Carta
Carta da Tereza ao irmão Almir
jornal Turma da Barra

 


Almir Neto em foto oficial
de conclusão do curso de Direito

 


'Dois anos sem Almir

            Caros ouvintes desse meio de comunicação: peço licença para todos que estão ouvindo para partilhar com vocês aquela que com certeza foi a “noite traiçoeira” para nossa família.
            Há dois anos atrás, mais precisamente às 1h30 da madrugada do dia 23 de dezembro de 2008, acordei com minha filha em desespero dizendo que tinha acontecido um acidente com meu irmão (Almir Neto) e ao mesmo tempo clamava a Deus, ó Senhor que não seja ele. Naquele momento o mundo caiu sobre as nossas vidas, fiquei paralisada, sem ação, em seguida olhei e vi um policial na minha casa.
            Pronto é verdade! Imaginem queridos irmãos, a gente estava se preparando para celebrar o natal, amigo secreto e celebração. Pois depois de alguns natais, devido a perdas importantes na nossa família (Papai, Maria Rosa, Vovô Bizeca), nós estávamos cheios de expectativas, pois desde criança a nossa família se encontrava na casa de nossos avós para celebrarmos o Natal e demais celebrações familiares.
            Minha casa pela primeira vez estava cheia de primas dormindo com minhas filhas. Não queiram imaginar os sentimentos que me envolveu naquela noite, o silêncio tomou conta de mim, não tinha coragem de sair, me escondi no banheiro, pois não tinha coragem de me aproximar de minha mãe.
            Quando ouvi o choro desesperado e de muita dor de minha mãe, lembrei-me naquele momento da passagem da Bíblia no livro de Mateus capítulo 1 versículo 17 que diz: cumpriu-se então o que foi dito pelo profeta Jeremias: “Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos, não quer consolação, porque já não existem!”
            Ao longo desses anos, foram dias muito difíceis para todos de nossa família, são sentimentos diversos que não dar para explicar, é saudade, dor, vazio muito vazio, pois o Almir vivia muito próximo a nós, para mim era meu grande protetor, aquele que não media esforços para me deixar tranqüila, todos os dias tomávamos café juntos, almoçávamos todos os domingos juntos.
            Agora, o café da manhã não tem mais o mesmo sabor e os encontros aos domingos estão vazios. Tive alguns momentos de revolta, mas, nunca questionei a meu Deus, porque tenho certeza que essa não era a vontade de Deus para meu irmão, que era um homem totalmente do bem e para o bem, cheio de expectativas, e o que mais o fazia feliz era quando podia ajudar alguém tinha prazer, era solidário e inocente, por isso caiu naquela armadilha, porque ele sempre acreditava em todos.
            Hoje, caros ouvintes, dois anos depois daquela tremenda violência, o sentimento continua de vazio, grande vazio, mas, tenho certeza que o Almir está bem, que Deus o acolheu, é isso que me conforta. Quero aproveitar a oportunidade para agradecer a todos aqueles que têm nos ajudado muito a conviver com essa triste realidade, e dizer à sociedade cordina que nós não podemos esquecer fatos como esse e muitos outros que estão acontecendo na nossa cidade, temos que clamar por justiça, a nossa cidade precisa de Paz!
            Já chega de chorarmos por pessoas que amamos. Peço desculpas e agradeço a oportunidade que vocês estão me dando de expressar um pouco meus sentimentos, agradeço a Selminha que sempre está conosco.
            E convido a todos que estão ouvindo para participar da missa hoje às 19h30 na Igreja Matriz, e ofereço a música Noites Traiçoeiras, porque essa música retrata toda aquela noite e ofereço para todos os ouvintes que estão passando por dificuldades, para que tenham a certeza de que Deus nunca nos desampara, quando tudo parece perdido, vem o Senhor e diz: Levanta-te filho pois Eu estou contigo.
            Feliz Natal e um ano novo cheio de Deus para toda família cordina!
            Obrigada!
            Tereza"

(TB23dez2010)