Entrevista: João Pedro Luz
Um artista, sua arte
 e a magia das cores

jornal Turma da Barra


Pedro Luz em seu ateliê
Ao fundo um dos quadros

*por Álvaro Braga

            João Pedro Luz das Neves é um poeta. Na verdade é um poeta das cores e dos pincéis. A fama de sua técnica laboriosa é reconhecida no Maranhão e noutros estados do Brasil. Em Barra do Corda é um desconhecido. Tivesse ele nascido em São Paulo, Rio de Janeiro ou Nova Iorque seria um sucesso internacional.
            Pode-se dizer, que sua clientela, ávida por seus trabalhos, é quase toda formada por pessoas de outros centros. Essas pessoas, que entendem de arte, e de mercado de arte, veem no pintor e artista plástico João Pedro Luz, um artista diferenciado, possuidor de uma técnica apurada que lembra os mestres renascentistas.
            Os poucos que reconhecem sua capacidade e talento em Barra do Corda, são, justamente aquelas pessoas que valorizam os artistas da terra e sabem o real sentido da palavra cultura.
            Dono de uma humildade, que se reflete no olhar, o pintor conhece o terreno em que pisa, pois sua obra, que varia do paisagístico à natureza morta, contém elementos sacros, motivos religiosos, retratos de perfis humanos, cenas históricas, e, sobretudo, possui a grandeza de ter a cidade de Barra do Corda como tema.
            Encontramos o artista no início da noite, em sua casa-ateliê na rua Rio Araguaia, no bairro Tresidela. Estava com a mão na massa, ou seja: estava na plenitude do universo que o cerca, a trabalhar com as tintas, telas e pincéis.
            Casado, pai de dois filhos, João Pedro Luz nasceu do dia 30 de outubro de 1965, é filho de dona Maria do Socorro Luz das Neves e Antonio Guedes das Neves. É neto do antigo alfaiate Pedro Salomão. A habilidade manual que possui já vem de outras gerações.

TB – João Pedro Luz, com que idade começou a pintar seus quadros?

JOÃO PEDRO – Por volta dos dez anos de idade.

TB – Como nasceu a vontade de pintar?

JOÃO PEDRO - Através de amigos. Comecei a desenhar com lápis de cor, lápis de cera, em cartolina, que eu gostava muito. Aí, fui gostando do resultado do trabalho. Depois passei a desenvolver o trabalho e a me aperfeiçoar.

TB – Qual foi o trabalho mais desafiador em todos esses anos?

JOÃO PEDRO – O mais desafiador, para mim foi o painel retratando o momento do descobrimento de Barra do Corda.

TB – Quem encomendou?

JOÃO PEDRO – Quem encomendou essa tela foi dona Alda Brandes. Ela não tinha fotografias. Então, eu consegui juntar uns amigos no quintal de uma casa, para fazermos um estudo ao ar livre. Na época quem me ajudou a fazer o tema foi o doutor Nonato [dentista]. Juntei os amigos e ele então, pediu-me que colocasse cada um figurante em uma posição diferente, e passou a fotografar. Através dessas fotos eu consegui passar para a tela a idéia de dona Alda, de como teria sido o heróico momento da descoberta de Barra do Corda pelo cearense Melo Uchoa. É um painel grande, de 3 metros de comprimento, por 1,5 de altura. O Eduardo, repentista e pedreiro, do Jenipapo dos Vieiras, até participou também, da encenação.

TB – Você também pintou as Estações do Calvário?

JOÃO PEDRO – Sim, pintei. Foi em 2001. São 14 estações.

TB – Quais são os materiais mais utilizados em seu trabalho?

JOÃO PEDRO – Acrílico. Eu utilizo muito a tinta acrílica. Aqui mesmo eu preparo com cola e a tinta xadrez. Também pinto com tinta comum mesmo.

TB – É verdade, que tanta experiência acumulada, o transformou em professor de pintura?

JOÃO PEDRO – É verdade. Estou ministrando alguns cursos na Casa do Artesão, como pintura e artesanato.

TB – Quais são os seus alunos?

JOÃO PEDRO – Tem a dona Francisca do S. Filomeno, a Tânia Milhomem e alguns outros.

TB – Quais são os outros pintores aqui de Barra do Corda?

JOÃO PEDRO – Temos o Didi Mocó, o Leal, o Newton Alencar, o Antonio Filho e dona Dedé Melquíades, que foi embora. Existem ainda muitos outros que não apareceram ainda por falta de oportunidades.

TB – O que está faltando aqui na Barra para promover mais os artistas locais?

JOÃO PEDRO – Falta o pessoal estudar mais para saber o que é cultura. Isso, da parte das pessoas que tem dinheiro, que poderiam incentivar. A gente percebe que essas pessoas só se preocupam com bens materiais, não se preocupam em ajudar as pessoas. Acho que o que falta é isso, incentivo do poder público. A gente vê por aí em outras cidades, que a cultura é bem mais valorizada. Ainda bem que existe a Casa do Artesão que ajuda não só a mim, como a muita gente também. É um exemplo a ser seguido. A presidente da Casa, para quem não sabe, chega a tirar dinheiro do próprio bolso para manter o único lugar que valoriza o artesão aqui na Barra.

TB – Qual a mensagem que deixaria para os jovens talentos que estão surgindo?

JOÃO PEDRO – As pessoas que gostam da arte tem que procurar se integrar mais, mostrar o trabalho, não ter vergonha de mostrar. Antigamente eu tinha medo de divulgar meu trabalho, ser reconhecido, hoje em dia não. A luta do artista e essa, é divulgar. Alguns não mostram por que não tem incentivo, oportunidade.
Eu digo para essas pessoas que não desanimem, estudem, perseverem, pois assim, conseguirão atingir seus objetivos.

TB – João Pedro, o que está achando da oportunidade de ser o primeira artista a retratar o fundador de Barra do Corda, através de uma encomenda solicitada por um escritor da cidade?

JOÃO PEDRO – Para mim é uma honra, pois tem muitos artistas aqui que tem capacidade de fazer esse trabalho, que estamos programando, e que vai ficar na história. Eu me sinto lisonjeado. Ele inclusive me disse que futuramente pretende doar o retrato de Melo Uchôa para a cidade. Uma coisa é certa, o fundador de Barra do Corda vai ter um rosto.

TB – Quais foram as mostras e exposições que já tiveste a oportunidade de participar?

JOÃO PEDRO – Aqui na Barra, já participei de muita coisa. Tem os painéis da Igreja da Matriz. Dois deles, grandes. Em fiz uma exposição, não individual, foi uma coletânea que a gente fez em Brasília. Fiz em seguida uma em Barra do Corda. Depois participei do Multicenter SEBRAE, em São Luís. Em São Paulo eu participei de duas exposições, mas já faz muito tempo. A de São Paulo eu morava lá. Então a empresa que eu trabalhava me inscreveu e eu participei. Na que houve em São Luis, a Secretaria de Cultura ajudou, “mas na que houve em Brasília, tive que tirar dinheiro do meu bolso para ir, pagando as passagens de ida e volta. Mas valeu.”
Os artistas cordinos em geral, como os pintores, poetas, músicos, cantores, jogadores de futebol, nadadores, atletas de volei, de artes marciais e até os estudantes, quando se sobressaem e tem a oportunidade de representar bem a nossa cidade lá fora, enchem o peito de orgulho ao dizer que são de Barra do Corda, que fica lá no Maranhão, e que amam a cidade em que nasceram.
É preciso que Barra do Corda também os ame um pouco mais.


Um dos quadros de Pedro Luz
que retrata a praça Melo Uchoa
quando a igreja Matriz era no meio da praça


Quadro do Pedro Luz
que retrata a vida interiorana de Barra do Corda

(TB14nov2010)