresso e o desenvolvimento da nossa Barra do Corda!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

Nota do Borginho: Esta crônica é dedicada a Magna Chaves.

(22nov2013 nº 10)

Crônica
“Meu Tesouro" 
Meu antigo livro escolar

jornal Turma da Barra

 

"As meninas-moça eram liberadas pra namorar na porta de casa aos 15 anos. 
Estudavam, costuravam, bordavam e faziam crochê. A elas não era dado o direito de chegarem aos 21 anos sem casar. Se isso acontecesse; "vinte e um anos sem casar"; "deu o primeiro tiro na macaca".
"

*Carlos Borges

            Meu tesouro, que livro inesquecível!
            Um
belo tesouro mesmo. Nele continha todas as disciplinas a serem estudadas dentro do ano escolar. O livro serviria para os irmãos, nos anos seguintes.
            Como contrapeso, tínhamos uma "tabuada" do Viveiros de Vasconscelos. Nela havia muita coisa a estudar... Além das quatro operações fundamentais da matemática, a tabuada incluía números cardinais, numeração romana, números decimais etc...
            "Hoje em dia quantos livros os estudantes têm que carregar"! O cenário dos estudos era a "Escola Paroquial Pio XI".
            O "sino" era disciplinador. Todos se reuniam no pátio! Cada professora organizava sua turma em fila e fazia-se um silêncio sepulcral. Era hora do hino! Na sala de aula os alunos postavam-se ao lado das respectivas carteiras de madeira, esperando autorização da professora para sentar; o que acontecia apenas depois da oração! Os cadernos do tipo "bandeirantes" (brochuras que na contra capa tinha o hino Nacional, da Independência e/ou da Bandeira).
            Meu Tesouro era tão importante que a sua chegada na escola era esperada com ansiedade. "Era um acontecimento ímpar". Na verdade o conteúdo daquele livro seduzia a todos nós. Tínhamos o maior interesse em devorar os textos ali compilados; principalmente "prosa e versos". Os textos em prosa comumente referiam-se a figuras históricas ou lendas. Senão vejamos:

- Madre Joana Angélica de Jesus; religiosa assassinada por um soldado de um pelotão que tentava invadir o convento: "Para trás, vândalos! Respeitai a casa de Deus! Antes de conseguirdes vossos infames desígnios, passareis sobre meu cadáver!

- Olavo Bilac, que com seus versos impactantes, marcaram a minha infância; "Tal como a chuva caída/ fecunda a terra no estio/ para fecundar a vida, / o trabalho se inventou... feliz quem pode, orgulhoso/ dizer: nunca fui vadio/ e se hoje sou venturoso/ devo ao trabalho, o que sou... é preciso, desde a infância/ ir preparando o futuro/ para chegar à abundância/ é preciso trabalhar... Não nasce a planta perfeita/ não nasce o fruto maduro/ e, para ter a colheita, é preciso semear"

- Antonio Gonçalves Dias, quando escreveu a Canção dos Tamoios: "A vida é combate/ que aos fracos abate/ e que só os bravos e os fortes/ podem exaltar"!

- Olavo Bilac, escrevendo o poema "Ave Maria": "Meu filho! Termina o dia/ A primeira estrela brilha/ Procura a tua cartílha/ E reza a Ave Maria/... Hoje pratiquei o bem/ Não tive um dia vazio/ Trabalhei/ Não fui vadio/ E não fiz mal a ninguém...”

            No livro Meu Tesouro, podíamos nos deliciar com leituras extraordinárias; tais como: O pássaro cativo; O negrinho do pastoreio; Espumas flutuantes; Navio negreiro etc..
            "Sê modesto, estuda, aplica-te e foges da ostentação! Sentir, guardar e ocultar... Verdadeiro mérito é aquele que não gosta de se mostrar!”


Nota do Borginho: Esta crônica do livro Meu Tesouro é um tributo à inspiração poética do Mário do Ferreirinha; extensiva aos demais imortais cordinos.

Aprender por bem ou por mal

            Na década de 50, não tinha "creche" e nem "maternal". Era "Carta de ABC" e "cartilha"!
            Lembram-se de Safira? Na rua do Arco (Pé do Morro) indo pra Altamira! A grande alfabetizadora dos meninos na Barra do Corda. Ela "alfabetizava" e entregava à irmã Helena no Educandário Santo Antonio. Borginho também foi aluno da Irmã Helena", com muito orgulho! - Hoje, é claro!
            Naquele tempo, para aprender a ler, fui torturado, humilhado e execrado!
            Eu era "campeão de "caderno pregado nas costas" em cima da carteira escolar (castigo). De costas para os colegas; sem deixar de lado que de vez em quando, levava umas "reguadas nas canelas"!.
            A irmã Helena não brincava com ninguém e nem com nada! O lema era: "Escreveu, não leu! O pau comeu!...
            Na minha turma tinha um colega por nome Francisco (pra nós, Chiquim), da família dos "Catões". Jogava no meu time! - Castigo. Certo dia, na "Arguição", irmã Helena pergunta ao Francisco:
            - Quem descobriu o Brasil? Ele prontamente respondeu: - Não foi eu não, Irmã!. Logicamente o Chiquim entrou nas reguadas até pelo atrevimento e desrespeito à professora.
            Num final de semana, irmã Helena vai fazer uma visita ao pai de Francisco:
            - Bom dia, seu João! Como vai o senhor?
            - Estou bem, respondeu seu João.
            - Seu João, a razão de eu estar aqui é para lhe dizer do Francisco. Um dia desses, perguntei a ele; quem tinha descoberto o Brasil! E ele me desrespeitando, disse que não tinha sido ele não!
            Seu João não titubeou: - Irmã, encosta a "peia" nesse muleque, que ele tem essa mania de fazer as coisas e dizer que não foi ele!. Santa inocência!
            Essa passagem faz parte da formação e história de todos nós! Os nossos pais não tiveram a sorte que estávamos tendo: "estudar".
            E hoje todos nós somos "gente", porque tivemos uma irmã Helena nas nossas vidas! Essa crônica é um tributo à nossa maior "Mestra" que a Barra do Corda teve"!

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(22nov2013 nº 9)

Crônica
Moça Velha Tiro na macaca e Caritó
jornal Turma da Barra

 

"As meninas-moça eram liberadas pra namorar na porta de casa aos 15 anos. 
Estudavam, costuravam, bordavam e faziam crochê. A elas não era dado o direito de chegarem aos 21 anos sem casar. Se isso acontecesse; "vinte e um anos sem casar"; "deu o primeiro tiro na macaca".
"

*Carlos Borges

            A sociedade cordina sempre foi tradicionalista, provinciana e repressora. Quando o assunto era "as mulheres"; aí
que a coisa ficava feia! As moças de família eram criadas para serem professoras, prendas do lar e uma boa esposa. O clichê social era casar até aos 21 anos!
            Na barra, as meninas eram educadas pelas freiras e os meninos pelos os padres. Leia-se Educandário Santo Antonio e Escola Paroquial Pio XI.
            As meninas-moça eram liberadas pra namorar na porta de casa aos 15 anos. Estudavam, costuravam, bordavam e faziam crochê. A elas não era dado o direito de chegarem aos 21 anos sem casar. Se isso acontecesse; "vinte e um anos sem casar"; "deu o primeiro tiro na macaca".
            Começava ali a discriminação: "Não prestava pra casar, ia ficar pra titia". Entrava na dança da vitalina tira pó, bota pó e não sai do caritó!
            Esse conceito social chegava a formar um time de mulheres "bonitas" e charmosas discriminadas até para dançar nos bailes. Por que "time de mulheres bonitas"? Porque, via de regra, os homens tinham medo de chegar nas bonitas. nessa esteira eu mesmo tive a honra de namorar "uma coroa" linda e uma super mulher; da qual guardo lembranças até hoje!


Bainha pra foice

            Na esquina das ruas Luís Domingues com rua da Areia, existiam três grandes casas comerciais. Uma loja de tecidos do velho "Chico Milhomem". Um armazém do velho "Antonio Buritirana". Um armazém/mercearia do velho "Napoleão Milhomem".
            O velho Napoleão vendia de tudo! Tinha um empregado/gerente de nome "Zé Bernardo"; muito direito e responsável; que inclusive casou com a filha de Napoleão (Olga). Zé Bernardo sempre foi "boa praça". Era comerciante de "mão cheia"!
            Esse comércio tinha a fama de "ter tudo que se procurasse". A melhor cachaça bebida no pé do balcão, era lá no "Zé Bernardo", diziam os "pingunços". Tudo que procurávamos; lá tinha. Se não tivesse, o Zé mandava retornar "amanhã" que ele ia providenciar! essa fama correu "beiradas" e se espalhou não só na cidade como no "mato" (povoados).
            Como o Zé Bernardo era um cara "brincalhão"; logo logo, apareceram os "gaiatos" para deixar o Zé numa enrascada; não atendendo "o pedido"!
            Foi aí que um "matuto esperto", num lampejo de sagacidade, bolou a ideia. Chegou na mercearia e perguntou: "Tem bainha pra foice"? Aí o Zé Bernardo entrou numa saia justa, pois nunca ouvira falar em "bainha pra foice"!.
            A história correu como rastilho de pólvora; e todo mundo pra encher o saco do Zé Bernardo, ia lá perguntar: "Tem bainha pra foice"? Isso deixava o Zé doidinho!
            Matuto esperto, o Zé não se deu por vencido. Bolou seu plano; chamou um sapateiro e disse: "Precisamos fazer uma "bainha pra foice". Dito e feito! Trabalharam em "surdina" e fizeram a tal bainha. O detalhe da viabilidade do projeto foi vencer a "curva da foice".
            A solução: "usar um zipper (ri-ri, feixe eclair) nas costa da bainha". Produziram um bom bocado de bainhas e esperaram os fregueses. Já era moda na cidade chegar no comercio e perguntar pela bainha.
            Num belo dia, chega o "gaiato mor" e pergunta: "Tem bainha pra foice?"
             - Tem! Quantas quer? Só uma mesmo!
            Zé Bernardo se abaixou no balcão e mostrou "uma foice embainhada". O freguês "amarelou e entalou"! . Teve que comprar...
            Essa tal "bainha pra foice" virou moda e tornou-se "negócio lucrativo". Zé Bernardo ganhou muito dinheiro com sua criação! Um projeto desse merecia ser patenteado...

Os Arrudas Lobos

            Já que apareceu no "turmadabarra" um membro dessa família; de imediato me veio as lembranças do passado.
            Raimundo Arruda Lobo (Raimundin Papagai), filho de Willian Lobo com dois irmãos (Lobin e Abinha), eram moradores da praça Maranhão Sobrinho. O clã dos "Arruda Lobo" tem origem no alto sertão da Barra (Papagaio dos Arrudas).
            Saíram do mato e vieram morar na cidade. Willian Lobo monta uma "quitanda" como meio de vida na cidade. Bota os meninos pra estudar. Realmente eram todos inteligentes e estudiosos. "Raimundin Papagai" falava mais que a "Nega do Leite". Era dotado de uma simplicidade extrema e não tinha malícia no que fazia e no que falava. "Eles eram sertanejos puros"! Eles tinham uma tia (Nazaré Cravo, mãe do Nilsinho e do Pretinho) que morava em São Luís.
            "Raimundin" termina os estudos na Barra e vai continuar os estudos em São Luís. Willian prepara o filho e manda pra São Luís pra casa de sua prima Nazaré Cravo. "Todo inocente, puro e empolgado, Raimundin pega um ônibus na Barra com destino a São Luís com um bilhete no bolso indicando o endereço da tia Nazaré Cravo.
            Lá pelas tantas, Raimundin perde o endereço. Chega na rodoviária de São Luís, desce com cara de preocupado e um "ar de burro sumido" sem saber o que fazer. Saiu procurando pra um e pra outro "onde morava a Nazaré Cravo". Ninguem sabia! Já irritado, dirigiu-se a um interlocutor: "Porra cara! Tu mora tanto tempo aqui e não conhece a Nazaré Cravo"! Santa inocência! Pensou que estava na Barra...

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(8nov2013 nº 8)

Crônica
João Popó x Maria Tamanquinho
jornal Turma da Barra

 

"Com o passar do tempo, e encontros e desencontros, 
João Popó e Maria Tamanquim engatam um "namoro". Os dois se encegueraram de uma tal forma que Maria Tamanquim ia namorar João Popó lá no barraco dele. Lógico que nós muleques não perdíamos uma "brechada" dessas!
"

*Carlos Borges

            Em todas as cidades do interior tem as suas personagens folclóricas. Na Barra do Corda não podia ser diferente.
            Hoje destaco duas dessas personagens que foram muito importantes na vida cordina, em especial no meio da nossa molecada. João Popó, que morava no beco do Ardaleão, atrás da casa do seu Acácio; O ceguinho dos mais importantes, depois do Juarez Bílio e Pedro Paiva. João Popó tomava uma cachaça amuada, e conhecia todos nós pela voz; e nós muleques não sabíamos disso. Quando mexiamos com ele, na rua; logo depois ia reclamar aos nossos pais.
            Maria Tamanquim, dotada de um distúrbio mental ou uma decepção amorosa, morava no abrigo dos "Vicentinos", na Vicente Fialho. andava perambulando pelas ruas, toda maquiada (pintada), perfumada e contando suas estórias. Tambem adorava umas "pingas".
            Com o passar do tempo, e encontros e desencontros; João Popó e Maria Tamanquim engatam um "namoro". Os dois se encegueraram de uma tal forma que Maria Tamanquim ia namorar João Popó lá no barraco dele. Lógico que nós muleques não perdíamos uma "brechada" dessas!
            Depois do namoro, Maria Tamanquim ia tomar banho numa "bica"ali perto, que chamávamos de Perfuratriz. O amor entre eles cresceu tanto que, um dia nós pegamos os dois num maior "amasso" em plena luz do dia na esquina do velho Davi. Logicamente os dois estavam bêbados!
            O "sarro" tava tão grande que captamos o diálogo frenético: "Levanta a saia! ... Não João; o povo tá vendo! ... Não tem ninguém vendo! ... Eu tô vendo João; tem gente por perto olhando! Que nada Maria, você não quer é me dar"!... ‘Os brutos tambem amam’!


Sapateiro, uma nobre profissão

            Por décadas a fio, todo mundo na Barra usava calçados feitos artesanalmente.
            Num primeiro estágio evolutivo, eram feitos de "sola" (couro curtido), sem nenhum trato especial. aí, se incluía a "butina", a "riúna" e o "sapato bico de ferro".
            Num segundo estágio, apareceu o "couro cromo" e o "verniz". começou a introdução da tecnologia na fabricação dos calçados. Após essa fase apareceu o sapato industrializado (apareceu as sapatarias e começou a desempregar os sapateiros).
            Nesse contexto, existiram muitos sapateiros; porém destacarei nesta narrativa apenas quatro. Em primeiro lugar, "o Quide Sapateiro" (rua do Ferro Velho), pai do Didácio, Paulo e Cabiroró. Didácio e Paulo ajudavam o pai (também eram sapateiro) e o Cabiroró vendia pirulito na rua!
            No segundo estágio aparece "Adão Lopes" (largo do educandário Santo Antonio); pai da Herotildes, Sebastião, Djalma e Alcebíades. Ele era o homem que organizava e fazia os melhores e folclóricos "judas" da semana santa (o testamento dos judas trazia alegria, dor e tristeza para os agraciados na brincadeira).
            Os filhos Djalma e Alcebíades foram os melhores jogadores de futebol de salão que a Barra já teve!
            No terceiro estágio, apareceu lá das bandas do Rio Grande do Norte uma família inteira sob a batuta do seu "Leodegário" e se instalou na rua da Areia com a rua Formosa (onde o Antonio Silva tinha um bar e mercearia). Ficou conhecida como "a sapataria do seu Leoga". Por ultimo, apareceu de fato a primeira sapataria da cidade, que verdadeiramente vendia calçados industrializados. Era a "sapataria do seu Sebastião". Todas essas personagens, foram dignas, profissionais honrados e de ilibada conduta social; criando suas famílias sempre com dignidade!


Sacristão, acólito e legionário de Maria

            Sacristão é aquele que cuida dos livros litúrgicos, dos paramentos e outras coisas necessárias para a celebração da missa tais como: das hóstias não consagradas, do vinho, da igreja, abrindo-a e fechando-a e tocando os sinos.
            Acólito é aquele que na celebração da liturgia segue ou precede os padres ou bispos ou diáconos, para servir e ajudar; sobretudo na celebração da missa.
            Legionario de Maria é aquele que pertence à congregação cristã jovem dentro de uma paróquia promovendo evangelização.
            A nossa geração dos anos 50 teve o privilégio de ter uma boa formação religiosa; até porque as nossas instituições de ensino eram quase todas de padres e freiras.
            A nossa turma era famosa! Senão vejamos: "Me permitan aqui enaltecer a citação de alguns, pelos seus apelidos e/ou codinomes para dar maior brílho e visibilidade na narrativa:  Toinho Caburité, Edilson e Edimilson do Gedê, Raimundo Nonato, sobrinho do Joaquim Moiado, Antonio Jaldo, vulgo Antonio Cueca (foi o primeiro da turma a usar cueca samba canção), Henrique e Antonio Carlos do Moreno, Raimundo Pitiba, Chiquinho, Tácito e Domingos Augusto (filhos do compadre Chico Maranhão), Jose Edno (Zé Maxixe), Celso do Maneco (Fussura de anta), Jesualdo Melo (Boião), Edésio Cordeiro, Zé Hipólito, Sanliro, Ney Gato, Miltinho e Pinica Franga do Milton Nava, Pinguim, Nezildo, Chico do Zé Rosa, João da Dalila, Berubu do Araticun, Leontino, Aadonias Jr., Silas e Paulo do Zé Irineu, Toinho Pezão, Moacir do Augustinzão, Nicanozinho, Paulo Rogério, Antonio Fernando (Curujão), Haymar e Haymir, Antonio Carvalho, Josemar Parrião, Carlin do Doca, Zé Arildo, Gilvan, Gilson, Enio, Mário do Ferreirinha, Pedoca, Bisequinha, Nicodemos, Itaércio, Italuelmo, Zé Americano, Zé Nélio, Tonheira, Almir Quatro Bandas, Tainor, Noquinha, Ornilo, Milne Jorge, Antonio Reis, Chiquinho Tiúba, Edison Bílio, Wilson Hossoe, Dênis Arruda, Wolney Teixeira e outros mais...
            Dessa turma, com raríssima exceção, saíram as composições de "Sacristão" , "Acólito" e "Legionário de Maria" da nossa paróquia de Santa Cruz. Pedoca, eu, João Reis e outros fizemos parte das três confrarias. Na turma dos acólitos existia uma "guerrinha" na disputa de quem ficava do lado direito do altar, nas missas solenes; pois quem lá ficava, tomava conta do turiblo (fumacinha) e transferia a Bíblia sagrada pro outro lado do altar!
            Naquele tempo a missa era rezada em latim. "O padre ficava de costas para o público". Nós combinávamos previamente quem era quem; sem o padre saber de nada. Os espertos (principalmente Edilson e Edimilson) na hora de irmos pro altar, eles se adiantavam e quebrava o protocolo combinado. Nós, silenciosamente, passávamos a missa todinha "arengando"; ameaçando porrada. Terminada a missa, nós íamos para traz da sacristia (quintal do Pio XI) brigar. Aí o pau cumia! Essa formação religiosa serviu de base para o sucesso de todos nós!

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(1ºnov2013 nº 7)

Crônica
Casar menino era um assombro
jornal Turma da Barra

 

"Cedinho João Pedro me viu chegar e disse: 
"Vou ter o prazer de cortar a presa da cascavel mais venenosa da Barra do Corda!”
            Casei - fazer o quê? No dia do casamento, formou-se um "corredor polonês" do cartório à praça Maranhão Sobrinho pra ver o cortejo do Borginho!
"

*Carlos Borges

            Até o início da década de 70, a sociedade cordina, além de preconceituosa era provinciana e repressora.
            As nossas moças tinham que casar até aos 21 anos de idade. Do contrário iam pro "caritó".
            Já os rapazes, não podiam casar antes dos 21 anos. Era uma irresponsabilidade! Esse era o clichê social cordino.
            Pois bem, o primeiro "menino" a quebrar essa regra foi o Ivan do Manoel Ferreira. Foi um assombro na cidade quando sua namorada chegou de avião de Carolina ou Balsas pra esse acontecimento.
            O segundo foi exatamente este Borginho que "mexeu" com a filha de um major do Exército lá em São Luís, e não teve outro jeito, senão casar!
            Na época eu estava administrando o Mercado Público da Barra (cortando boi), quando recebo a notícia que a minha namorada lá em São Luis estava grávida. Meu pai sempre dizia: "mexeu com a filha dos outros, pode ser chofer de fogão" (cozinheira); tem que casar!”
            Me juntei com meu tio Orlando Trajano e montamos um plano pra eu fugir da região; Final de contas a menina era filha de major!.
            Tio Orlando monta o plano pra eu ir pro Rio de Janeiro, onde residia o clã dos Trajanos. Nesse plano tive tive que fazer um "pit stop"em Fortaleza na casa de tia Aldenora Trajano; esperando mais dinheiro de venda de uma boiada gorda que fizemos em São Luís.
            Passei uma semana em Fortaleza, quando recebo um telegrama do compadre Chico Maranhão dizendo que meu pai Carlos Borges estava passando mal e precisava de mim. Pensei no pior: "tentaram matar meu pai porque "fugi".
            Corro de volta pra Barra. Lá chegando, minha namorada (com cinco meses de grávida) já estava lá (o major a entregou ao meu pai e voltou pra São Luís); e o João Pedro Freitas da Silva já estava com os "proclames" pregados na porta do cartório.
            Cedinho João Pedro me viu chegar e disse: "Vou ter o prazer de cortar a presa da cascavel mais venenosa da Barra do Corda!”
            Casei - fazer o quê? No dia do casamento, formou-se um "corredor polonês" do cartório à praça Maranhão Sobrinho pra ver o cortejo do Borginho! O casamento durou 36 anos e tivemos três lindos e maravilhosos filhos!


*Carlos Antonio Trajano Borges

Narciso Borges - Capador de ricardão

            Narciso Borges, meu tio, fazendeiro e dono de engenho de cana, com fazenda no "Arapongas" perto do povoado "Cajazeiras"; foi um sertanejo de "quatro costados", homem de fibra e conduta irrepreensível. Não sabia rir! De tão sério que era.
            Casado com tia "Maria", tinha dois filhos e tocava uma fazenda e um engenho de cana na produção de cachaça e rapadura; quando se abateu sobre ele o infortúnio de ser corniado por um "cabra" (naquele tempo não tinha peão, era cabra mesmo), de sua fazenda.
            Um membro da sua "cabroeira" conquistou o coração da patroa! Viviam uma relação "tórrida"! Todas as madrugadas quando tio Narciso saia para o "engenho" o cabra corria pros braços da amada.
            Com o passar do tempo, desconfiou... E depois pegou os dois no flagra! Em silêncio, montou seu plano. Quando o casal de "amantes" já estavam mansos, Narciso fez que foi para o engenho e botou "tocaia" no caminho. Como de costume o "cabra" correu para os braços de sua amada! Esperou um certo tempo e pegou os dois "no monte"!.
            Tio Narciso falou: Não se preocupem; não vou matar ninguém! Pegou o "cabra" pelo braço, levou-o para o terreiro da fazenda e o amarrou num pé de manga. " Tudo isso, antes do dia clarear". Arrancou-lhe os dois testículos (capação), e foi pra casa.
            Pegou a tia Maria, derrubou-a no chão, sentou em cima e disse: "agora você vai engolir "os ovos desse cabra". Mas, os testículos eram grandes e não descia na garganta dela! mas mesmo assim ele socava com os dedos e "o bicho" espirrava e caia no chão! Juntava com terra e repetia a operação.
            Nisso as mulheres da fazenda acordaram, pelos gritos, e correram pra lá. ela com a garganta rasgada, toda ensanguentada, foi salva das garras de Narciso.
            O "capado" foi socorrido; engordou... Nunca mais comeu ninguém e minha tia foi mandada embora; e ele arrumou outra "Maria" (mas essa direita) com a qual teve mais 12 filhos. Saiu do "Arapongas" e veio morar na Tresidela pra botar os filhos pra estudar!!!  "A vida como ela é"...

*Carlos Antonio Trajano Borges

Rua da Tripa x Luiz Campeão

            Nome oficial: "Rua Gerôncio Falcão", tradicional reduto de famílias conservadoras; centro de decisões religiosas!
            A rua da Tripa produziu muitas figuras de expressão social para a Barra do Corda. Dentre essas, destaco Luiz Campeão", membro da família Rosa, que se notabilizou no nosso meio por ser extrovertido, espirituoso, trabalhador (tinha a profissão de coveiro) e "bom de pinga". Foi criado por dona "Petinha", mãe do doutor Eurico Arruda.
            Esse era o seu orgulho pessoal: "Não sou pôrra nenhuma!; Só sou irmão do doutor Eurico!”
            Nos idos dos anos 60, chega a Barra do Corda, uma leva de técnicos  para trabalhar no incra e na Emater, dentre eles, destaco o "dr. José Delfino"; que além de doutor, era bom de bola e bom de pinga! Logo, logo casou com a "Nini", filha da Nazaré Cravo; e já virou cordino.
            Luiz Campeão sempre encontrava dr. Delfino nas suas cachaçadas, e pedia "uma dose". Certo dia, Delfino estava "puto"; com que? não sei!, e negou uma pinga ao Campeão! Campeão reagiu dizendo: "Um dia você pode precisar de mim - eu sou coveiro". Afastou-se da mesa e sentenciou aos outros do bar: "Um dia vou jogar terra nos olhos desse doutor"!
            Não deu outra: o doutor Delfino morre repentinamente, e vai ser enterrado na Barra. Entra em cena o coveiro Luiz Campeão: Cava a sepultura e espera o féretro. Quando o caixão baixa à sepultura, Campeão balbucia: - Eu num te disse doutorzin, que ia botar terra nos teus zóius! Sina?... Destino?... Fatalidade?... Ou coincidência?... A história taí pra ser julgada!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(24out2013 nº 6)

Crônica
O mito Almir Silva
jornal Turma da Barra

 

"Chegava as férias escolares, João Pedro e Luiz iam pra lá. A diversão era tomar banho e jogar bola na ilha e à noite tertúlias dançantes. Eu, moleque, presenciava João Pedro, Luiz, Alvim do Zé Pompeu, Rubens Mangangá, Ney Rola etc curtirem as suas férias"

*Carlos Borges

            Tenho uma grande identidade com a família do "Seu Mica"! A minha formação de caráter e personalidade tem tudo a ver com o aprendizado que tive no seio daquela família.
            Pois bem: Seu Mica casado com dona Tereza (aliás santa Tereza), naquela época, viviam a "sindrome do ninho vazio".
            Os filhos Zenóbia, Americano, Leovegildo e Assunção, já casados, cuidavam das suas vidas! Restaram João Pedro e Luiz.
            Os dois foram estudar fora. Só vinham pra Barra nas férias! O casal de velhos morando naquela mansão, sozinhos. Dona Tereza fora acometida de um derrame que naquela época chamava-se de "congestão".
            Ficou privada de movimentos normais, mas cuidava da casa como de costume! Ao redor do casal, tinha os irmãos Palmério, Leovegildo, Virginha, Aldenora, Vanjoca e os filhos Zenóbia e Americano.
            Nesse cenário aparece eu, Borginho, filho do fazendeiro Carlos Borges, que com 12 anos passou a ser o "botador d’água" da família.
            Ou seja: Todos os dias antes de ir para a escola eu enchia os potes e o tonel com água para o consumo diário das famílias. Botava água para o seu Mica, "as Virginhas", Pedro Caixa D’água, Nelson Paturi, Maria Pezinho, Derocy e Sidney Milhomem.
            Em cada casa eu tinha um salário mensal. Tornei-me um ajudante de ordem de dona Tereza. Fazia tudo pra ela por causa das suas limitações, inclusive calçava os seus chinelos!
           
Chegava as férias escolares, João Pedro e Luiz iam pra lá. A diversão era tomar banho e jogar bola na ilha e à noite tertúlias dançantes. Eu, moleque, presenciava João Pedro, Luiz, Alvim do Zé Pompeu, Rubens Mangangá, Ney Rola etc curtirem as suas férias.
            Quando seu Mica se aposentou do cartório, conseguiu nomear o João Pedro como escrevente juramentado. Daí me tornei secretário particular do João Pedro, quando namorava com a Iolanda Nepomuceno.
            Deve-se ressaltar que todo esse cenário era liderado pela figura impoluta do senhor "Almir Silva" o seu Mica, que era a pessoa de maior respeito que tinha na cidade; que guardava todas as escrituras das terras dos fazendeiros, inclusive do meu avô que era compadre dele.

Seu Mica e Luís Rosas

            Luis Rosas era um dos maiores fazendeiros que tinha na Barra do Corda. Sua fazenda era no "sertão" no povoado Santa Rosa, perto do Santo Estevão.
            Sua boiada era tamanha que quando ele fazia "retiro", a cabeceira da boiada estava passando no Cai N’água e o coice ainda vinha lá no Zé Cesar - Sítio dos Ingleses.
            O velho Luis Rosas era tão chucro que conduzia esta boiada montado num jumento com cangalha e mala de couro (arriação).
            Pois bem, esse Luis Rosas era compadre do seu Mica, que pelo qual tinha grande consideração.
            O velho Luis Rosas tinha uma filha muito bonita chamada Iris Clores Amorim, que via de regra, era rainha nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, pois a família "Rosas" fazia a melhor noite do festejo.
            Certo dia, seu Mica convidou seu compadre Luis Rosas pra almoçar num domingo, quando estavam de férias o João Pedro e o Luiz, filhos de seu Mica.
            O corredor principal da casa de seu Mica era de "mozaico" que eu, Borginho, encerava para dona Tereza.
            Luis Rosas foi e não levou dona Sofia, sua esposa. Lá chegando, entrou pelo corredor se segurando nas paredes pois o piso era muito liso! E reclamando: "Cruz credo" que chão liso! Dona Tereza aprontou o almoço, serviu a mesa e ficou esperando os meninos (Luis e João Pedro) chegarem do banho (na ilha).
            Os meninos nada de chegar; e começava a se lamentar: - Oh! meu Deus esses meninos não chegam nunca...
            Aí o velho compadre balbuciou: Êh cumpade, aqui na sua casa tudo é diferente. Lá em casa quando a "Sufia" prepara o almoço, fica gritando: "fasta menino... Fasta menino!... E os meninos ficam "enriba dela". Aqui a cumade Tereza fica implorando os meninos chegar!

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(TB17out2013/nº 5)

 

Crônica
O Alfredão, a onça e o ballet Bolshoi
jornal Turma da Barra

 

"O comandante do vapor já conhecia a fama de "Alfredão" e disse: 
se trouxer a onça viva pra mim, lhe dou dez contos de réis!
            Vou buscar, respondeu de pronto
"

*Carlos Borges

            No começo do século 20 (em 1908), o vapor Gonçalves Dias singrava as águas do rio Mearim trazendo suprimentos e gêneros de primeira necessidade às populações ribeirinhas.
            No povoado "Cocal Grande", berço da família Borges, havia um porto de atracação daquele vapor. Era o porto Grande. Dali se atendia a todos.
            Certo dia, com o vapor no porto, esse meu tio "Alfredão" vai ao porto comprar querozene, sal etc, acompanhado de uma "queira" de cachorros. No caminho, os cachorros pressentiram uma onça e foram "acuá-la".
            Alfredão foi fazer suas compras pra depois cuidar dos cachorros. Afinal de contas, era uma onça! Disse ao comandante da tripulação: já vou, porque meus cachorros acuaram uma onça e vou matá-la agora.
            O comandante do vapor já conhecia a fama de "Alfredão" e disse: se trouxer a onça viva pra mim, lhe dou dez contos de réis!
            Vou buscar, respondeu de pronto. Lá encontrou a onça acuada num pontalete de serra, em situação de fácil realização de seu plano.
            Preparou uma "zagaia," mobilizou a fera e gritou para o cumpade dele: "Cumpade, amarra a onça"!...
            O cumpade entendeu "Mata a onça". Perdeu os dez contos de réis e disse ao comandante, "a onça não veio viva porque meu cumpade é um homem frouxo!
            Esse Alfredão era afamado na região pela sua bravura, ignorância e força extrema. Daí meu tio Zé Borges, que morou na praça da Bandeira, pai da Maria Deuza, para ter um novo "Alfredão” na família, botou o nome de Alfredo Borges em um dos filhos mais novos.
            O muleque em vez de puxar a valentia e bravura do Alfredão é hoje bailarino do corpo de baile do ballet Bolchoy na Rússia! - Nós temos esta estrela na família...

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB
11out2013/nº 4)

Crônica
As "eminências" cordinas
jornal Turma da Barra

 

"Uel Leite de Sousa era um aluno aplicado e decorador de salmos
 e ganhava muitos troféus  pela performance de decorador.
"Erivan" era um moleque de uns quatro anos e ainda andava nu. 
Mas nos atentava bagunçando nossas brincadeiras, apanhando nossas petecas e castanhas (galinha gorda); e saia correndo."

*Carlos Borges

            Era o ano de 1959. minha mãe me matricula no terceiro ano primário da escola "Instituto Maranata"  no Sítio dos Ingleses.
            O fardamento era um calção, qualquer camisa e um par de xamató (tamanco). a escola era de "crentes" (evangélicos) e a disciplina religião tinha prioridade sobre as demais. Decorar salmos da Bíblia era uma atividade que premiava os mais dedicados.
            Na minha turma tinha um colega chamado "Uel Leite de Sousa"; neto do velho Pedro Leite, lá das bandas do Ipiranga, próximo à fazenda do meu padrinho Euclides Borges.
            Uel saiu da casa do avô Pedro Leite e veio morar com o seu Casemiro (ou Gazemiro ) na estrada do Sítio dos Ingleses. Ele vendia garapa doce e azeda na cidade.
            Pois bem, Uel Leite de Sousa era um aluno aplicado e decorador de salmos e ganhava muitos troféus  pela performance de decorador.
            Deixemos "Uel" de lado e vamos ao outro personagem: "Erivan Chuvas Siqueira", irmão do meu amigo "Riba Surupanga" e do "Bolo Branco". Eles moravam ali perto do seu Mica, na rua Luis Domingues. Quando a mulecada da Maranhão Sobrinho e da Luís Domingues se reuniam pra jogar peteca, castanha, peão e carteira; esse "Erivan" era um moleque de uns quatro anos e ainda andava nu. mas nos atentava bagunçando nossas brincadeiras, apanhando nossas petecas e castanhas (galinha gorda); e saia correndo.
            Pois bem: passaram-se os anos; todo mundo seguiu seu rumo, e num belo dia dos anos 80, dá na televisão que o maior traficante de cocaína da Colômbia (Pablo Escobar) tinha fugido da prisão de forma espetacular em um helicóptero protagonizada pela perícia do piloto do helicóptero. Quem era o piloto? Exatamente "Uel Leite de Sousa".
            Num outro acontecido, uma quadrilha organizada, faz um assalto e roubo de uma agencia do Banco do Brasil em "Goioerê, no Paraná. Dá no jornal nacional que o líder daquela quadrílha era nada mais, nada menos que "Erivan Chuvas Siqueira".
            Eminências do bem ou do mal?... Mas são filhos da Barra do Corda!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB
3out2013/nº 3)

Crônica
Antonio Martins – um bastião da sociedade cordina
jornal Turma da Barra

 

 

"Aquela atitude me foi surpreendente, [Antonio Martins]
em face de eu estar diante de um homem conhecido como "O rei do gado" e ter a dignidade, humildade e altivez de trabalhar comigo no ramo de açougue e marchantaria."

*Carlos Borges

            Falar de honradez, dignidade e riqueza cordina; não se deve esquecer do Antonio Martins.
            Foi tropeiro, fazendeiro e grande negociante de gado! Morava em uma mansão na Isaac Martins onde eram realizadas as mais chiques festas e tertúlias da sociedade cordina.
            Eu, Borginho, muleque esperto tinha um hábito de ao amanhecer do dia depois das festas na casa dele; ia juntar carteiras de cigarros vazias para fazermos o nosso dinheiro (moeda de troca entre a molecada nas brincadeiras de peteca, castanha e peão).
            Fazia isso também no clube Maranhão Sobrinho com o seu Ranulfo. Pois bem, enquanto isso, Antonio Martins era compadre do meu pai Carlos Borges, pois era padrinho de batismo do Benedito Cássio; e dada essa relação familiar se associaram-se em um negocio de compra e venda de gado da raça zebu. Com isso se transformaram nos responsáveis pela introdução e melhoramento da raça zebu em todo o sertão maranhense bem como no vale do mearim.
            Com todos os filhos criados, e bem criados; exceto meu amigão "Carlomam Carvalho Martins" que morreu num banho na Cachoeira, Antonio Martins se aposenta desta "vida de gado".
            Transcorria o ano de 1970, era prefeito da Barra, Lourival Pacheco, que delegou ao meu pai Carlos Borges, a administração do Mercado Público da cidade, responsável pelo abate e comercialização de toda a carne bovina.
            Foi aí que tive a oportunidade de realmente conhecer e adimirar Antonio Martins. Meu pai, Carlos Borges adoece de uma crise renal, e eu saio de São Luis e vou pra Barra administrar aquele negócio.
            Eu tinha que administrar um time de açougueiros, todos nossos amigos, tais como: Macedo, Passarinho, Zé Caximbo, Alceu, Domingo Preto e outros.
            Tinha que comprar as boiadas, matar e entregar aos magarefes... Tive que me valer do conhecimento e experiência de seu Antonio Martins, que depois passei a chamá-lo de compadre também.
            Ele aposentado (da vida de gado), mas com uma vitalidade tamanha, não se sossegava; nos aproximamos. com o conhecimento e sabedoria que havia acumulado ao longo do tempo, me ensinou a pesar o "boi vivo no olho" e a comprar uma boiada inteira estabelecendo um preço médio.
            Como ele era irriquieto, e se empolgou novamente com o ramo de gado, me pediu para também "cortar boi" no açougue. Aquela atitude me foi surpreendente, em face de eu estar diante de um homem conhecido como "O rei do gado" e ter a dignidade, humildade e altivez de trabalhar comigo no ramo de açougue e marchantaria.
            "Parabens à família Martins que tem um bastião com esse legado"!


*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)

(TB3out2013/nº
2)

Crônica
Namoro nas palmeiras
jornal Turma da Barra

 

A partir dessa crônica, 
o TB conta com mais um colaborador. 
Trata-se do barra-cordense Carlos Antônio Trajano Borges, 
que mora em Porto Velho, em Rondônia.
Mais conhecido como Borginho, ele é filho de Carlos Borges e dona Josefa, 
foi menino entrançando na praça Maranhão Sobrinho, numa casa
 em que morou o poeta Maranhão Sobrinho.
Borginho é formado em Engenharia Civil 
e faz parte da geração talentosa da década de 60, que os pais investiram muito em educação, mas a realidade é que a grande maioria mora fora da cidade barra-cordense, 
como outras gerações que se sucederam. 
Seja bem-vindo, Carlos Borges!

*Carlos Borges

            Nos anos 60 eu fazia o ginásio no Diocesano com frei Marcelino de Milão, quando não existia a praça Melo Uchoa, o local era conhecido como "Largo da Matriz".
            Nesse local se realizava os grandes festejos de Nossa Senhora da Conceição. Era o evento religioso mais importante para os católicos de Barra do Corda. No Largo também jogávamos bola e fazíamos outras diversões de moleque da época.
            Ao redor do Largo existia uns "quiosques" de madeira que serviam de estabelecimento comercial, onde se destacava o do seu Furtunato, no canto da Pernambucana e o dos filhos da Dalila (Cosme e João), que nós apelidamos de "o coito". Título que não agradava muito os proprietários.
            Pois bem, naquele largo existia uma fileira de Palmeiras da Índia em frente à igreja matriz. Não havia luz elétrica na cidade. O largo ficava claro somente com a "lua cheia". Terminavam as missas, terços e quermesses, rapazes e moças ficavam passeando no largo.
            A sociedade cordina sempre foi muito repressora com as meninas. Naquela época você só conseguia dar um beijo na namorada após três meses de namoro, "e na testa". Era terminantemente proibido namorar "arrochado". Como no pé das palmeiras era o lugar mais "escurinho"; para os casais mais fogosos, era o lugar ideal. Assim foi patenteada a máxima: "A moça que for pêga namorando nas palmeiras, no outro dia não era mais moça".
            Geralmente quem descobria essas preciosidades era justamente a turma do "o coito", ficavam brechando. Da minha turma do Ginásio, uma moça que namorava outro ginasiano foram pegos "nas palmeiras". como depois do acontecido ela ficou com a costa das mãos toda arranhada - "prova do crime"; foram submetidos ao julgamento social e do colégio, e foram expulsos do Ginásio e a moça não pôde mais frequentar o Grêmio Cultural Recreativo Maranhão Sobrinho e o Guajajara. Com o rapaz não aconteceu nenhuma retaliação. Ficou conhecido como machão, gatão etc...

*Carlos Trajano Borges – Borginho – barra-cordense, engenheiro civil, mora em Porto Velho (RO)


(TB
22set2013)