História
Como o golpe de 1964 chegou em Barra do Corda
jornal Turma da Barra

 


Brasília em 1964
Foto da internet

Quando aconteceu o golpe de 1964 há 50 anos, Barra do Corda acompanhou o noticiário pelo rádio e pelos informes via telégrafo dos Correios. Não havia telefone local nem interestadual nem tampouco televisão. Mas a cidade foi sacudida pela informação.

Na Barra, o prefeito era o intelectual e professor Edson Falcão da Costa Gomes (1961 – 1965). Na Câmara Municipal, um clima pesado se instalou e muito disse-me-disse nas repartições públicas. Começava um período duro, que barra-cordenses também vivenciariam, onde até o exílio foi o destino.

O TB passa a contar um pouco da história de barra-cordenses. Nessa primeira parte relatamos a do barra-cordense Ronald Rocha Rezende, 26 anos, estudante de Medicina da UFMA e que apareceu morto em São Luís em 1971 nos trilhos da estrada de ferro em São Luís – Teresina.

Ronald era filho de dona Maria Rocha e João Rezende, enfermeiro do Incra. Para muitos, ele foi assassinado pela repressão. Mas o irmão Valmir Rezende acha que foi por “inveja”. Um caso misterioso.

Segundo o irmão Valmir Rezende, professor aposentado de Matemática, o seu irmão Ronald era estudioso, inteligente e tinha muita vontade de ser médico cirurgião. Ele falava sempre que queria ser médico. Era o sonho dele. Disse também que Ronald não mexia com política. Mas acrescenta um dado que durante o período que Ronald morou em Brasília, ele fez contato com a universidade Patrice Lumumba, em Moscou, na então União Soviética, onde era possível estudar gratuitamente medicina. Assim, para
o irmão Valmir Rezende, a morte foi por “inveja”.

Quem também dar de ombros com essa observação de Valmir Rezende é o barra-cordense Aciran Martins, intelectual, bancário aposentado e contemporâneo de Ronald Rezende. “Não lembro do Ronald mexendo com política. Não tinha o perfil de militante. A morte dele é um mistério”.

Mas Rubem Oliveira, que foi presidente do Grêmio Estudantil do Diocesano no início da década de 60, muito amigo do Ronald e moraram juntos em Brasília numa república no Núcleo Bandeirantes, acredita que ele tenha sido morto sim pela repressão.

Rubem conta que Ronald queria estudar na Universidade Lumumba em Moscou e escreveu uma correspondência e é muito provável que a carta tenha sido interceptada. Ronald chegava na nossa república e dizia que estava sendo vigiado. Ele fez vestibular em Brasília não passou e foi para São Luís onde obteve êxito. Depois de um tempo, apareceu morto na estrada de ferro em São Luís todo machucado. Um mistério, afirma Oliveira.

Outro amigo do Ronald foi o barra-cordense Paulo Brasil, conhecido como Paulo Marimbondo, acredita que tudo indica que Ronald tenha sido morto pela repressão. Ronald morava na nossa casa na Vila Tenório no Núcleo Bandeirantes. Três dias depois que ele foi para São Luís apareceram uns homens fardados na nossa casa perguntando pelo Ronald. Disseram o nome completo dele. Quem atendeu foi uma parenta minha, que era criança e que só conhecia o Ronald pelo apelido “Bode Roxo”, daí ela disse que não conhecia. Mas ali pelo meio do ano soubemos notícias que ele tinha sido assassinado em São Luís. Um mistério.

O empresário Gilson Pacheco, que era adolesc
ente, lembra do Ronald chegando em Barra do Corda para ser sepultado. O corpo dele estava todo machucado. “Eu cheguei a pegá-lo”. E os comentários daquele tempo é que Ronald tinha sido morto pela repressão.

O irmão Valmir Rezende acrescenta que a família não soube de nenhuma investigação  por parte da Polícia, Justiça ou Ministério Público a respeito do assassinato. Morreu porque os colegas tinham “inveja” da sua inteligência.

Mas há perguntas que os barra-cordenses que conhe
ceram Ronald Rezende fazem até os dias atuais: Ronald teria sido assassinado por engano?... Por que ele foi assassinado?... Foram as cartas endereçadas a universidade em Moscou para cumprir um sonho de se formar em medicina que levaram-no à morte?... São perguntas por enquanto sem respostas.

 


Casa onde morou Ronald Rezende hoje órgão do governo
Rua Formosa (Frederico Figueira) perto do hotel Falcão


(TB
1abr2014)