Artigo
Por que tanta violência
jornal Turma da Barra

 Por que tanta violência é a pergunta que toda população barra-cordense faz nestes dias de luto pelo assassinato de dois barra-cordenses: o vereador Aldo Andrade e o borracheiro Almir. O TB publica três artigos, pedindo reflexão e paz para um momento que deveria ser de festa, a escolha do novo prefeito e vereadores, o qual se transforma pela violência em momento de dor.


Aldo Andrade

O inexplicável desejo do mal

*Francisco Brito

            Calaram uma voz no vil aperto do gatilho. Todavia, jamais calarão muitas vozes em coro clamando justiça!... Os covardes se escondem atrás das máscaras de seus inconscientes. São indivíduos genericamente denominados de medrosos. Todo covarde é um medroso em potencial. Eles têm medo de morrer. E quem tem medo da morte se esconde para a vida inteira. Viver é um ato de coragem já dizia o poeta. Porque para se ter um caminho palmilhado de inconstâncias neste arado de muitos amores, é mister que devemos voltar à mãe-terra que nos acolheu.
            A nós outros que suplicamos por mudanças e travamos um destino incerto, a força do desconhecido, muitas vezes maldosa, ficou nas expectativas por dias melhores na certeza de que se lutarmos com todas as armas que dispomos, aquelas que não ferem mortalmente o próximo, estaremos contribuindo para um mundo melhor arrumando a “casa com cada coisa em seu lugar” para as próximas gerações.
            Mas, o nobre companheiro Aldo Andrade se foi, e com ele se foram os sonhos tanto acalentados por justiça social e igualitária para a sua família e para o povo barra-cordense. Voz ferrenha na defesa da igualdade dos direitos sociais, Aldo sabia conduzir-se em plena consciência do dever de cidadão eleito pelo povo e de trabalhar pelo povo de sua terra, que agora ficou um tanto órfão, castrado pela ignorância dos parasitas do poder. Estes por sua vez, vestidos de túnicas sujas do sangue de inocentes irão prestar contas no tribunal de Cristo.
            Pois, a justiça terrena lhe será sempre benévola ante os espúrios favores da barganha manchada pela insensatez de corações de pedra!
Aldo levou também os desejos de sua esposa, agora viúva, e de suas duas filhas que Deus as conforte, para que tenham um futuro promissor olhando sempre para o futuro de prosperidade, saúde e paz.
           Vá... Companheiro amigo, mesmo que não o tenha conhecido, as lágrimas que agora verto não me deixam continuar este texto. Entretanto, tenha a certeza de que o povo barra-cordense, aquele que realmente não se vende por uma camisa, um gole de bebida ou alguns reaiszinhos em vésperas de eleição, jamais se esquecerão do teu nome, e mesmo que não tenha sido um herói aqui entre nós, encontrará em tua nova morada teu nome gravado na lápide celestial. Portanto, até um dia...

*Francisco Brito de Carvalho é poeta, escritor, mora em São Luís (MA)

 

Os coronéis se foram, suas práticas não

Da redação do TB

            Morre Aldo Andrade, candidato a vereador, oposicionista, em cumprimento do segundo mandato, sob ameaças constantes. Fatalidade? Baixa de guerra? Ou crime orquestrado por motivações políticas?
            Aldo ultimamente vinha desferindo sérias e desveladas críticas ao atual prefeito, responsabilizando-o pelo atentado que sofrera em fins de 2010. Enquanto algumas vozes insurgentes emudeciam face às primeiras ameaças, Aldo persistia, abnegadamente, com o seu perigoso desígnio de abrir os olhos da população cordina. Morre como um político autêntico que não se acovarda nem se atemoriza. Sua morte, no entanto, serve para mostrar, mais nitidamente, que os vestígios do coronelismo não foram de todo apagados.
            A oposição sofre um grande golpe, porém suas vozes se erguem com ainda maior convicção. Além de ter sido um forte candidato, tendo o apoio quase pleno dos bairros mais esquecidos do município, a morte de Aldo Andrade fez também um boicote ao abastecimento dos carros de som da coligação “Unidos pela Liberdade”. A população está com medo, temem por suas famílias, enquanto outros persistem enfermos de olhos e entendimento.
            Aldo Andrade, sobrevivente de uma primeira investida mal sucedida, não teve a mesma sorte desta vez, ainda que guarnecido naquele momento por dois seguranças. Sobre ele cumpriu-se o que foi vaticinado por forças da “Ocasião”, de cima de um carro-palanque, a algumas semanas, de que um certo vereador apanhara a primeira vez com “pernas de cadeira”, só que da próxima, seria com “pernas de mesa”.
            Chegou a hora de despertarmos do sono apático, de sacudirmos a poeira do Egito, e desvencilharmo-nos dos grilhões oligárquicos que ora nos oprimem. Isso tem que mudar, antes que mais alguém emudeça.

 

Apesar de tudo a luta continua...
Somos todos iguais, braços dados ou não!

*Sergio Barbosa

Nunca me foi tão difícil iniciar o que agora vou escrever. A ficha vai caindo e a profusão de emoções, como se buscando explicações , vai chegando num estágio racional que nos obriga a voltar para a realidade dos fatos.
            A morte brutal do Vereador Aldo Andrade me fez refletir, e acredito que isso deva ter acontecido com muitas pessoas, acerca do quanto o ser humano estar disposto a despender para alcançar seus objetivos, seus sonhos e metas.
            Ser humano esse dotado de defeitos e qualidades, características dissociáveis, que regem o comportamento e a vida nessa terra.
            Não gosto de render homenagem para quem se vai. Até porque o homenageado não tem o direito de saborear esse momento. Vale, para mim, homenagem em vida. Dá mais entusiasmo pra quem ouve, para quem ler.
            Aldo Andrade era uma voz incansável na câmara, juntamente com os demais pares oposicionistas. Sua bandeira de justiça se levantava a cada pronunciamento. A defesa dos cidadãos dava o tom de sua fala no pubito.
            Separarmos o homem político do homem pai de família, comerciante, filho, irmão deve ser uma regra e não exceção quando se pesa na balança atitudes de cada cidadão.
            Nesse momento triste para a política e a democracia baracordense cabe uma reflexão de quanto vale uma vida. Quanto vale equacionar as nossas metas frente aos interesses opostos. Que futuro queremos para nossa cidade, nossa família, nossos filho e netos. Que Barra do Corda quero daqui para frente.
            Unamos pois, e deixemos as diferenças de lado, busquemos a paz e a harmonia. Não façamos de nossas divergências limitador da razão. Não devem existir lados opostos se o que se busca é o melhor para todos.
            Que esse momento seja um divisor de águas. Que a consciência racional fale mais alto. Que nossas atitudes sejam pensadas em respeito ao próximo. Não esperemos mais por outros episódios tristes como esse para que acordemos dessa inebriante paixão político-partidária. Que a Barra do Corda saia ganhando. Vamos rever nossos conceitos e posicionamentos para decidirmos se vale a pena dividir ao invés de somar.
            Aguardemos com parcimônia e tranquilidade o desenrolar dos fatos, antes de quaisquer prejulgamentos que em nada irão contribuir. Não nos deixemos tomar pelo ódio. O ódio é apenas um veneno que você toma pensando que o outro é quem irá sofrer. Acreditemos também na justiça divina.
            Não sei qual será o posicionamento do partido, da coligação da qual ele fazia parte. Só sei que seria uma justa homenagem se Aldo Andrade recebesse os votos que mereceria. Seria o mínimo que poderíamos fazer para prestigiar e homenagear esse guerreiro cuja voz foi calada sordidamente.
            À família enlutada apresento meus pêsames.
            Ao Pai Celestial rogo que reserve a ele o convívio dos eleitos.
            A Aldo Andrade, desejo que descanse em paz, meu amigo. Sua luta não foi em vão!

*Sérgio Barbosa é escritor, mora em Barra do Corda

(TB24set2012)