Crônica/relato
Recado aos jovens e a seus pais: Moto mata
jornal Turma da Barra

“O jornalismo no qual acredito é aquele de caráter humanístico
e que preste serviços à sociedade” Roberto Cabrini, repórter


Flagrante de um acidente com moto

*por Álvaro Braga

SINALIZAÇÃO BÁSICA:

Sinal Verde – SIGA
Sinal Amarelo –  ESPERE
Sinal Vermelho – PARE

Obs.1: Em Barra do Corda quem não parar um pouco no sinal VERDE está arriscando a vida. Tudo porque o sinal VERMELHO de quem vem na outra rua não é respeitado.

Obs.2: Vi um grupo de jovens parar em um sinal vermelho (Rotatória) e um deles (rebelde sem causa) avançou cantando pneus. Os outros o seguiram. Isso é sintomático: Eles tem vergonha de seguir normas, de fazer o que é certo. Ficam com vergonha uns dos outros, como se o fato de ter uma atitude séria o desmerecesse perante o grupo. Presenciei isso. Relato aqui para contribuir ao debate.

CRÔNICA

            Estou em um dia normal de trabalho, atendendo ao público, fazendo anotações, carimbando folhas de processos, quando vejo entrar no recinto um jovem alto, aparentando ter 19 anos, usando uma mulêta para se locomover, devido a um pé amputado, com gêsso em um braço e um imobilizador ortopédico no outro.
            Me chama a atenção a atenção a tristeza contida em seus olhos. Ele se dirige a mim e pede informações sobre um benefício previdenciário. Peço para ele se sentar. Ele o faz com dificuldade e dores. Me apresenta os papéis abaixo descritos e resolvo saber mais sobre aquele jovem.
            Ele revela ter 20 anos e informa que pegou uma moto emprestada de um amigo e que foi colhido por uma carreta que vinha em alta velocidade na BR-226 e que passou 46 dias no Socorrão em Presidente Dutra.
            O que vejo em seus papéis me deixa petrificado:

FICHA DE ATENDIMENTO DE URGÊNCIA:
“Socorro – Tipo: Traumático, ocasionado por moto e carreta na BR-226.

Observações: Paciente vítima de acidente de moto (moto X carreta), aparentando suspeita de várias fraturas expostas, várias lacerações, com perda de sangue e uma laceração na região frontal, contusão, apresentando sinais de choque, feito os primeiros atendimentos.”

SOCORRÃO:

“O paciente José Lindenberg Rocha deu entrada neste hospital, vítima de acidente de motocicleta com diagnóstico de fratura exposta do cotovelo esquerdo + exposta do pé esquerdo + exposta do antebraço direito + fechada do antebraço esquerdo. Foi submetido à tratamento cirúrgico no pé esquerdo.”

LAUDO MÉDICO:
“Declaro que José Lindenberg Rocha sofreu acidente de trânsito, pilotava uma motocicleta e colidiu com a traseira de um caminhão, com fraturas múltiplas no membro superior direito (cotovelo e antebraço), fratura em antebraço e mão esquerda e AMPUTAÇÃO traumática de pé esquerdo, realizou tratamentos cirúrgicos ortopédicos. Paciente em cadeira de rodas, incapacidade funcional grave de membros superiores.”

            Vendo sua voz ficar embargada pelas trágicas lembranças, procuro distraí-lo e pergunto:
            - Você estuda? Ele responde que fez somente até a 4º Série “para poder assinar o nome e tirar os documentos”.
            Vendo que ele se acalmou, prossigo no bate-papo: - E aí rapaz, tu tinha vontade de seguir qual profissão na vida?
            - Veterinário.
            Sua resposta segura, sem titubear, mexe comigo. Recordo meu pai, que falava sempre que as pessoas de bom coração gostam de animais e árvores.
            Depois penso nos sonhos daquele garoto, que foram desfeitos após sofrer a mutilação no pé.
            Forneço para ele as informações solicitadas e pergunto se eu poderia poderia escrever sobre sua experiência vivida com o traumático acidente e ele diz que sim. Só pede para não revelar seu verdadeiro nome.
            Pergunto o que poderia aconselhar aos jovens como ele, que andam de moto, para que não sofram o que ele está sofrendo.
            Ele pensa um pouco, olha para o alto, como a buscar inspiração e diz:
            “Primeiro, andar devagar, menos veloz. Depois que saí do Socorrão já morreram dois amigos meus em acidente de moto. Esses mais novos que bebem e saem por aí não respeitam sinal. É o que eu aconselho para os meus amigos: respeitar o sinal.”
            Pegando seus papéis em cima da mesa ele fala resignado:
            - Deus foi bom para mim, eu podia ter morrido!
            Fico a meditar em suas palavras e nas três dezenas de amigos e conhecidos, todos jovens, que perdi, vitimas de acidentes de trânsito de 2006 para cá.
            Diversos nomes e rostos alegres e cheios de vida me vem à lembrança e bate uma tristeza, que transformo em oração, recordando: Roney...Jefferson...Crislanny...Helga...Tiffany... Marta...Rogério...Kaio...Bruna...Katiane...Joaozinho...Donato...Juriti...Claudinha...Milú...Chico...Gabriel...Grace...(meu Deus, quanto gente!)...dois garotos da oficina de Motos do Ronaldo, na Altamira...aquele que quebrou o pescoço no Rally depois do Barro Branco... Os três que morreram perto da Pousada...o Kadu...o Gílcimar...o Rodrigo...a Glorinha, que bateu a nuca no asfalto depois que seu namorado empinou a moto...o Zé Félix, que empinou a moto e bateu a cabeça no meio-fio...Nossa!
            Uma turma de jovens inventou um grupo legal chamado “Os Preokupados”. Muita descontração, muita alegria próprias da idade, muita velocidade. Já morreram quatro. Um pena.
            Me pergunto por que um pai que tem dinheiro dá uma moto de presente a seu filho menor, com 17, 16. 15, 14 e até 13 anos!?
            Ele não sabe que é contra a lei dirigir antes dos 18 anos? Para inicio de conversa ele está estimulando o seu filho ou filha a infringir a lei, isso sem falar no risco de ficar sem o filho, que poderá morrer de acidente a qualquer momento por pura inexperiência.
            Não seria melhor dar um notebook ao filho, pagar um curso de inglês ou informática e investir em seu futuro? Uma viagem nas férias, como presente, também seria uma boa pedida.
            Clamo por uma campanha em todos os níveis em minha cidade para acabar com esse morticínio de jovens. Os pais tem que proibir seus filhos de empinarem bicicletas e motos. Virou epidemia nas ruas da Barra. Cada um que passa com a mina na garupa, nas noites, empina a moto até por 200 metros para se exibir. O senhor, pai, a senhora, mãe, estão sabendo disso?
            A Polícia Militar sob o comando do major Markus (meu conterrâneo), já deu o pontapé inicial com várias blitz pela cidade, com bons resultados, visando coibir a prática.
            A TV Jitirana há tempos que alerta para o problema. Raimundo Carvalho e o Bocão já abordaram o assunto muitas vezes. O jornal Turma da Barra pede providências desde 1989!
            Por favor não se omitam as autoridades, o Ciretran, os professores, as igrejas, as escolas, os jornais locais, os sites, as rádios e as televisões. Vamos salvar nossas crianças? O cruzamento da rua Luís Domingues com a rua Cel. José Nava, em frente ao Cartório do 2º Ofício há tempos clama por um semáforo.
            Uma fiscalização rígida contra motos e carros pilotados por menores vai doer no bolso de muitos pais, mas isso é necessário.
            Ensinar os menores a seguir a lei desde cedo produzirá cidadania consciente.
            Penso que mais guardas municipais poderiam ser contratados, para ficar fiscalizando, um em cada sinal, no centro da cidade.
            E penso sobretudo, na dor atroz das famílias contemplando os filhos queridos, sem vida, inertes dentro dos caixões, derramando rios de lágrimas sobre lindas coroas de flores.
            É o que penso.

*Álvaro Braga é historiador, membro da ABL, mora em Barra do Corda (MA)


Jovens se preparam para empinar moto


Uma cena sinistra e cada vez mais comum
autoridades precisam tomar providências

(TB14ago2011)