Aniversário
Barra faz 180 anos
jornal Turma da Barra

 

Este domingo, 3 de maio, Barra do Corda faz 180 anos.
Hoje foi o dia em que Manoel Rodrigues de Melo Uchoa, em 1835, 
declarou fundada Barra do Corda no porto da Sapucaia, 
na confluência dos rios Corda e Mearim.
Atualmente o município conta com uma população de 85.603 habitantes, 
segundo estimativa do IBGE em 2014.
Também com estimativa do IBGE em 2011, o PIB (Produto Interno Bruto) do município cordino é de R$ 565 milhões. Em 2010, o PIB foi de R$ 493 milhões.
Barra do Corda lidera a região central maranhense em termos de PIB, situando-se entre as 10 maiores economias do estado.
Barra do Corda tem 19 bairros, 8 vilas e cerca de 25 povoados. Alguns desses povoados têm população acima de 5 mil habitantes, caso de Três Lagoas do Manduca, Santa Vitória e Ipiranga.
Mas tem déficit em emprego e renda, quando o índice Firjam (2011, ano base 2009), que mede qualidade de vida, revela que Barra do Corda está classificada em 153º lugar entre as 217 cidades maranhenses.
A natureza doou à cidade riquezas turísticas, potencial agrícola e devida a sua localização estratégica, no centro do Maranhão, poderia se tornar uma cidade universitária ou investir em um polo de informática.
Mas faltam políticas públicas, gestores e formadores de opinião com visão de futuro e, principalmente, políticos comprometidos com o povo barra-cordense.
Este ano, o TB lembra e saúda o cidadão barra-cordense Maranhão Sobrinho, que foi poeta e jornalista, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, 
e atualmente é considerado pela crítica literária 
como um dos quatro melhores brasileiros da escola simbolista.
Parabéns, Barra do Corda!

 

Barra do Corda
180 anos e um dia

jornal Turma da Barra

"Barra do Corda não tem um programa permanente de preservação de sua mata ciliar, 
não combate as intervenções desastrosas nas margens dos rios, não disciplina o uso das margens dos rios, não tem uma política para evitar construções inadequadas.
"

*Cezar Braga

            Resolvi, atender ao pedido do editor, de escrever sobre o aniversário de Barra do Corda, de uma maneira diferente. Escrever não no dia em que ela completou 180 anos, mas um dia depois da festejada data.
            E, assim o fiz, para não me deixar influenciar pelas inaugurações, pelas queimas de fogos, pelas festividades que maquiam a realidade política, social e econômica da Princesa do Sertão.
            Barra do Corda e os barra-cordenses têm hoje muito a celebrar, mas pouco a comemorar. A cidade acolheu pessoas de quase todas as partes do Brasil. Uma cidade com uma história de riqueza incomparável, riquezas naturais, riqueza de arquitetura, riqueza cultural, riqueza de linguagens próprias, que uniu pessoas de origens diferentes e tão distantes.
            Dos cearenses e índios de sua origem, foi formado a hospitalidade e a amizade que se tornaram símbolos dessa bela cidade, ao lado de brasileiros de outras regiões, com seus sotaques e costumes, foi erguida essa cidade única, que acolhe a todos e a todos encanta.
            A cidade teria mais motivos a comemorar se não fosse as administrações municipais, que contribuem para deteriorar o cenário urbano a cada dia, embora projetos esparsos e  elogiáveis sejam esporadicamente implantados, a cidade de ressente de uma política pública eficiente, de programas de desenvolvimento urbano compatível com o crescimento populacional e com as necessidades diárias.
            O fato de ser cortada por dois rios perenes, numa verdadeira benção da natureza, uma dádiva divina a torna singular e deveria ser merecedora de todas atenções possíveis por parte das administrações públicas municipais.
            Barra do Corda não tem um programa permanente de preservação de sua mata ciliar, não combate as intervenções desastrosas nas margens dos rios, não disciplina o uso das margens dos rios, não tem uma política para evitar construções inadequadas.
            A falta dessas políticas, permite a derrubada recorde de árvores, além de evidenciar, quando alguma árvore tem que ser abatida, por doença, também a falta de atenção da Prefeitura na sua manutenção. A prefeitura não poda nem tenta recuperar árvores comprometidas.
            Na área social, as administrações parecem estar brincando com a inteligência da população quando não atenta para o aumento desenfreado do consumo de drogas, para a falta de programas de incentivo ao esporte e à cultura.
            Uma cidade que viu nascer um Maranhão Sobrinho, que despontou para o Brasil, como um dos três melhores poetas simbolistas brasileiros, ao lado de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães, não tem uma semana dedicada à cultura, não tem um festival de poesia, não tem uma semana da leitura, não divulga seus escritores, não tem apreço pela cultura e pela educação.
            Feliz 180 anos, Barra do Corda. Torço para que seus próximos anos sejam comemorados em um cenário mais belo. E que a cidade tenha um prefeito que saiba tratá-la como ela merece, pois tenho convicção de que podemos melhorar Barra do Corda, e muito. Basta querer.

*Cezar Braga é Engenheiro Civil, cronista e escritor, mora em São Luís (MA)

 

Barra 180 anos
Muitos filhos, pais e mães estão esquecidos
jornal Turma da Barra


Por que nós barra-cordenses esquecemos desses pais e mães de Barra do Corda?
Atire a primeira pedra quem tiver a justa resposta...

*Heider Moraes

            Num pensamento rápido, de chofre podemos indagar se nestes 180 anos, a nossa cidade de Barra do Corda tem apenas o Melo Uchoa como único pai?... A resposta vem num átimo: Não, não e não. Temos no mínimo 180 ótimos pais e mães. Numa explicação simples, recorro a um dos poemas obra-prima do Ferreira Gullar, que canta em versos a cidade no sentido mais profundo: “O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade.”
            Quando o Melo Uchoa lá no porto da Sapucaia declarou fundada para erguer a àquela que viria a ser chamada Barra do [rio] Corda, ele não estava só na empreitada. Havia uma boa comitiva, índios Canelas, trabalhadores chamados desbravadores e entre eles o nome de Manoel Raimundo Maciel Parente. Esse moço, uma espécie de primeiro-ministro, que na época era chamado de lugar-tenente, fez muito por aquela que depois seria chamada cidade dos barra-cordenses. Para alguns historiadores, foi Maciel Parente o verdadeiro fundador. Mas o chato disso tudo é que ele não é lembrado atualmente por uma única rua, nem colégio, nada. E merecia era uma avenida, o seu nome em um grande colégio.
            Chego na geração de ouro dos barra-cordenses, talvez a melhor de todos os tempos, àquela que podemos situar entre os anos de 1880 a 1920. Eles fizeram muito por Barra do Corda. Lá estão Frederico Figueira, Isaac Martins, Rocha Lima, Dunschee de Abranches e Francisco Melo Albuquerque. Resumindo: Afora Frederico Figueira e Isaac Martins, os outros três não são lembrados em nenhuma rua, em nenhum colégio.
            Dou uma paradinha especial nessa geração de ouro. É certo que assim como o próprio fundador Melo Uchoa, e Maciel Parente, que não nasceram em Barra do Corda, da mesma forma, Lima e Abranches são de outras cidades. Mas em BDC moraram e trabalharam e deixaram obras memoráveis, no caso dessa geração sem dúvida foi o jornal O Norte.
            Rocha Lima foi um empresário-comerciante. Para o bem da prosperidade de Barra do Corda, ele financiou uma rotativa para que o jornal fosse rodado, impresso perto da redação do jornal ‘O Norte’. Esse jornal foi longe e muito longe. Sua circulação atingia mil quilômetros, era lido na então cidade goiana de Porto Nacional numa época que o transporte terreste era feito em lombo de animal.
            Outra pessoa que deu sua colaboração que merecia um nome de rua ou colégio, foi do promotor Duschee de Abranches. Passou pela cidade barra-cordense tinha lá seus 21 anos, mas deixou marcas para a história barra-cordense. Articulou a redação do jornal O Norte, além de apaziguar um conflito histórico e carregado de violência na vizinha Grajaú. O livro ‘A esfinge de Grajaú’, do Duschee de Abranches, é de leitura obrigatória para quem quer conhecer como era essa região nas últimas duas décadas do século 19. Também desconheço seu nome em ruas ou colégios. Que falha!...
            E o que dizer de nomes como do pintor e poeta Antonio Almeida, que tem um grande painel em São Luís, no antigo prédio do banco do estado do Maranhão? Outra grande falha é não constar o nome do frei Adriano de Zânica, idealizador da igreja Matriz.
            O que dizer de nomes como Isaac Ferreira, que foi poeta, promotor, juiz de Direito, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras. Outro membro da Academia Maranhense foi o barra-cordense Clodoaldo Cardoso, também poeta, o qual foi secretário de estado e publicou livros. Nomes dos senhores Ismael Salomão e Mica Silva, que foram deputados estaduais e outros tantos esquecidos e de real importância para a cidade barra-cordense.
            Na área feminina, por que nomes como da dona Eulina Moreira, primeira eleitora do Maranhão nos idos de 1929; Da senhora Conceição Milhomem, que foi a primeira mulher a assumir a prefeitura barra-cordense; Merecem serem lembradas professoras dos tempos áureos, a freira Irmã Tomásia, inclusive dos tempos das palmatórias, mas de importância histórica.
            Entre os que recentemente partiram é imprescidível o nome do professor Nonato Silva, o maior intelectual nascido em terras barra-cordenses e que tem um currículo invejável. Também o nome do empresário Jaldo Santos e do professor Raimundo José, eles são simplesmente grandes.
            Outra falha é ainda não constar o nome do líder indígena Cauiré Imana, o João Caboré, que está sepultado no antigo cemitério de São Benedito, hoje praça Gomes de Castro, porta de entrada do bairro Sítio dos Ingleses. O nome do Caboré deveria substituir o de Gomes de Castro.
            E sobre o Maranhão Sobrinho?... Este ano é o centenário da morte do maior dentre todos os poetas nascidos em Barra do Corda, que é o Maranhão Sobrinho. É preciso que ele tenha o merecido destaque na terra natal. Destaque na imprensa, nas escolas, nas ruas. O poema-soneto Sóror Teresa até a década de 60 os barra-cordenses recitam de cor e salteado.
            Esse relato é pra dizer que ainda podemos sermos justos por quem deixou obra de relevância para Barra do Corda. Para isso, basta termos bom coração e reconhecer o que diz um adágio romano, que precisamos, além parecermos de justos e honestos, também corretos e retos.
            Por que nós barra-cordenses esquecemos desses pais e mães de Barra do Corda?... Atire a primeira pedra quem tiver a justa resposta...


*Heider Moraes é jornalista

 

 

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