Reportagem
O Rochinha da rua do Rochinha
jornal Turma da Barra

 


Rochinha

Por Álvaro Braga


            Este artigo é dedicado a Eldinha Sousa, neta do Rochinha, aquele que virou nome de rua na Tresidela, no caso a rua rio Jutaí. Eldinha é uma batalhadora persistente, que conserva o amor fraternal familiar com uma intensidade de fazer inveja. Também dedico a seu pai Josiel e Dalva, filhos de Rochinha, que fizeram questão de prestar todas as informações para levarmos aos leitores cordinos um pouco mais sobre a vida daquele que em vida foi um exemplo de amor familiar e de trabalho digno.
            Inicio com a carta que Eldinha nos enviou diretamente da divisa Brasília-Goiás:
            "Com muita emoção meu pai escreveu o que vou passar agora pra você.
            Raimundo Ferreira de Sousa "O Rochinha" nasceu no dia 26/06/1924 no povoado de Leandro município de Barra do Corda,filho de Joana Ferreira de Sousa e Antonio Rocha de Sousa,um casal camponês lavrador. Ainda adolescente seus pais se separaram e ele foi morar com seu padrinho Sebastião Viana,porque não aceitou o casamento de sua mãe.Foi trabalhar por conta própria,era um rapaz muito persistente,trabalhava por empleitada,fazia empleitas de um ano e não parava enquanto não terminava o serviço.
            Trabalhou muito tempo para Raimundo Leite que era dono de sítio de cana no povoado Sitiozinho. Quando terminava um serviço, já cuidava logo de fazer uma nova empleita.Assim foi até quando se casou com Antonia Henrique de Freitas com quem viveu até seus últimos dias de vida.Ela filha de Francisco Henrique de Freitas e Teresa Queiroz.
            Por muito tempo ainda trabalhou na lavoura,mais sua trajetória não foi animadora,nos anos 48 foi cometido de um forte REUMATISMO que o deixou deficiente,mesmo assim continuou batalhando.Era pai de 6 filhos,como já não podia trabalhar na lavoura,com grande dificuldade começou com uma vendinha de secos e molhados,na época chamava-se MIUDEZAS.Enfrentou décadas em uma carroça puxada por um jumento que o levava até a cidade para fazer compras quer levadas para o interior,e assim foi até os anos 70.
            Quando mudou-se para Barra do Corda,morando no bairro Trizidela  e lá continuou com o mesmo tipo de comércio.Na época era o único comércio q tinha lá,as ruas ainda não tinham números,como ele sabia agradar as pessoas com seu jeito simples e humilde conquistou uma boa freguesia.Por isso a rua ficou conhecida como "Rua do Rochinha".Hoje é chamada de Rua Rio Jutaí,mas como referência sempre se fala na "Rua do Rochinha".
            Morou lá até 1987 qd veio sobre ele um forte derrame que levou a falecer. Adoeceu em janeiro de 1987 e foi chamado pelo criador dia 18/06/1987 quando terminou sua trajetória aqui na terra.
            Esta é sua longa história de vida,e mais pura realidade.
            Quem escreveu com muita emoção foi seu filho Josiel Henrique de Sousa"
            Complementando o brilhante relato de seu filho Josiel acrescento apenas que:
            Naqueles sertões da Mucura, antigo Javém, nos anos 60, vivia o Rochinha em uma casa que também era sua venda.
            Comerciava tecidos, vendidos no metro, que puxava com um bastão na prateleira por causa de sua baixa estatura. Vivia de comprar e vender também gêneros como, arroz, feijão, milho, algodão, farinha, que conservava nos caixões, e até remédios.
            Sobre o Rochinha relembra um antigo morador do Javém, Gedeon Ferreira Lima, filho de Manoel Moreira Lima, que o Rochinha era bastante simpático, evangélico, gostava de uma boa prosa e tinha o dom natural de atrair as pessoas ao seu redor. Diz também que sua mulher chamava-se Antônia que o sogro dele era o Chico Henrique, parente do Zé Henrique, pai do ex-prefeito Elizeu Freitas. Continuando ele recorda: “Morávamos no Jenipapo dos Gomes a cinco léguas da Mucura e a duas léguas de onde o Rochinha morava, que era na ponta da Mucura. Meu pai comprava dele o que precisava para pagar com “prazo de ano”, pois naquele tempo era comum se pagar com a safra do algodão. Ele era alvo, do olho azul e andava com dificuldade, mancando de uma perna. Seu transporte era uma carroça puxada por um jumento, que mais parecia um carro-de-boi. Rochinha não montava de sela, e por isso fez a pequena carroça para poder se locomover com mais tranquilidade. Também tinha seus animais de tropa, para transportar gêneros”.
            Sua carroça era toda feita de madeira e não tinha borracha em nenhum lugar, sendo pois, pesadíssima.
            Sua filha Dalva recorda que uma vez um senhor de nome Martim, comprou no “prazo de ano” e veio pagar a dívida na data certa, mas foi avisado por Rochinha que as mercadorias haviam ficado mais difíceis de se adquirir e consequentemente não daria mais para fixar o prazo de um ano para pagar. O novo prazo estipulado doravante, seria de seis meses. Conta ela que o Martim se zangou e não comprou mais!
            Quando vinha para a Barra, pagava um homem para acompanhá-lo a pé, a seu lado, para segurar a rédea da carroça e ao próprio Rochinha, que as vezes se desequilibrava, chegando a cair várias vezes. Da Mucura para a Barra era muito longe e a viagem não dava para tirar somente em um dia, então eles eram obrigados a pernoitar na Juçara, na casa de Raimundo Lau, que ainda é vivo.
            Chegando em Barra do Corda se situou definitivamente na Tresidela e foi o  primeiro comerciante no início daquela rua, especializando-se no comércio de secos e molhados, querosene, rapadura, açúcar. Sua casa era de taipa, depois foi construída uma outra de tijolos.
            Sua filha Dalva, casada com Tomé Rabelo, mora no mesmo local onde Rochinha possuía o seu comércio e conta que naquela rua, que só havia matos, morava na esquina um senhor chamado Manduca, pai do Antônio do Manduca que foi vereador. A rua então, era conhecida por rua do Manduquinha, e com a chegada do Rochinha passou a ser chamada rua do Rochinha.
            Outra filha sua é a Delva do Jeremias, que mora também na Tresidela.
            Dona Evanilde Costa afirma ter visto muitas vezes o Rochinha passar no início da noite com sua esposa Antônio rumo à Assembléia de Deus na praça Maranhão Sobrinho, onde cumpria rigorosamente suas obrigações religiosas.
            Antes de falecer, aos 63 anos, ele havia passado 92 dias prostrado, conta dona Dalva. Ela também faz questão de afirmar que sua venda no Javém era uma “quitanda”.
            Dona Alda Brandes nos disse que na época em que o Rochinha morreu, sua esposa dona Antônia a visitou com uma lembrança muito especial. Era uma lata de goiabada e uma garrafa de guaraná, que sempre o Rochinha oferecia a seu amigo Galeno.
            Dona Toinha, sua esposa, ficou viúva três anos e veio a falecer de ataque cardíaco no Varjão dos Crentes, próximo à Imperatriz.
            Uma coisa é certa: Rochinha, com sua simplicidade e humildade ficou marcado nos corações dos que o conheceram, principalmente os moradores do bairro Tresidela, aos quais também ofereço este artigo.

*Álvaro Braga é pesquisador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Barra do Corda


Rochinha e a esposa Antonia

(TB23jan2011)