Crônica
Velha casa do primeiro aeroporto
jornal Turma da Barra

 

Uma vez Juarez Bílio, Zé Menezes e outros amigos resolveram pregar uma peça no Cego do Candeira

*Álvaro Braga

                Aqui morava e trabalhava o Sebastião, vulgo Cego do Candeira, que vendia passagens e couro de gato maracajá para os passageiros dos aviões que faziam escala na Barra.
                Uma vez Juarez Bílio, Zé Menezes e outros amigos resolveram pregar uma peça no Cego do Candeira.
                Juarez tinha a mesma voz de Frei Bernardino e então o Zé Menezes, brincalhão como ninguem, chegou e falou sério: - Sebastião, eu trouxe o frei Bernardino para lhe confessar, porque você nunca se confessou e está vivendo em pecado!
                O cego se amedrontou e consentiu.
                Juarez imitando o Frei Bernardino começou: - Então, filho mio, o que tem a contar à Deus?
                O cego respondeu: - Eu fiz muita malcriação, seu padre, carrego a culpa de ter roubado muita manga do quintal de uma véia; joguei muita pedra em cachorro e calango; respondia muita pra minha mãe e brechava muita menina tomando banho nua no riacho!
                Juarez demonstrando zanga disse: - Ora, ora, ora...já tá com saliência, sujeito? Vai pagar penitência de rezar 100 Ave Maria e 100 Pai Nosso, tá ouvindo?
                O Cego do Candeira, de cabeça baixa, só respondeu: - Sim, Frei Bernardino!

*Álvaro Braga é membro da Academia Barra-Cordense de Letras

(TB14mar2013)

 

Crônica

O fazendeiro caduco

jornal Turma da Barra

Zé Tenório previu uma desgraça mas criou coragem, respirou fundo e disse:
           - Coroné, o pinto dos zói furado morreu!

*Álvaro Braga

           Antigo dono de terras a perder de vista, com mais de trinta mil cabeças de gado, empregados e benfeitorias, o patriarca Heliodoro Junqueira há tempos ficara caduco e filhos e netos tocavam os seus negócios com muita competência.
           Ficara demente por castigo de Deus de tanto humilhar os empregados e se aproveitar das donzelas filhas dos subalternos. Cobiçar e seduzir as esposas destes também era sua especialidade.
           Mesmo aos noventa e oito anos, sua imponente figura de tez pálida, alta, esquálida, de longas barbas brancas, que lhe davam um aspecto de Antônio Conselheiro, ainda causava temor e respeito, mesmo vociferando sozinho palavras desconexas ou espraguejando os meninos da fazenda que encontrava pelo caminho quando vinha visitar suas propridade uma vez por ano, para desesperos dos trabalhadores.
           Numa dessas visitas, chegou cedo da cidade e ao transpor a porteira da fazenda "Espinhaço da Cabra", ordenou ao motorista que parasse sua Rural Willys.
           Algo havia chamado sua atenção. Desceu, bateu a porta com força e foi até a sombra do velho juazeiro. Abaixou-se, pegou nas folhas secas. O olhar de águia perscrutou o horizonte como a procurar algo. - O que foi coronel? Perguntou o capataz Zé Tenório, que se aproximava, receoso. Heliodoro perguntou colérico, fitando-o nos olhos, possesso:
           - Cadê o pinto do ôi furado??!
           Zé Tenório previu uma desgraça mas criou coragem, respirou fundo e disse:
           - Coroné, o pinto dos zói furado morreu!
           O velho patriarca, enfurecido com tamanha calamidade, verdadeira hecatombe, desabafou aos gritos:
           - Tá se acabando tudo, tá se acabando tudo! Por isso não tenho gosto na vida! Vamos simbora, não passo nem mais um minuto nessa merda!
           Entrou no carro, deram meia volta, da entrada da fazenda e foram-se com todos os diabos.

*Álvaro Braga é membro da Academia Barra-Cordense de Letras

(TB/27nov2012)

 

Crônica
O afilhado do presidente Kennedy
jornal Turma da Barra
 
"Espalhou-se a notícia de que no sertão paraibano existia um afilhado do presidente americano. 
E tudo corria bem para Zé das Cabaças que quase não pisava no chão de tão orgulhoso de seu "parentesco" com o homem mais poderoso do mundo. Era intimidade demais
"

           O Zé das Cabaças morava no sertão paraibano. Pobre de Jó, mas orgulhoso. Sua esposa, ele ganhou numa aposta com o sogro, que dava a filha em casamento para quem matasse uma onça com uma faca. Ele foi até a furna de um fedor do cão e voltou todo azunhado com o couro da bicha na mão.
           Corria o ano de 1963 e veio o primeiro filho do casal. Para eles o padrinho não podia ser um mama na égua qualquer. Não senhor! Nada disso! Teria que ser alguém que ninguém jamais esquecesse o nome. Era o filho de José das Cabaças, ora essa! Não era o filho de qualquer um.
           Combinou com a mulher e mandaram uma carta para o presidente americano John Fitzgerald Kennedy, convidando-o para vir ser o padrinho de Sizenando.
           Para surpresa de todos que habitavam o pequeno povoado, chegou a carta-resposta direto da Casa Branca, cheia de selos de Cabo Canaveral e Capitólio. Os trinta moradores do lugarejo esticaram o pescoço para verem o próprio carteiro lendo o que estava escrito, com seus poucos conhecimentos da língua inglesa.
           Estava escrito: "Zé, sinto-me honrado com seu amável convite e de sua patroa Indalécia para que eu seja o padrinho do Size, mas a distância para o Brasil é medonha de longe e sendo assim vou mandar o cônsul americano em João Pessoa me representar. Mando um abraço a todos vocês aí de Escorrega Lá Vai Um e um beijo em meu afilhado. John F. Kennedy".
           
Foi uma festança o batizado, com muito foguetório, aluá, gengibirra, arroz-doce, mungunzá, pamonha, canjica e milho assado e o cônsul se empanturrou de tanto comer inhame, batata-doce assada na brasa e peba na pimenta.
           No final da solenidade de batismo ele assinou: "Foster Milles, a rogo de John F. Kennedy".
           Espalhou-se a notícia de que no sertão paraibano existia um afilhado do presidente americano. E tudo corria bem para Zé das Cabaças que quase não pisava no chão de tão orgulhoso de seu "parentesco" com o homem mais poderoso do mundo. Era intimidade demais.
           Como tudo na vida é imprevisível, assassinaram o presidente americano em Dallas e as rádios do mundo todo levaram a notícia até o Zé, que caiu desacordado quando soube da terrível tragédia que se abatera sobre sua família.
           Quando acordou com alguém colocando álcool em seu nariz ele disse: - Vixe Maria, vixe Maria, mataram o cumpádi Jon Quende! Meu Deus, tenha piedade!
           Vexado, foi contar à mulher a infausta notícia. Indalécia caiu em prantos, arrancando os cabelos e disse:
           - Ave Maria, home, fico pensando é de como é que num tá a aflição de comadre Jackeline à uma hora dessas!

*Álvaro Braga é membro da Academia Barra-Cordense de Letras

(TB19nov2012)

 

Artigo
Queixumes
jornal Turma da Barra

O fogo da carne, que a consumia não era apagado por Heráclito, seu parceiro doméstico. 
Não por inapetência ou incompetência dele, mas por capricho da mulher

*Álvaro Braga

           Ele bradava aos quatro ventos: - Só me casarei no dia em que encontrar uma dama em sociedade e uma vadia na cama! E não permita a divindade que eu sofra de uma doença chamada ciúme.
           Casou-se e não foi feliz. Havia encontrado a mulher de seus sonhos, mas, que possuía apenas uma ligeira diferença do protótipo feminino idealizado em suas bravatas: Rocicléia era uma dama em casa e uma vadia em sociedade.
           O fogo da carne, que a consumia não era apagado por Heráclito, seu parceiro doméstico. Não por inapetência ou incompetência dele, mas por c
apricho da mulher, que não o amava mas o respeitava, em casa, com um respeito que ele não queria. Desejava que ela fosse uma Lilith ou uma Messalina entre quatro paredes, com trajes vermelhos, tridente, chicote e chifrinhos, sendo os dois consumidos pelas chamas vorazes da paixão.
           Infeliz, afogava as mágoas com doses de conhaque e zinebra com um fiel amigo de bar e do carteado, segredando mistérios de alcova e revelando que pedira aos deuses um vulcão em forma de mulher e o destino o havia contemplado com um iceberg.
           Antenor que era "sócio" dele, garantiu:
           - Ela é séria demais! Um brinde à santa da sua esposa! Todos te invejam, homem de Deus! E brindaram, gargalhando no sereno da madrugada, enquanto a vitrola tocava: "... Dolores Sierra vive em Barcelona, na beira do cais..."
           Esta foi a sina de Heráclito: Jamais descobrira qualquer deslize da linda esposa, pois seu peito era seco e jamais sentira na vida o doce sabor amargo do ciúme.

*Álvaro Braga é membro da Academia Barra-Cordense de Letras

(TB/11out2012)

 

Artigo
O homem que foi surrado
com uma cobra

jornal Turma da Barra

 

*Álvaro Braga

           Esse fato bizarro, que dá nome ao título da crônica, aconteceu em Barra do Corda no ano de 1978.
           Era uma manhã de sábado, por volta das 7h, quando um cearense, vendedor ambulante, chegado de Pedreiras, deitou um pano vermelho no chão da praça Getúlio Vargas, na calçada em frente ao edifício Machado, abriu um velho saco e ali colocou alguns produtos para vender, como óleo de tartaruga da Amazônia, óleo de puraqué, banha do bôto-cor-de-rosa, óleo de baleia, banha de cobra cascavel e pomada de aruanã.
           Depois de colocar no chão os seus produtos extravagantes, o vendedor retirou de suas tralhas uma mala de madeira fechada, o que atraiu a curiosidade dos passantes.
           Logo ele começou a anunciar os seus produtos e atrair a atenção das pessoas que passavam e vinham do mercado.
           Em torno dele formou-se uma aglomeração, fascinados pela voz do ambulante que prometia curas milagrosas com suas pomadas e óleos de peixes e répteis.
           Com sua voz potente de experimentado vendedor, calejado pela vida, ele prometia curar: bico-de-papagaio, frieira, olho-gordo, antraz, fimose, unheiro, coceira, curuba, mordida de cachorro-doido, cobreiro, chulé, unha encravada, dor-de-corno, liseira, piolho, hemorróida-de-botão, lombriga, bicho-de-pé, asma, calo seco, verruga, chifre, tosse braba, caspa, pira, dor no “estambo”e engasgo com espinha de traíra.
           Um gaiato perguntou se ele curava barriga d”água e ele respondeu rápido:
            - É minha especialidade!
           Percebendo que a manhã ia ser das mais lucrativas, ele abriu a mala de madeira. Nela estava enrodilhada uma grande jibóia malhada, de mais de um metro, que logo tratou de levantar a cabeça, para susto dos curiosos.
           O vendedor falava para a multidão: - Podem passar a mão nela que é mansa, não tem problema!
           E continuava a anunciar e a vender seus produtos: Uma pomada para o senhor, um pote para aquela senhora. Quem vai querer mais? O produto é garantido!
           E a lábia do sujeito era grande:
           - Moça bonita não paga, mas também não leva! Quem quer mais, olha, olha!
           E as pessoas compraram quase todo o estoque de pomadas e vidros de óleo do sujeito, apesar da origem e eficácia duvidosa.
           Mas um fato inesperado mudou o desfecho daquele dia, que prometia ser mais um dia normal, para quem vendia seus produtos de cidade em cidade, desde o Ceará, passando pelo Piauí e Maranhão.
           Depois de uma noite de farra nos bares, na noite anterior, vinham com destino ao Guajajara Clube, o Dom Régis Falcão, com seu cavaquinho, e seus fiéis mescudeiros, o Pepeu com o seu violão e o Zé Bikin com a sua flauta.
           O Régis, se incomodou com aquela multidão na calçada e com aquele comércio de mercadoria duvidosa.
           Chegando perto do ambulante, Régis, que estava meio de ressaca foi dizendo:
           - Como é que você não tem vergonha de vir para a Barra do Corda enganar as pessoas com essas pomadas que não serve pra nada, seu malandro?!
           E sem dar tempo de reação, pegou no rabo da cobra, e antes dela se enrodilhar em seu braço, passou a açoitar o vendedor com a dita cuja.
           Os primeiros “golpes de jibóia” por cima do ombro do homem, lançou excrementos do réptil nos presentes, numa cena típica de filme de Mazzaropi.
           Depois bateu com ela no chão que a barriga abriu. A cobra ficou se contraindo de dor.
           O homem visivelmente zangado, criou coragem e disse para o Régis:
           - Essa cobra é meu ganha pão. Eu quero uma cobra nova!
           E saiu para dar parte do Régis na delegacia.
           João Bileu que estava presente, pegou a cobra ferida e foi contar o ocorrido para dona Aurora Falcão, mãe do Régis, que se espantou quando a viu, dizendo: - Viche!
           Logo cuidaram de levar a cobra para “consertar” no consultório do doutor Anísio, que ficava na casa onde depois iria morar o Zé Cachimbo e sua família.
           A notícia se espalhou pela cidade. No mesmo dia aconteceu a capotada que o Édem, filho de dona Dária deu em um fusca que ele pegou para dar uma volta.
           Doutor Anísio costurou a cobra e a salvou, depois de séria operação. E depois foi entregue ao homem, mas, mesmo assim o delegado intimou Regis a pagar Cr$ 800,00 (oitocentos cruzeiros), que na época não era tanto dinheiro assim, mas que daria para “comprar uma nova cobra”.
           Dona Aurora pagou ao “homem da cobra” o valor estipulado e durante muito tempo se comentou na Barra sobre o dia em que um homem pegou uma surra de jibóia, fato insólito e inédito na história da humanidade.
           Só mesmo o Dom Régis, para ser o protagonista de cena tão hilariante.

*Álvaro Braga é membro da Academia Barra-Cordense de Letras

(TB/13nov2011)

 

 

Artigo
Campus da UFMA é solução sim
jornal Turma da Barra

 

*Álvaro Braga


           Li com muita atenção o artigo do professor Cláudio Ferreira Lima, da referência nacional que é a Universidade Federal de Viçosa - MG, e o mesmo demonstrou um admirável conhecimento sobre a questão educacional em um contexto mais amplo.
           Eu diria, emérito professor, que nossa cidade de Barra do Corda está com 30 anos de atraso em relação às outras cidades maranhenses que foram contempladas. Para exemplificar meu raciocínio, vamos lá no site da UFMA para ver, ipsis literis, o que nossa cidade da região central maranhense está perdendo, com prejuízos incalculáveis, na esfera educacional, sócio-econômica, política e humana. Lá diz:
           "Com mais de três décadas de existência, a UFMA tem contribuído, de forma significativa, para o desenvolvimento do Estado do Maranhão, formando profissionais nas diferentes áreas de conhecimento em nível de graduação e pós-graduação, empreendendo pesquisas voltadas aos principais problemas do Estado e da Região, desenvolvendo atividades de extensão abrangendo ações de organização social, de produção e inovações tecnológicas, de capacitação de recursos humanos e de valorização da cultura."
           Uma nova Universidade para o Maranhão, é o que podemos vislumbrar de melhor para nossos jovens. Mas isso leva tempo, estudos, projetos, política macroeconômica, e também vontade governamental nas três esferas do poder, não para pensar o Maranhão até 2050, mas já para 2020.
           No entanto, caro mestre, em virtude de tão grande atraso e déficit educacional, sem desmerecer seu pensamento, que se mostrou de vanguarda, sem ser utópico, ou visionário, no momento temos que ser pragmáticos ao buscarmos o possível. Para nós, no momento pensar Grande é termos, ao menos, a UFMA por aqui.

*Álvaro Braga é historiador, mora em Barra do Corda (MA)

(TB/10dez2010)

 

 

Artigo
Restaurantes populares municipais: um sucesso
jornal Turma da Barra


 


Restaurante Popular em Imperatriz

*Álvaro Braga


           Fundado há quase dois anos, o Restaurante Popular de Imperatriz é mantido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em parceria com a Prefeitura Municipal de Imperatriz, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES), serve diariamente 800 refeições à comunidade de segunda à sexta-feira pelo valor simbólico de 1,00 real.
           O projeto é o que se pode chamar de uma parceria de sucesso. É o que dizem as centenas de pessoas que trabalham no centro da cidade, e que, ao meio se dirigem para a rua Simplício Moreira, para pegar uma senha, pagar um real e enfrentar uma pequena fila para receber um bandejão, no qual são servidos pelas nutricionistas uma alimentação saborosa e balanceada com os mais diversos ingredientes e variado cardápio.
           O coordenador Natalino Lima faz uma avaliação positiva da função social do Restaurante Popular de Imperatriz: “Esse projeto é de primordial importância à comunidade, com a questão social do povo, contribuindo para a redução da fome e a miséria”, frisa.
           Ele lembrou na ocasião que o Restaurante Popular de Imperatriz tem recebido a visita de pessoas dos estados de Goiás e São Paulo. “Essas pessoas também ficaram admiradas com o nosso trabalho, bem como o atendimento que é dispensado a nossa clientela”, acentua.
           Segundo informações da nutricionista responsável pelo cardápio, semanalmente são servidos alimentos à base de fígado, carne de boi, frango, peixe, e suínos, massas, arroz, feijão, hortaliças, verduras, além de sucos naturais e frutas. (informações do site www.imperatriz.ma.gov.br )
           Taí uma boa idéia que merece ser copiada e realizada pelos nossos governantes, para dar uma melhor qualidade de vida ao povo de Barra do Corda.

*Álvaro Braga   

(TB/22jul2010)

 

 

Artigo
Denúncia: "Meu filho é viciado em crack"
jornal Turma da Barra

*Álvaro Braga


           Aquela senhora humilde, sofrida, a perambular pela cidade em busca de uma solução para o problema de seu filho, que é viciado em crack me chama a atenção. Pergunto a ela como está sendo a sua vida depois que passou a conviver com esse drama.
           M.A.V.S., viúva, 56 anos, me olha, com um olhar de quem busca no infinito um sopro divino que atenue as suas angústias mais profundas, e baixa a cabeça, sem conseguir olhar em meus olhos. Talvez para esconder alguma lágrima que possa denunciar o inferno por que está passando, como se a própria condição de penúria e miséria extrema já não fosse o suficiente.
           E fala. Fala com o coração aberto. Um relato verdadeiro, de uma crueza de assustar, sem rodeios ou subterfúgios:
           “Eu sofro, seu menino. Eu sofro. Tenho dois filhos viciados. Depois que se viciaram quebraram tudo que tinha dentro de casa. Perderam o juízo. Perdi meus filhos. Oh! meu Deus! Perdi meus filhinhos...( e chora! ).
           Já corri de casa feito louca. Caí no meio da rua e o povo me acudiu. Me atacou uma depressão. Eu olho pro céu, perguntando o que eu vou fazer, como vou resolver isso e não encontro resposta. Passo dias e dias andando pro CAPS pra conseguir um encaminhamento para uma internação em São Luis. É uma luta meu amigo. Nem queira saber. Se aqui na Barra tivesse uma clínica pra recuperação desse povo que usa droga seria um alívio para as mães que carregam essa cruz.
           Um dos meninos fala a toda hora de me matar com um pau se eu não der dinheiro pra ele comprar o negócio dos infernos que chegou aqui na Barra. O outro só não quebrou a geladeira porque eu amarrei na parede. Um é mais calmo, quando dá a crise fica na rua andando pra cima e pra baixo. Já o que é mais violento sai gritando, correndo, pedindo socorro, aperreado. Não tem sossego, se entorta todo, fica se contorcendo, se babando. É um horror.
           Eu crio quatro netos com dificuldades. Já to preocupada com eles, de como vai ser, presenciando essas coisas dentro de casa.
           Meus filhos já foram presos três vezes. Eu mesma chamei a polícia. Chamei sim, pois, o que é que eu vou fazer?
           Minha esperança é chegar na Barra uma coisa séria, dura, aí tenho certeza de que não fica desse jeito. Os vendedores do crack iam ficar com medo aí paravam de vender.
           Semana passada eles quebraram uma estantezinha de madeira que eu tinha, e os pratos. Arrebentaram tudo. Não tenho mais nada, só o dia e a noite.
           Eu era uma mulher forte, trabalhava na roça lá no interior, agora eu tô com uma agitação no meu juízo. Chego a tomar quatro tipos de remédios diferentes. Além da depressão tenho uma senhora de diabetes, problema de pressão baixa e labirintite e todo dia eu tenho que tomar esses remédios.
           O pessoal diz que ainda sou uma mulher forte, pelo que eu estou sofrendo, pois eu ando sem comer nem dormir direito.
           Eu tenho muito medo do pessoal matar eles no meio da rua. Tem um que só pensa em brigar com os moleques. Esse chega em casa todo arranhado e sujo, aí me persegue pelo dinheiro que eu recebo do meu auxílio-doença. Ele me bate, me agride, até que eu perco as forças e o juízo e dou pra ele todo o dinheiro que eu trouxe do banco. E ele pega e sai pra comprar droga com cachaça e some no mundo.
           Olhe seu moço, eu tenho medo de matar ou morrer... o meu sofrimento não é fácil. Aqui já era pra ter um lugar para internar esse pessoal. Aquilo é uma droga do satanás!
            no Piquizinho há uma mulher que tem um filho do mesmo jeito. Ontem eu soube que um filho esfaqueou o pai lá na Cohab.
           Eu queria que alguém ajudasse os pais. Eu imploro a Deus todo dia, e peço para ser atendida.
           Eu tô sabendo que tem muitas mães sofrendo. Não é só eu não. Aqui na Barra ta cheio de gente viciada. Já deu vontade de amarrar os meus filhos dentro de casa. Mas isso não resolve. Pra que? Para me processarem?
           Precisa de uma providência grande para ser tomada em Barra do Corda. Depois vai ser tarde. Em São Luís tem as clínicas. E aqui bota aonde?
           Aqui na Altamira tem uma senhora, gente da alta, que ta com esse mesmo meu problema, o filho dela quando passa o efeito da droga ele fica se mordendo todo, igualzinho ao meu. Se as autoridades não tomarem providencias logo aqui vai ficar igual a São Paulo. Lá virou uma peste, eu vejo na televisão todo dia. Não tem mais controle. A polícia largou de mão.
           Se eu soubesse onde fica essa laia que mexe com isso eu ia atrás pra dar uns tabefes, pra ver se deixavam meus filhos em paz!”
           M.A.V.S. ainda encontra forças no fundo de sua alma para ser solidária:
           “Eu tenho muita pena das outras mães que estão passando também pelo que eu estou passando. Se eu souber e puder ajudar eu nem conto até dois, eu ajudo mesmo”.
           Que grande mulher esta senhora. Um exemplo de vida e dignidade! A camiseta de malha que usa, já surrada, traz a imagem de um pássaro com a palavra Felicidade estampada.
           Que ironia!

*Álvaro Braga é estudante de História da UEMA em Barra do Corda

(TB/1ºjun2010)

 

 

Artigo
A arte de engabelar
jornal Turma da Barra

*Álvaro Braga


           Lucídio Portela, sagaz político piauiense, irmão do saudoso Petrônio Portela gostava de afirmar em rodas de amigos: - “A política é como uma nuvem, uma hora está de um jeito, daí a pouco está de outro jeito.” Na verdade ele parodiava José Maria Alkmin, Tancredo Neves e Magalhães Pinto, os possíveis autores da frase.
           O cearense Descartes Sélvas, funcionário do antigo DVOP, getulista ferrenho, de rija têmpera, e fanático por Franklin Delano Roosevelt, dizia abertamente: ”A política é a arte de engabelar o povo.”
           Mormentemente (como dizia o prefeito Odorico Paraguaçu, o personagem que foi a síntese do político engabelador, na primeira novela a cores da TV brasileira, O Bem Amado, de Dias Gomes), me contaram que em Sobral, dos tempos idos, havia um candidato de nome Maia, que não sabia falar em público e resolveu solicitar os préstimos de um amigo falastrão e golpista chamado Conegundes, para que este o apresentasse ao eleitorado na hora do comício.
           Tudo posto e contratado, é chegada a hora. A praça da Igreja lotada. Banda de música tocando seus dobrados, rancheiras e marchinhas. Candidatos apresentados. Palanque armado em cima de um velho caminhão FNM. Maia é indicado para falar. Tremendo mais que cuia de cego em porta de igreja, Maia cochicha ao pé do ouvido de Conegundes, já o empurrando para o microfone: - Vai, agora é contigo. Lasca.
           O pau mandado não se faz de rogado e solta o verbo:
           “ - Eu, que conheço o trabalho deste homem!...”
           Muito bem doutor! Interrompem em aplausos. Conegundes vira-se para Maia e diz: “- Me chamaram de doutor e olha que ainda faltam dezoito anos pra terminar medicina!” E continua, cada vez mais empolgado:
            – “Este homem meus amigos, tem um currículo político dos mais bonitos da vida política de nosso Estado!”
           - “Este homem, meus amigos, quase foi expulso de casa para estar presente aqui com vocês!”
           - “Este homem, meus amigos, tudo o que ele faz, é baseado...” (quando ele falou esta palavra, correu aquele enxame pra cima do caminhão, pensando que era outra coisa e ele teve que voltar as palavras):
           - “Tudo o que ele faz é baseado, nas protuberâncias da vida!” (Aplausos e mais aplausos).
           E prossegue, mais veemente do que nunca:
           - “...Não deixando de lado as excentricidades congêneres da apologética. Eviperando genetrizes macropétalas, de um púcaro desnalgado e exaurível, mas, bacorejando os parâmetros tripétalos, de uma lucidez sem nexo!”
            Foi uma salva de palmas daquelas, e o povo quase enlouquece de emoção com tão belas e sábias palavras.
           Conegundes emenda: “...E no dia 15 de novembro lembrem o número dele: 12 (doze)-6(seis)-24(vinte e quatro), e se você esquecer, lembre de novo: - Uma dúzia e meia de qualira!
           O povo foi ao delírio. Ele então pergunta: - Maia, já tem slogan? Maia responde: - Não! Abarca (manda brasa).
           “- De fuboca a sapatão, vote no Maião!”
           Desceram os dois do carro e lhes aplicaram uma surra tão grande que foram parar no hospital, para aprenderem a nunca mais enrolar o eleitorado.
            Moral da história: Às vezes é possível enganar alguns por muito tempo. Às vezes é possível enganar muitos por pouco tempo. Mas não é possível enganar a todos por todo o tempo.

*Álvaro Braga é estudante de História da UEMA em Barra do Corda

(TB/13mai2010)

 

 

Barra do Corda exige a UFMA
jornal Turma da Barra

*Álvaro Braga

“Cultivai a inteligência e dai-lhe a posse da verdade”

            Alunos dos diversos colégios do 2º grau de Barra do Corda, e a população em geral, estão se posicionando a favor da instalação de um Campi da UFMA na cidade, ao endossarem um abaixo-assinado que tem o seguinte texto:
            “Nós, abaixo assinados, moradores de Barra do Corda, Município encravado no Centro Geográfico do Maranhão, considerando que a educação é um direito protegido pela Constituição Federal; considerando a localização privilegiada do Município; considerando o trabalho hercúleo da atual administração, pela interiorização da UFMA; considerando ainda e sobretudo, o direito dos nossos filhos de ingressarem na universidade pública e gratuita, solicitamos do Reitor da UFMA, Magnífico Dr. Natalino Salgado Filho, a implantação do Campus da UFMA em nosso Município; solicitamos da Prefeitura Municipal de Barra do Corda, através de seu Prefeito Municipal, Sr. Manoel Mariano de Sousa, de criar todas as condições necessárias, doação de área, disponibilização de prédios públicos e apoio logístico e material para a concretização do sonho dos barra-cordenses, A IMEDIATA INSTALAÇÃO DO CAMPI DA UFMA, em nossa cidade.”
            A proposta é legítima e não traz qualquer conotação político-partidária, o que nos faz acreditar que todos os habitantes irão se empenhar na sua viabilização. A cidade não pode ficar a reboque de Grajaú, por exemplo, que, além da UFMA, também está pleiteando um CEFET, através de suas lideranças políticas, empresariais e entidades de classe, como foi veiculado na imprensa, a audiência do Prefeito Mercial Arruda com o Presidente do Senado, José Sarney, que, inclusive, prometeu empenho pessoal no projeto. Um bom exemplo a ser seguido.
            Segundo informações obtidas, existe dotação orçamentária, ou seja, dinheiro, para que a Universidade Federal implante a UFMA também em Barra do Corda, já no próximo ano, bastando para isso que a cidade se mobilize com a união de todos, e sinalize positivamente para que a Reitoria em São Luís possa incluir essa mesma dotação em Orçamento Fiscal ainda este ano.
            A Comissão pró-UFMA de Barra do Corda, estará nos próximos dias visitando as rádios locais para aprofundar a discussão sobre o assunto.
            O momento é propício e ideal para a realização deste sonho do povo de Barra do Corda.
            É agora ou agora!

*Álvaro Braga é estudante de História da UEMA

(TB/10nov2009)